Rescisão de Jean no São Paulo é um lembrete social, é um problema nosso. Temos que debater!

Bibiana Bolson
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Um pedido de socorro estarrecedor. Começamos o dia assim, com vídeos em que Milena Bemfica, esposa do goleiro Jean, do São Paulo, aparecia com marcas no rosto e pedia ajuda dizendo que tinha sido agredida pelo marido nos Estados Unidos. Jean foi preso, de acordo com a declaração de prisão registrada pelo xerife do Condado de Orange no estado da Flórida, onde o casal estava de férias, ele é acusado de violência doméstica por agredir a esposa com oito socos.

Toda vez que isso acontece, e que um caso assim vem a público, sinto meu estômago embrulhado. É um misto de sensação de indignação com o sentimento de impotência por saber que, simultaneamente, outras situações idênticas e ainda mais terríveis estão acontecendo.  É desesperador!

Enquanto escrevo esse texto, uma mulher está sendo agredida no Brasil. Para ser mais exata, mais de 500 mulheres são agredidas a cada hora (segundo o Datafolha). Conforme processo cada ideia que quero expressar nas linhas seguintes, haverá uma mulher violentada no país que vai decidir, mesmo agonizando em sua mais profunda dor, relevar a agressão do companheiro. Enquanto essa mulher desiste de denunciar o seu agressor, outra será assassinada. E, continuamente, sem que isso pareça um exagero de minha parte, podemos dizer que há uma guerra contínua e global em curso.

De situações que se estendem de um pequeno incidente social desagradável até o silenciamento violento, é uma sentença de morte decretada, pior que qualquer peste já registrada, epidemia ou disputa territorial/ideológica, nós, mulheres, estamos MORRENDO. No tradicional jornal norte-americano The New York Times, Nicholas Kristof, jornalista de renome, escreveu: “No mundo todo, as mulheres entre 15 e 44 anos têm mais probabilidade de morrer ou serem mutiladas pela violência masculina do que por câncer, malária, guerra e acidentes de trânsito, TUDO SOMADO”.   

Só em 2018, 16 milhões de mulheres acima de 16 anos sofreram algum tipo de violência, ao se divertir num bar, no trabalho, na internet, na rua e em casa. No estudo, a violência simbólica, praticada por ofensas verbais, é também levada em consideração.  E quando o agressor está muito perto? Pois 72% das mulheres vítimas de violência conhecem seus agressores - o marido, um ex-namorado, um vizinho, um familiar. Sendo que mais da metade dessas mulheres agredidas simplesmente não denuncia ou sequer chama a polícia.

Transcorridas algumas horas do caso, o São Paulo decidiu que vai rescindir o contrato de Jean. 

E é o que se esperava do clube, afinal o esporte, como extensão da sociedade, não deve ser permissivo com situações assim. Da mesma forma, com o que acontece na arquibancada, como insistentemente falo por aí.  O ambiente esportivo não dá carta branca para discriminação e/ou ofensas, não dá permissão para ódio e o preconceito. Na tentativa de alguns de relativizar, aqui um aviso: você que me lê, vamos entender e reiterar que a violência não é apenas aquela que deixa marca físicas. A violência passa pelas palavras e pelos insultos.

Aproveito então para recordar o que de importante tem sido feito ao se tratar de futebol como agente social. Ainda no começo do ano, o São Paulo, Corinthians e Palmeiras se uniram à Prefeitura de São Paulo apoiando a campanha “Tem Saída”, uma iniciativa pública voltada à autonomia financeira e empregabilidade da mulher em situação de violência doméstica e familiar. Em março, nas redes sociais viralizaram vídeos com trechos dessa impactante campanha que contava a história de uma mulher que sofreu abuso por longos 18 anos, colocando corintianos, são paulinos e palmeirenses na mesma página.


Em 2018, o Estádio do Morumbi, casa tricolor, abriu suas portas para uma também mega-ação acolhedora. Chamado de “SPFC se importa”, o projeto social foi uma parceria com o Justiça de Saia, chefiado pela promotora Gabriela Mansur para receber mulheres vítimas de violência e oferecer a elas tanto auxílio jurídico quanto psicológico.

Portanto, a manhã desta quarta-feira 18 de dezembro nos coloca diante de um problema que não é apenas do São Paulo como clube de futebol. Não é só do esporte. É NOSSO! 

Você leu corretamente, o caso, que ainda é investigado pelas autoridades norte-americanas e que já levou a quase imediata detenção de Jean no estado da Flórida, é problema nosso. Meu e seu que me lê. Nós, sociedade, temos a responsabilidade de debater a violência contra a mulher e de tratar a morte violenta de mulheres pelo nome correto - feminícidio.  

No país que ocupa a quinta posição no ranking de feminicídio mundial, atrás de países como El Salvador, Guatemala, Colômbia e Rússia, não assinemos calados essas milhares de sentenças de morte.  



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O lado obscuro do esporte e da Internet no caso Sidão

Bibiana Bolson
Bibiana Bolson
Sidão durante derrota do Vasco para o Santos, pelo Brasileirão
Sidão durante derrota do Vasco para o Santos, pelo Brasileirão Gazeta Press

A apenas um clique está o que há de pior e melhor da Humanidade. Verdade seja dita, nos últimos anos, a revolução digital nos proporcionou incontáveis benefícios, movimentos sociais que vieram para quebrar padrões, romper barreiras e soprar ventos de novos tempos com suas mudanças históricas. Mas nos mostrou igualmente o lado mais triste, sombrio e assustador de quem está por trás da tela, seja ela qual for. E as consequências são as mais diversas. 

Para lembrar alguns dos casos mais recentes, acompanhamos uma atleta da grandeza da judoca Rafaela Silva ser praticamente engolida pelo ódio e o preconceito racial. Foram necessários anos de terapia e preparo emocional para que a Rafa virasse esse “jogo”, recuperando a confiança (ganhando de forma emocionante o ouro no Rio 2016). Vi a Patricia Moreira, aquela torcedora flagrada chamando Aranha de “macaco”, ter sua vida devastada por um ato que, SIM, foi muito errado, que deve ser punido e definitivamente extinto dos estádios, mas que tomou proporções gigantescas. Ela merecia ter a casa queimada? Ela merecia receber consecutivas ameaças de estupro? Não. Nem ela, nem ninguém.

Márcio Chagas da Silva, ex árbitro de futebol, expôs recentemente um duro relato sobre o racismo. Recebeu uma enxurrada de comentários que o acusavam de ser mentiroso, de “manchar” a história do esporte gaúcho. Quer dizer, nem mesmo a coragem de um homem que sabe tudo que sentiu, literalmente na pele, é poupada. É sofrimento dobrado! 

Nesse fim de semana, chegamos mais uma vez ao fundo do poço. A parte obscura da Internet elegeu o Sidão, goleiro do Vasco, depois de uma falha, o craque do jogo. A emissora que transmitia a partida não teve empatia ou entendimento correto (e ação rápida o suficiente) para não coroar o comportamento que zombava do atleta. A armadilha perfeita para expor todos os envolvidos. Foi humilhante para o Sidão e para a Júlia Guimarães, excelente repórter. 

Essa é a mesma Internet que diariamente agride outros atletas, jornalistas, comentaristas, árbitros, políticos, artistas, cidadãos no geral. E mulheres. Sim, muitas mulheres. Preciso destacar que principalmente mulheres conforme levantamentos recentes. A Júlia, repórter que teve que entregar o prêmio super constrangida, está até agora sendo fortemente criticada, ainda que nada tenha tido com a escolha do Sidão. Os valentões do teclado adoram inflar seus discursos odiosos e verbalizar a violência em situações exatamente assim. 

Não é que o futebol não tem mais espaço para as zoeiras, para as brincadeiras ou para memes. Não é que o esporte ficou chato e que o “mimimi”, como dizem por aí, tomou conta de tudo. É que o respeito, ter consideração pelo outro, ter empatia, precisam ser valores-guias para todas as nossas ações. Eu prefiro ficar sempre com o lado bom da história: o da solidariedade, por exemplo, de clubes e jogadores que entenderam o constrangimento que o Sidão tinha passado e logo se manifestaram. 

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Filhos de ex-craque e campeão mundial colorado trilham trajetória de sucesso no futebol

Bibiana Bolson
Ortiz com os filhos Léo e Fernanda
Ortiz com os filhos Léo e Fernanda Arquivo pessoal

Quando o Léo nasceu, a Fernanda já estava para cima e para baixo com 6 anos. Até ali, os dois eram apenas os filhos do Ortiz. Pai conhecido no esporte, de uma geração que pelo futsal, colocou o Brasil em evidência. Além dos diversos títulos com a Seleção, Ortiz foi campeão mundial pelo Internacional e não há um único colorado que não reconheça a história e a entrega dele, que aliás continua trabalhando com o que há de mais valioso no clube- a base. 

Red Bull Brasil e Ponte Preta decidem o título de Campeão do Interior do Paulista 2019
Red Bull Brasil e Ponte Preta decidem o título de Campeão do Interior do Paulista 2019 Arquivo pessoal

Hoje quem estampa as manchetes não é mais aquele craque dos anos 90, mas o filho: cria do Internacional, prata dessa casa que um dia foi a mesma do pai (talvez por isso um filho muito mais cobrado). 

Da saída da “asa” colorada para voos maiores no Sport em Recife, e atualmente no time sensação do campeonato Paulista, Red Bull Brasil, Léo Ortiz teve seus passos guiados por um pai exigente, um ex atleta que nunca deu moleza, mas teve também, desde sempre, uma irmã com função determinante. Um braço direito. Uma protagonista que hoje é quem inspira esse texto: Fernanda Ortiz. 

Ela é um daqueles exemplos que nos conforta, que soma forças e que mostra como estamos caminhando rumo a uma participação mais efetiva, mais consistente e em múltiplas funções no futebol. Estamos falando de uma mulher que gere a carreira de um jogador profissional. 

Aliás, costumo dizer que esse é caminho: não sermos mais tratadas apenas como exceções. Que muitas mulheres possam desempenhar papéis relevantes dentro do esporte, no feminino e no masculino, que possamos nos desenvolver para assumir a função de treinadora, de presidente de clube, de diretora de futebol, do que nos sentirmos preparadas e capazes. 

“Quando ele estreou na zaga do Inter (2017) e assumiu a titularidade do time principal, realizamos que ele precisava de alguém pensando nele 24 horas por dia, na trajetória dele! Sou a manager dele, gerencio toda equipe que trabalha pra ele, como o empresário, advogada, assessor de imprensa, contador e etc. Então, todos os dias eu fico atenta ao que tá sendo feito em relação a ele em todos os assuntos: negociações, contratos, patrocínio esportivo, o que está sendo falado na imprensa ou o que podemos motivar a imprensa a falar dele, as postagens nas redes sociais”, conta a manager. 

Léo e Fernanda: relação de admiração mútua
Léo e Fernanda: relação de admiração mútua Arquivo pessoal

Em quase cinco anos atuando de forma direta com tudo que envolve a carreira do irmão (na base já participava), a missão foi justamente desconstruir esse rótulo que tanto orgulha, mas que provoca desafios: 

“O maior desafio de ser uma mulher nesse mercado ainda é mostrar ou ‘provar’ que você entende de futebol. E sendo da família, é um pouco mais difícil, porque sempre parece que você está opinando e não administrando. Tenho jogo de cintura e me cerquei de pessoas que respeitem minha posição. Temos outros exemplos no mercado de líderes mulheres, como a Pellegrino (na FPF). Ter mulheres ocupando esses cargos e qualificadas para estarem onde estão faz toda diferença, ter referências que fazem a gente se identificar e ver que é possível chegar lá é muito importante”.

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Para o irmão, o receio de ver a Fernanda convivendo em um ambiente machista foi convertido em admiração e confiança: 

“Para mim é uma situação cultural que tem que mudar. Mas espaços estão se abrindo em comparação ao passado, não só no futebol, mas no esporte em geral. Hoje nós vemos, por exemplo, mais jornalistas mulheres, tem também uma assistente técnica no Santo Antonio Spurs na NBA. Então acredito que estão sendo quebradas muitas barreiras em relação a isso. A Fernanda é parte disso, me orgulha!”, conta o zagueiro do Red Bull. 

As funções de cada um são bem delimitadas no dia-a-dia, quem conhece a Fernanda logo percebe o empenho e profissionalismo que ela conduz as situações, mas no apito inicial... 

A verdade é que tem horas que emoção e função também se confudem, em qualquer estádio que o time do Léo estiver jogando, com certeza haverá uma Fernanda ansiosa na arquibacada. E nessa hora, nesses 90 minutos, ela é só a irmã do Leonardo. Que sofre a cada lance. Que sente na pele cada jogada. Nesses momentos, a apaixonada por futebol nos lembra o recado mais importante: precisamos também amar aquilo que fazemos para termos sucesso. 

“O mais legal é que estamos crescendo juntos. Eu, dentro de campo, dentro da minha função e ela fora, acompanhando e crescendo junto na função dela. A cada nova situação, é algo diferente, um desafio cada vez maior e vai dando experiência tanto pra ela quanto pra mim”,  completa o zagueiro. 

