Vem cá, jiu-jitsu, vamos conversar porque o ano está quase acabando
Caramba, jiu-jitsu! Acabou o ano e passou voando. Janeiro começou insano. O Campeonato Europeu é sempre o nosso 'feliz ano novo' oficial. Ali já pudemos ver que o ano não seria fácil. Só luta dura, difícil. Da faixa azul a faixa preta, tudo muito técnico, pensado, estudado.
Enquanto isso, do lado de cá, alguns objetivos começavam a ser concretizados. Já pensou uma aula de jiu-jitsu só para mulheres liderada por você? Pois é. Creio que empoderar mulheres foi uma das missões que recebi quando vim ao mundo. Muitas coisas mudaram de uns tempos pra cá. Quando voltei a treinar jiu-jitsu, depois de seis anos parada, eu senti que as coisas tinham mudado bastante e que as mulheres precisavam estar cada vez mais confiantes para ocuparem aquela área predominantemente masculina. Muitas têm vontade, mas poucas têm coragem e, principalmente, persistência. Quando uma mulher ajuda a outra, parece que tudo fica mais fácil e leve. Dar aula para mulheres é uma missão difícil. Montar uma turma é difícil. Muitas chegam, poucas ficam... Mas nada começa no topo. Ter dado aula para meninas tem sido algo incrível e enriquecedor.
Bom, na verdade a publicação de hoje é realmente pessoal. Esse ano foi duríssimo, em todos os sentidos. Treino duro, trabalho duro, vida pessoal dura. Muitas mudanças, novas responsabilidades... Algumas vitórias, muitas derrotas. Mas de tudo, um grande aprendizado.
Esse ano veio para mostrar como o jiu-jitsu pode ser importante e ensinar em todos os âmbitos da vida. Eu admiro muito quem consegue esquecer tudo dentro do tatame; eu não consigo. Sabe quando dizem que quando estão no tatame, treinando, todos os problemas ficam do lado de fora? Eu não sei o que é isso. Costumo levar tudo dentro de mim e nem faço questão de dizer o contrário só para mostrar o quanto sou forte e durona. Vira e mexe tenho dificuldade em executar alguma posição porque estava com a cabeça em lugar nenhum. Não é dislexia ou algo do tipo (eu acho hahaha), eu só não consigo fazer algo sem ter tudo minuciosamente resolvido.
Os campeonatos foram voltando aos poucos. Eu acho que não me lembro exatamente de quantos participei, mas eu lembro dos que perdi. De todos, dois eu não medalhei. Acho que não é um número grande. Voltei a competir alguns meses depois de ter feito uma cirurgia, a primeira da minha vida. A volta é sempre difícil, mas no meu primeiro campeonato depois da cirurgia, eu finalizei minha adversária e a ouvi dizendo para a torcida: "não consegui, a pegada dela era muito forte". Justamente a pegada daquela mão operada... Então sim, eu podia. E embora não tenha sido campeã nesse dia, eu estava no caminho.
Lembro perfeitamente de quando venci. Era a II Etapa do Campeonato Paulista. Eu tenho lutado as etapas do paulista desde 2015. Eu nunca tinha levado um ouro para casa. Sabe como é bater na trave? Caramba, eu sou profissional nisso! Tantos anos e tantas etapas no "quase". Era bronze, era prata, mas não era ouro. E o ouro chegou! Era uma chave de três. Minha primeira luta eu perdi nos pontos, senti que não fiz nada. Mas tinha uma repescagem. Foi contra uma menina que eu tinha lutado no ano anterior, no meu primeiro campeonato de faixa roxa. Eu já estava cansada e desmotivada. Eu lembro de ter mandado mensagem para um dos meninos que treinava comigo e estava lá dizendo algo do tipo "sempre que chego no ginásio eu me pergunto o que estou fazendo aqui, eu realmente não sei". Lutei e finalizei, em menos de dois minutos. Naquele momento parecia que eu sabia, sim, o que estava fazendo ali. Fui para a final enfrentar a mesma menina da primeira luta. Finalizei a minha segunda luta do dia e fui campeã, depois de muito tempo tentando.
