Traição, brigas e mentiras: o caos do atacante de 110 milhões de euros para quem os gols são só detalhe
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Domingo, 7 de abril, estádio San Siro de Milão. Enquanto coros com as palavras “mercenário” e “homem de merda” são gritados pela torcida organizada da Internazionale na Curva Nord, outra boa parte dos mais de 60 mil torcedores presentes no jogo contra a Atalanta reagem com vaias para abafar a manifestação daquela minoria barulhenta.
Não chega a surpreender, pois poucos dias antes um comunicado dos ùltras (a versão italiana das organizadas) da Inter havia deixado claro qual seria a posição do grupo: “Não daremos um passo atrás sobre Icardi. Ele não pode ser o futuro da Inter... e cavou seu próprio túmulo”. Não é que o restante da torcida discorde totalmente sobre “o futuro da Inter” sem Icardi, mas há para eles, hoje, um pacto maior pela busca da vaga na Champions.
Era uma das poucas polêmicas que faltavam na carreira do ótimo atacante argentino de 26 anos: Mauro Icardi, que já havia ameaçado (e irritado) a organizada da Inter em sua autobiografia, conseguiu agora dividir a própria torcida com a mesma intensidade com que incomoda companheiros, treinadores e dirigentes – e é incrível que tudo possa ser exemplificado apenas nos meses mais recentes de sua carreira.
Se houve um tempo em que Icardi, pelo futebol jogado na Inter, era visto como vítima de uma poderosa panela formada pelos jogadores mais renomados da seleção argentina e por isso não era convocado, esse tempo ficou para trás.
Não é segredo, e agora parece pouco relevante, que a relação dele com Wanda Nara, ex-mulher do hoje vascaíno Maxi Lopez, foi fundamental para que Icardi não fosse bem quisto pelos companheiros de seleção: menos até por seu envolvimento com Nara quando ela ainda era casada com Maxi, mais por suas atitudes provocadoras após o caso, que envolviam até os filhos de Maxi (de quem fora muito amigo) com a ex-mulher.
Wanda Nara, que se tornou então empresária de Icardi, virou a partir daquele episódio pivô de inúmeras polêmicas envolvendo o jogador. Atuando sempre de maneira midiática, com declarações fortes e interpretações emocionadas na televisão, Nara colocou sobre o atacante holofotes que ele só precisava ter apontados para si dentro de campo.
E assim, em fevereiro, a Inter anunciou através de uma nota seca em seu site que Icardi perdera a faixa de capitão para o goleiro Handanovic. A atitude foi uma reação do diretor Beppe Marotta às declarações da empresária sobre a complicada renovação de contrato com a Inter: a gota d’água foi a ameaça de o argentino vestir a camisa da rival Juventus. Para os dirigentes, a atitude não “condizia com a de um capitão”.
Wanda Nara chegou a ir à televisão após a punição. E chorou, dizendo que tudo o que Icardi mais queria era jogar pela Inter.
Não foi o que se viu. Afinal, após se recusar a viajar para um jogo da Liga Europa, Icardi alegou problemas físicos negados pelos próprios médicos da Inter (!) e ficou por mais de um mês afastado. “Precisar de mediação para fazê-lo vestir a camisa da Inter é uma coisa humilhante. Perguntem a qualquer torcedor o que ele pensa disso”, afirmou recentemente o técnico Luciano Spalletti a respeito da ausência do atacante, que a partir de um certo momento o próprio treinador optou por não convocar.
A irritação de Spalletti com Icardi fez com que ele subisse o tom de maneira surpreendente no final de março, após derrota para a Lazio na qual optou por não tê-lo em campo: “A Inter ficou seis anos sem ir à Champions, e Icardi estava aqui. Quantas partidas assim, ou piores, perdemos com ele em campo? Essa narrativa interessa a vocês [jornalistas] que fazem ficção. Quem faz diferença em campo são Messi, Ronaldo e poucos outros”.
As frases de Spalletti não agradaram a diretoria da Inter, que nos dias seguintes viu uma matéria da Gazzetta dello Sport tratar sobre a desvalorização de Icardi: por todos os imbróglios, de acordo com o jornal, o atacante cuja cláusula rescisória de 110 milhões parecia passível de ser paga por gigantes europeus no início da temporada, hoje não vale mais de 60 milhões de euros.
Ao não convocar Icardi, porém, Spalletti deixava mais que subentendido não o fazer também por um desejo do elenco, inconformado com a postura do argentino: “Eu preciso ter credibilidade dentro do vestiário, e isso eu tenho há 22 anos. A disciplina é a coisa mais importante em um grupo”.
Se foi por pressão da diretoria ou não, o fato é que Icardi foi chamado já para o jogo seguinte ao da Lazio, aquele que gerou as fortes declarações de Spalletti. Atuando contra o Genoa fora de casa, o atacante voltou ao time, fez um gol de pênalti, deu assistência para Perisic – apontado como um de seus principais desafetos no grupo – e foi eleito o melhor jogador em campo na goleada por 4 a 0.
Foi só mais uma prova de que, para alguns jogadores de futebol, a qualidade é apenas um detalhe.
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Fonte: Gian Oddi
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