Conversei sobre jiu-jitsu com a Amanda Nunes antes do UFC 232
Sim! \o/ Eu me “aproveito” da situação de entrevistar as atletas de MMA e sempre puxo o papo de jiu-jitsu. Para o UFC 232, tive a oportunidade de entrevistar a Amanda Nunes e, depois de tudo... Não tinha como não aproveitar a brecha.
Quando participei do ‘Olhar espnW’ com a Cris Cyborg, uma das primeiras coisas que falamos nos bastidores foi sobre jiu-jitsu. “Sério que você treina na Atos? Eu treinava com o Galvão, mas o Cobrinha é mais perto para mim, então estou lá com ele hoje”, me disse ela, que é faixa marrom. No mesmo final de semana, eu disputaria um campeonato. “Boa sorte no seu campeonato”, ela me desejou, fora todas as outras dicas psicológicas que ela me deu: “É você ou ela, pensa sempre assim”.
Assim foi com Poliana Botelho, que também entrevistei esse ano. Não era antes de nenhuma luta, foi apenas uma entrevista pontual, mas falar sobre jiu-jitsu e amizades em comum, fez com que a entrevista parecesse muito mais legal. “Sim, eu treino com a Michele, treinamos agora há pouco, que menina forte”, ela me disse sobre a Michele Oliveira, da Nova União.
Também tive a oportunidade de entrevistar a Claudinha Gadelha. Papo vai, papo vem... Ficamos meia hora no telefone (o combinado era 10 minutos) e conseguimos também falar sobre jiu-jitsu. Que ela treinava jiu-jitsu eu sabia, mas não que ela tinha começado aos 14 anos.
Decidi puxar o papo para falar sobre a tal ‘creontagem’ que todo mundo ainda insiste falar. Quando ela decidiu parar de treinar com o Dedé Pederneiras, saiu nas mídias algumas declarações dela do tipo “eu sai do Brasil, porque se fosse para outra academia dentro do país, seria chamada de creonte”.
Como toda atleta profissional, Claudinha foi em busca do crescimento, evolução e claro, dinheiro. Hoje ela treina no Instituto de Alta Performance do UFC, em Las Vegas. Destaquei muito a comparação entre Brasil e Estados Unidos, no quesito artes marciais. Ela me disse que lá, como eles estão acostumados a treinar desde sempre, há um respeito que aqui no país não temos: “No Brasil, ou você ama ou você odeia. Nos EUA, ou você ama, ou você respeita”. E isso acontece, realmente.
“Acho que é uma coisa do jiu-jitsu mesmo, as pessoas te julgam porque você precisa honrar seu mestre por ter te ensinado o básico. Lembrando que você também botou a cara lá e treinou para caramba para conseguir aprender, você também fez muito para estar ali, e chega uma hora que você continua fazendo as mesmas coisas a vida toda, não tem como você ver resultados diferentes e chega um momento, na alta performance, que você precisa conhecer coisas diferentes”, me disse Gadelha.
Ela também relembrou que saiu da Nova União não apenas por buscar coisas novas, mas por não concordar com tudo o que era imposto na equipe e confessou que foi bem desafiador. “Foi muito difícil lidar. Eu vivi a vida toda com um time que considerava uma família, estava lá desde criança. Me tornei uma grande lutadora e pessoa ali dentro. Doeu muito por um tempo. Sair, ver a galera torcendo contra mim, me chamando de creonte e dizendo que abandonei o time. Mas eu só estava buscando a evolução, procurando melhoras”, confessou e concluiu – “As pessoas que estão dentro do time, que viram o que fiz, conseguem me entender e as que não entenderam a evolução do esporte, não conseguem me entender, infelizmente. Quem não sabe o que a gente passa, o que temos que fazer para chegar longe, acham que a gente é creonte.”
Lembrando que, recentemente, Dedé Pederneiras fez uma grande mudança dentro do time e abriu a Upper Arena, no Rio de Janeiro, onde os atletas da Nova União treinam e se preparam melhor para o MMA, em um espaço maior e tudo mais. Além disso, ele também tem a intenção de abrigar projetos sociais. Uma lembrança: Claudinha foi a faixa preta mais jovem da Nova União, aos 21 anos. Hoje, ela tem dois graus.
Vendo muitas atletas migrarem do jiu-jitsu para o MMA, decidi puxar esse papo com a Amanda Nunes também. Há dois anos, escrevi quando a Gabi Garcia estava indo para o MMA, sendo que ela estava de certa forma, dominante no jiu-jitsu. Também tem a Mackenzie! Poxa... A nossa “queridinha” decidiu largar as competições do jiu-jitsu para ir ao MMA e lutou no UFC. Isso causa uma certa divisão entre sentimental e racional. Mas é preciso analisar a situação e o atleta vive disso.
