Kawhi Leonard nos Clippers: vencedores e perdedores
Tudo na vida se baseia em equilíbrio e numa balança. Poderia eu, estar fazendo uma propaganda demasiada ao signo de libra, para o qual pertenço? (risos). Talvez. Mas não é o ponto aqui. Um fato sobre análises esportivas é que, no final das contas, tudo se baseia em vitória e derrota. Um atleta mais talentoso é esquecido dezenas de anos depois em favor de um menos talentoso que acabou ganhando um título.
Assim, como o mundo é dos vencedores, textos assim são uma excelente fórmula para a análise do pós-batalha. Farei bastante deles aqui. Para inaugurar o modelo, vamos à movimentação que mexeu com a força de vários times da NBA após o final de semana.
Vencedor: Kawhi Leonard
Kawhi não precisou montar um circo para anunciar sua decisão. Embora o The Decision de LeBron James – "vou levar meus talentos", lembra-se? – teve sua renda de anúncios revertida para publicidade, foi algo que por um certo tempo maculou a carreira de James. Pareceu espetaculoso demais para alguns. Não que eu tenha me importado na época ou agora, mas fato é que muita gente torceu o nariz.
Com um silêncio ensurdecedor, Kawhi Leonard fez um The Decision à sua maneira: sem falar uma palavra sequer. Deixou a mídia fazer isso por ele, dado que de longe ele era o melhor free agent ainda disponível no mercado após a primeira leva de jogadores – Kyrie, Kevin Durant e etc. Como sobrou só ele, os programas americanos e o twitter dedicaram virtualmente todo seu tempo para falar de Kawhi.
Ainda, o ala conseguiu algo importante: embora a ida para o Los Angeles Lakers seria uma quase garantia de título, ele nunca seria a estrela dominante. Poderia incorrer no "se perder, a culpa não é do LeBron" e o "se ganhar foi principalmente por conta dele". Isso não me parece muito atrativo para um diamante do nível de Leonard. Agora, nos Clippers, ele tem chance de aumentar seu brilho por contraste caso faça mais do que LeBron nos Lakers e ainda tem um time para chamar de seu no Staples Center.
Nem perdedor, nem vencedor: Los Angeles Lakers
Não dá para falar que os Lakers saem vencedores ao não conseguir a contratação de Kawhi, mas também acho um tremendo de um exagero dizer que são perdedores. Afinal, ainda contam com o melhor jogador de basquete da década em LeBron James e um monstro do garrafão em Anthony Davis. Fosse um NBA Jam daria para dizer que seriam favoritos, mas o oeste selvagem não permite que com apenas dois jogadores possamos afirmar isso. De toda forma, os Lakers saem sem Kawhi mas com um plano mais austero, investindo em peças ao redor de LeBron – que jogará de armador – e AD. Como 3 and D, veio Danny Green e ainda outros reforços, como a volta de Rajon Rondo e a contratação de DeMarcus Cousins.
Na prática é o New Orleans Pelicans de alguns anos atrás – que tinha muita expectativa em torno de si – mais a adição de um certo jogador de basquete nascido em Ohio. Não dá para dizer que os Lakers perderam.
Perdedor: Toronto Raptors
Foi especulado que houve certas movimentações para que Paul George fosse trocado para os Raptors e, assim, Kawhi ficasse no Canadá. Para a diretoria de Toronto, o pacote – que supostamente envolveria Pascal Siakam, eleito o jogador que mais melhorou em 2018-2019 – seria caro demais e não apertaram o gatilho. Seja como for, não me parece uma decisão errada.
De toda forma, os Raptors saem como perdedores. Não tem como dizer que o time vem forte como ano passado. A perda de Kawhi Leonard significa, também, a perda de protagonismo no Leste. Embora Toronto deva conseguir se classificar, não tem mais o mesmo poder de fogo para combater Milwaukee e Philadelphia.
Vencedor: O resto do leste fora Toronto – principalmente o Boston Celtics
Em meio a uma gigante incerteza quanto ao time de Brad Stevens, uma certeza: há um competidor menos forte no Leste. Os Celtics estão na briga com outras equipes numa segunda potencial prateleira de força da Conferência Leste – a primeira listei acima, Bucks e Sixers. Sem Kawhi, Boston tem poder de fogo para brigar ao menos pela terceira cabeça-de-chave no Leste, o que deixa a vida menos difícil para o time, que perdeu Kyrie Irving (se é que isso não seria reforço ante as tretas de vestiário) e Al Horford. Falando neste, agora nos Sixers, há um buraco no garrafão e não parece haver tanto talento no TD Garden para suprir isso – embora haja esperança se Enes Kanter começar a chutar melhor, vai que, né.