Nesta segunda-feira, no Estádio Moisés Lucarelli, o Red Bull Brasil busca o título inédito de campeão do interior do Paulista diante da Ponte Preta. Haverá um jovem zagueiro em busca de mais um sonho nos gramados. Uma manager talentosa que vira torcedora e irmã na arquibancada. E claro, quase que dentro de campo, com o peito cheio de orgulho, um campeão mundial realizado pelo legado que deixou para os dois filhos. Afinal, amar o futebol é também hereditário! Sucesso família, Ortiz! 

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Muito mais do que um uniforme na jornada do futebol feminino pela igualdade

Bibiana Bolson
Realizada <3
Realizada <3 Reprodução


No dia que uma marca esportiva lançou pela primeira vez na história um uniforme todo pensado para as mulheres, incluindo conceito e design, apresentando também iniciativas para o desenvolvimento do futebol amador e profissional, eu voltei no tempo. Abri um portal de volta ao meu primeiro contato com esse esporte que eu tanto amo. 

Aliás, é louco. Uma das coisas que eu mais amo, eu não sei “fazer”. Estudei muito futebol. Estudo ainda. Sou apaixonada por esse esporte. Mas não sei jogar e tive pouquíssimas oportunidades para aprender, assim, jogando.

Vivi uma noite mágica. Ao pisar no gramado do Estádio do Pacaembu pela segunda vez, sendo que a primeira foi para cobrir os sonhos de jovens jogadores da Copa São Paulo recentemente, senti uma das maiores alegrias dos últimos meses. Foi como se muito da nossa luta diária (essa luta dura e coletiva) estivesse valendo a pena. É simbólico, mas é impactante, porque foi exatamente assim que aconteceu. Então, em frações de segundos, me transportei para as lembranças de quando eu, magrinha, de pernas tortas, fazia parte de todas as atividades oferecidas pela escola: teatro, pintura, coral, dança, vôlei. Lembrei das aulas de educação física e de como poucas vezes nós, as meninas, corremos de um lado para o outro com uma bola apenas nos pés. Me recordei que tudo que eu sei sobre futebol foi porque aprendi VENDO. Assistindo pela televisão. Me emocionando com o sonho realizado de outras pessoas. Quão maluco é amar com tanta intensidade algo que sempre aconteceu com essa distância? COMO?

Essa história é a minha, mas ela encontra a de outras tantas meninas que simplesmente não tiveram a chance de praticar mais esse esporte. Que iam para a quadra de vôlei enquanto os colegas se divertiam no futebol. Que faziam aulas de dança, balé, artes, enquanto o irmão ia para a escolinha bater bola.  A minha história encontra também o enredo daquelas que fizeram o oposto, das que, a contragosto, remando contra a maré, jogavam sim futebol na escola e nos campinhos do bairro. Ou ainda das que depois de mais velhas decidiram que era chegada a hora de finalmente praticar de igual para igual. Não se intimidaram, montaram times, viver o sonho atrasado...

Mulheres jogando no Pacaembu
Mulheres jogando no Pacaembu Nike

Eu sou péssima jogadora. Me falta talento, me falta coordenação, mas em especial, entendo que me faltou oportunidade. Não que eu seria uma grande atleta, mas definitivamente me faltou mais chances. E isso começou na escola, na tradicional ideia de que durante as aulas de Educação Física, meninos e meninas deveriam praticar exercícios separados, na maioria das vezes. Tudo isso iniciou na delimitação do que é para quem. 

Hoje, chegando aos 30, e dedicada intensamente às nossas causas, consigo entender melhor sobre as dificuldades de desconstrução que nós -sociedade- temos. Compreendo quão difícil é nos desprendermos de culturas enrraigadas e que nos transformaram nesse mundo que, sim, é machista e tão intolerante. 

Queria compartilhar aqui como pisar no Pacaembu foi incrível, mas também que mais fantástico ainda foi estar acompanhada de tantas mulheres. Éramos MUITAS. Foi lindo perceber no olhar de cada uma a alegria e o entendimento de que estamos mudando aos poucos as coisas. 

Saber jogar futebol é o que menos importa na nossa luta. A verdade é essa. Jogamos umas pelas outras. E nos reconhecemos em cada drible como mulheres capazes de superar tudo que passamos até aqui para reescrevermos uma nova história. Além disso, há uma novíssima geração que chega carregando a nossa herança da resiliência e a força necessária para outros rompimentos. Está acontecendo... já está acontecendo. 

Nas palavras da Adriana, jogadora da Seleção, “Queria deixar o incentivo para vocês, meninas que sonham em ser jogadoras de futebol. Não desistam. O caminho é longo, mas vocês não fazem ideia de como é prazeroso chegar a um clube de alto nível, como eu cheguei ao Corinthians, e ainda mais chegar em uma Seleção Brasileira. Sigam seus sonhos”. 

Sigam sempre! Como amadoras ou profissionais. Lutemos juntas! 

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Garimpo da bola: Corinthians realiza peneira feminina sub-17 pela primeira vez

Bibiana Bolson
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Logo que eu cheguei no Parque São Jorge sabia que seria uma manhã diferente. Afinal, não é sempre que a pauta é "PENEIRA FEMININA". Verdade é que, essas duas palavras juntas são mesmo quase que um acontecimento no Brasil. Fomos surpreendidos por um dia de peneira LOTADA em São Paulo. Com meninas habilidosas, super jovens, mas mais do que isso, extremamente determinadas. 

Venho de três semanas intensas cobrindo a Copa São Paulo de Futebol Júnior, dias em que pude ver o talento e também o abismo que existe entre os times de base de equipes espalhadas pelo país, e, se o masculino já carece tanto de estrutura e planejamento, pense então como é a formação do feminino... Grande parte dos clubes se quer tem o tal time de meninas no elenco principal!

O Corinthians que nos últimos anos tem dedicado verba, marketing e atenção ao futebol feminino, agora também entende que o movimento para desenvolver atletas PRECISA começar do começo, com toda a redundância dessa frase. Do início. É oportunizando o desenvolvimento na idade infantil, quando os fundamentos da formação fazem toda a diferença. 

A Daniela Alves, ex jogadora da seleção brasileira e também auxiliar, hoje treinadora responsável pela base do Corinthians, falou exatamente sobre isso: “Invertemos um pouco a lógica, até aqui a gente tentou desenvolver as meninas já no profissional, agora é chegada a hora para que a gente consiga fazer isso do início, na formação delas”. O Corinthians que tem tido destaque em todos os campeonatos femininos que disputa conta também com a dedicação e a experiência de Milene Domingues nos bastidores. Hoje, embaixadora do time feminino, “essas meninas estão superdesenvolvidas, na minha época, com 12, 13 anos, o destaque era só se a menina fosse muito incrível, era bem diferente! É muito bacana pensar que o time 'improvisado' que o Corinthians montou pela primeira vez lá no final dos anos 90 e que eu fiz parte está com esses planos, evoluindo para ser um clube que forma meninas desde cedo”, celebrou a também eterna rainha das embaixadinhas.

Nos últimos meses, a movimentação dos clubes do futebol brasileiro para a montagem de equipes femininas foi acelerada. Os classificados à Libertadores e Sul-Americana de 2019 para estarem aptos às disputas precisarão ter times de mulheres em atividade. E, como as competições são cobiçados por pelo menos 8 grandes clubes do Brasil, é preciso correr atrás do prejuízo de anos de “abandono” da modalidade. Alline Calandrini, ex-jogadora do Corinthians, destacou essa exigência da Conmebol como importante. “Foi necessário, os clubes não iriam abrir as portas assim, sabemos que estamos entrando ‘forçando’ uma barra, mas não tenho dúvidas que os clubes vão se apaixonar pelo futebol feminino, as pessoas também...temos que quebrar esse preconceito”. 

Como sempre costumo dizer, talentos não faltam. Entre as muitas necessidades do futebol feminino, essa lapidação é um passo significativo na minha opinião. Em três dias de peneira, foram quase 800 inscrições pela Internet. Muitas, infelizmente, acabaram não testando por conta do deslocamento e pela ausência dos exames que precisavam ser apresentados, mas o contato de algumas horas com essas meninas, com os pais, mães, tios, me encheram de alegria. Há muita gente SIM que se importa, que acredita no futebol feminino. 

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Sete xícaras de café, nervosismo e 40 minutos: os bastidores da conversa com a atacante Marta

Bibiana Bolson
Bibiana Bolson
A primeira mulher a receber uma Bola de Ouro no prêmio Bola de Prata ESPN Sporting Bet
A primeira mulher a receber uma Bola de Ouro no prêmio Bola de Prata ESPN Sporting Bet Rafael de Oliveira

Foi uma noite de pouco sono. Uma daquelas noites que você, mentalmente, cria “possíveis” diálogos. Não lembro exatamente quando tinha sentido isso pela última vez, mas o que posso garantir é que quando o momento da manhã de segunda-feira de fato aconteceu, ele foi muito melhor do que tinha planejado na minha mente. Essa é a narrativa da repórter que entrevista pela primeira vez a melhor jogadora de futebol do Brasil, Marta, uma das maiores da história do esporte mundial, referência e inspiração para todos.

Quando cheguei no quarto do hotel em que Marta estava hospedada, fui recebida com um sorriso largo. Gosto quando isso acontece, um entrevistado que dá boas-vindas com o que existe de mais bonito ao primeiro encontro. Eu, ainda “desajeitada”, pensando na lista de perguntas que queria fazer, levei alguns minutos para conseguir agir naturalmente ali. O gelo inicial foi então quebrado quando ela contou que tinha tomado sete xícaras de café na noite anterior, que a noite ideal de sono (completa) deu lugar à ansiedade de acordar para o compromisso nas primeiras horas da manhã. Quer dizer, se até a Marta, acostumada com prêmios e homenagens, estava nervosa, eu também poderia estar.

 “Ainda dá para sentir a adrenalina em dias assim?”, perguntei iniciando nossa conversa. Marta respondeu que sim, mas foram as constantes pausas na fala interrompidas pelas lágrimas nos olhos que me ofereceram a melhor das respostas e o combustível para esse relato. Foi a expressão no rosto dessa jogadora, além das palavras, que deu a dimensão de quem ela é fora dos gramados: uma gigante.

Eu fui reconstruindo algumas imagens enquanto ela falava: toda vez que a atacante alagoana sobe num palco, escuta o hino nacional num grande evento com a camisa da seleção, ela é invadida por lembranças de um passado marcante. Aos 14 anos, no trajeto de ônibus saindo de Dois Riachos. Chegando ao Rio de Janeiro, apavorada com os desafios no time feminino do Vasco da Gama. Ela e todas as pessoas que cruzariam o seu caminho até que entrasse para a história como a única atleta a receber seis vezes o prêmio da Fifa de melhor do mundo. Quantas cenas passearam pelos meus pensamentos.

A atacante Marta recebeu a equipe da ESPN Brasil para conversa exclusiva.
A atacante Marta recebeu a equipe da ESPN Brasil para conversa exclusiva. Instagram @bibianabolson

Foi intenso. Essa Marta, que ganhou prêmios quando eles sequer existiam, que desbravou o futebol sueco e o norte-americano, que recebeu pela primeira vez e outras 5 uma Bola de Ouro, nos ensina através de uma linda trajetória sobre resiliência, sobre determinação e sobre como também se reinventar. “A gente tem que tentar evoluir, a gente sempre tem alguma coisa para melhorar, não dá para desistir, independente dos obstáculos, o que aconteceu é para mostrar que tudo é possível. Eu passei um tempo sem vencer e olha 2018, voltar a ganhar foi um exemplo, para que as pessoas também não desistam”, relembrou Marta.  

Durante nosso encontro, fiz questão de reforçar como a presença dela no Bola de Prata dessa edição, recebendo a Bola de Ouro pela primeira vez, nos orgulhava. E, por mais óbvio que seja, vale lembrar o porquê. Marta é a força que serve como exemplo para que superemos situações no campinho na esquina de casa, nas partidas no bairro, nos estádios, nas ruas, no dia-a-dia. É a história da mulher que foi quebrando as barreiras do preconceito para conquistar espaço, que ao não desistir dos sonhos tornou-se dona de um rosto e uma voz que potencializam nossa luta por igualdade. Nesse ponto, o discurso emocionante da rainha na premiação da ESPN foi também mencionado no bate-papo. “A igualdade de gênero é um pacote completo, vem o respeito, vem o empoderamento, vem tudo aquilo que é necessário para entender que nós seremos humanos somos capazes de tudo, independentemente do sexo”. E, em 2018, o trabalho como embaixadora do ONU Mulheres fez com que essa responsabilidade aumentasse, “algo que o dinheiro compra, não é o status, é um trabalho através do teu exemplo de vida, da tua história, me sinto muito honrada”, contou emocionada.

Foram 40 minutos muito especiais. 40 minutos que já estão eternizados na minha trajetória como jornalista. Tempo suficiente para me lembrar que há pessoas que nascem sim para o sucesso, mas que é o caminho percorrido ao longo da vida que determina o tamanho de suas conquistas. A menina humilde e obstinada de Dois Riachos sempre vai existir e talvez por isso a mulher Marta seja quem é hoje. 

