O abuso do VAR e a pergunta que só atrapalha: “E se fosse o Fagner?”
Que a arbitragem brasileira não está entre as melhores do mundo do ponto de vista técnico e de preparação é um fato, e não é de hoje. Que temos (compreensível) tendência a acreditar em erros motivados por desonestidade e em teorias conspiratórias, também.
Junte as duas coisas e teremos, então, uma convicção na cabeça de muito torcedor brasileiro: o trio de arbitragem invariavelmente entra em campo para prejudicar seu time, ao mesmo tempo que num outro gramado, a quilômetros dali, outro trio está tratando de dar uma forcinha ao seu rival.
A chegada do VAR, ao invés de desmantelar as desconfianças, parece estar tendo o efeito inverso por aqui: o que antes era impressão de decisões parciais transformou-se, para muitos, em certeza. A lógica passou a ser: quando o árbitro não faz o “serviço” em campo, haverá alguém pronto a assumir a bucha atrás de um monitor.
E é assim que decisões subjetivas, inevitáveis e tão comuns no futebol, passam a ser tratadas por muita gente como lances para os quais não haveria a menor margem de dúvida. O que só faz crescer a convicção sobre as teorias de benefício e prejuízo premeditados.
Foi assim com a expulsão de Juninho, do Mirassol, na semifinal do Campeonato Paulista contra o Corinthians: certezas sobre a correção e o equívoco da expulsão brotaram pela internet com a mesma velocidade e intensidade que surgiram as perguntas: “E se fosse o Fagner?”.
É evidente que uma pergunta assim não ajuda a discussão sobre os procedimentos de arbitragem no Brasil. Porque como só discutimos o tema sob a luz dos (supostos) erros cometidos nos jogos, a discussão nasce sempre contaminada por preferências ou convicções em relação a clubes ou jogadores. E se um debate surge assim, ele surge natimorto.
Caberia à CBF, às vésperas do início do Brasileirão e ainda sem nenhum erro cometido na competição, tomar uma decisão clara em relação ao uso do VAR e, tão importante quanto, comunicá-la com clareza e insistência: “não abusaremos do VAR, ele será utilizado com moderação e nos lances subjetivos será sempre mantida a decisão de campo – resumindo: não espere que o árbitro de vídeo corrija os lances de acordo com o que VOCÊ acha”.
Aliás, bastaria para isso seguir duas máximas que constam inclusive em manuais de orientação/regras para utilização da ferramenta: usar o VAR apenas para corrigir ERROS CLAROS E ÓBVIOS e conseguir, assim, o máximo de benefício valendo-se da MÍNIMA INTERFERÊNCIA.
É evidente que haveria, sobretudo no início, muita reclamação (quando não há?) por mais uso da ferramenta, e questionamentos sobre “por que o VAR não chamou para o árbitro ter certeza?” surgiriam aos montes. Com o tempo, porém, ficaria claro que o uso do VAR ocorreria apenas para corrigir erros indiscutíveis, aqueles em que ninguém (ou quase) teria coragem de defender decisão diferente.
Os pedidos por “mais VAR” cessariam, as interrupções de jogo seriam bem menos e as discussões sobre certos lances diminuiriam. Junto, quem sabe, com as teorias conspiratórias.
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Fonte: Gian Oddi
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