A maior diferença que senti entre treinar jiu-jitsu nos Estados Unidos e no Brasil
Quem acompanha meu blog sabe que, em outubro 2017, eu embarquei para a Califórnia com o objetivo de treinar. Uma cirurgia, porém, me impediu, porque 15 dias antes da viagem, eu quebrei o dedo justamente durante um treino e precisei operar. Então precisei mudar um pouco meu roteiro e passei na Atos HQ só para conhecer e gravar algumas entrevistas. Fiz uns treinos de 'teimosa', mas claro, só para matar a vontade, sem relação nenhuma com a realidade, digamos assim.
Esse ano eu fui para lá de novo e, dessa vez, consegui treinar. Passei uma semana na Atos, visitei novamente a Barum Jiu-Jitsu durante um open mat e também fiz um treino na AOJ. O melhor é que eu tinha um objetivo maior: me preparar para o Brasileiro, que eu lutei no dia 01 de maio (talvez eu conte minha experiência em breve, mas posso dizer que foi ótimo, apesar de não ter subido no pódio). Então foi tudo muito intenso e eu tive que me dividir entre turismo e treinos.
Eu fui para lá com uma cabeça e voltei com outra. Mas eu tenho uma coisa muito importante a destacar:a maior diferença que senti entre treinar lá e aqui, foi o fato de poder treinar com mulheres.
Apesar de eu ter algumas meninas treinando comigo e, inclusive, dar aula para mulheres, é um estímulo muito diferente. Algumas equipes aqui no Brasil, de fato, têm um time feminino forte, mas nós da Ono ainda não chegamos a esse patamar e estamos desenvolvendo isso aos poucos. Lá eu me foquei sempre em treinar com elas, já que seria uma ótima oportunidade de simular uma luta real que eu provavelmente encontraria no Campeonato Brasileiro.
Me foquei em treinar com faixas roxas e marrons, que é o mais próximo da minha realidade atual. Todas eram do meu peso ou inferior, poucas mais pesadas. E ao contrário do que pensam - e que eu, pelo menos, já ouvi muito - de que eu vou ser melhor e mais forte treinando apenas com homens, eu senti exatamente o oposto: treinar com mulheres do mesmo nível técnico que o meu, é muito mais difícil.
Foi onde eu consegui perceber que, de fato, os meninos 'tiram o pé' quando treinam com a gente. O que não é um problema para mim. Existem homens e homens. Alguns que se fazem de besta por você ser mulher e 'deixam' você fazer tudo como se você não estivesse percebendo e outros, que discretamente não usam 100% da força para que o seu treino renda. Treinar com o segundo tipo de homem realmente é muito vantajoso, porque temos a oportunidade de fazer força, tentar aplicar algumas técnicas e se desenvolver. Mas ainda assim, não chega nem aos pés de treinar com uma mulher.
Elas nunca aliviam. Elas nunca 'te deixam' fazer alguma coisa. Elas nunca fingem que seu braço não sobrou na cara delas ou ignoram o fato de você não ter protegido o seu pescoço. Elas atacam, e atacam o tempo todo. Elas são fortes - tanto quanto ou muito mais que eu. Elas usam e abusam da força física e também da técnica. E é algo que equipara totalmente o nosso jogo.
Ou seja, eu não tive 'boi' nenhum com elas. Enquanto com os meninos, sim, eu tenho. E talvez todas nós. Claro que eles não nos deixam soltas ou livres para fazer o que quiser, mas, na minha opinião, não chega nem perto de uma situação real de luta. Entrevistei a Jéssica Andrade depois que ela conquistou o cinturão peso palha no UFC 237 e, para ela, o diferencial é justamente ter uma equipe onde a possibilita treinar só com garotas [clique aqui se quiser ler].
Então para mim, essa foi a maior diferença. A possibilidade de treinar com mulheres me fez ficar muito mais esperta. Também tive a oportunidade de treinar com alguns meninos lá, mas eu aproveitei mesmo a oportunidade de estar em um lugar onde tinha mulher para escolher e me foquei nisso. Tenho certeza que isso fez muita diferença para o meu jogo.