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Mais valiosa liga de futebol, a Premier League será comandada por uma mulher

Bibiana Bolson
Bibiana Bolson
Susanna Dinnage: a primeira diretora executiva da Premier League
Susanna Dinnage: a primeira diretora executiva da Premier League Getty Images

Não há dúvidas de que Richard Scudamor transformou o futebol inglês em uma marca de entretenimento global. Em 20 anos como principal nome da Premier League, Scudmor conseguiu monetizar os direitos de TV e fazer da competição um verdadeiro diamante do segmento, uniu o prestígio de jogadores e treinadores que passaram pelo campeonato durante esse tempo a um bem-sucedido modelo de negócio. Agora, pela primeira vez em 25 anos de história, a liga que atingiu um recorde de mais de 22 bilhões de reais em receita na última temporada, estará sob a direção de uma mulher. A partir de 2019, a executiva de televisão Susanna Dinnage vai suceder Scudamore como diretora executiva da Premier League. 

Dinnage é nome conhecido no mercado inglês, nas últimas duas décadas, foi responsável por projetos ousados e lucrativos em território britânico. A presidente global da Animal Planet, parte do grupo Discovery de canais de TV, iniciou a carreira trabalhando para a indústria do entreternimento, no currículo estão estratégias como a de expansão da MTV Network. É respeita no meio do showbusiness e apontada por muitos como “um avião para os negócios”.

Ao jornal Telegraph, Dinnage falou estar animada com a perspectiva de assumir esse papel fantástico em janeiro de 2019. “A Premier League significa muito para tantas pessoas. Representa o auge do esporte profissional e a oportunidade de liderar uma organização tão dinâmica e inspiradora, o que é um grande privilégio. Com o apoio dos clubes e da equipe da PL, estou ansiosa para estender o sucesso da Liga por muitos anos ”, disse a executiva.

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O principal desafio de Dinnage será baseado principalmente no momento global de consumo de conteúdo,  os hábitos mudaram, e “digital” virou palavra-chave com o frequente crescimento da exibição de esportes em plataformas como o Facebook, além da popularização do streaming e a perda de espaço das emissoras tradicionais. Aliás, poucas horas antes do anúncio da nomeação da executiva, a Premier League fechou um acordo com a emissora digital DAZN para mostrar jogos da liga na Espanha. No início deste ano, a Amazon comprou os direitos do Reino Unido para mostrar dois jogos da Premier League no seu serviço Prime. Dinnage chega ao novo cargo com anos de experiência e habilidade em negociações de acordos de transmissão.

Para Bruce Buck, o presidente do comitê de indicações da Premier League e responsável pela nomeação, Dinnage é "a melhor opção" para o cargo. “Estamos muito satisfeitos em nomear um líder tão capaz para este importante papel. Tivemos um campo muito forte, mas Susanna foi a escolha excelente, dado seu histórico em gerenciar negócios complexos por meio de transformação e interrupção digital”.


Outro desafio de Dinnage está relacionado com o Brexit. A Premier League está preocupada com o fato de que os jogadores europeus serão elegíveis para autorizações de trabalho após o Brexit, e se os jogadores com 16 ou 17 anos ainda poderão mudar para o país. Há uma pressão para que o governo conceda determinados privilégios nesse ponto de restrições. Além disso, a Associação Inglesa de Futebol planeja reduzir de 17 para 12 o número de estrangeiros permitidos em cada time da Premier League, mais uma missão para Dinnage administrar com um possível declínio da liga com a medida, atualmente, 13 das equipes têm mais de 12 estrangeiros em seus elencos.

Moradora de Londres, conhecida por ser fã do Fulham, Sussana Dinnage junta-se a lista (ainda enxuta) de mulheres em posição de destaque no futebol internacional. É um grande passo para um mundo que cada vez mais abre alas para que a capacidade seja recompensada independente do gênero. Um passo significativo, é a mais valiosa liga de futebol, produto nobre do esporte, no berço da modalide, sob direção feminina

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'Faltou rigor ao STJD', diz Bibiana Bolson sobre a condenação de 4 anos e multa de R$ 300 mil para ex treinador da ginástica

Bibiana Bolson
Bibiana Bolson

Fernando de Carvalho Lopes foi treinador da equipe brasileira de ginástica
Fernando de Carvalho Lopes foi treinador da equipe brasileira de ginástica RicardoBufolin/CBG

Em Brasília, na Primeira Comissão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) da ginástica, o entendimento foi unânime: Fernando feriu cinco artigos do Código Brasileiro de Justiça Desportiva com suas práticas de abusos sexuais e, portanto, teve tempo de afastamento calculado, bem como multa aplicada como forma de “compensação” pela sua má conduta.  Apesar da condenação que já era esperada diante da gravidade das denúncias, a pergunta que fica nesse momento é: APENAS quatro anos? Depois de tudo, SÓ quatro anos longe da função?

Essa decisão desperta em mim muitos sentimentos. O primeiro é o de indignação, revi todas as reportagens produzidas pela colega Joanna de Assis (responsável por um primoroso trabalho de apuração, exercício de um jornalismo investigativo referência), fico com a lembranças e aquela dor no peito pensando nas palavras que foram ao ar, nos relatos compartilhados, nos traumas e sofrimentos expostos em rede nacional. O segundo é o de indagação/incertezas: são as nossas regras/leis assim tão falhas ou seriam falhos os entendimentos do STJD?.

De acordo com Edivaldo Brasileiro, presidente da comissão, e dois outros auditores responsáveis, Fernando recebeu pena máxima nos cinco artigos em que foi enquadrado. O que parece muito pouco, segundo a defesa das vítimas. Representada pelo advogado Américo Espallargas, a defesa pretende recorrer da decisão e pedirá uma pena mais dura. Um artigo da FIG (Federação Internacional de Ginástica) que prevê banimento do esporte por fato grave já tinha sido usado pela defesa e será reforça em segunda instância. 

Durante dois anos, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) teve sob seu teto um assediador. Ainda que por “falta” de provas o Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil (COB) tenha absolvido a CBG da acusação de omissão no caso, não podemos esquecer que foi em ambiente “oficial” que Fernando usou de sua função e influência para cometer crimes. Assim, no plural. Pelo menos 25 depoimentos evidenciam as situações mais absurdas que atletas formam submetidos enquanto Fernando ocupava o cargo de treinador.  Será mesmo isso pode ser “compensado” com uma suspensão de 1.440 dias em qualquer atividade relacionada à ginástica e multa de R$ 300 mil? Não. Para mim, a resposta é não. É preciso maior rigor, STJD!

No campo “civil”, o que o cidadão Fernando precisa prestar contas à Justiça brasileira, o processo ainda está sendo julgado. Para preservar as vítimas, há uma investigação do processo criminal que segue em sigilo no Ministério Público de São Bernardo do Campo e na Delegacia da Mulher, do Adolescente e da Criança (DDM) da cidade paulista. O treinador nega que tenha praticado os abusos sexuais. Em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Maus Tratos disse que as denúncias eram atos de “vingança”, fruto de atletas insatisfeitos com o rigor que ele conduzia os treinamentos. 

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'Faltou rigor ao STJD', diz Bibiana Bolson sobre a condenação de 4 anos e multa de R$ 300 mil para ex treinador da ginástica

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5 vezes Melhor do Mundo é imune às denúncias de abuso sexual? O caso de CR7 'ignorado' pela imprensa italiana

Bibiana Bolson
Bibiana Bolson


Atacante da Juventus está sendo acusado de estupro
Atacante da Juventus está sendo acusado de estupro Getty Images

As cinco conquistas de melhor do planeta, os milhões na conta, os inúmeros troféus e o talento não deveriam fazer do português Cristiano Ronaldo alguém que está acima da lei. Ninguém está. A julgar pelo tamanho desse jogador, pela personalidade dentro de campo e pela frequente conduta nos gramados, para o jornal italiano Tuttusport, CR7 jamais cometeria o crime de estupro. Destaca: “jogador fenomenal e tão correto no campo que nos leva a pensar que ele também é assim fora de campo”. Na minha opinião, esse é erro número um: é impossível tal conclusão levando em consideração apenas a conduta desportiva. Entretanto, o desserviço - assim considero - do jornal italiano continua:

“Agora é uma epidemia. Na sobra de tempo, algumas mulheres se divertem denunciando homens ricos, acusando-os de assediar e, depois de chantageá-los, receber quantias ricas, sem pagamento, iniciam procedimentos legais. Querem ver seus amigos atrás das grades. Assim, surgem escândalos falsos e, no entanto, esmagadores e desonrados para os envolvidos, que vão de fato para o papel de 'carcereiros' e de vítimas. São operações marcadas por abjeção”.

Então vem o erro número dois, o que vou chamar de desmoralização. Se estamos numa intensa batalha para que essas temáticas - nossas temáticas femininas - sejam tratadas com seriedade, se temos avançado no sentido de relevantes movimentos globais pró mulheres, que nos estimulam a perdermos o medo de falar, de se expor, de lembrar, e como sempre digo, um lembrete que deve ser constante, como pode ainda uma publicação tratar uma denúncia com tanta apatia? Como pode escolher palavras tão repugnantes? 

 

Documento assinado por Ronaldo com acordo feito com a vítima em 2009
Documento assinado por Ronaldo com acordo feito com a vítima em 2009 Der Spiegel

Essa acusação, de um estupro que teria ocorrido em Las Vegas, tomou conta das manchetes do mundo inteiro. Compete à Justiça determinar se o fato ocorreu ou não. E a imprensa o papel que lhe diz respeito: apurar, trazer os dois lados, informar. E, ainda que o texto, publicado num dos maiores jornais de Turim, fosse Jornalismo de Opinião, desqualificar uma mulher e tratar o estupro, o assédio, como uma “moda” de forma geral é uma afronta. 

A modelo Kathryn Mayorga alega que o fato teria acontecido em Las Vegas em 2009. O jogador teria a levado para a cobertura onde estava hospedado e forçado a ter relações sexuais com ele. Cristiano, nas redes sociais, chamou o caso de fake news e disse que Mayorga estava tentando se promover às custas dele. Nos Estados Unidos, a polícia decidiu reabrir o caso. Segundo o advogado da modelo, há provas suficientes para o processo, entre elas, um registro de queixa que teria ocorrido na data - um abuso sexual num hotel de luxo, em que a vítima não se identificou, mas passou por perícia. Além disso, a revista alemã Der Spiegel publicou uma reportagem em que afirma ter tido acesso a documentos que revelam um acordo de silêncio entre o jogador e a modelo, por isso essas revelações só virem a público agora, 9 anos depois.

Um dos advogados de Cristiano, em comunicado divulgado pela Gestifute, a agência que representa o astro do Real Madrid, disse que esses documentos são falsos e que foi irresponsabilidade pública-los. “Os documentos que supostamente contêm declarações do senhor Ronaldo e foram reproduzidas na imprensa são puras invenções", afirmou o advogado. Ainda segundo ele, os documentos foram roubados por um hacker e que "partes significativas" desses documentos foram "alteradas e/ou completamente fabricadas". 

Dessa forma, Cristiano Ronaldo não nega o acordo, mas diz que as razões que o levaram a fazê-lo estariam então sendo sendo distorcidas, sem que o acordo represente uma confissão de culpa. O acordo seria de US$ 375.000,00 pela confidencialidade. 

O advogado Leslie Stoval, que defende Mayorga na acusação, afirmou ao jornal The Sun que foi ainda procurado por outras três mulheres relatando situações similares com Cristiano Ronaldo. A primeira delas teria sofrido o crime durante uma festa, a segunda teria sido 'ferida' pelo craque português, e a terceira já teria feito um acordo com o atleta, assim como Kathryn.

 A notícia, apesar de desacreditada também por outros veículos italianos, teve repercussão direta nos negócios. Na Bolsa de Milão, as ações da Juventus, clube em que o português foi comprado para ser a grande estrela da temporada, registraram queda de 5,3% naquela mesma sexta, somando perda de mais de 18% desde que as alegações de abuso sexual começaram a circular. Cristiano Ronaldo, figura símbolo de diversas campanhas, pode sofrer consequências diretas com marcas, incluindo o cancelamento de contratos. Mas, se comprovada a culpa de Cristiano, esse seria o menor dos danos. 

Trago esse episódio como forma de reflexão. Não há como isentar um ídolo sob o argumento de uma boa imagem ao longo dos anos de carreira, afinal, um gênio dos gramados pode ser um crápula fora deles. Não dá também para previamente condená-lo. Agora o que não pode, sob hipótese alguma, é desconsiderar uma denúncia dessa gravidade. Nem desconsiderar, nem desmoralizar, Tuttusport

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Justiça seja feita, é da Argentina que vem o que há de pior e melhor do futebol

Bibiana Bolson
Bibiana Bolson
Emília e Delfina jogam hoje pelo River Plate
Emília e Delfina jogam hoje pelo River Plate Reprodução

Favorecimento aos clubes argentinos. Verdade ou não, fato é que ainda estamos incomodados com o senso zero de justiça da arbitragem entre Boca Juniors e Cruzeiro na última quarta-feira pela Copa Libertadores. A expulsão do Dedé, totalmente descabida, tem gerado uma intensa mobilização nos bastidores. O clube mineiro busca reverter a decisão que foi determinante no resultado do primeiro encontro entre as duas equipes.

