Muito mais do que um uniforme na jornada do futebol feminino pela igualdade
No dia que uma marca esportiva lançou pela primeira vez na história um uniforme todo pensado para as mulheres, incluindo conceito e design, apresentando também iniciativas para o desenvolvimento do futebol amador e profissional, eu voltei no tempo. Abri um portal de volta ao meu primeiro contato com esse esporte que eu tanto amo.
Aliás, é louco. Uma das coisas que eu mais amo, eu não sei “fazer”. Estudei muito futebol. Estudo ainda. Sou apaixonada por esse esporte. Mas não sei jogar e tive pouquíssimas oportunidades para aprender, assim, jogando.
Vivi uma noite mágica. Ao pisar no gramado do Estádio do Pacaembu pela segunda vez, sendo que a primeira foi para cobrir os sonhos de jovens jogadores da Copa São Paulo recentemente, senti uma das maiores alegrias dos últimos meses. Foi como se muito da nossa luta diária (essa luta dura e coletiva) estivesse valendo a pena. É simbólico, mas é impactante, porque foi exatamente assim que aconteceu. Então, em frações de segundos, me transportei para as lembranças de quando eu, magrinha, de pernas tortas, fazia parte de todas as atividades oferecidas pela escola: teatro, pintura, coral, dança, vôlei. Lembrei das aulas de educação física e de como poucas vezes nós, as meninas, corremos de um lado para o outro com uma bola apenas nos pés. Me recordei que tudo que eu sei sobre futebol foi porque aprendi VENDO. Assistindo pela televisão. Me emocionando com o sonho realizado de outras pessoas. Quão maluco é amar com tanta intensidade algo que sempre aconteceu com essa distância? COMO?
Essa história é a minha, mas ela encontra a de outras tantas meninas que simplesmente não tiveram a chance de praticar mais esse esporte. Que iam para a quadra de vôlei enquanto os colegas se divertiam no futebol. Que faziam aulas de dança, balé, artes, enquanto o irmão ia para a escolinha bater bola. A minha história encontra também o enredo daquelas que fizeram o oposto, das que, a contragosto, remando contra a maré, jogavam sim futebol na escola e nos campinhos do bairro. Ou ainda das que depois de mais velhas decidiram que era chegada a hora de finalmente praticar de igual para igual. Não se intimidaram, montaram times, viver o sonho atrasado...
Eu sou péssima jogadora. Me falta talento, me falta coordenação, mas em especial, entendo que me faltou oportunidade. Não que eu seria uma grande atleta, mas definitivamente me faltou mais chances. E isso começou na escola, na tradicional ideia de que durante as aulas de Educação Física, meninos e meninas deveriam praticar exercícios separados, na maioria das vezes. Tudo isso iniciou na delimitação do que é para quem.
Hoje, chegando aos 30, e dedicada intensamente às nossas causas, consigo entender melhor sobre as dificuldades de desconstrução que nós -sociedade- temos. Compreendo quão difícil é nos desprendermos de culturas enrraigadas e que nos transformaram nesse mundo que, sim, é machista e tão intolerante.
Queria compartilhar aqui como pisar no Pacaembu foi incrível, mas também que mais fantástico ainda foi estar acompanhada de tantas mulheres. Éramos MUITAS. Foi lindo perceber no olhar de cada uma a alegria e o entendimento de que estamos mudando aos poucos as coisas.
Saber jogar futebol é o que menos importa na nossa luta. A verdade é essa. Jogamos umas pelas outras. E nos reconhecemos em cada drible como mulheres capazes de superar tudo que passamos até aqui para reescrevermos uma nova história. Além disso, há uma novíssima geração que chega carregando a nossa herança da resiliência e a força necessária para outros rompimentos. Está acontecendo... já está acontecendo.
Nas palavras da Adriana, jogadora da Seleção, “Queria deixar o incentivo para vocês, meninas que sonham em ser jogadoras de futebol. Não desistam. O caminho é longo, mas vocês não fazem ideia de como é prazeroso chegar a um clube de alto nível, como eu cheguei ao Corinthians, e ainda mais chegar em uma Seleção Brasileira. Sigam seus sonhos”.
Sigam sempre! Como amadoras ou profissionais. Lutemos juntas!
Muito mais do que um uniforme na jornada do futebol feminino pela igualdade
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