Faixa branca, por favor, nunca desista. Essa aqui é para você!
Querido (a) faixa branca,
Começou a caminhada e ela vai ser longa. Comecemos assim para que já se prepare, mas a intenção não é te desencorajar, mas mostrar que você não estará permitido a desistir.
Primeiro quero deixar claro que o jiu-jitsu é um extremo e, quando você começa, ou você ama ou você odeia. Caso você odeie, pode parar por aqui. Mas caso você ame, sua vida já mudou completamente, mesmo que você ainda não saiba disso.
Pisar em um tatame vai muito além de tirar os calçados, fazer uma reverência e cumprimentar seus parceiros. Pisar num tatame vai mudar completamente a sua forma de pensar. Quando você pensar que não é capaz, vai perceber que já passou: você fez e nem percebeu.
Sei que começar não é fácil. Dói, e dói muito. Você vai se lesionar, talvez com frequência. A frequência pode diminuir, mas a dor é uma constante e não só a física.
A dor começa quando você tenta fazer alguma coisa e vê que está difícil demais. Você olha para o lado e vê os graduados realizando algo que você não está conseguindo de forma alguma. Parece muito difícil e a pessoa está lá, fazendo com a maior naturalidade. Quando depois de tantas mil repetições o seu movimento sai perfeito (ou nem tanto), você vai parar e pensar: “por que eu não consegui antes?”; mas isso não pode te fazer desistir. Já se dizia que ‘a prática leva a perfeição’, e se a pessoa do seu lado está conseguindo fazer, tenha certeza de que ela já passou pelo mesmo que você. Tenha em mente que ninguém chega a lugar nenhum sem ter passado pelo que você está passando hoje.
E sim, vai ter bullying. Vai ser normal te mandarem para o final da fila o tempo todo, te falar para pagar flexão por algum motivo... você vai sofrer para entender que precisa respeitar os mais graduados, que o faixa preta é autoridade máxima, que algumas coisas erradas são chamadas de ‘faixa branquice’... vão te zoar quando você chegar dizendo que sua mãe lavou a sua faixa e dar risada porque ela está amarrada muito para cima. Também faz parte do processo. E não é na maldade! Um dia você vai entender.
Os movimentos vão ser cada vez mais difíceis. O arm lock básico da guarda vai sair, mas nunca durante o rola. O cotovelo vai ficar para fora, o pé cruzado errado, o quadril vai ficar colado no chão. Você vai passar a guarda com o quadril na altura do teto e vai ficar sem entender porque te raspam com tanta facilidade. Ninguém nunca vai ficar estabilizado nos seus 100kg, porque você vai demorar para entender de onde vem toda pressão que fazem quando é contra você. Você vai cansar muito, porque enquanto as pessoas ficam fazendo giros e mais giros com você, você tenta se defender usando toda a força que acha que tem e então você vai terminar bufando, enquanto seu adversário estará em pé amarrando a faixa e já procurando o próximo.
Vai ser difícil entender porque o professor não te deixa descansar entre uma luta e outra, ou porque todo mundo fica te corrigindo o tempo todo sendo que parece que tudo está saindo tão perfeito ou que você esteja com a convicção de que está sabendo tudo.
Você vai sentir dor nas costas e decidir que terá que ficar uma semana ou mais fora da academia. Depois, vai sentir uma dor no joelho e já sentir que vai precisar operar. Mas é normal, todo mundo se lesiona o tempo todo e isso vai seguir até o fim da sua caminhada. Quando você estiver lá na frente, verá o quanto foi exagero ter ficado tanto tempo sem treinar por uma dorzinha ou outra e vai chegar ao extremo de ‘só tem tu vai tu mesmo’ – treinar com ou sem dor, com ou sem lesão, apenas treinar.
Você vai postar frases motivacionais nas suas redes sociais e quem está do outro lado, vai rir um pouco de você por achar que é too much para tão pouco tempo. Vai começar a dizer que o jiu-jitsu é sua vida, seu lifestyle. Vai tirar fotos de kimono dentro do quarto e dizer “#PartiuTreino”, comprar camisetas escrito "jiu-jitsu" só para sair na rua e mostrar que treina. Lá na frente você vai olhar e achar engraçado, mas expresse seus sentimentos, tá tudo bem!
