No NBA 2k, os Rockets com Westbrook vão voar. E na vida real, funciona?
Histórias bonitas de amor no cinema não são lineares - gosto delas porque na vida real também é assim. Desencontros acontecem e quando os dois lados não estão na mesma página, a distância surge. Física, muitas vezes, mas em algumas oportunidades também uma distância em empatia, sintonia e todo o resto.
Embora James Harden e Russell Westbrook estivessem distantes por 664 km, sempre se soube que seguiam próximos e, de certa forma, amigos. Ante ao terremoto que estremeceu a Costa Oeste na última free agency, Westbrook se viu sozinho em OKC. Nos últimos anos, Russell tornou-se um proprietário virtual do Thunder. A bola passava por ele, começava com ele e terminava com ele. As estatísticas, idem. Também nos últimos anos, ele era a esperança e o eixo motor do time, sobretudo no lado ofensivo da quadra.
De repente, após anos de um sólido elenco com nomes como James Harden, Kevin Durant e outros, Westbrook se viu sozinho. Primeiro, Paul George pediu para ser trocado. Natural. A relação entre George e OKC sempre foi líquida. Ele era o escudeiro e não haveria uma fidelidade incontestável, nem para o sim e nem para o não. Essa foi a primeira peça do dominó final do desmanche. Na sequência, Jeremi Grant foi trocado para os Nuggets. A cena final do filme foi ontem a noite.
Por que Houston fez a troca?
Não havia outra saída para Daryl Morey, general manager dos Rockets. Primeiro, porque manter-se competitivo está em seu DNA e, de certa maneira, no da franquia também - não importando como os ventos estiverem soprando. Acontece que os ventos começaram a soprar de maneira mais forte no Oeste. De repente, a virtual garantia de que um time comandado por James Harden tivesse passaporte carimbado para a final do Oeste... Não existe mais.
A análise da troca se opera em eixo. Primeiro, por que os Rockets "venderam" Chris Paul. Segundo, por que os Rockets "compraram" Russell Westbrook. Vamos à primeira.
O contrato de CP3 era e é uma gigantesca bomba relógio e não há espaço na folha salarial de um time como os Rockets, que pretendem permanecer competitivos pelos próximos anos - o que não é problema no Thunder-2019. Chris Paul tem em seu contrato valores surreais e que não casam com sua produção. Ainda pior daqui uns anos. 2020-2021, aos 35 anos, conta em 41 milhões na folha. 2021-22, conta em 44 milhões. É como comprar um carro de luxo de 2010 e pagar mais caro do que um 0 km. Não faz o menor sentido e os Rockets perceberam isso a tempo - eu bati nessa tecla algumas vezes no ESPN League durante os playoffs, aliás.
O outro lado é o por que os Rockets trocam CP3 por RW. No papel um é melhor que o outro. Westbrook é quatro anos mais novo e nas últimas três temporadas jogou 50% de minutos a mais do que Paul ao mesmo tempo que tinha um papel ofensivo muito mais importante em sua equipe. Ah, e foi candidato a MVP em todas elas. Ainda, caso o experimento dê errado, Russell pode ser trocado a partir de dezembro e certamente terá mercado - coisa que não é garantia com Chris. É como se livrar de um urânio empobrecido por um novinho em folha, que ainda não é radiativo.
No NBA2k - ou no Live, vai que você prefere outro videogame - o elenco dos Rockets é maravilhoso para se divertir. Chuva de três pontos, Westbrook infiltra melhor do que Paul, enfim, vai ser uma beleza. Mas isso funciona na vida real? Porque vida real não é uma escalação no papel e nem videogame, com atributos dados aos jogadores e a química e ego entre eles não importando. A boa notícia, claro, é que eles são amigos. Mas como Westbrook vai jogar sem a bola? Nos últimos três anos, ele teve 33% de aproveitamento em catch-and-shoot, de acordo com o Second Spectrum Tracking, em bolas de três pontos. Paul? 45%.
Supondo que Russell carregue a bola, quanto ele vai dividi-la com James Harden num papel de shooting guard (ala-armador), se é que existe alguma possibilidade disso acontecer? Embora exista a tara incessante das pessoas pelo precedente e pelo fato de ambos terem jogado junto antes, vale lembrar que James Harden jogando de vermelho está longe de ser o James Harden jogando de azul e laranja de OKC de 2012.
Algo não encaixa, percebe?
Westbrook vai ter que baixar a bola e perceber que virou um Michael Corleone ao final do terceiro filme. Já foi gigante, já foi candidato a MVP, mas para esse negócio funcionar, caso ele queira ser campeão, vai ter que se portar de maneira diferente. O time é de Harden, sempre foi e sempre vai ser. Westbrook chega para um papel de escudeiro que Paul George lhe foi na temporada passada. Quer prova maior que o time é de Harden do que o fato de que a diretoria trocou o futuro incerto pelo presente real por conta dele?
É uma nova aposta de Houston. Mas para funcionar, terá de ser, em essência, com muito risco - e pouco ego.
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