Desde que a competição começou, os clubes brasileiros foram prejudicados pelas decisões envolvendo a CONMEBOL, a Confederação Sul-Americana de Futebol. Primeiro, o Santos foi punido pela escalação irregular de Carlos Sánchez contra o Independiente. Além disso, outro time argentino teria também se beneficiado de uma decisão extra-campo,  a absolvição da escalação de Bruno Zuculini em sete partidas da Libertadores pelo River Plate. Claramente, um peso e duas medidas. 

 Deixando de lado o que mancha o futebol latino-americano nesse sentindo de desorganização do esporte, de falta de transparência e de um possível favorecimento para as equipes argentinas, nossos vizinhos merecem aplausos num caso de extrema relevância nas causas de igualdade de gênero, gerando assim jurisprudência única que pode ser de muitíssimo valor. 

A história é das gêmeas argentinas apaixonadas por futebol desde os três anos de idade: Emília e Delfina. A mãe das garotas conseguiu na Justiça uma sentença que garantiu o direito delas estarem em campo da mesma forma que meninos em competições escolares de base. 

“Nossos colegas de escola diziam que nós não éramos ruins, que éramos só mulheres". Foi assim que bem cedo, aos 7 anos, tiveram que encarar ainda os olhares de desaprovação de pais de alunos e o veto de um treinador para competir. Não era a capacidade das gêmeas que estava sendo levada em consideração, mas o sexo: “meninas não podem sentar no banco ou ser escaladas, vamos perder pontos”, disse um dos responsáveis pela equipe.

“Não existiam outras categorias para idades menores em outros clubes. Por isso fomos conversar com o coordenador, com os treinadores e até com o presidente da GEBA. Mas o clube virou as costas para nós, tivemos que juntar 600 assinaturas em um mesmo dia e fomos para a Justiça”, contou Diana Blanco ao Clarín. 

No tribunal, a mãe ouviu do juiz: “Parabenizo você! Você veio pelo direito de suas filhas, não por dinheiro ". Era o precedente inédito na Argentina: uma ordem judicial permitiu que as filhas pudessem jogar no GEBA e continuassem na disputa do Mundialito do Club dos Amigos. 

Emília e Delfina
Emília e Delfina Reprodução

Acontece que a felicidade durou apenas um ano: foi o tempo determinado de medida cautelar. Sem que pudessem estender a determinação por mais um ano (a não ser que ingressassem novamente com um processo judicial), as duas meninas tiveram a sorte de receber um convite para integrar a equipe do River Plate.

Em território argentino, o time foi um dos pioneiros nesse tipo de trabalho com meninas e meninos. Desde 1991, o clube valoriza a integração de mulheres também nas categorias de base. Atualmente, 90 meninas fazem parte dos projetos do clube argentino, 30, entre elas as duas garotas, disputam a Primeira Divisão da Argentina, as outras 60 seguem na base. 

Por fim, eis aqui um cenário animador: no último Congresso Internacional de Futebol, que aconteceu na Argentina, dados mostraram que a atividade esportiva que mais cresceu nos últimos dez anos foi justamente o futebol feminino. No país, mais de um milhão de mulheres estão envolvidas na modalidade. As condições estão longe do que seria ideal. Frequentemente, há notícias sobre a desvalorização das atletas profissionais, os baixos salários e os problemas enfrentados pela falta de estrutura. Entretanto, pelo menos nesse ponto, o de aumento de mulheres na modalidade, é uma razão para nos inspirarmos. 

Las chicas argentinas batem um bolão! ?

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Serena Williams é gigante como Muhammad Ali e Michael Jordan

Bibiana Bolson
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As palavras não são minhas, embora concorde plenamente: não precisamos esperar o tempo passar, assim como Jordan e Ali, Serena é grande, isso já é um fato. Mas foi Spike Lee quem comparou a tenista as lendas do esporte, no Arthur Ashe Stadium,

Lee, produtor e diretor norte-americano, acompanhou os jogos do US Open e falou  que ao olhar para Serena lembra de gigantes:

“Estou olhando para Jordan, estou olhando para Ali, (Joe) Namath, Jim Brown, nós conseguimos ver essas pessoas, é incrível".

É claro que o cineasta se referia a importância esportiva que Serena tem ao compara-la a ícones, mas de certa forma Lee fazia referência também ao que vai além de uma competição: era sobre a voz de Serena, a sua representatividade. Não por acaso, uma mulher negra que ocupa o posto de uma das celebridades mais relevantes do planeta. 

Lee, também negro, é considerado o cineasta que colocou o dedo na ferida ao levar para Hollywood a temática racial, o preconceito com negros e a questão tão latente nos Estados Unidos. Ativista e frequentemente defensor público da causa, fez essa menção à Serena justamente na semana em que o lançamento de uma campanha comemorativa da Nike colocou o racismo em pauta globalmente. E, Serena, claro, mais uma vez, teve voz com uma declaração de total apoio a marca envolvida e a Kaepernick.

A Nike escolheu o jogador Colin Kaepernick (da NFL) para estrelar a campanha que tem seu rosto estampado acompanhado da frase: “Acredite em algo. Mesmo que isso signifique sacrificar tudo”. 


Sim, Colin Kaepernick, aquele que, em 2016, ajoelhou-se durante o hino nacional dos EUA em protesto contra injustiça racial e a violência policial contra negros no país. Pela atitude, conquistou a admiração de muitos, mas também despertou a ira do homem mais importante dos Estados Unidos: o presidente Donald Trump, que chegou a exigir que o atleta fosse punido e demitido na época. Agora, a escolha do ex-quarterback do San Francisco 49ers, sem clube desde 2016, reacendeu a questão, críticos raivosos viralizaram vídeos em que queimavam produtos da Nike e sugeriram um boicote à marca. As ações da empresa chegaram a sofrer uma desvalorização na bolsa de valores.

No contra-fluxo, uma hasghtag (#ImKaepernick) de suporte esteve entre as mais mencionadas nas redes sociais, outras milhares de mensagens de apoio chegaram à Kaepernick, entre elas, a de Serena, que no Twitter disparou: “Especialmente orgulhosa de fazer parte dessa família (Nike) num dia como o de hoje”. Na coletiva de imprensa no US Open, Serena fez questão de dizer que todos deveriam estar gratos ao que tem feito Colin Karpernick, alguém que realmente está procurando por mudanças sociais, como frisou. 


Foi mais uma aula de Serena Williams lembrando que não é apenas esporte. É mais. É espelho social. É reflexo de tudo que acontece fora das quadras, dos gramados, dos tatames, seja lá onde for, é retrato do que ocorre a todo instante. E essas vozes devem ser ouvidas, respeitadas. 

Vem aí mais uma semifinal na carreira da norte-americana que o mundo tão bem conhece: ela chega a semi de número 36 em Grand Slams na carreira. Em busca de um novo feito. Em Nova Iorque, nos Estados Unidos, a mãe que disse “Sim, eu posso continuar jogando em alto nível”, a mulher que não se deixa intimidar com o veto do que vestir e responde com a elegância/sutileza de um tutu de balé como uniforme, tem sido grande, em todos os sentidos. Na última terça-feira, saiu atrás, incomodada, derrotou Karolina Pliskova, número 8 do mundo, num daqueles jogos especiais, sabia o peso que tinha jogar no Queens. Não vibrou em quase uma hora e meia de partida, embora contasse com o incentivo da plateia. Sentiu-se “cobrada”, sofreu, mas venceu. Foi “serena” para conduzir a primeira vitória diante de uma TOP 10 desde que Olympia nasceu. Um salve para esta mulher! 

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COMEÇOU! Seja bem-vinda, Copa do Mundo da Rússia!

Bibiana Bolson
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Penta
Penta Getty Images

Chegou a hora de 32 seleções disputarem a mais cobiçada taça do futebol. Chegamos confiantes, mas aos poucos. É verdade que a nossa empolgação não é como a de anos anteriores, falta alguma coisa, tem algo no nosso peito dizendo que precisamos ir devagar, né?! Entre aquela respirada profunda e as palpitações que fazem o coração quase sair pela boca, vamos em busca do sexto título mundial, a procura de uma "soberania" que antes do 7x1 foi por anos inquestionável e que se perdeu naquela goleada dos alemães. Chegamos com Tite e seus 23 convocados num clima de unidade, sim, nós temos um time, temos um timaço! Nós mostramos isso nas excelentes exibições dos últimos meses, percorremos um caminho consistente, mas não sabemos o que estará lá na frente, não há como prever, há só indícios, nunca certezas. 

Com 29 anos (jovem :P) tenho a memória exata sobre seis Copas. Seis edições que deixaram alguma marca na minha vida, a de uma torcedora apaixonada por esporte. A primeira é de 1994, com cinco anos, lembro sobre o dia da final, de estar no jardim da minha casa no interior e escutar os gritos dos meus pais. Confesso que, às vezes, fico em dúvida se as lembranças que eu guardo da Copa foram geradas naquele ano mesmo ou absorvidas com as reprises das imagens da conquista do tetra, mas daquele tempo vem a memória do Romário, Bebeto e um tal "cara" que perdeu o pênalti (que depois minha mente processaria como o italiano Baggio). Foi só uma introdução, seria a França a grande e importante Copa da minha história...

Em 1998, eu tinha nove anos, aliás, completados alguns dias antes da Copa, em 6 de junho, e naquele aniversário a decoração da festinha para os amigos não poderia ter sido outra: bolo do Brasil, bandeirinhas, doces nas cores verde e amarelo, e minha casa virando a partir daí a concentração dos meus colegas. Tínhamos um ritual: minha mãe ficava responsável pelos lanches, meus colegas pela torcida, pelos apitos, pelos gritos, pela energia de uma casa cheia. Uma galerinha do barulho! 

Ironicamente, ainda criança, já começava a lapidar a história que escreveria enquanto jornalista, sempre fui curiosa, sempre carreguei um "q" de repórter.  Na agenda de 1998, recortei e colei todas as manchetes relacionadas a Copa. No meu diário, com palavras juvenis, expressei a grande paixão pela Seleção do Zagallo. Aquele time era mágico para mim, Ronaldo, Rivaldo e Denílson eram meus favoritos, Taffarel representava uma espécie de herói. Que goleiro! Que jogo esplendido em que o gaúcho pegou dois pênaltis. Naquela partida, tive a impressão que viveria a maior glória enquanto torcedora, estávamos a um jogo de mais um título, e para mim, cercada pelos meus colegas de escola, uma Copa memorável. A taça daquela Copa que nunca se concretizou como sabemos, mas que foi chave para ensinamentos sobre derrotas, porque sim, Copas ensinam. Sempre há alguma lição para ser absorvida, e nessa hora, choram adultos, choram crianças, os pais, coitados, têm a missão de em meio a dor tentar encontrar palavras para o consolo.

Recortes sobre a Copa do Mundo numa agenda de 1998
Recortes sobre a Copa do Mundo numa agenda de 1998 Arquivo Pessoal


Engraçado que mesmo com a derrota em 1998, em 2002, a nossa empolgação era muito grande. Acreditávamos que aquele desfecho de quatro anos antes na França não era o que merecíamos e que portanto teríamos uma nova oportunidade. O penta foi lindo! Uma história marcada pela superação, principalmente do Fenômeno, Ronaldo tinha que ser campeão mundial, esse é um dos enredos mais lindos da Seleção Brasileira. Nessa Copa, teve festa e carreata. Teve música, churrascos no Rio Grande do Sul e o hit de Ivete Sangalo, "A Festa" foi sucesso.  Hoje, na abertura da Copa, Ivete Sangalo fez com que eu voltasse no tempo também. A cantora baiana relembrou esse momento único, com essa foto com a taça no colo,  compartilhou com os seguidores as lembranças de ter sido a voz que embalou aquela seleção. "Eu tive a alegria de poder beijar a taça quando o Brasil foi campeão. A música “Festa” embalou o nosso time na Copa do Mundo. Tempo mais que maravilhoso! Aí eu estava no avião da seleção e foi um dos dias mais legais que já vivi", postou. 



As Copas de 2006 e 2010 também foram acompanhadas por mim, na primeira, pelo desempenho decepcionante do Brasil acabei adotando a Seleção italiana como o meu time, aquela equipe eu considerava incrível, por ser aguerrida e representar bastante sobre o que eu tinha absorvido do futebol até ali. A Itália tinha um goleiro paredão e que viraria minha grande referência na posição para sempre (Buffon), aquela defesa sólida que dava medo (saudades Cannavaro!) e as presenças de Pirlo e Totti, dois ídolos. Na Copa seguinte, aquele time não me convencia muito, na minha opinião, Dunga poderia ter levado Adriano, Neymar, Ganso e mesmo Ronaldinho Gaúcho. O brilho de todos ou de um deles poderia ter nos levado a um desfecho diferente? Poderia, acho que sim. 

Lamentavelmente, fizemos pouco para alterar também a realidade que nos foi exposta além da humilhante derrota: a de maus tratos com o que deveria ser o nosso legado infraestrutural,  a da sujeira nos bastidores da CBF, das roubalheiras dos poderes executivo e legislativo do Brasil.  Esse jogo contra a Alemanha foi duro, triste e será sempre extremamente simbólico. 

