Brasileirão nem começou, e Cruzeiro já deixa exemplo a seguir; e o seu clube?
O Cruzeiro anunciou nessa quinta-feira uma medida que não deveria, mas surpreende muita gente pelo fato de contrariar uma política vigente na maioria dos clubes de futebol do Brasil: a criação de um setor com ingressos populares ao custo de R$ 10 valendo para todos os 19 jogos do time em casa pelo Campeonato Brasileiro de 2019.
Não se trata, portanto, de uma ação oportunista só porque a procura por ingressos tem sido baixa ou porque o time precisa mais do que nunca de sua torcida. Também não estamos tratando de uma ação de marketing daquelas que põe meia dúzia de ingressos à disposição por preço especial: são 6.850 ingressos para cada jogo, ou seja, mais de 130 mil ingressos que serão vendidos a apenas R$ 10 durante todo o Brasileirão.
Se por um lado os ganhos esportivos (de apoio em campo), de imagem, de marketing e de acesso a uma camada da população antes sem condições de assistir presencialmente aos jogos são óbvios, fica uma questão: financeiramente, qual o custo da operação? Quanto o Cruzeiro perde (ou melhor, deixa de arrecadar) com uma decisão do gênero?
É difícil dizer com precisão, mas é possível tentar uma aproximação, até para que a gente possa analisar com frieza uma mudança que, sem colocarmos na ponta do lápis, poderia ser acusada de meramente populista e nociva ao futuro do clube (que já não gasta pouco para o que arrecada, diga-se).
Vamos às contas, então. Considerando que o Cruzeiro venda todos os 6.850 ingressos para o setor Laranja Inferior nos 19 jogos que fará em casa no Brasileirão 2019 (o que não é nenhum absurdo dado seu preço realmente popular), ele arrecadará R$ 1.301.500 com essas entradas, sendo R$ 68.500 por partida.
Para comparação: no Brasileiro de 2018, os mesmos ingressos custavam R$ 40. E ainda que por economia operacional o setor nem fosse aberto nos jogos com previsão de público inferior a 30 mil pagantes, consideremos, numa estimativa já otimista (o Cruzeiro não tem esses dados exatos), que tenha havido uma média de 50% de ocupação no tal setor Laranja Inferior durante 19 jogos da competição, o que significaria R$ 137 mil arrecadados por jogo – um total de R$ 2.603.000 por todo o Brasileiro 2018.
Tomando como base as contas acima, que só escancaram a obviedade de que bem mais gente vai ao estádio se o ingresso for mais barato, a diferença entre as estimativas de arrecadação em 2018 e 2019 apenas com os ingressos que agora são promocionais é de cerca de R$ 1,3 milhão. Pode-se considerar este, então, o valor que o Cruzeiro faturaria a mais se não criasse o novo setor popular.
(A diferença nem deve chegar a tanto se considerarmos que, com os percentuais de desconto de meia entrada e de sócio torcedor, a perda em números absolutos é maior para 2018, quando os ingressos custavam mais, do que para 2019. Mas, para não ser acusado de manipular as contas a favor da tese, mantenhamos R$ 1,3 milhão como o valor que o Cruzeiro deixará de arrecadar.)
Pois bem, quanto esse valor significa para a realidade de custos do Cruzeiro?
Segundo levantamento publicado no Blog do Mauro Cezar, no portal UOL, a folha salarial do clube mineiro, contando apenas os gastos com contratos CLT (que podem aumentar em até 40% se incluirmos os direitos de imagem) é de 7,6 milhões por mês, o que dá por ano, incluindo o 13º salário, um total de R$ 98,8 milhões.
Ou seja: para disponibilizar 130 mil ingressos a preços realmente populares durante todo o Campeonato Brasileiro de 2019 e desfrutar de todos os benefício já citados que essa medida trará, o Cruzeiro não gastará nem 1,4% de sua folha salarial anual (e se a gente incluir na folha os gastos com direitos de imagem esse percentual diminui ainda mais).
Vale ou não a pena? É ou não é uma iniciativa a ser copiada, ainda que com eventuais ajustes, por outros grandes clubes do Brasil? A resposta parece óbvia.
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Fonte: Gian Oddi
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