Você vai para um campeonato, gravará suas lutas e vai sair sentindo que arrasou. Quando você chegar em casa, vai assistir perceber que não estava lutando como a Kyra Gracie que habita dentro de você. Vai dar um pouco de vergonha, mas é normal. Ganhando ou perdendo, você vai sempre aprender qualquer coisa – e isso significa que você nunca vai perder, mesmo que a mão levantada no final não seja a sua. Isso também é algo que vai entender com o tempo. Uma derrota nos faz refletir e enxergar coisas que nem esperamos.
Você vai sair do treino frustrado porque foi finalizado vinte vezes. Vai ficar puto porque vai achar que as pessoas te deixam fazer as coisas. Isso vai passar.
Você vai errar o nome dos golpes e vão rir de você por conta disso. Quando sentir um pouco mais de confiança, se sentirá no direito de chamar alguém para rolar e vai tomar um pau – você vai sair triste, mas não desacredite. Você vai constantemente ver seus amigos graduados zoando os faixas pretas e vai achar que pode zoar também – mas ninguém será rotulado de folgado, só o faixa branca. Você vai passar horas assistindo vídeos de posição no YouTube e chegar na aula querendo mostrar para todo mundo o que aprendeu, até ver que jiu-jitsu online é algo bem difícil de reproduzir, ainda mais quando se está no começo. Vai querer fazer os golpes mais mirabolantes porque parecem fáceis, mas vão te fazer cair na real de que você ainda precisa se aperfeiçoar no básico antes de querer fazer o plástico, ainda que seja lindo.
Você vai amarrar seus dedos com esparadrapo porque vai achar que é bonito, sem nem entender a finalidade disso. Vai se achar o mais graduado do mundo quando não for mais o último da fila ou quando receber o seu primeiro grau. Você vai querer debater sobre as novidades do jiu-jitsu que para você são tão novas, mas já aconteceram a tempos e vão dizer que você é desatualizado.
Faixa branca, não desista. Estaremos sempre aqui para te ajudar. Saiba que sua perseverança nos inspira. Não é fácil começar algo novo, ouvir tantas coisas esquisitas, sentir-se excluído, tentar e achar que nunca consegue. Mas entenda: todo mundo já passou por isso.
A faixa branca nos ensina e nos ensina muito. Saiba também que, lá na frente, você vai parar de dar valor a algumas coisas que você dá sendo faixa branca, como os detalhes de um golpe perfeito. Os graduados costumam achar que já sabem tudo e esquecem de detalhes básicos que, muitas vezes, reaprendemos treinando com vocês.
Vocês são muito importantes para o nosso treino. Vocês fazem parte do crescimento do jiu-jitsu. Vocês nos impressionam quando botam a cara a bater e não desistem, nos orgulham quando conseguem fazer alguma coisa certa que a gente tanto bateu na tecla de que você estava fazendo errado. Você é responsável por algumas frustrações, porque muitas vezes, a gente desacredita que aquele golpe vindo de você vai entrar e somos surpreendidos quando precisamos dar os três tapinhas, porque não dá mais para dar mole para você.
Você vai ser graduado, aos poucos. Vai criar responsabilidade, ser cobrado. Um dia você vai alcançar seu professor e vai pensar que tudo passou rápido demais. As posições vão sair naturalmente, as coisas ficarão mais claras, os esparadrapos no dedo farão sentido. E aí, você vai olhar para trás e ver que estará desempenhando o papel que um dia desempenharam com você. Por isso, não se cobre tanto, tenha paciência e, mais uma vez, não desista. Ao longo caminho, você vai ter milhões motivos para querer desistir, a faixa branca é só o início.
A gente zoa, a gente brinca e a gente faz aquele bullying de sempre, mas é só para não perder o costume. Vocês nos inspiram!
Fonte: Mayara Munhos
Faixa branca, por favor, nunca desista. Essa aqui é para você!
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