Ainda assim, quando a Copa de 2018 chega é como se a gente recomeçasse, zerasse tudo, olhasse para o mundial e dissesse: "Tá bom, vamos lá, estava te esperando! Vamos  tentar outra vez". Por um mês, estejamos todos convidados a desfrutar das delícias (e agruras) do espetáculo que sempre deixa alguma marca naqueles que são apaixonados por futebol. #RumoaoHexa #ESPNnaRússia

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O adeus à rainha do tênis brasileiro Maria Esther Bueno

Bibiana Bolson
Bibiana Bolson

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O jornalismo me proporcionou as melhores histórias da minha vida. Como repórter, tive (e tenho) a oportunidade de ouvir e contar histórias inspiradoras.

Foi também o jornalismo que me deu a chance de estar perto de nomes que muito admiro. Maria Esther sempre esteve nessa lista. 

A primeira vez que a encontrei foi em 2014, pegamos o mesmo elevador na emissora que ambas trabalhávamos na época, teve um "bom dia" e um comentário cortês daquele tipo para que o silêncio não se transforme em “intermináveis” segundos de constrangimento. Lembro que pensei: “Nossa, Maria Esther! Como será que essa mulher fez tanta história e poucos falam sobre ela?”.  A resposta não é muito difícil: a nação do futebol acaba não valorizando tanto atletas de outros esportes, o que é uma pena. Além disso, Maria Esther fez parte de uma época em que o tênis era amador, sem marketing e grandes premiações, bem como disputava uma modalidade que ainda hoje acaba atraindo muito mais a atenção da elite. Ela só foi ter sua história com maior divulgação a partir das conquistas de Guga, no final dos anos 90. 

Maria Esther Bueno conquistou 19 Grand Slams e somou 589 títulos internacionais.
Maria Esther Bueno conquistou 19 Grand Slams e somou 589 títulos internacionais. Getty Images

Nosso segundo encontro aconteceu em 2015. Na Arena do Tênis, no Parque Olímpico da Rio 2016, Maria Esther foi homenageada, a quadra central foi batizada com o nome da brasileira que conquistou 19 Grand Slams na carreira. Em meio aos discursos de autoridades e representantes do Comitê Olímpico (alguns desses envolvidos em escândalos de corrupção como Nuzman), a voz doce e o jeito terno da ex número um do mundo  (junto com as declarações de Guga) foi o que mais me marcou naquele dia de evento teste. Estávamos as vésperas do maior evento esportivo do planeta, faltavam poucos meses para esse lindo momento (apesar de todos os problemas de “legado”), e foi sim a humildade de uma multicampeã que chamou minha atenção: 

“Eu não tenho palavras para expressar a minha gratidão e o quanto eu estou feliz. Este é um dos dias mais felizes de minha vida e, sem dúvida, uma das maiores homenagens que eu já recebi em vida”, disse a mulher que já foi homenageada no Hall da Fama do tênis, a única brasileira com essa honraria na modalidade. Por fim completou: “Nunca esperei por isso. Tenho certeza que deixarei o meu legado para as mulheres e aos futuros atletas”. 


Em 2016, trabalhando na assessoria do Rio Open, pude acompanhar algumas visitas de Maria Esther pelo espaços especiais montados para o evento durante a competição. Não tinha um único pedido feito por nós que não era prontamente atendido por ela. De testes em carros de um dos patrocinadores que simulavam provas de alta velocidade (como na Fórmula 1), a uma mensagem gravada para chamar o público para prestigiar o Rio Open.  Era muito legal ver o carinho que ela era tratada pela imprensa nacional e internacional, assim como o carinho da própria com os jornalistas.

Maria Esther era discreta, tímida, mas muito generosa com todos que a cercavam, sempre gentil. Com absoluta certeza deixou um grande legado, o da mulher que sempre quis lutar pelos seus sonhos sem que o gênero fosse um empecilho, o da atleta determinada que saiu do Brasil com apenas a passagem de ida para que a partir dos treinamentos na Inglaterra chegasse a impressionante marca de 589 títulos internacionais. Não por menos intitulada a “Rainha de Wimbledon”, um dos mais tradicionais torneios do esporte, Maria Esther, ainda que as vezes que esquecida pelo grande público, foi também a rainha do tênis brasileiro. Única até aqui e possivelmente nas próximas gerações.  

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“5 anos de Arena e essa foi a primeira queixa de assédio”, diz torcedora do Grêmio assediada na Libertadores

Bibiana Bolson
Bibiana Bolson
Arena Grêmio
Arena Grêmio Getty Images


Em meados de março, quando o #DeixaElaTrabalhar ocupou as manchetes dos principais veículos de comunicação do Brasil e do mundo, dizíamos que a mudança TINHA que vir. Sabíamos que não seria da noite para o dia e que o tempo seria nosso aliado nessa luta. E assim tem sido. 

Em quase dois meses desde o lançamento do nosso manifesto (movimento de jornalistas esportivas contra a violência e o assédio), o mundo continuou sendo mundo com suas histórias tristes envolvendo mulheres, mas alguns acontecimentos deram força a nossa causa, aumentaram o volume da nossa voz. Não vou recapitular, mas trago hoje a entrevista com Fernanda Silva, nome fictício escolhido a pedido da vítima que prefere não se identificar. Fernanda* é a torcedora gremista corajosa que fez o que todas devemos fazer: não se calou, denunciou. Foi a primeira denúncia desse teor que teve punição na Arena do Grêmio. O torcedor foi punido pelo Juizado Especial Criminal e afastado pelos próximos 12 jogos do Grêmio. A cada nova partida da equipe, o homem terá de se apresentar à delegacia mais próxima. O mais surpreendente: a primeira queixa em CINCO anos do estádio. 

EspnW: Há quanto tempo você frequenta o ambiente esportivo e como se sente num estádio?

F: Desde pequena frequento esse ambiente, costumava frequentar muito o Olímpico, às vezes, somente com amigas. Nunca tinha passado por essa situação de alguém tocar em mim, mas sempre escutei “bobagens” de vários homens. Coisa que nós mulheres estamos acostumadas a passar e fingir que não é com a gente. Sinceramente, sempre me senti bem no estádio, mesmo a presença masculina sendo muito maior. Infelizmente, sempre tive que ter alguns cuidados, serviam como uma forma de “proteção”: usar roupas casuais, nada curto e nem muito justo, sempre tentando não chamar a atenção.

 

EspnW: Já tinha passado por algum tipo de assédio/violência similar? 

F: Infelizmente sim, mas eu era bem jovem e posso dizer que isso mexeu muito com meu emocional, diferente de agora, eu não pude recorrer de forma legal. Foi um trauma pra mim e após passar por esse outro tipo de assédio, só me causou mais indignação e fez eu entender que alguma atitude tinha que ser tomada.


EspnW: O que te motivou a denunciar?

F: No momento do ocorrido me senti completamente desamparada, indefesa e vulnerável. Em seguida, encontrei amigos e família, que me apoiaram e me incentivaram a fazer a denúncia.  Uma das pessoas que estava comigo é advogado, ficou comigo do início ao fim, sempre me orientando. Se não fosse por eles eu não saberia a quem recorrer ou como proceder, apesar de querer muito que a justiça fosse feita. Na chegada a delegacia, fui apresentada para uma delegada e estar diante de outra mulher nesse momento foi muito confortante. No momento em que narrei o acontecido senti o interesse dela, me escutou, não julgou e explicou perfeitamente as formas que eu poderia proceder. Além disso, a pessoa da Brigada Militar que me encaminhou até a delegacia era mulher também, me deu proteção e segurou a minha mão o tempo todo. Isso mostra o quão importante é a presença feminina. 

 

EspnW: Você acha que muitas pessoas não denunciam por não acreditarem que as denúncias possam ter desdobramentos? Muitas temem esse tipo de denúncia? 

F: Tenho certeza que muitas temem, ainda mais por acharem que não vai dar em nada e o incômodo será maior ainda. Medo de que o agressor possa nos identificar e acontecer alguma coisa pior (Fernanda* escolheu por não se identificar aqui). Acho que outro fator também é da vitima sentir a necessidade de esquecer o que aconteceu, assim acaba não denunciando, e por experiência própria posso dizer que isso é só pior. Acaba nos consumindo por dentro, por mais difícil que seja tomar uma atitude, é o correto. Além de prevenir que outra mulher seja vítima, acaba nos ajudando emocionalmente e servindo de incentivo para outras pessoas.

 

EspnW: Quais são os receios de recorrer para medidas legais? 

F: Acho que o maior receio é de ser rechaçada, não acreditarem em nossa história. Sinceramente, se não fosse por todo apoio que recebi, não saberia a quem ou aonde recorrer. Medo de chegar para algum segurança, contar a história e ele tratar como se não fosse nada, isso faria eu me sentir mais “derrotada” ainda. 

Essa questão de como recorrer em casos assim, especialmente em estádios de futebol, devem ser mais informadas. É muito importante essa informação, além de que pode ajudar de alguma forma na redução de casos assim.

 

EspnW: Você acredita que esse caso, até então inédito na Arena, pode servir de exemplo para que outras denunciem? 

F: Acredito e espero que sirva de incentivo para outras mulheres. Após escutar da delegada que em 5 anos de Arena essa foi a primeira queixa de assédio, admito que fiquei bem impressionada: “quantas mulheres já não devem ter passado por essa situação ou até pior?”, pensei. Isso só mostra quanta luta temos pela frente, quanta coisa ainda tem que ser mudada e que qualquer forma de assédio é INADMISSÍVEL. É preciso ter coragem, nós mulheres temos o direito de frequentar o ambiente que quisermos, e somente nos impondo, recorrendo aos meios legais, vamos conseguir.

 

EspnW: Você sente que a mulher passa também por outras formas de assédio fora do ambiente esportivo? 

F: Sim, na rua, trabalho, festas, posso enumerar diversos lugares. É uma realidade que mesmo depois de tantas mudanças ainda nos acompanha. Após a publicação sobre o caso na ZH (jornal gaúcho), resolvi ler os comentários no próprio site e Facebook, fiquei incrédula com diversos comentários. Eram todas publicações vindas de figuras masculinas: “chega de mimimi”, “agora não posso olhar para uma mulher que vou ser preso”, “devia estar com uma calça atolada”…  Não importa a roupa, curta, comprida, justa, larga, o que for, NINGUÉM tem o direito de tocar no nosso corpo sem consentimento, não somos objetos e SIM, toda forma de assédio deve ter consequências legais para o agressor.

EspnW: Como você imagina o estádio em que levará seus filhos num futuro?

F: Imagino um lugar em que todos vão somente com o objetivo de torcer e se divertir. Onde não tenha menções racistas, machistas e violência. E claro, com a presença de mais mulheres e crianças nos estádios.

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“5 anos de Arena e essa foi a primeira queixa de assédio”, diz torcedora do Grêmio assediada na Libertadores

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A maternidade que seria impossível: conheça a linda história da paratleta Verônica Almeida

Bibiana Bolson
Bibiana Bolson



O dicionário define: mãe é a mulher que dá à luz, que cria ou criou um ou mais filhos; mas a gente sabe que o mundo não é apenas feito do que consta nas páginas de um glossário, as relações vão além das definições, e essa palavra é alicerce de muito, de aconchego, de porto seguro, de conhecimento, de educação, de amor, de sentimentos. 

Mãe pode ser de sangue ou não, tem mãe que é avó, tia, irmã, amiga, mãe emprestada, “boadrasta”. Aliás, tem pai que é mãe. Nessa hora, não nos prendamos então em explicações, vamos ser objetivos: essa palavrinha é curta, é linda e é infinita, mãe é simplesmente TUDO.

As vésperas desse dia que é comemorado mundialmente, decidi publicar aqui uma história inspiradora de uma brasileira que já teve grandes reconhecimentos esportivos, foi bronze na natação nas Paralimpíadas de Pequim em 2008, entrou para Guinessbook por ter realizado uma travessia na Bahia sendo a atleta mais rápida a nadar 10km em mar aberto com apenas um braço, e que além de tudo isso (que já é muito), conseguiu algo ainda mais impressionante.

Talvez muitos não a conheçam (e deveriam), mas a baiana Verônica Almeida é a personificação da palavra superação. Com uma história que poderia inspirar enredo de filme de Hollywood (aliás, já virou roteiro de documentário), a paratleta é a prova de que a vida nos exige determinação constante, de que a fé não tem limites e de que vencer vai além das medalhas. Em todos os dias temos nossas batalhas, e essa é uma trajetória de tirar o fôlego, de marejar os olhos e prender a atenção.

Especial: dia das mães
Especial: dia das mães espnW

Durante boa parte da vida, Verônica teve uma rotina normal. Formou-se em Educação Física e trabalhou numa academia de luxo em Salvador, até descobrir a síndrome de Ehlers-Danlos, uma doença genética que provoca uma deficiência na produção do colágeno, a proteína que une e fortalece os tecidos do corpo, que dá sustentação à pele, aos músculos, ossos e órgãos. De um dia para o outro, perdeu os movimentos, a força, passou a usar cadeira de rodas e recebeu a previsão: “Você tem um ano de vida!”. Assim. Você já pensou o que faria sabendo que lhe restam apenas 12 meses? Verônica decidiu contestar. Em 2007, se dedicou a estudar a doença degenerativa. Na busca na Internet por meses a fio, encontrou um tratamento experimental na França, onde 20 pessoas seriam selecionadas mediante o pagamento de 60 mil euros.