Outra coisa que achei bem diferente foi o fato de se apegarem a detalhes. Percebo que nós, no geral, nos preocupamos muito com rolar. Às vezes dá preguiça de repetir a mesma posição cem vezes e a gente só quer sair na mão. Mas lá eles são muito apegados a entender o motivo pelo qual estamos pegando na lapela direita e não na esquerda, por exemplo. Essas coisas, que muitas vezes deixamos passar, faz muita diferença (e eu só percebi isso, aliás, depois que comecei a dar aula).
Também senti uma pegada insana no treino de competição. É um treino que não consigo fazer aqui no Brasil porque é às 11h da manhã e estou trabalhando. Então, por conta disso, eu não estava acostumada a fazer um treino pegado no sentido de: "Hoje vamos fazer 20 rounds de 5 minutos". Quando o professor André falou isso, eu só queria pensar o quanto preferia estar 'fazendo a turista' nessa hora. Mas foi bem proveitoso.
Eu senti uma superação em cada treino - principalmente de competição. O André exigiu que, faixas azuis e roxas, fizessem ao menos, 10 rounds. Mas eu queria mais, porque já estava lá mesmo... Hahaha. Consegui chegar a 14.
Essas foram as diferenças maiores. Como somos uma filial da Atos aqui em São Caetano do Sul (SP), a metodologia é a mesma. O que difere são detalhes.
Fora isso, também senti diferença física, que foi algo que em uma semana não consegui igualar, a maioria do pessoal que treinei lá, vive disso. Acho que eu precisaria de mais uns dias para me sentir 100% preparada.
Também senti, é claro, a diferença de tempo. A Califórnia é muito seca. Meu nariz descascava, precisava beber água muito mais do que estou acostumada quando treino aqui. E lógico, eu quis treinar na intensidade deles e minha imunidade deu aquela caída. Por alguns dias senti um indício de gripe, dor de garganta e um cansaço físico grande que, como já falei, precisaria de alguns dias para me sentir melhor.
Sobre valores: sim, é mais caro. Fiz umas contas por cima aqui (sou ruim nisso) e o valor da mensalidade, considerando o câmbio de hoje (que o dólar de turismo está R$4,26 - socorro), pode custar cerca de 7 vezes mais do que uma mensalidade aqui (isso considerando um plano mensal. Assim como aqui, também existe plano trimestral, semestral e anual). Talvez seja alto até para os padrões americanos. Já as academias de musculação, são bem baratas - mas não posso dizer com tanta convicção porque não treinei, só ouvi falar, então pula.
Por outro lado, a suplementação lá é mais barata e a qualidade é superior a nossa. Então tomar um 'wheyzinho' de leve com uma boa qualidade lá, é mais fácil. Já no Brasil, precisamos prestar bastante atenção antes de comprar uma marca só por ser barata. Isso fora a alimentação: as comidas orgânicas, por exemplo, são mais acessíveis. Sabemos que esse 'combo' faz uma baita diferença para um atleta, seja ele de alta performance ou não.
De tudo isso, o que posso dizer é que foi uma experiência muito proveitosa e que gostaria que todos tivessem a oportunidade de fazer esse 'intercâmbio'. O Mundial está chegando, a galera tinha começado o camp na semana que cheguei e estava todo mundo na pegada. A cabeça dessa galera que vive para isso é bem diferente das que treinam por hobby. É incrível ouvir a história de cada um, os corres e ver o quanto eles se doam a cada treino.
Mas eu também adoro poder ter a oportunidade de treinar aqui todos os dias e crescer muito com meus professores e colegas de treino, ainda que seja bem diferente de lá. Os recursos que temos aqui, são completamente diferentes, a começar pela estrutura da academia. Enquanto lá eles têm dois tatames, aqui temos um, por exemplo. Então a grade de aulas é bem inferior. Enquanto aqui muitos de nós treinamos por hobby, lá também - embora a gente ache que a maioria da galera lá é de competição, mas não é exatamente assim. Mas o número de competidores de lá e daqui, deve ser no mínimo três vezes maior, eu realmente não sei comparar.
O melhor de tudo foi ter saído um pouco 'da caixa', conhecer novas pessoas, novas formas de treinar, novas histórias e poder compartilhar isso com o pessoal que treina comigo. Jiu-jitsu é muito doido! :) Foi muito bom ter tirado esse mês de férias e viver intensamente essa parada que eu gosto tanto.
A maior diferença que senti entre treinar jiu-jitsu nos Estados Unidos e no Brasil
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