A maior rivalidade, a tática do sucesso e as semelhanças com o futebol: conheça a 'Bundesliga da cerveja'
Futebol e cerveja. Poucas coisas têm mais identificação com a Alemanha. E as duas criações, que estão entre as mais amadas pelo ser humano, podem apresentar algumas semelhanças entre si no país europeu.
O blog conversou com Leandro Viu, coordenador, professor e cervejeiro do Instituto da Cerveja Brasil, e usou uma dose de imaginação para explorar as relações entre o esporte e a bebida.
Então, deguste:
A ‘campeã’
Como diz o ditado, gosto não se discute. Então, para escolher uma 'vencedora', ficamos por conta da preferência pessoal do nosso especialista. Assim como no futebol, o campeão vem da Bavaria, mas, quando a disputa é no copo, o vencedor vem de outro lugar além de Munique.
No futebol, Bamberg tem como principais representantes atualmente o Eintracht Bamberg e o Don Bosco Bamberg, que estão em uma das ramificações da quinta divisão. Porém, quando o assunto é o líquido dourado, a cidade ao norte de Munique é a referência na Rauchbier.
“Antigamente, a secagem (do malte de cevada) era feita com queima de madeira. Todo malte de cevada que era utilizado tinha uma característica de defumação, por causa da fumaça da queima de madeira. Quando a tecnologia veio e trouxe outras formas de secar o malte, ele perdeu essa característica. Na cidade de Bamberg, eles mantiveram essa tradição”, contou Viu.
“É uma cerveja bem defumada, quando você sente o cheiro, parece que está vindo um bacon. É a região produtora deste estilo de cerveja”, disse o especialista, que também é sommelier de cervejas, mestre em estilos, técnico cervejeiro, além de sócio consultor da ProBeer.
OK, gosto é pessoal. Porém, para criar um estereótipo, qual cerveja mais representa a Alemanha? A resposta permite um paralelo com o futebol.
Se no esporte, o Bayern de Munique é o dominante do país e, quando ele não ganha, diversos times se alternam no título, a cerveja oferece um cenário similiar. Afinal, a de trigo (Weißbier), tradicional na Bavária, é uma das referências do país, assim como a Pilsen, que tem como forças no tipo da bebida a parte do centro ao norte do país, conforme analisou o cervejeiro.
O clássico
“Quando eu dou aula sobre esse tema, eu até faço o paralelo: ‘imagina Corinthians x Palmeiras, Brasil x Argentina’. Tem uma rivalidade muito grande em relação à cerveja deles”.
Aqui nem precisa uma dose de imaginação, já que a rivalidade existe e tem até provocação. Colônia e Düsseldorf estão separadas por 34km, uma distância menor do que a rixa entre a Kölsch e Altbier, que, respectivamente, são as marcas registradas das cidades.
“Quando você sai de uma cidade para a outra, na estrada tem outdoor: ‘você está saindo da cidade que tem a melhor cerveja da Alemanha e você está indo para a que tem a pior’”, contou Viu.
Em uma rápida busca na internet, você encontra a imagem de um cavalo bebendo uma cerveja e urinando a outra, o que ‘explica’ a produção de cada uma, dentro do clima de rivalidade. É praticamente um clássico da mesa de bar.
Minha cidade, meu time, minha cerveja
“Os alemães têm um ditado que diz que a melhor cerveja que você pode tomar é a que você toma à sombra da chaminé da fábrica. Eles têm essa lealdade, essa cultura regional. Eles têm uma grande resistência a grandes corporações.”
Tal postura se repete, de uma maneira geral, em um país em que há a regra do ‘50+1’, que impede que clubes de futebol tenham um sócio majoritário, salvo algumas exceções, que ainda assim enfrentam rejeição de boa parte dos torcedores, como deixaram claro os protestos contra o dono do Hoffenheim na atual temporada. O RB Leipzig, que encontra uma alternativa neste cenário, também é alvo de críticas de parte dos torcedores.
A identificação, tanto da cerveja, quanto do futebol, se justifica na qualidade de diferentes cidades no que fazem e na lealdade de sua população.
O futebol prova isso com a diversidade de representantes de diferentes locais na Bundesliga – atualmente, a única localidade com mais de um representante é a capital, com Hertha e Union Berlin.
A fidelidade se comprova na presença dos torcedores nos estádios, sendo que 13 dos 18 clubes tiveram uma média de ocupação superior a 90% nos jogos em casa nesta edição antes das partidas ficarem com os portões fechados por conta da pandemia do coronavírus. O Hertha é o único com uma taxa de ocupação inferior a 79%.
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A tática do sucesso
No futebol, não existe a melhor formação tática, uma vez que depende do contexto histórico, dos atletas que cada elenco possui e às vezes até do aversário. Porém, na cerveja, a mesma regra é seguida há mais de cinco séculos, com a Lei da Pureza Alemã, tendo sido promulgada na Bavaria em 1516 e que segue em vigor até hoje.
Esta determina que a cerveja pode ser feita apenas com quatro ingredientes: água, malte, lúpulo e levedura. Além disso, também “regulamentava o uso da terra para o plantio dos grãos, valor de venda, época de produção”.
A Lei da Pureza Alemã acabou sendo um ponto impactante em relação à qualidade da produção da cerveja, como analisou Viu.
“A gente tem cerveja de alta e baixa fermentação. A de alta fermentação fermenta em uma temperatura mais alta, e a de baixa fermenta em uma temperatura mais baixa, porque o tipo de micro-organismo trabalha nessas faixas de temperatura. Só que nessa época, não tinha controle de levedura, não sabia por que a cerveja fermentava, era micro-organismo selvagem, do ambiente. E eles começaram a perceber que as cervejas produzidas no verão estragavam mais rápido, e quando produzidas no inverno e armazenadas a frio, e elas fermentavam em uma temperatura mais baixa, elas duravam mais tempo. Então, se pegar todos os estilos de cerveja da Alemanha, alguns são de alta fermentação, mas 99% é de baixa fermentação, por conta da Lei da Pureza”, disse.
“Todo mundo acha que a Alemanha é top em tudo na cerveja por conta dessa tradição. Como os cervejeiros não podiam usar nenhum ingrediente a não ser estes quatro, eles tiveram que ter um desenvolvimento tecnológico muto grande. Os próprios cervejeiros, quando falamos de mestre cervejeiro, equipamento para a produção de cervejeiro, a referência é a Alemanha.”
Fonte: André Donke
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