Em 28 dias, com ajuda de amigos, familiares e desconhecidos, arrecadou 30 mil euros, metade do valor. As vésperas de viajar, participou de uma palestra em que conseguiu levantar outros 30 mil euros. Na comoção pela fala de Verônica na ocasião, um dos ouvintes fez um cheque para a brasileira. Desfecho perfeito. Ufa. Pensa que acabou? Não mesmo. Ao chegar em Paris, com o dinheiro contado, precisou viver nas ruas durante cinco dias, comendo restos de comidas de restaurantes até que o tratamento efetivamente iniciasse. Teve ainda que conseguir laudos que atestassem a compatibilidade para começar o estudo-teste.

Mais de dez anos desde o começo do tratamento experimental, Verônica é a única sobrevivente do grupo de 20 pessoas pesquisadas pelos franceses. Paratleta desde então, ela tem melhorado a qualidade de vida, surpreendendo todos os prognósticos médicos.  E essa mulher incrível tem ainda outra vitória em sua história, a que considera o maior feito, ela conseguiu engravidar. O impossível (o útero não sustenta uma gravidez sem o colágeno) aconteceu, num caso único ela levou a gestação até o nascimento dos filhos: Bianca e Marcelo. Sim, gêmeos!

A convite do EspnW Verônica Almeida escreveu uma emocionante carta para os filhos:

"Queridos filhos!

No Domingo é Dia das Mães, mas como vocês são meus maiores presentes, é justo que a homenagem seja feita de mim para vocês. Afinal, há 13 anos essa data tem  um sabor mais que especial. Filhos mais que desejados e planejados. Uma espera cheia de amor, carinho e dedicação.

Recebi então meu primeiro presente: Não é um. São dois. Meu coração caberia tanto amor? Felicidade me definiu! Segunda grande descoberta: é um casal!

O que eu queria mais da vida?Fui abençoada com um casal de gêmeos, com saúde e lindos!

Desde então, minha vida se transformou num mundo de cores, dividida entre o azul e o rosa. Minha vida não é mais minha. Não caminho mais só olhando para frente. Por vocês eu vivo. E vocês como sempre, de mãos dadas comigo.

Considero a maternidade o momento mais importante e desafiador da minha história. Ser mãe é conseguir tempo para eles mesmo tendo a vida corrida de uma atleta “viajadeira” como dizia meu filho aos 4 anos. É dar protagonismo à vida deles durante a minha ausência. É doar o meu melhor e mostrar o quanto o amor e o carinho andam de mãos dadas nesse desafio que é ser mãe atleta. É o trabalho mais árduo da mulher, mas o mais recompensador da vida dela.

Não me agradeçam por essa mãe que tanto me dizem eu ser todos os dias. Eu que tenho muito a agradecer a vocês.Por esse amor incondicional e verdadeiro. Te amo infinito meu urso e minha Liquita (Marcelo e Bianca)!"

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O não esclarecimento dos registros violentos no Allianz Parque até agora e as urgências do novo tempo

Bibiana Bolson

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O tempo tem mostrado que avanços acontecem. Nas mais variadas esferas, avançamos como civilização. É processo natural e parte do que definimos por evolução. Porém, ele, senhor da razão, tem também mostrado retrocessos. Retornos a pensamentos e condutas que já não deveriam mais ter espaço em nossa sociedade, mas que, infelizmente, são realidades. 

Nesse sentido, crescem as manifestações de ódio e de ideologias que nada tem a ver com a Era da liberdade do pensamento e do ser. E este é, para mim, um terreno perigoso. Quando nos apoiamos no desejo de ter a ordem restabelecida por meio da repressão, quando temos escancarados os pedidos do retorno dos tempos de chumbo e da censura, quando vemos o preconceito racial, quando acompanhamos o gênero ser elemento determinante em atitudes, excludente e desigual, decretamos nossa falência como sociedade. 

Por isso, o conhecimento é a melhor das armas. Precisamos conhecer, saber, entender, estudar; nos aprimorarmos para termos a capacidade de entendimento de que, se os tempos mudaram, os discursos devem acompanhar esse mesmo tempo. Não cabem preconceitos nas palavras. A disseminação do ódio tem que ser contida. As manifestações de violência punidas. Precisamos refletir sobre nossas ações, dizeres e mesmo posicionamentos. TODOS NÓS. Homens e mulheres. 

Nas últimas semanas, vivemos um turbilhão de emoções com o manifesto de jornalistas esportivas #DeixaElaTrabalhar. Fizemos do movimento que é de todas nós braços para quem precisava de um abraço, pernas para quem se sentia paralisada, voz para quem tinha que ser ouvida. Nessa linda sororidade, movimentamos a imprensa nacional e internacional, fizemos muito e pouco ao mesmo tempo, diante de tantas necessidades que nós mulheres temos.

No domingo passado, durante a final do Campeonato Paulista no Allianz Parque, registramos e divulgamos essas imagens, mas dessa vez, as centenas de mensagens compartilhadas nas redes sociais ainda não foram suficientes para que tivéssemos uma ação imediata ou uma resposta até o momento. Além do vídeo, outros acontecimentos de violência contra jornalistas foram registrados dentro do estádio (inclusive contra homens). Situações que não podem acontecer e que não devem ser consideradas normais para o ambiente esportivo (nem para local algum). 


Assim, independentemente de outros fatores, merecem atenção e são sim urgentes, na minha opinião. Por exemplo:  recentemente, em situações semelhantes, os clubes gaúchos Internacional e São José agiram de forma ágil e eficiente para a identificação de torcedores. Em São Paulo, o Corinthians planeja mudar o posicionamento dos jornalistas na saída de campo para evitar que fiquem expostos a situações ofensivas e violentas com torcedores. 

Nessa semana, o Palmeiras teve uma postura incansável no que diz respeito às questões de arbitragem. Importante, afinal, o que acontece nos gramados deve ser debatido e mesmo questionado. O esporte permite questionamentos, a Justiça é, também, o recurso a ser utilizado quando alguém se sente desfavorecido/prejudicado. E nessa linha, é também justo que queixas sejam ouvidas. O campo é urgente. Só que a arquibancada, a zona mista, a tribuna de imprensa, a área para jornalistas também são urgentes. Tudo que cerca o ambiente esportivo é prioridade. 

Estamos em um momento em que as manifestações surgem de demandas sociais, de necessidades que não são individuais, mas coletivas. Clubes não são rivais na luta pela igualdade, não são vilões, nem clubes, nem seus torcedores. Pelo contrário, devem ser aliados numa luta que representa a pluralidade. Esses torcedores são indivíduos, com seus rostos e atos agressivos expostos. Eles precisam ser identificados e punidos. 

É trabalho coletivo. O estádio é responsabilidade de todos, mas principalmente daqueles que ali atuam. 

O #DeixaElaTrabalhar é como um lembrete diário: os tempos mudaram, façamos alguma coisa! Repensemos! Vamos agir! 

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O depois do #DeixaElaTrabalhar: a opinião de Bibiana Bolson sobre os rumos do manifesto

Bibiana Bolson

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Não é novidade o assédio, o machismo, o sexismo dentro das redações, no estádio, no treino, no ambiente esportivo em geral, na sociedade. Porém, é sim inédito um movimento de união dessa grandeza no jornalismo esportivo brasileiro. Somos muitas vozes,  atuando em diversas empresas, diariamente, desconstruindo a ideia de que existe um lugar ou uma função para as mulheres. Vozes potentes que fazem barulho, vozes que precisavam muito gritar! 

O #DeixaElaTrabalhar surgiu como a resposta a dois casos recentes de machismo/assédio (acontecimentos com as repórteres Bruna Dealtry, do Esporte Interativo, e Renata de Medeiros, da Rádio Gaúcha), mas nasceu, também, num contexto de urgência. É urgente que tenhamos movimentos legítimos em defesa das causas das mulheres! 

Sem partido político, sem patrocínio de empresa alguma, sem interesses que não sejam exclusivamente os de termos um ambiente sadio, de igualdade e de respeito. Somos, em nossas múltiplas  trajetórias profissionais, mulheres com experiências diversas, mas com histórias semelhantes, só que de roupagens diferentes. 

A jornalista que foi assediada pelo chefe. A repórter que foi preterida na pauta por ser mulher. A que foi descartada de situações profissionais por ter tido filho. A que não pôde crescer por méritos baseados apenas no trabalho e não nos padrões de beleza. A produtora que foi demitida depois de não aguentar as ofensas morais dos colegas. A editora que foi desacreditada por contar o que aconteceu no estádio. A que recebe ofensas nas redes sociais. Cantadas no WhatsApp. A que já foi cuspida. Agredida. Ameaçada de estupro. A apresentadora que precisava usar roupas mais justas para chamar atenção dos telespectadores. A jornalista que tem que, diariamente, provar conhecimento, mostrar que se preparou, que estuda, que sabe. Somos todas essas mulheres. A repórter que convive com piadinhas. No singular e no plural dos relatos, somos todas essas mulheres. Nas peculiaridades de cada caso, de cada vivência, e somos muitas. 


Uma das participantes do manifesto, Paula Ab, já passou pelas principais redações do Brasil (em todas sofreu algum tipo de assédio ou machismo), destacou sobre a sororidade do #DeixaElaTrabalhar. “A gente já tentou outras vezes, mas sempre sem muita força, abafado de alguma forma. Me comovo e nunca vi nada parecido. Um grupo de 10 pessoas, que virou 50, 100 e agora milhares. É um trabalho de formiguinha, sabemos disso, mas é uma sensação diferente, de companheirismo, de união”. 

Além disso, a jornalista pontuou algo muito importante e que compartilho do mesmo pensamento: “Por que a gente tem que carregar esse peso dessas situações todas sozinhas? A gente tem que dividir isso com quem causou. Sei que não vai mudar o pensamento de muitos, mas vai, ao menos, chamar a atenção, provocar a reflexão, está mexendo com eles também. Por isso, não é mais um movimento”. 

A jornalista Taynah Espinoza, também participante do #DeixaElatrabalhar, reforça a mesma ideia. “Acho que esse é um manifesto diferente porque conseguimos juntar meninas de diferentes emissoras e posições, mas todas com um mesmo propósito. A gente precisava fazer barulho, precisava chamar atenção para algo que acontece quase que diariamente em estádios, redações e na rua”.

Segundo a jornalista Mariana Fontes, a reflexão é ponto chave nessa repercussão. “A gente precisa lembrar que o cara que assedia no estádio, que tenta um beijo, que ofende, que é machista, ele está igualmente representado em todas as redações. É o que faz comentário desrespeitoso, ofensivo, engraçadinho. É fácil compartilhar um lindo vídeo, mas e a reflexão?! Não adianta fingir que esse vídeo não está falando para ‘você’. Está, sim, falando com ‘você’ e de ‘você’. Temos que refletir, também, sobre as representatividades das atuais lideranças dentro de uma redação. Qual a chefia/mulher que vai te ouvir e entender o novo momento da sua vida, por exemplo, quando você for mãe? Esses temas precisam ser pensados. As decisões e as condutas que representam a sociedade.”

De fato, com o #DeixaElaTrabalha, chamamos a atenção dos principais meios de comunicação do Brasil. Não passamos despercebidas nas redes sociais, onde, desde domingo, alcançamos um número incrível de compartilhamento e de mensagens. Milhões delas de internautas “desconhecidos” e de figuras públicas muito relevantes. Mobilizamos os clubes brasileiros. Paramos o Maracanã com a exibição do nosso vídeo de mais de dois minutos de manifesto. Despertamos o interesse de renomados jornais internacionais, portais esportivos e canais de televisão. Recebemos o apoio de colegas, jornalistas da Argentina, da Itália, da Colômbia, da Espanha, da França..

É um momento único, que nos fortalece e nos estimula a fazer dessa campanha um projeto de continuidade. De ações, de debates e de efetividade. Torço para que não tenhamos feito história apenas pelas nossas vozes, rostos, palavras expostas pelo mundo inteiro com uma forte mensagem. Espero que tenhamos despertado um novo momento e que consigamos resultados merecidos e necessários daqui para a frente. 

É chegada a hora de reflexão para aqueles que são protagonistas nos casos de machismo, de assédio, nas condutas preconceituosas e sexistas, mas que seja também o momento de responsabilização desses e daqueles que, de alguma forma, se escondem em cargos, em funções, em relações de comando. Que o ineditismo dessa ação no jornalismo esportivo se estenda para outros segmentos da sociedade, sirva de incentivo para outras mulheres falarem sobre suas lutas. 

#DeixaElaTrabalhar


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#AçãoQueTransforma: Rafaela Silva vai palestrar na conferência de Harvard e MIT

Bibiana Bolson

Rafaela Silva conquistou ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro
Rafaela Silva conquistou ouro nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro Getty

Há um mês, a menina que remou contra a maré das desigualdades desse País para se tornar uma campeã olímpica expôs nas redes sociais o racismo institucional que acabara de sofrer. A judoca Rafaela Silva compartilhou na Internet a péssima experiência vivida ao ser abordada por policiais militares enquanto retornava para casa em um táxi; a atleta teve que descer do carro em que estava, na Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, e explicar quem era e o que fazia para policiais que estavam armados e em tom de desconfiança. 

