Uma gelada tarde de futebol em Motherwell
As maiores sequências atuais de títulos nacionais estão na Itália, na Bulgária e na Escócia, onde Juventus, Ludogorets e Celtic são eneacampeões. O decacampeonato búlgaro deve acontecer, enquanto os italianos aguardam uma briga acirrada da Juve com os principais rivais. Já em território escocês, parece que a soberania do lado verde de Glasgow chegará ao fim.
Com 16 rodadas da Premiership disputadas, o Rangers lidera com 44 pontos e é o único invicto. Está 13 pontos à frente do Celtic, com dois jogos a mais. Pelo desempenho até aqui, é o melhor time do campeonato, fruto do excelente trabalho de Steven Gerrard. Os Bhoys veem Neil Lennon ser contestado cada vez mais, à medida que tropeços são acumulados.
Historicamente o Campeonato Escocês se resume à disputa entre os dois gigantes da capital pelo título, além de reunir uma das maiores rivalidades do mundo. O Rangers tem 54 títulos e o Celtic vem na sequência com 51; todos os demais adversários somam 21 em 131 anos. Essa situação, porém, foi recuperada há pouco tempo. Com a falência do Rangers e o rebaixamento à quarta divisão, foram quatro temporadas sem o grande rival do Celtic na elite, quando outros clubes se aproveitaram para ficar com o vice-campeonato. Desde que retornou, o Rangers somente passou a, efetivamente, brigar pelo título uma vez mais na temporada passada, que acabou encerrada precocemente pela pandemia de coronavírus.
Assim, a vida além dos dois para as outras dez equipes da Premiership voltou a se resumir a "quem será o terceiro colocado". No sábado, Motherwell e Hibernian, dois postulantes a essa condição, se enfrentaram pela 16a rodada. A vitória por 3 a 0 do Hibernian, fora de casa e com temperatura próxima de 0ºC, fez com que a equipe assumisse a terceira posição na tabela, com 29 pontos, graças ao empate do Aberdeen com o St. Mirren.
Taticamente, o Motherwell começou o jogo na variação do 4-3-3 com a bola e 4-1-4-1 na fase defensiva. O técnico do clube é Stephen Robinson, ex-jogador da seleção norte-irlandesa. Aos 45 anos, está desde 2017 no cargo em sua segunda experiência à frente de um time, tendo passado pelo Oldham Athletic antes. Já o Hibernian marcava alternando entre o 4-4-2 e o 4-5-1, de acordo com a movimentação do atacante inglês Drey Wright.
Quem gosta de assistir séries sobre bastidores de equipes de futebol vai reconhecer o treinador dos Hibs. Trata-se de Jack Ross, treinador do Sunderland no período da segunda temporada de "Sunderland'Till I Die", exibida pelo Netflix. Jack é contratado pela nova administração do clube e comanda o time na temporada 2018-19 pela terceira divisão inglesa, quando cai nos playoffs de acesso, ao ser batido pelo Charlton. Em outubro, ocupando a sexta posição na League One, é demitido; um mês depois, acertou com o Hibernian.
Partidas do Campeonato Escocês são marcadas pela força física, velocidade e boa organização tática das equipes. Se a técnica é limitada, o físico sobra. No primeiro tempo, basicamente o que se viu foi isso: dois times bem montados, explorando as transições rápidas, mas praticamente sem chances de gol. Com exceção de um lance polêmico aos 41 minutos. Liam Polworth cobrou falta e levantou a bola para o cabeceio de Mark O'Hara em direção ao centro da área, onde o atacante inglês Callum Lang completou.
A jogada foi anulada pelo árbitro Andrew Dallas, que confirmou o impedimento assinalado pelo assistente. Não há VAR no Campeonato Escocês, assim, o lance não pôde ser revisado. A transmissão da partida não mostrou o lance com uma imagem lateral, o que torna impossível para o autor deste texto saber se houve ou não infração. Fato é que o técnico do Motherwell, Stephen Robinson, reclamou muito do lance e, após o jogo, afirmou ter revisto o que aconteceu e afirmou que o gol foi legal.
Nas arquibancadas do Fir Park, estavam apenas fotos ou vultos de torcedores do Motherwell - todos em casa, prevenindo-se da pandemia. O estádio é simples e antigo, construído em 1895 e renovado 100 anos depois. Casa aconchegante e simpática, como quase todo estádio pequeno no Reino Unido.
Na segunda etapa, diferentemente da primeira, um time passou a criar mais e aproveitar as oportunidades. Com gols aos 14, 43 e 50 minutos, os Hibs construíram a vitória. O primeiro, marcado por Martin Boyle, foi determinante para a equipe ter mais espaço para os contra-ataques. O meia-atacante inglês Joe Newell, de 27 anos, ex-Peterborough e Rotherham, era quem mais criava chances - era também o mais habilidoso em campo.
No final, o técnico Jack Ross ainda terminou como herói. Fez três substituições, e dois jogadores que entraram em campo marcaram os últimos gols, Christian Doidge e Stephen McGinn. O segundo, um belo gol, com assistência de Newell e chute colocado de Doidge, indefensável para o estreante Jordan Archer, de 27 anos, formado na base do Tottenham. Os números finais ajudam bem a entender o que foi a partida, com posse de bola dividida (50% x 50%) e mais finalizações no total (12 x 10) e certas (5 x 1) do Hibernian, quatro vezes campeão nacional, algo que não acontece desde 1951-52.
A gelada e escura tarde de um sábado em Motherwell, uma pequena cidade de 32 mil habitantes no sul da Escócia, foi palco de um bom jogo de futebol, dentro dos limites escoceses. A partida começou às 15h (horário local), ainda com um pouco de luz natural, mas a noite foi engolindo o dia rapidamente, à medida que o tempo passava, algo normal nesta época do ano na região. Na Inglaterra, para exemplificar a dificuldade e a particularidade de algumas partidas, a expressão "ele consegue fazer isso em uma noite chuvosa de Stoke?" é utilizada. Na Escócia, esse é praticamente o padrão.
Uma gelada tarde de futebol em Motherwell
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