Atleta troca futebol pelo rugby e se destaca como capitã da Seleção Brasileira
O sonho dela era vestir a “amarelinha”, mas no futebol. O desejo bateu na trave. Ironicamente ela marcou o gol em um esporte diferente, o Rugby. Esta é a história de Raquel Kochhann, capitã da Seleção Brasileira Feminina de Rugby Sevens (uma variante do esporte praticada com times com 7 atletas em vez de XV).
Encontrei-a no NAR (Núcleo de Alto Rendimento), espaço onde acontecem os treinos de atletas profissionais de variadas modalidades esportivas. De longe vi uma menina sentada em um banco dentro da academia. Abordei-a e bastou a apresentação e uma pergunta para que ela começasse a mostrar no brilho dos olhos o quanto é apaixonada pelo esporte.
Natural de Saudade – SC, Raquel sempre morou com seus pais em Pinhalzinho, interior do estado catarinense. Boa parte da sua família sempre jogou futebol. Quando era pequena, acompanhava seu pai nos jogos e ficava buscando a bola quando ela saia para fora das quatro linhas. Foi então que Raquel se apegou ao esporte e começou a participar de jogos escolares. Mas não só no futebol, ela também competia no atletismo, salto em distância, salto em altura, basquete, tênis de mesa e futsal. O sonho dela sempre foi representar a seleção brasileira. Costumava falar para a sua mãe: “quero vestir a amarelinha”.
O esporte que ela mais se identificava e tinha vontade de seguir carreira era o futebol. Com 15 anos, fez uma seletiva para o Esporte Clube Juventude, em Caxias do Sul. Passou no teste e foi morar na cidade para jogar como “semiprofissional”, o que seria uma “porta de entrada” para, quem sabe, virar atleta profissional e passar a viver somente do esporte.
Raquel começou a se destacar no futebol e aos 17 anos teve uma pré-convocação para um treino da Seleção Brasileira sub-17. Seu sonho de representar o Brasil estava ficando mais próximo, quando na véspera do treino teve uma entorse no pé, o que foi suficiente para ser cortada do mesmo, pois não haveria tempo para se recuperar.
Foi então que Raquel decidiu deixar o esporte um pouco de lado e passou a se dedicar aos estudos, pois não tinha mais o foco em ser atleta após essa decepção. Entrou no curso de Educação Física em uma faculdade em Caxias do Sul - RS, mas mesmo assim nunca chegou a largar o esporte de maneira competitiva.
Aos 19 anos, Raquel começou a jogar futsal no time da faculdade, quando, durante um treino, uma menina que também jogava a chamou para ir conhecer o Rugby Sevens. Ela nunca sequer tinha ouvido falar sobre essa modalidade esportiva.
“Fui conhecer um treino. Naquele dia, foi um treino específico de contato. O fato de poder ‘derrubar’ as pessoas, correr com a bola e não deixar as pessoas te derrubarem, foi o que mais chamou a minha atenção. Na época, eu era um pouco gordinha e fortinha, mas vi que isso não era um problema, e sim uma vantagem.”
Então Raquel decidiu entrar de vez para o Rugby Sevens. Sua primeira disputa foi o Campeonato Gaúcho, quando de cara ganhou o prêmio de melhor jogadora do torneio. Na época, ela jogava pelo Serra Rugby, de Caxias do Sul.
Em 2012, Raquel decidiu tentar pela segunda vez na vida fazer parte da Seleção Brasileira – dessa vez, no Rugby de fato. Então se preparou para fazer uma seletiva e foi aprovada. Em 2014, trancou a faculdade e se mudou para São Paulo para poder treinar todos os dias junto com o restante da Seleção e tentar sua chance nas Olimpíadas de 2016, quando o Rugby Sevens passaria a ser uma modalidade olímpica pela primeira vez na história.
“Eu não fumava, não bebia, sempre gostei de treinar e de desafios.”
A partir de então, não perdeu nenhuma convocação e enfim realizou o sonho de representar o Brasil nas Olimpíadas. Defendeu a Seleção Brasileira Feminina de Rugby Sevens no Rio-2016. Na ocasião, ficaram em nono lugar.
Em abril desse ano, o time foi campeão do Hong Kong Sevens Feminino e foi promovido pela segunda vez na história à elite da Série Mundial de Sevens feminina para a temporada 2019-20. E o calendário não para por aí, as meninas terão muitos campeonatos pela frente.
Antes dos Jogos Pan-Americanos, que acontecerão em julho deste ano, em Lima, no Peru, as “Yaras” - como as atletas da Seleção Brasileira são chamadas - têm um campeonato qualificatório, que acontece em Junho, para as Olimpíadas de Tóquio, em 2020.
“Para nós, o Pan-Americano não vale vaga para a Olimpíada de Tóquio como vale para muitos outros esportes, mas isso não faz dele um torneio menos importante. A gente vai enfrentar times que são da grande elite do rugby mundial, então é um grande desafio para a gente. Bater de frente com os Estados Unidos e Canadá, que são times que disputam hoje o circuito mundial, será muito bom. Estamos treinando numa preparação muito intensa para chegar lá (no Pan) e buscar o melhor resultado possível”
Esta será a segunda vez que o Rugby Sevens será uma modalidade dos Jogos Pan-Americanos. A primeira vez foi em 2015, em Toronto, quando a modalidade passou a fazer parte dos Jogos pela primeira vez. Na época, as Yaras levaram a medalha de bronze.
Conversando com a Raquel, tive uma sensação muito boa de ver alguém que leva o esporte tão a sério. Mais do que isso: a essência dele. Ela deixou claro que preza pelo respeito com o esporte e com o adversário acima de tudo.
“Não existe jogo sem adversário, então essa é a questão, de que precisamos de um adversário para jogar, então não podemos machucá-lo. O adversário não é um inimigo, mas sim um oponente que está nos ajudando a ter uma partida para podermos praticar nosso esporte.”
Raquel também disse que uma coisa forte que está no DNA do rugby são os valores: paixão, solidariedade, respeito, disciplina e integridade.
“Não é por formar atletas, mas formar pessoas melhores. Quem entra para o rugby entra com isso dentro de si, o que me fez realmente me apaixonar pelo esporte foi isso, essa questão dos valores, da disciplina. Eu sempre fui muito ligada a regras, e esse respeito pelas regras é muito legal, nós prezamos muito.“
Sobre o fato de ser a capitã do time e exercer um papel de líder dentro e fora do campo, Raquel diz não fazer as coisas porque os outros estão vendo, mas fazer fora disso.
“Não é só fazer as coisas porque as pessoas estão vendo, mas é a gente manter os valores fora disso. Por exemplo, uma coisa que sempre fazemos é deixar o lugar que estamos melhor ou igual ao que encontramos. Sempre arrumamos tudo da academia que treinamos mesmo que não tenhamos sido nós que usamos. Precisamos passar para outras pessoas esses valores que temos no esporte”, disse a atleta de 26 anos.
Questionada a respeito da visibilidade do Rugby no Brasil, Raquel viu a questão com bons olhos. “Nós estamos crescendo muito no Brasil, o rugby vem ganhando visibilidade. É que querendo ou não nós somos o país do futebol, então o rugby é pouco conhecido, mas quando as pessoas conhecem o esporte e o ‘bichinho do rugby’ pica, não tem mais volta (risos).”
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