Vladimir Putin garante legado da Copa, defende acusado em escândalo de doping e cita aviso a Roman Abramovich
Anualmente, Vladimir Putin vai à televisão falar com a população. Trata-se de um grande espetáculo, em que o presidente russo responde perguntas feitas por personalidades, jornalistas e cidadãos espalhados pelo país. Nesta quinta-feira aconteceu o show de 2018.
Foram quatro horas e vinte minutos (o recorde é 4h47, de 2013) de assuntos variados, importantes, curiosos e até mesmo religiosos. Falou sobre a III Guerra Mundial e citou frase famosa de Albert Einstein: "Não sei com quais armas será lutada a Terceira Guerra, mas a Quarta será com gravetos e pedras", indicando a reconstrução da civilização; Disse que a suposta interferência russa na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos é uma "piada"; Garantiu que as tropas russas não deixarão a Síria, afirmou que gostaria de colaborar na investigação do envenenamento do espião Sergei Skripal na Inglaterra, colocou a Rússia como ameaça ao Ocidente para explicar as novas barreiras econômicas criadas contra o país e citou a fé em Deus surgindo em momentos de dificuldade para as pessoas.
Recomendo para quem quiser se aprofundar nos assuntos citados, procurar mais sobre essa longa entrevista nos sites internacionais, como a CNN ou até mesmo a Russia Today, canal estatal, mas que traz trechos na íntegra. A seguir, análise da parte esportiva de todos show.
COPA DO MUNDO
Legado. O brasileiro se cansou de ouvir essa palavra nos meses que antecederam o Mundial de 2014, e sabe muito bem que ela foi usada de maneira tendenciosa e mentirosa. Foram milhões desperdiçados em alguns estádios que se tornaram elefantes brancos ou estão abandonados; Obras de transporte público prometidas e nunca cumpridas; Um verdadeiro espetáculo de como a maioria dos políticos jamais esteve realmente preocupada com o legado da Copa.
Putin fez questão de usar novamente essa palavra. Os russos, em sua maioria, não sabem o que aconteceu no Brasil. O presidente garantiu que o legado é um dos principais objetivos do torneio. O tema surgiu, inclusive, de maneira constrangedora. Em um estúdio externo, montado próximo ao estádio Luzhniki, estava Valery Gazzaev, ex-treinador do CSKA Moscou e atualmente político. Gazzaev tinha a tarefa de fazer uma simples pergunta ao presidente, mas passou minutos elogiando-o e discursando sobre o futebol russo. Foi quando o jornalista ao seu lado questionou: "E a pergunta"? Constrangido, o ex-técnico levantou a bola: "Toda comunidade do futebol entende que você está muito ocupado com o trabalho, mas pedimos que tenha atenção com o futebol". E terminou, sem perguntar.
Current Russian champion, Lokomoitv Moscow manager Yuri Semin live at Luzhniki Stadium along with Valery Gazayev for #Putin live Q&A #FCLM pic.twitter.com/XvNwA2vQCM
— Danny Armstrong (@DannyWArmstrong) 7 de junho de 2018
Putin, naturalmente, pegou de primeira a bola levantada. "Pelo que entendi, estamos falando do legado da Copa do Mundo de 2018, o que vamos fazer com toda aquela grand estrutura, talvez você esteja certo. Nós conseguimos cumprir um desafio que outros países não foram capazes, receber os Jogos Olímpicos. Pegue a infraestrutura em Sochi como exemplo, ainda está em uso. Gastamos muito dinheiro e concordo, precisamos trabalhar em benefício do esporte. Deve haver times infantis, ligas juvenis nesses locais que melhoraram muito com o próprio financiamento, e esses estádios, que não são apenas campos, têm tudo para receberem shoppings, cafés, restaurantes, não apenas clubes esportivos. Foram projetados para serem espaços onde as pessoas possam praticar esportes".
Sochi tem uma das obras mais caras da história da humanidade, cheia de denúncias de corrupção: a rodovia Adler–Krasnaya Polyana, que liga o parque olímpico à cidade, custou mais de US$ 9 bilhões - como comparação, para os Jogos Olímpicos de Vancouver foram investidos US$ 1,5 bilhão. Por fim, ainda comentou sobre a seleção russa, que segundo ele tem conseguido bons resultados recentemente e acredita que não vai desapontar os russos na Copa.
DOPING
Ícarus, último filme vencedor do Oscar na categoria documentário, explica bem o escândalo de doping que atingiu a Rússia. Penalizou o país esportivamente, após ficar comprovado a manipulação de diversos exames realizados por atletas russos durante a competição. O tema surgiu na entrevista não pelas acusações, e sim por uma pessoa muito ligada a elas: Vitaliy Mutko. Cabe a explicação sobre quem ele é.
Mutko é o homem forte do esporte russo há mais de uma década. Político desde o final da União Soviética, no futebol foi presidente do Zenit São Petersburgo e fundador e primeira mandatário da federação russa. Tornou-se ministro do Esporte e assumiu um cargo no Comitê Executivo da Fifa. Era o chefe do Comitê Organizador da Copa, até cair por causa do escândalo de doping e seu envolvimento político no caso.
"Devemos olhar os fatos, não os aspectos emocionais do trabalho dele (Mutko). Os locais da Olimpíada de Sochi... Mutko esteve envolvido nisso. Os estádios da Copa do Mundo, isso foi amplamente feito pelo Mutko. Eu entendo tudo, mas não faço julgamentos emocionais, meus julgamentos são baseados em fatos. Não há outro ponto: sabemos que ele foi atacado em conexão com o escândalo de doping, e assim sucessivamente. Nessas circunstâncias, é simplesmente impossível mandá-lo para a aposentadoria. Eu repito: ele tem muito potencial. Deixe-o trabalhar".
ROMAN ABRAMOVICH
Roman Abramovich, proprietário do Chelsea, não teve o visto de trabalho renovado pela Grã-Bretanha. Em meio à tensão política que envolve as duas nações, claramente o empresário sofre retaliações por ser russo e muito ligado ao presidente Putin. A próxima temporada dos Blues está totalmente indefinida, porque não há perspectivas para contratações e até mesmo os planos para a construção de um novo estádio foram abandonados.
"Eu avisei eles sobre isso e recomendei que nossos negócios mantivessem o capital na Rússia", afirmou Putin, em tom profético, quando questionado sobre Abramovich. Mesmo assim, mantendo sempre seu lado nacionalista em evidência, destacou que o Ocidente estava "cometendo um grande erro" e que decisões arbitrárias como essa são "contraprodutivas aos envolvidos e à economia global".
Fonte: Gustavo Hofman, de Londres (ING)
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