“É assim. O MMA hoje é de onde você tira o seu sustento. Então você acaba tendo que cortar o jiu-jitsu se você ama mesmo. Tem que deixar de lado para conseguir um dinheirinho a mais. Acho que é por isso que às vezes as meninas migram, porque você sabe, né. O financeiro é muito importante na vida de um atleta. Se o MMA está pagando mais, por que não? Fazemos o jiu-jitsu por amor e o MMA para ganhar dinheiro”, me falou Amanda Nunes, caridosamente durante a entrevista que deveria ser apenas sobre o UFC 232.
Hoje em dia, Leoa, que é faixa preta de jiu-jitsu, não tem intenção de competir nenhum esporte, mas relembra que já competiu judô e tem alguns títulos no jiu-jitsu: “Disputei jiu-jitsu a vida toda. Tenho vários títulos de campeã baiana, pan-americana, mundial... Estou muito bem realizada na minha vida como atleta” – comentou a dona do cinturão do peso-galo, e finalizou falando sobre a migração para os Estados Unidos, assim como Gadelha: “Acreditaram em mim desde quando eu era faixa branca, não era ninguém na academia... Eles olharam para mim e enxergaram algo. A oportunidade veio, agarrei e estou aqui”.
Algo também muito criticado no Brasil, além da famosa creontagem no jiu-jitsu, é o fato de dois atletas do mesmo país se enfrentarem no MMA. Why not? A luta da Cris Cyborg e da Amanda Nunes foi muito criticada por ser entre duas compatriotas. Seria um drible do Dana White para tirar um cinturão do Brasil ou só faz mesmo parte da profissionalização do esporte?
“O esporte é singular. Como você falou, toda hora você vê americano lutando entre si. As pessoas têm que entender que é um esporte e que vença a melhor. Se você é fã de Amanda Nunes, você é fã de Amanda Nunes. Se você é fã de Cris Cyborg, você é fã de Cris Cyborg e acabou! Qual é a história? Não tem que existir isso, ‘você vai lutar com ela não é mais brasileira’. Eu nasci onde? Para com essa conversa, pô. Não tem nada a ver, nada com nada. Estamos aqui com o mesmo objetivo. Tentando quebrar recordes, fazer história e botar nosso nome lá” – foi o que Amanda me falou quando perguntei o que ela achava sobre as pessoas criticarem o fato de duas pessoas do mesmo país se enfrentaram – “Em todo lugar é assim, as pessoas se enfrentam o tempo todo”.
Já tive a oportunidade de lutar com Jéssica Bate Estaca em um campeonato de jiu-jitsu, na faixa azul. Hoje ela está de faixa marrom e, na época, ela estava indo muito bem nos campeonatos de jiu-jitsu, mas se dividindo entre tatame e octógono. Atualmente, Jéssica despontou no UFC e está seguindo o seu caminho.
Críticas de creontagem, críticas de brasileiros morando no exterior... Hoje o que mais tem é isso. Se nosso país não oferece o suporte que cada atleta merece, a saída é essa. Nas entrevistas que fiz no Jiu-Jitsu In Frames, com o André e Angélica Galvão, Guilherme Mendes e o Kaynan e o Hulk, quis muito falar sobre a diferença entre treinar no Brasil e no exterior, patrocínios, como é ter uma academia lá. Senti um tom de desabafo de muitos deles, inclusive do Guilherme, que em um momento, falou: “Os fãs brasileiros criticam que publicamos as coisas na social media em inglês, mas esse é nosso público hoje. Aqui foi uma oportunidade”.
O brasileiro precisa entender que há oportunidades que precisam ser agarradas. Cada um com sua profissão, cada um com sua adaptação. A luta entre Amanda Nunes e Cris Cyborg será, de fato, a maior luta feminina da história do MMA. São duas campeãs de suas categorias, duas lutadoras fortes, duas brasileiras. É inédito. Amanda pode ser a primeira a ter o cinturão de duas categorias. Sendo um drible do Dana White ou não, a questão é que o Brasil está de fato, prestes a dominar.
Ah, e para finalizar: "Eu bem que queria que você voltasse a competir jiu-jitsu, Amanda, não nos enfrentaríamos mesmo, por enquanto" - eu disse a ela; que riu por um tempo e respondeu: "Quem sabe um dia, jiu-jitsu hoje é só por amor".
Fonte: Mayara Munhos
Conversei sobre jiu-jitsu com a Amanda Nunes antes do UFC 232
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.