Rodada de LaLiga tem o "clássico latino-americano" entre Atlético de Madrid e Elche
Neste sábado, às 10h (horário de Brasília), com transmissão da ESPN, o estádio Wanda Metropolitano será palco do duelo mais latino-americano possível de LaLiga. Atlético de Madrid e Elche se enfrentam na capital espanhola pela 14a rodada da competição, em jogo que poderia ser absolutamente comum, uma vez que não há rivalidade entre os clubes. Isso se não fosse a forte presença latino-americana nas duas equipes, a começar pelos treinadores.
Diego Simeone é o mais longevo técnico de LaLiga, referência icônica do Atleti. Jorge Almirón começa a construir sua história na Espanha, contratado pelo pequeno Elche no início da temporada. Os dois argentinos possuem em seus elencos, respectivamente, sete atletas da América Latina à disposição para trabalharem. Nenhum outro clube da primeira divisão espanhola supera os adversários deste final de semana em latinidade, somando os técnicos.
Pelo Atlético jogam José Giménez (Uruguai), Felipe (Brasil), Renan Lodi (Brasil), Lucas Torreira (Uruguai), Héctor Herrera (México), Ángel Correa (Argentina) e Luis Suárez (Uruguai). No caso colchonero, há ainda Diego Costa, brasileiro naturalizado espanhol. Já no Elche estão os argentinos Diego Rodríguez, Juan Sánchez Miño, Iván Marcone, Lucas Boyé, Guido Carrillo e Emiliano Rigoni, além do colombiano Jeison Lucumí. Apenas o Betis iguala os dois nessa disputa, já que também possui sete atletas latinos no elenco e é comandado pelo chileno Manuel Pellegrini.
"O conceito de América Latina é algo relativamente novo e tem origem na França, onde era comum a ideia de uma 'raça latina'. O termo ganhou força a partir da invasão francesa do México, com Napoleão III, em 1861. Os franceses instalaram no México um imperador Habsburgo, cujo reinado foi curtíssimo. A construção da ideia de uma 'América Latina' serviu como justificativa ideológica para o imperialismo francês no México, com a finalidade de criar uma impressão de afinidade cultural com a França. A ideia era traçar uma linha de separação ideológica entre o império católico 'latino', que os franceses estavam instalando, e o império protestante anglo-saxão: os Estados Unidos", explicou recentemente Carlos Gustavo Poggio, professor da FAAP e PhD em Relações Internacionais, em sua conta no Twitter.
Com o passar das décadas, a expressão passou a ser mais utilizada nos países da America Central e da América do Sul também. No entanto, há indícios de utilização do termo em língua espanhola previamente aos franceses, como indica Poggio, por intelectuais que viviam em Paris. "Para esses escritores, a ideia de América Latina referia-se à América espanhola, o que excluía o Brasil - que, além de tudo, era uma monarquia. Foi apenas com a popularização do termo nos Estados Unidos que, gradualmente, o Brasil passou a ser incluído. Isso só no século XX".
Os latinos de Atlético e Elche estão entre os protagonistas de seus times. Luis Suárez, principal contratação colchonera para a temporada, tem cinco gols e divide a artilharia do time com o português João Félix. Pelo Elche, com números mais modestos, Lucas Boyé é um dos jogadores da equipe que já marcaram dois gols. Na tabela de classificação, a realidade também é bem distinta, afinal, o Atlético é um dos favoritos ao título e já somou 26 pontos em 11 jogos. O representante de Elche, na Comunidade Valenciana, tem 12 pontos a menos com o mesmo número de partidas. Vale lembrar que o Elche está de volta à primeira divisão após cinco anos, tendo conquistado o acesso pelos playoffs.
Diego Simeone e Jorge Almirón são contemporâneos do futebol, mas tiveram carreiras como jogadores bem diferentes. Enquanto Simeone se tornou um dos principais jogadores de sua geração na Argentina, alcançando o estrelato no futebol europeu também, Almirón rapidamente deixou o país e trilhou longa carreira no futebol mexicano. Agora como treinadores, o sucesso pesa mais uma vez para o lado do representante do Atleti, por mais que atual comandante do Elche já tenha provado sua qualidade em equipe como o Lanús, onde conquistou o Campeonato Argentino em 2016 e foi vice da Libertadores do ano seguinte.
No mundo, atualmente, os latino-americanos dominam o cenário de jogadores expatriados. Os brasileiros são maioria, com 1280 atletas espalhados pelos campeonatos de 82 associações nacionais, de acordo com levantamento do CIES Football Obsrvatory. Os argentino aparecem na terceira posição com 886, pouco menos do que os 902 franceses. Assim como no passado, o artista uruguaio Joaquín Torres García desenhou a América Invertida como forma de resistência da cultura latino-americana, onde o "nosso norte é o sul", o futebol também é uma maneira de expressão da região perante o mundo.
"O termo 'América Latina', seja em francês, espanhol ou inglês, sempre existiu como um recurso para criar a impressão de afinidade cultural entre países ao sul dos Estados Unidos e reforçar a diferenciação com a América de fala inglesa, anglo-saxã. Nos Estados Unidos em especial, o termo serviu para reforçar a separação com relação aos vizinhos católicos e menos desenvolvidos. Ao sul, o termo se consolida como forma de reforçar os laços comuns em oposição ao 'imperialismo do norte' a partir do fim do século XIX e começo do XX. Portanto a ideia de América Latina e, portanto, de 'latino-americano', não é um referente natural geográfico, como 'Sudeste Asiático', nem cultural, como 'árabe'. É um conceito artificalmente construído com objetivos bem definidos, daí a importância de se conhecer a sua origem", finaliza Carlos Gustavo Poggio.
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