"A gente no Rio de Janeiro tem que passar essa vergonha. Preto não pode andar de táxi, porque deve estar assaltando ou roubando?”, desabafou com os seguidores. Com a repercussão do acontecimento, a Polícia Militar, em nota, disse que as declarações da judoca eram injustas e não ajudavam o trabalho de combate à criminalidade. Ora, como se o preconceito e o abuso combatessem alguma coisa! Como se uma ação constrangedora fosse compatível com o lugar que sonhamos em viver, em que o ir e vir não sejam mediados pela intimidação seletiva ou não!

Rafaela não sabia, nós não sabíamos, que algumas semanas depois dessa abordagem abusiva - que parece ser só mais uma corriqueira no Brasil, um crime contra uma mulher negra que lutava, justamente, para denunciar diversos tipos de abusos envolvendo a ação de policiais militares -, colocaria o País nas manchetes dos principais jornais internacionais - alguns citando a vereadora Marielle Franco como um símbolo global. Os dois acontecimentos, separados por poucos dias e pelas manchas de sangue da perda de duas vidas (a de Marielle e do motorista, Anderson Gomes, também assassinado), colocam frente à frente realidades, coincidências, repetições e questionamentos.

Rafaela, uma das atletas que mais admiro da nova geração de esportistas brasileiros, assim como Marielle, cresceu na periferia. Foi criada na Cidade de Deus, uma das mais violentas favelas do Rio de Janeiro, contou com o apoio do projeto social Reação para que pelo esporte mudasse sua realidade, fosse convertida da pedra rara em estado bruto ao diamante precioso lapidado pelo judô. Diamante valioso não apenas pelas grandes conquistas, como ter sido a primeira e única judoca brasileira campeã mundial e ouro olímpico, mas por ter virado um exemplo, uma história de incentivo, de luta e orgulho, um ser humano melhor.

A abordagem a Rafaela Silva não foi o primeiro momento em que a judoca sentiu que sua cor foi fator determinante para a situação de se sentir em estado de vulnerabilidade. Rafa, nessa noite de fevereiro, se juntou aos outros negros que permanecem também vulneráveis a abordagens discriminatórias da polícia, relembrou o sabor amargo que o racismo tem e que ninguém gosta de sentir. Relembrou aquele gosto que já sentiu muitas vezes e que, num dos acontecimentos mais marcantes, quase a fez desistir do esporte em 2012 depois de ser chamada de macaca em dezenas de mensagens recebidas quando perdeu no tatame dos Jogos Olímpicos de Londres. Foi preciso um intenso trabalho psicológico para recuperar a confiança da jovem, para combater as memórias negativas que relacionavam a derrota ao preconceito, para acreditar que poderia ser uma medalhista olímpica. 

No ano em que Rafaela Silva ganhava o primeiro ouro do Brasil na Olimpíada do Rio, servindo como exceção na história de muitos que a cercam, os dados do Mapa da Violência de 2016 mostravam que o número de negros assassinados no Brasil  tinha crescido 18% em 10 anos, enquanto, no mesmo período, o índice entre pessoas não negras caiu 12%. 

Ainda conforme essa pesquisa, a taxa de homicídios por 100.000 habitantes de negros é quase três vezes maior que a de brancos. No Rio de Janeiro, cidade onde a judoca cresceu, um jovem negro tem quatro vezes mais chances de ser assassinado pela polícia do que um jovem branco. É horrível e assustador. Realidade e repetição que fizeram de Marielle, infelizmente, parte dessas estatísticas.

No próximo mês, Rafaela Silva será uma das palestrantes de um evento das tradicionais universidades Havard e MIT, a Brazil Conference at Harvard & MIT (Massachusetts Institute of Technology), organizado anualmente pela comunidade brasileira de estudantes de Boston, nos Estados Unidos, que, desde 2015, reúne lideranças brasileiras para debates. Neste 2018, o tema central será "Ação que Transforma". A proposta é debater iniciativas que estejam acontecendo para ajudar na mudança do País. Além da judoca, outros representantes do esporte brasileiro estão confirmados no seminário, como o velejador Lars Grael e o nadador Clodoaldo Silva.

É uma tema emblemático para um país que tanto carece de mudanças. As trajetórias de Rafaela, de Lars, de Clodoaldo, ou de qualquer outro esportista se conectam com as nossas necessidades diárias de encararmos os pequenos e os grandes desafios, de superarmos. Rafaela, por exemplo, venceu as estatísticas, a violência, a pobreza, o preconceito como negra. Rafaela VENCE - no tempo presente -. A atleta mostra possibilidades para jovens negros da favela ou brancos da zona sul do Rio de Janeiro. Aponta possibilidades para todos nós! 

Ao ser abordada por policiais militares, poderia não ter tido a mesma "sorte" que teve, poderia ter o trágico fim de Marielle. Em Havard e no Mit, duas referências de educação, vai poder compartilhar um pouco das angústias de ser brasileira, os questionamentos, as incertezas sobre como alterar esse cenário brutal. Vai poder dividir um pouco de esperança pela sua linda história, a que muitas vezes nos falta. Que atitudes temos que tomar? Que ações podemos desenvolver? Quais vozes ativas temos que ter? Afinal, que ação que transforma? Já ouvi que eu, branca, loira, de origem de classe média, com acesso a educação, não poderia falar sobre uma "luta que não é minha". 

É um equívoco, é uma luta de todos nós!

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'Mimimi' é acreditar que está tudo bem: sobre a repórter gaúcha agredida no Grenal e o porquê de não desistir do feminismo

Bibiana Bolson

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Venho de uma família em que a presença feminina sempre foi muito forte: mulheres que se tornaram referências em suas profissões e dentro de casa, não que os homens da nossa família também não tiveram/tenham suas significativas contribuições, mas a força feminina é mesmo dominante em nosso lar. Sou filha de uma mãe que engravidou aos 18 anos, antes de casar, ainda como estudante de Direito. Uma mãe que nem mesmo com uma gravidez que não estava nos planos abriu mão dos estudos. Tenho lembranças vivas de uma mulher que se desdobrava entre aulas, trabalhos e os filhos - dois anos depois de mim, veio meu irmão e 23 depois, o mais novo da casa.

Lembro dessa figura muito determinada que colaborou com a minha formação, com as minhas ideias sobre o mundo e as minhas expectativas. Essa mesma mãe que sempre insistiu: "busque o seu espaço como mulher!". Tenho muita sorte de ter tão perto um exemplo desses. Sei, também, que a nossa história faz parte de uma minoria. Lamento que muitas mães jovens desistam pelo caminho.

Quando pisei pela primeira vez em um campo de futebol como repórter esportiva, pensei no meu pai, pela paixão que me foi transmitida desde muito cedo pelo esporte; mas pensei, principalmente, na minha mãe e no espaço que eu estava conquistando como mulher. Foi muito natural que, com o passar do tempo, alcançando as metas profissionais e ganhando uma maior visibilidade que a profissão proporciona, eu fosse, também, entendendo esse meu papel, essa função de repórter mulher. 

Há algumas semanas, alguém disse que eu era a repórter feminista, a chata que só falava desse assunto, que virava manchete a cada ataque na Internet ou na rua (como foi na Eurocopa em 2016 e em alguns estádios do Brasil). Fiquei chateada num primeiro momento. Ninguém gosta de ser considerada "chata", mas é verdade, também, que existe uma distorção do sentido aplicado ao feminismo, como se ser feminista fosse algo ruim ou pedante. É reflexo dessa era de polarização do mundo, em que se perderam os reais sentidos dos termos.

Renata de Medeiros, repórter da Rádio Gaúcha, é outra “chata”, outra repórter do 'mimimi', mais uma feminista querendo destaque, certo?! Percebam, aqui, minha ironia: ela foi chamada de puta e agredida nesse final de semana, enquanto cobria o clássico Grenal. Ofensa e agressão gratuitas que, felizmente, foram registradas por um colega para que não passassem impunes (as imagens seguem repercutindo nas redes sociais). Posteriormente, o torcedor foi encaminhado para o Juizado Especial Criminal, retirado do estádio. A jornalista registrou queixa pelo crime, e o Sport Clube Internacional divulgou uma nota de repúdio ao fato; fez o alerta, também, ao pedir que outras vítimas sempre denunciem fatos assim. 

É por esse e outros acontecimentos que eu tenho certeza de que EU QUERO SER A REPÓRTER FEMINISTA, SIM! Quero ser a repórter feminista, porque nós precisamos. Quero, porque não estou sozinha, temos, além da Renata, as repórteres Gabriela Moreira, a Lívia Laranjeira, a Ana Thaís Matos, a Mayra Siqueira e outras várias que estão por aí, fazendo um trabalho sensacional, tentando a igualdade, refletindo sobre o nosso papel. Citei essas porque são as que sempre são agredidas/lembradas pelos "valentões dos teclados", as que já foram mencionadas em comentários que me envolviam também. Nós precisamos ser incansáveis! 

A partir do momento em que você ganha "repercussão" pelas suas ideias e pelas causas que você defende, muitos passam a chamar você de referência. Essa palavra é um peso e tanto! Eu vejo assim: não é sobre a ideia de ser exemplar, de ser infalível e de estar sempre certa nos conteúdos expostos em nossa profissão. Também erramos; mas é sobre ser um exemplo positivo de que muito carecemos. Um incentivo, um estímulo, uma mensagem de que é possível, de que é viável que outras possam percorrer caminhos similares aos nossos. 

Engraçado que, mesmo quando você é lembrada como aquela mulher que está trabalhando no esporte, mesmo quando você é citada por uma nova geração de jornalistas que está chegando, mesmo assim, os testes continuam. Somos testadas todos os dias e, às vezes, nós mesmas nos testamos, confesso. Não é novidade por aqui admitir que há dias em que a vontade é desistir de falar tanto sobre o assunto, de se expor, de “brigar”. 

Os números dimensionam a responsabilidade de insistirmos na temática: a violência contra a mulher, seja ela qual for, segue muito presente. A cada onze minutos, uma mulher é estuprada no Brasil.  40% das mulheres acima de 16 anos já sofreram algum tipo de assédio. Mulheres são assediadas/ofendidas na rua, em ambiente profissional, nas redes sociais, por onde passam. Vou, então, ficar preocupada em ser chamada de feminista? Incomodada por falarem por aí que tudo é 'mimimi'? Não, não vou. 

Além disso, a desigualdade de gênero é real. Somos parte dessa sociedade que ainda está em transição sobre as mulheres terem e gozarem dos mesmos direitos dos homens nos mais variados exemplos. Sobre recebermos as mesmas oportunidades. No esporte, você sabia que só foi em 2012, em Londres, que tivemos a participação de mulheres em todas as modalidades olímpicas? Foram necessárias mais de três décadas de Jogos Olímpicos para que as mulheres pudessem finalmente participar oficialmente da competição (em 1936) e só então na 30ª edição conseguimos preencher as vagas em todas as disputas. 

Eu tinha sete anos quando Sandra Pires e Jacqueline Silva foram as primeiras mulheres a conquistar uma medalha de ouro para o Brasil no maior evento esportivo do mundo. Nossa, que dia! Eu era novinha, mas como essas coisas marcam... eu lembro da comemoração da minha mãe na sala! A dupla dourada fez história em Atlanta-1996 e serviu como um referencial para meus próximos anos. Eu cheguei a sonhar com uma Olimpíada nas inúmeras modalidades que pratiquei. 

Maurren Maggi, campeã mundial no salto em distância em Pequim-2008
Maurren Maggi, campeã mundial no salto em distância em Pequim-2008 Getty

Em Pequim-2008,  a judoca Ketleyn Quadros (bronze) e Mauren Maggi, campeã olímpica do Brasil no salto em distância, entraram para a história ao conquistarem as primeiras medalhas individuais do país em Olimpíada. Quantas edições, quanto tempo esperando por isso! Aconteceu e servem de exemplo até hoje para aquelas que se imaginam no pódio. 

Antecedendo as medalhas em si, as participações marcantes também devem ser lembradas. Sou fascinada pela história da Maria Lenk na natação. Antes da oficialização das atletas mulheres nos Jogos, em 1932, ela nadou a Olimpíada com apenas 17 anos. Vibro com a trajetória da Maria Esther Bueno no tênis, incluída no Hall da Fama internacional da modalidade em 1978, a primeira e única brasileira a receber essa honraria.

Admiro a coragem da carioca Aída dos Santos como a primeira mulher brasileira a disputar uma final olímpica, em Tóquio-1964, sendo ela a única mulher da delegação do Brasil na ocasião. Algumas das muitas lindas histórias vividas por esportistas brasileiras num passado não muito distante, quantas outras estão por vir?

Acredito que a construção desse tempo sem diferenciação de gênero passa também pelos rótulos que colocamos nas pessoas e pelos que são colocados em nós mesmos. Você não precisa ser ativista para ser feminista; feminismo não é a dominação das mulheres sobre os homens ou o ódio, feminismo é a ideia de buscar a liberdade e a igualdade, é um ideal legítimo e mais do que necessário. Se, pra isso, preciso ser a "chata", que assim seja. Meu “mimimi” não vai ter fim. Nem o meu, nem o nosso.

