Kyler Murray vai mesmo trocar a NFL pela MLB?
Não há muito o que se fazer quando seu time toma 28 a 0 da melhor defesa do campeonato logo no início do segundo quarto. Foi esse o cenário que Kyler Murray, quarterback do Oklahoma Sooners, enfrentou nas semifinais do futebol americano universitário contra o Alabama Crimson Tide. Depois desse início catastrófico, seu desempenho foi bom, terminando com dois passes para touchdown e 308 jardas aéreas. Mas não foi suficiente. Os Sooners perderam por 45 a 34 e Murray pode ter feito sua última partida de futebol americano em alto nível antes de se dedicar exclusivamente ao beisebol. Será mesmo?
Como as temporadas escolares das duas modalidades não se chocam, muitos jovens atuam nos dois esportes no ensino médio e alguns conseguem manter essa versatilidade na NCAA. Como os atletas não precisam se inscrever para o draft da MLB (ou seja, podem rejeitar a oferta) e há dezenas - sim, dezenas - de rodadas, é comum o beisebol recrutar atletas que se dedicam ao futebol americano. Há diversos casos famosos, entre eles Tom Brady (Montréal Expos), John Elway (Kansas City Royals e New York Yankees), Jameis Winston (Texas Rangers), Colin Kaepernick (Chicago Cubs), Golden Tate (Arizona Diamondbacks e San Francisco Giants) e Dan Marino (Kansas City Royals). Esses preferiram o chamado da NFL ou seguir no futebol americano universitário ainda esperando a NFL.
Em junho deste ano, o Oakland Athletics draftou na nona posição geral o defensor externo Kyler Murray, da Universidade de Oklahoma. Ele vinha de uma ótima temporada, com aproveitamento de 29,6% de aproveitamento, 10 home runs, 10 bases roubadas e 47 corridas impulsionadas em 51 jogos. Murray também era (ou ainda é?) o quarterback do time de futebol americano. Ele aceitou o contrato com bônus (equivalente às luvas adotadas no futebol brasileiro) de US$ 4,66 milhões para se profissionalizar no beisebol, desde que pudesse pular algumas etapas preparatórias para os recém-draftados para jogar uma última temporada com a bola oval.
Em teoria, Murray se tornou um atleta profissional de beisebol. Ele já anunciou que, em fevereiro, deve se apresentar ao centro de treinamento dos A’s no Arizona para a pré-temporada. A partir daí, teria início sua carreira no beisebol. E o fim dela no futebol americano.
Há bons motivos para essa escolha. Na MLB, o dinheiro é garantido: 100% do que for assinado vai parar na conta do jogador (na NFL, ele deixa de receber uma parte se for dispensado do time), a carreira é normalmente mais longa e a média salarial é mais alta. Além disso, analistas consideram seu potencial no beisebol maior do que no futebol americano. Por fim, pode haver uma questão de preservação física.
No entanto, a temporada espetacular - coroada com a conquista do prestigioso Troféu Heisman, dado ao melhor jogador do futebol americano universitário no ano - fez Murray balançar. O desempenho fez que seu potencial no futebol americano fosse reavaliado, e se equiparasse ao do beisebol. Ele ainda é visto como um quarterback baixo para a NFL (tem 1,78 de altura), mas já há analistas que consideram que seu talento natural pode ser suficiente para ele se consolidar na liga, como ocorre com Drew Brees e Russell Wilson.
Obs.: Russell Wilson traçou um caminho intermediário entre as duas ligas. Foi draftado pela MLB e decidiu se dedicar ao beisebol. Fez duas temporadas fracas nas ligas menores do Colorado Rockies e desistiu do beisebol, aproveitando que ainda era elegível pela NCAA para retornar ao futebol americano universitário. Seu registro e seu vínculo como atleta profissional na MLB ainda existe, e seus direitos foram negociados pelo Texas Rangers e, no início deste ano, com o New York Yankees. Assim, ele se apresenta à pré-temporada para manter a forma, fazer umas ações de marketing e dar palestras aos colegas de beisebol sobre o duro caminho para se tornar um atleta de sucesso.
Isso muda algumas questões, sobretudo no ganho financeiro imediato. Se Murray for draftado na primeira rodada da NFL, ele terá um bônus contratual mais alto do que os US$ 4,66 recebidos dos A’s e ainda há uma possibilidade enorme de receber um bom contrato de patrocínio de um fabricante de material esportivo (nessa área, a NFL traz muito mais dinheiro que a MLB). O ganho em longo prazo talvez seja menor, pois seria uma carreira provavelmente mais curta e com salários mais baixos, mas o futebol americano traria mais dinheiro nesse início de carreira profissional.
Scott Boras, empresário de jogadores mais importante do beisebol e agente de Murray, disse no início do mês que a escolha pela MLB é definitiva. Dias depois, mudou o tom e deu a entender que ainda havia a possibilidade de o cliente ficar no futebol americano. No momento, é essa a posição: teoricamente ele vai ao beisebol, mas ainda pode tentar o futebol americano.
O prazo para inscrição de jogadores no draft da NFL é 14 de janeiro. Até essa data ficará claro o que Murray fará. Se ele não se inscrever, é quase definitivo que ficou exclusivamente no beisebol. Se ele se inscrever, há dois caminhos: ele desiste do beisebol (e devolve o bônus contratual ao Oakland Athletics) ou tenta se tornar um atleta profissional nas duas modalidades.
A segunda opção é a mais deliciosa de imaginar, seria uma nova versão de Bo Jackson e Deion Sanders e Bo Jackson, que brilharam nas duas ligas ao mesmo tempo nas décadas de 1980 e 90. Dificilmente as equipes das duas ligas permitiram. Por isso, meu palpite é que ele tentará um meio-termo. Inicia a pré-temporada do beisebol normalmente, até joga na equipe de liga menor que lhe designarem. Quando ocorrer o draft da NFL, no final de abril, ele verá qual seu cenário no futebol americano - valor do contrato, nível do time em que caiu, potencial de crescimento e potencial de jogar imediatamente - e escolherá entre uma modalidade ou outra.
Fonte: Ubiratan Leal
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