Mulheres que lutam na divisão máster compartilham experiências de lutar contra adultos por falta de categoria no jiu-jitsu
Em março desse ano, escrevi sobre o Pan-Americano de Jiu-Jitsu. Karen Peters e seu professor, Carlos Melo, criaram uma petição para que as divisões de máster feminino fossem iguais às do masculino, indo de 1 a 7. O abaixo-assinado tem dado certo, tendo em vista que competições seguintes começaram a incluir o “pós máster 1” feminino nas inscrições.
Pensando nisso, conversei com algumas mulheres que vivem isso na pele para saber a experiência de ter que sair do conforto de sua categoria para lutarem em outras por falta de opção, ou até mesmo de oponentes. No grupo do Facebook de Karen, “BJJ Master Woman”, algumas me responderam.
Madelein Larson Wollnik, faixa azul de 46 anos da Suécia contou ter participado de cinco competições apenas na categoria adulto: “Eu nunca competi no máster porque não tem ninguém da minha idade”. Quase a mesma situação de Nikki May, faixa azul de 44 anos, que treina na Rivers BJJ do Kansas: “Não sei como é competir no máster porque não temos mulheres geralmente. Eu me inscrevo, mas nunca tiveram pessoas o suficiente”.
Samanta Fonseca, faixa azul, fundadora do BJJ Girls Mag e atleta da Brotherhood, está em seu primeiro ano de máster e nunca teve problemas de falta de luta. Para ela, a maior diferença entre as categorias é a força. Por outro lado, ela reconhece que em alguns campeonatos menores, as mulheres mais velhas têm outras prioridades: “Acho que em muitos torneios, tem aquelas mulheres que tem filhos, treinam duas, três vezes na semana, não tem tempo de fazer preparação física... Mas para os campeonatos maiores, percebi que elas são mais fortes, mas tem menos mobilidade. Lutar nos dois é difícil” – disse Samanta, que completou – “O que tem que saber é que no adulto talvez você se movimente mais e no máster, talvez faça mais força”.
Gwen Blanken é uma faixa branca da Stockholm BJJ Club Center da Suécia. Ela contou que compete tanto no máster como no adulto. “No adulto, por não ter escolha ou não ter mulheres o suficiente para o máster” – conta Gwen. Master 3, Blanken diz que sente muita dificuldade principalmente quando a diferença de idade entre ela e as adultas é muito grande: “Elas são muito rápidas, mais bem preparadas, flexíveis, mais fortes e muito mais agressivas” – disse, e completou dizendo também que se sente muito melhor lutando em sua divisão.
Por falta de opção, Agnheszka Sy, faixa azul de 35 anos da Jungle BJJ (República Tcheca), competiu durante cinco anos como adulto e sempre teve que descer de categoria por conta de falta de oponentes. Nas últimas competições, ela lutou como máster 1, que é sua categoria, sempre indo nos torneios e lutando com e sem kimono. “Eu cheguei a lutar seis vezes em um campeonato” – disse Agnheszka. A opção de parar de lutar como adulto deu-se por perceber que não conseguia mais acompanhar o ritmo das oponentes: “A experiência me ajudava no início da luta, mas nos últimos dois minutos, parecia que eu não estava mais lá” – disse. Ela também contou que se sentiu muito derrotada pela idade e teve muita dificuldade em aceitar a mudança. “O período de recuperação depois dos 30 anos começou a ficar mais longo e isso não ajudava em nada meu humor. Não consegui mais treinar todos os dias. Lidei com isso fazendo algo que nunca pensei que precisaria: escolher com quem ia treinar” – desabafou a atleta. Hoje ela disse que apesar de ter demorado meses para aceitar tudo, ela se sente bem e treina menos focada em competir.
Atleta da Saber BJJ da Austrália, Libby Chick, faixa branca de 47 anos, conta que quando vai a competições locais, ela luta contra oponentes mais jovens que os próprios filhos. “Às vezes eu reluto para não participar de competições onde sei que vou ter 25 anos a mais que minhas adversárias” – disse Libby, que nunca competiu na categoria máster e confessa que é difícil pagar competições que exigem que ela se desloque muito de sua cidade natal. Mas o desejo de competir na divisão certa está dentro de si: “Seria incrível poder me testar contra mulheres mais próximas da minha idade”.
Dolonna Brush é faixa azul e máster 4. Aos 51 anos, ela treina na Gracie Humaita de Temecula, Califórnia. Ela começou a competir no ano passado, logo quando completou 50 anos e dos sete torneios em que participou, cinco ela competiu no máster 1. “Pela minha experiência, há uma enorme diferença em força e velocidade, e é por essa razão que os homens têm categorias separadas” – contou Brush. Ela destaca que faz isso por amor ao esporte e acredita que a competição é uma ótima forma de se testar e é isso o que a dá forças, interna e externamente, para continuar competindo, mas relembra: “Se minha filha competisse, estaríamos na mesma categoria”.
E apesar de tantas queixas, a faixa azul de 56 anos Ann Mullen, que treina na academia Yamasaki em Maryland, confessou sentir mais medo de pessoas grandes do que jovens por conta de seu peso e tamanho. Ela, que compete no adulto ou máster 1, destacou que as meninas a respeitam, não a tratando como uma “velha senhora” e contou que “eu não luto com e sem kimono no mesmo dia porque não me recupero tão rápido, e a diferença que mais noto é realmente em recuperação e força”. Por outro lado, ela destacou também que se sente mais experiente por ter competido a vida toda: “Em alguns casos, sinto que estou mais calma que minhas adversárias mais jovens”. Outro destaque de Mullen é que a forma que os mais velhos levam a competição é diferente, e ela completa: “Não me entendam mal; nós, másters, levamos a sério a competição, mas a perspectiva é diferente”.
Seja por falta de atletas ou por falta de subdivisão de categorias, o que mais importa é que muitas das mulheres continuam – literalmente – na luta e que a IBJJF viu que há sim como dividir melhor as categorias femininas, ainda que com menos mulheres, apenas para que elas possam competir pelo prazer de lutarem de igual para igual. E certamente, o trabalho de Karen tem sido um grande responsável pelas conquistas.
Termino o texto com essa imagem. Antes, entrávamos no site da IBJJF e víamos tabelas separadas para homens e mulheres. A dos homens, ia de fato até o máster 7. A das mulheres, até o máster 1. Hoje, a maioria dos campeonatos no site tem uma “tabela unificada”, exatamente como na foto, “Male and Female”. O jiu-jitsu é gigante. O jiu-jitsu é para todos!
Fonte: Mayara Munhos
Mulheres que lutam na divisão máster compartilham experiências de lutar contra adultos por falta de categoria no jiu-jitsu
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