Vencedor: Los Angeles Clippers
Um time que vem de um trabalho excelente com Doc Rivers – talvez o melhor que ele ja fez – e de uma campanha de 48 vitórias. Esse mesmo time deu canseira em Golden State completo, com direito a Klay Thompson e Kevin Durant saudáveis. Caso você tenha se esquecido, os Clippers roubaram dois jogos na série, que foi até o Jogo 6. Esse mesmo time agora tem Kawhi Leonard, atual MVP das Finais, e um Paul George de uma capacidade defensiva inestimável. É possível dizer, embora a Conferência Oeste tenha um monte de bons times, que o lado azul e vermelho do Staples Center pinta como favorito depois da chegada de Kawhi e George.
Não, a troca não saiu cara. Oklahoma City recebe um pacotão, mas lembre-se sempre: embora haja bons exemplos como os Warriors de Curry/Klay, os competidores se fazem via Free Agency na NBA, não pelo Draft, via de regra. Essas escolhas foram para ter Paul George e também Kawhi Leonard. Não apenas o ex-Indiana e OKC.
Perdedor: Russell Westbrook
Russell Westbrook em Oklahoma City pic.twitter.com/AzOk9qq6Ky
— Antony Curti (@CurtiAntony) 6 de julho de 2019
Acho que o tweet acima diz tudo.
Perdedor: Mercados pequenos
Não é a primeira vez que vimos isso acontecer, sejamos francos. A NBA tem uma disparidade muito grande entre mercados consumidores pequenos e grandes e, como é uma liga de atletas – e não de franquias, como na NFL – isso fica ainda mais óbvio em situações como esta. Ano passado vimos a mesma coisa com LeBron James dar opt-out de seu contrato com Cleveland para poder explorar as imensas oportunidades comerciais que se abrem em Los Angeles – uma cidade bem maior e segundo maior mercado consumidor dos EUA. A decisão de Kevin Durant escolher Brooklyn também não foi ao acaso, dado que Nova York é o maior mercado consumidor dos EUA.
A times de mercados consumidores menores – e aos Knicks – com menor poder de atrair jogadores na free agency, o Draft fica ainda mais importante e isso ficou claríssimo em mais uma free agency.
Perdedor: os outros 14 times do oeste
Sem Kawhi, por mais que houvesse um núcleo interessante e um bom trabalho de Doc Rivers, os Clippers não eram candidatos ao título. Agora são e, bem, é mais um time assim na costa oeste – para o desespero dos outros 14 times. Veja o caso de Golden State, por exemplo, que não conta mais com Kevin Durant e não deve contar com Klay Thompson até a véspera dos Playoffs: Houston, Los Angeles Clippers, Los Angeles Lakers, Utah Jazz, Denver Nuggets: de cabeça temos cinco times que têm totais condições de ficar acima dos Warriors na classificação. Isso é a demonstração de como o oeste estará mais selvagem que na segunda temporada de Westworld.
Vencedor: o fã de NBA
Ok, seria bonito ver Anthony Davis, LeBron James e Kawhi Leonard dominando a pós-temporada com um basquete quase imparável que poderia se tornar o melhor time da década junto dos Warriors. Eu, pessoalmente, acharia bacana por alguns momentos. Mas fora o torcedor dos Lakers, uma hora essa panela iria começar a frustrar aquele que sonha em ver seu time brigando ou, ao menos, sonhando em brigar. Aqui, sei que minha opinião está longe de ser unânime e vai ter gente reclamando, mas eu prefiro muito mais uma NBA competitiva como essa que se avizinha do que a que poderíamos ter com um BIG 3 supremo nos Lakers.
Não dá para cravar nem o campeão do oeste e nem o campeão do leste. Há favoritos, claro, mas veja no oeste: tirando dois ou três times, temos pelo menos 10 com chances reais de se classificar e uns 5 com chances de chegar às finais. Isso é incrível para o esporte. O esporte, aliás, é o melhor reality show que existe. E é muito mais legal quando a gente não sabe o final da história.
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