Foi uma emoção muito grande. Eu realmente não imaginava. Na verdade eu acho que nunca acreditei. Parecia uma coisa tão longe, tão distante... E de repente eu tinha sido campeã. Achei que depois disso, tudo seria um pouco mais fácil, afinal, depois de ter sentido o gostinho do ouro e ter visto o quanto era gostoso, eu não perderia nunca mais. Magina! Parece que tudo ficou mais difícil.
Toda luta que eu entrava, os coaches das minhas adversárias já sabiam exatamente o que eu ia fazer - e eu também. Algumas vezes davam certo, mas nunca era na final. Eu perdi a etapa seguinte do paulista de uma forma que jamais deveria perder. Era meu dia e meu golpe, mas não foi.
Nesse ano também lutei meu primeiro campeonato da CBJJ; o Brasileiro. Foi uma preparação intensa. Eu nunca tive tanto foco em alimentação e preparação física como tive para esse campeonato. Quando vi minha chave, de cara tinha uma garota duríssima. Era o peso do campeonato, o peso de dividir um dia de trabalho com um dia de campeonato e o peso de pegar uma das 'cabeças de chave'. Minha luta foi boa. Eu consegui ir melhor do que achei que iria. Perdi na primeira, mas lá foi mais um dia que me mostrou que, ainda sem ser uma atleta profissional, eu consigo me dar bem com quem é.
Aliás, por falta de um campeonato da CBJJ, eu lutei três. O Sul-Americano foi bem parecido com o Brasileiro - desde rotina até a luta. Mas lutei também o SP Open, onde fiz a final com a campeã brasileira do leve. É daquelas que você olha na chave de pensa "ferrou", hahaha. Mas nem ferrou tanto, foi uma ótima luta e consegui subir no pódio mais uma vez.
E tiveram outras etapas do Paulista onde consegui estar no pódio também, alguns campeonatos de fora da federação... Foi um ano daqueles em que você chega em dezembro exausta. Mas foi um ano de muitos aprendizados. Creio que esse ano foi o que mais me envolvi com o jiu-jitsu e com esportes no geral. Apesar de trabalhar numa emissora esportiva há seis anos, agora eu sou oficialmente editora do espnW.com.br e isso faz com que eu precise estar cada vez mais dentro do esporte. Antes, era só jiu-jitsu. Hoje, preciso dividir minha rotina de escrever e estudar outros esportes também.
Mas na prática... O jiu-jitsu tem se tornado cada vez mais importante na minha vida. Ele me ensina muito, não só dentro do tatame. Tudo o que aprendo lá, tenho como fazer uma analogia na minha vida aqui fora. E de tudo, uma das coisas mais especiais tem sido ensinar. Hoje na Academia Ono temos oficialmente uma turma feminina que sou instrutora. Para elas, tentei ensinar durante 2018, mas aprendi muito mais. Percebi que ensinar é uma das coisas mais difíceis e uma responsabilidade muito grande a se assumir, mas consegui tirar de mim mesma muitas coisas que eu achei não saber. Eu tenho zero dom de ensinar, mas sei que dou meu melhor para, mais do que ensinar, trazer mais meninas para o tatame. É uma tarefa difícil, de fato. A turma é pequena. Mas um dia chegamos lá!
Falta pouco menos de um mês para o ano acabar. O ano que vem será tudo igual, porém com o objetivo de melhorar. O topo do pódio nunca foi prioridade, mas continuará sendo um grande desejo. Agora é hora de tirar aquele descanso merecido, botar os objetivos num papel e correr atrás para fazer acontecer. E você, como foi seu 2018 no jiu-jitsu?
Fonte: Mayara Munhos
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