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'Jamais seremos um pedaço de carne': a opinião de Bibiana Bolson sobre a polêmica das musas de Goiás e Vila Nova

Bibiana Bolson
Karol Barbosa, do Goiás, foi constrangida em programa de televisão
Karol Barbosa, do Goiás, foi constrangida em programa de televisão Reprodução/TV Goiânia
Era um tempo completamente diferente. Enquanto eles se rendiam ao esporte de origem bretã que chegava em continente americano para reforçar a masculinidade, intensificar o “instinto selvagem” com a competição e o contato físico e se tornar, ao longo dos anos, parte da nossa identidade cultural nacional, elas, sem poder de escolha, acompanhavam de longe. E era exatamente assim: eles e elas. 

A atividade física para elas jamais poderia envolver uma possibilidade de se ferirem. Até era recomendada a prática de exercícios, mas como uma proposta muito clara: preparar para a maternidade. Quando elas (nós mulheres) puderam participar de forma mais “direta” do esporte sensação no Brasil, foi da tribuna, em vestidos e chapéus elegantes, que faziam papel de donzelas ao aplaudirem seus heróis em campo. Até que, novamente, saíram desse ambiente do futebol, esvaziaram as cadeiras dos elegantes clubes. A ascensão do negro e daqueles provenientes de classes mais baixas incomodava a sociedade. Não era mais lugar para mulher! 

LUGAR PARA MULHER, está aí uma frase capaz de tirar meu sono, de estragar meu dia e de me arrancar lágrimas. Sinto dizer que esse não é um “privilégio” meu como mulher, nem da jornalista esportiva que, nos últimos anos, fez questão de expor as situações lamentáveis que já passou ou uma exclusividade da mulher independente deste século XXI que rema contra a maré para acreditar na equiparação salarial, na conquista de espaço e igualdade de sermos, fazermos e estarmos onde e como quisermos.

Todas somos impactadas pela expressão “lugar de mulher” e o que ela carrega. Mas a gente persiste. A gente enfrenta. A gente supera. Até nos sentirmos humilhadas, ridicularizadas em rede nacional com perguntas de conotação sexual, com “piadas” de péssimo gosto e expostas a um retorno de um domínio masculino, a um exagerado senso de orgulho da virilidade, do menosprezar a presença feminina no esporte. Sim, expostas ao machismo e ao preconceito, que dessa vez não passaram impunes. 

Na última quarta-feira, Karol Barbosa, torcedora do Goiás, participou do programa Os Donos da Bola, da TV Goiânia - afiliada da TV Bandeirantes, e foi constrangida com perguntas inesperadas de duplo sentido e conotação erótica, como “se o seu nutricionista mandar você chupar uma laranja porque faz muito bem para a saúde, você chuparia um saco por dia?” e "para uma musa não sofrer dores localizadas, é importante o médico colocar compressa?". 

Revoltado, o clube se manifestou e a TV Goiânia tomou a decisão de tirar o programa do ar.

O fato da semana - destaque negativo num espaço que deveria contar histórias exemplares e inspiradoras - uniu os times rivais Goiás e Vila Nova (a torcedora Karol Rodrigues também havia passado pela mesma situação). Mexeu também com a sociedade, com pessoas que, assim como eu, ficam perplexas com acontecimentos desse tipo. Repudiar é preciso! O resultado foi um pedido de desculpas e um programa que saiu do ar por tempo indeterminado no estado goiano. 

 Ingrid Oliveira, do salto ornamental, durante os Jogos Olímpicos do Rio-2016
Ingrid Oliveira, do salto ornamental, durante os Jogos Olímpicos do Rio-2016 []

Aliás, a nossa reflexão também não deve ter tempo para ser feita. Não apenas  pela situação de repúdio a esse conteúdo recente exibido na televisão, que, claramente, vinculou a ideia de que essas mulheres representantes dos clubes na função de musas deveriam ser tratadas como um “pedaço de carne” (me perdoem pela expressão), mas o nosso refletir deve incluir ainda a espetaculização do corpo e da própria presença feminina no esporte feita pela imprensa. 

Quantas vezes não vemos imagens, textos, manchetes que se referem às esportivas também com cunho sexual? “As mais belas”, “as musas”, “o corpo escultural”, “fulana arranca suspiros de biquíni”, “a beleza da filha do treinador”, “confira as torcedoras mais lindas”, entre outros.

Essa super exposição na mídia e a conotação sexual ao exaltar os predicados físicos incomodam as atletas. Lembro, aqui, de uma conversa que tive com a ginasta Jade Barbosa da ginástica, triste com fotos recentes publicadas; das entrevistas que já li sobre o tema com outras esportistas que também se incomodavam pela invasão de privacidade em uma simples ida a praia em momento de lazer; das fotos durante a competição enfatizando o corpo. 

Me recordo, ainda, do caso que aconteceu em 2015, quando a atleta do salto ornamental Ingrid Oliveira desabafou sobre os comentários e mensagens que recebeu depois de postar uma foto em que usava um maiô. Ingrid chegou a receber proposta para que fizesse parte do catálogo de uma agência de garotas de programa. “Gente, eu trabalho de maiô, não sou uma garota de programa só porque eu treino de maiô. É o meu trabalho. O povo não consegue diferenciar, isso chateia”, disse a brasileira na época.

Não estou dizendo que não devemos mais ter musas de clubes, ensaios sensuais dessas representantes e que não possamos admirar a beleza e a forma física de atletas ou de torcedoras na arquibancada, mas que sim, que façamos reflexões sobre esses conteúdos, sobre a super exposição, sobre a invasão da privacidade, sobre o limite da exploração da imagem e que, principalmente, se respeite quem estiver em foco. 

Afinal, a mulher pode ser linda, super atraente, mostrar o corpo, usar o traje que quiser, praticar o esporte que gostar, frequentar o estádio sem que seja (de novo, me desculpem) tratada como um belo pedaço de carne. 


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'Jamais seremos um pedaço de carne': a opinião de Bibiana Bolson sobre a polêmica das musas de Goiás e Vila Nova

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O que você diria para o 'você' da infância e o 'você' do futuro?

Bibiana Bolson

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Talvez por ter essa arrebatadora paixão pela comunicação (e uma insistente mania de questionar os porquês no mundo), desde muito cedo, diante das mais variadas situações, me pergunto como o futuro vai contar as histórias do agora, do hoje. Faço isso com tudo: olho para as construções das casas, para os arranha-céus, novos monumentos e me questiono como as gerações desse próximo tempo que agora é ainda distante vão avaliar nossa arquitetura? O que será que vão dizer sobre a nossa música? Sobre os nossos livros escritos? Sobre as celebridades produzidas? Sobre a arte? Sobre o esporte? Sobre os atletas e suas conquistas? 

Vivemos esse período maluco de bombardeio de informações, de verdades e de mentiras, de opiniões, de atitudes extremas e dos lamentáveis discursos odiosos em redes sociais. As coisas acontecem em ritmo tão frenético que parece que todas as questões têm suas respostas alteradas centenas de vezes antes mesmo de termos chegado a esse "novo tempo". Vocês entendem o que eu estou falando?! É que todos os conceitos mudam muito rápido. O certo e o errado. O que pode e o não pode. A inclusão e a exclusão. O que é político e o que não é.

Na visão de quem pesquisa para entender os efeitos desse "momento" que temos vivido nas últimas décadas, potencializado pelas evoluções tecnológicas, estamos na pós-modernidade da civilização, tempo esse que se sustenta no que é descartável, no local e no aqui-agora; no prazer, no faça você mesmo e, principalmente, no imediatismo. Tudo deve mudar, e o mais rápido possível! Podemos chamá-lo também de tempo hipermoderno, expressão usada pelo escritor francês Gilles Lipovetsky, ao observar, por exemplo, nossos hábitos de consumo.

Nesse turbilhão, nos vemos engolidos pelo tempo: já conquistei tudo que eu queria? E aquela viagem? E aquele emprego? E aquele casamento? E aquele corpo perfeito? Acontece comigo sempre. Então, eu paro o relógio e tento fazer um exercício simples, que brinca com o passado e o futuro.  É uma atividade para nos questionarmos sobre o que diríamos para nós mesmos daqui cinco, 10, 20 ou 30 anos. Ou se pudéssemos promover um encontro com o nosso passado, como trataríamos as nossas angústias? O que falaríamos sobre os nossos medos e os desafios que já foram superados? 

[]

Em todos os campos da vida, independentemente da classe social, da posição que você ocupa ou de onde quer chegar, todos já sentimos medo, arrependimento e todos já nos questionamos diversas vezes "como vai ser?". É um exercício interessante, tente!

Nessa linha, desde 2014, a plataforma digital The Players' Tribune tem publicado cartas de atletas profissionais, histórias em primeira pessoa sobre as vivências fantásticas desses esportistas. Relatos sobre como venceram seus medos, como cresceram, como conquistaram, conselhos dados da "realidade" para a "expectativa". 

Desses conteúdos, a linda e sincera carta da brasileira Marta, cinco vezes eleita a melhor jogadora do mundo, inspirou a jovem Ariana, a menina que se você não conhece, deveria conhecer: fenômeno nas redes sociais com vídeos de futebol super bacanas, habilidosa com a bola e que sonha em correr pelos gramados do mundo como jogadora profissional. São as palavras de uma criança para a mulher de 30 anos que Ariana quer se tornar: 

"A Ariana de 30 anos,

Pode ter certeza de que há muitas meninas te acompanhando no Youtube e tentando aprender seus dribles. Minha única dúvida, na verdade, é se ainda existe o Youtube. Mas se hoje, ainda criança, já tem meninas me seguindo e tentando fazer o que faço em campo, imagina como elas olham para você, agora, com 30 anos e no auge. Pode ficar feliz, Ariana, porque você me ensinou a esquecer os preconceitos, a olhar apenas para o desenvolvimento dos meus treinos. Você ensinou uma legião de pessoas a tapar os ouvidos contra o ódio da sociedade, tendo sua linda história como exemplo para um monte de gente."

No exercício de voltar ao passado, a Marta de 31 anos escreve para a Marta, menina de 14:

"Você mostra para eles: você é uma garota, e você pode jogar futebol. (...) Mas os comentários, os julgamentos, as piadas – tudo aquilo não vai parar. Mesmo quando você estiver no time local da cidade. Você sabe que isso não é o bastante para fazer a mudança. Aqueles momentos – enquanto os garotos estão num vestiário e você está sozinha, num banheiro pequeno logo ao lado, tentando colocar sua camisa de futebol tamanho grande e calções de menino que vão para baixo dos seus joelhos – são solitários. Então, lembre-se de quão sozinha você se sente agora e ouça quando eu te digo o seguinte: no mundo inteiro, existem meninas que se sentem do mesmo jeito. Meninas que recebem olhares, meninas que são questionadas sobre estar ali, meninas que são expulsas de campeonatos e que recebem apelidos nada elogiosos."

As cartas escritas por Ariana e Marta nos mostram duas histórias que se encontram num mesmo ideal: o de que meninas PODEM ser o que elas escolherem para suas vidas. Falam de preconceito e sobre como vencer esse "monstro". Nesse exercício sobre o que esperamos para o futuro e o que pensamos do passado, nos sentimos mais fortes. A Marta inspira a Ariana (e outras milhares de meninas) e a Ariana pensa em inspirar as gerações que estão por vir. 

Fico muito impactada com as palavras dessa menina, porque, claro, tem um pai e uma mãe dando todo o apoio, acompanhando a rotina da filha que mora e treina numa escolinha nos Estados Unidos, mas ela tem apenas oito anos, tem convicção, tem vontade, e já sabe sobre os olhares e palavras que vão a acompanhar no trajeto; já entende a dificuldade que é para uma mulher prosperar num esporte tão dominado por homens. Na mesma intensidade, mostra o lado animador do "eu acredito que eu posso" e serve como exemplo sobre o que esperamos para o futuro do esporte e de como queremos formar nossas próximas gerações.

Em tempos tão acelerados, com suas delícias e agruras, estimular o potencial crítico na fase inicial, na infância, na escola, faz com que formemos futuros adultos com poder de opinar, de escolher e de lutar pelos seus ideais. É como um sopro de esperança: o de um legado. Aqui em Nova Iorque, na onda de discussão sobre os direitos das mulheres e de todos os movimentos que têm aparecido - e que torço para que não sejam uma onda passageira - o estado inseriu na agenda anual um projeto voltado para o GIRL POWER, o conceito globalmente conhecido como empoderamento das mulheres. 

No calendário de programações, a ideia é que, na escola, as meninas tenham lições de como reconhecer a diferença entre uma relação saudável e o abuso; que elas recebam informações para que sejam capazes de identificar e evitar casos de assédio sexual. Fazem parte do "pacote"  investimentos em qualificação dos professores para tratarem as temáticas de abuso, preparo de educadores para que deem estímulo e apoio para que essas meninas possam seguir profissões variadas; um processo de transformação de crianças em líderes. Além disso, proporcionar produtos de higiene feminina de forma gratuita dos seis aos 12 anos. Serão seis milhões de dólares investidos em pesquisas, seis milhões investidos no futuro.

Dito tudo isso, que tal você tirar um tempinho, parar o seu relógio e fazer o exercício de quem você será no futuro e que caminho já percorreu até aqui? Qual é o mundo que você vive e qual o que você quer deixar para os seus filhos? 

Aproveite!

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