O empoderamento feminino no bodyboard
Quando a Patricia Wright e a Andrea Carvalho me convidaram para a Oficina de bodyboard com o Fabio Aquino, fiquei lisonjeada. Fabio é um dos maiores bodyboarders do Brasil e fomenta o esporte através de suas oficinas mundo afora. Estava curiosa para conhecê-lo pessoalmente e saber seus conselhos e dicas.
Em tempo, aos 15 anos eu praticava bodyboard durante as férias de verão. Foi num dia de mar grande e vontade de se arriscar que tomei uma das maiores vacas da minha vida em Itamambuca, litoral norte de São Paulo. Além da sensação de quase morte, o trauma. Depois desse dia eu tinha decidido que nunca mais pegaria onda de bodyboard e assim foi, até conhecer a Andrea, minha maior incentivadora na volta ao esporte.
Andrea mora em Cambury, litoral norte de São Paulo, e já foi personagem da minha coluna. Ela faz parte de um grupo de mulheres que são amigas há mais de vinte anos e pegam onda de bodyboard juntas desde então. Com a nossa aproximação, acabei conhecendo algumas meninas que me encorajaram a voltar para as ondas.
A oficina com o Fabio apareceu no momento da retomada, quando finalmente decidi encarar o trauma e voltar para o mar. As participantes da oficina eram mulheres reais, que viam no bodyboard a válvula de escape para uma rotina insana. Algumas delas moravam no litoral, outras viviam em São Paulo, mas todas buscavam no mar a conexão para viver com mais qualidade, e melhor.
Com perfis, idade e profissões diferentes, as mulheres que participaram da Oficina de bodyboard tiveram, além da conexão com a natureza, uma aproximação maior entre elas mesmas. Ninguém estava ali para competir, todas queriam diversão e leveza. Queriam sim aprimorar técnicas, superar limites, mas não era só isso.
O mar, naquele final de semana estava grande, cerca de 1,5m. Não era só ter vontade de entrar, a coragem fazia toda diferença. As ondas de Cambury são conhecidas como “bombas”, ja que são ondas fortes, cavadas e para frente.
Ali na beira mar Fábio me diz: “Essas mulheres são corajosas”. Concordo com ele. A maioria das participantes da oficina além de já terem experiência no bodyboard, também pegam onda em Cambury, só por isso arriscaram a entrada.
No primeiro dia, decido ficar na areia e observar, algumas meninas tem dificuldade de passar a arrebentação e voltam para o nosso QG. Além do cansaço da remada, o medo. Um respiro, uma dica do Fabio, é hora de voltar para o mar. Uma nova tentativa. Conseguiram. Boas ondas! Algumas horas depois todas estão reunidas comentando sobre a “queda”, a troca de elogios acontece naturalmente, as dicas entre elas também. Ninguém quer competir, o esporte ali é empoderamento e diversão.
Não era um final de semana de sol e calor, pelo contrário, era cinza, chovia e fazia frio. “‘É perregue? Então estamos juntas no perrengue”, me diz uma delas. Abro um sorriso e penso: “É isso”. Me dá um certo alívio encontrar mulheres que se apoiam no esporte e fora dele, afinal de contas, todo mundo está ali por um único motivo: a sensação incrível de liberdade que surge enquanto a prancha desliza no mar.
Em muitas pautas esbarrei no ego feminino, mulheres que usam o empoderamento para benefício próprio. Empoderar está na moda, é uma palavra muito usada, mas pouco aplicada, principalmente no esporte. No caso das meninas do bodyboard o apoio era genuíno, o esporte ali não era o fim, mas o meio.
No segundo dia da oficina, Fábio e as meninas queriam me ver no mar, relutei. Apesar do mar ter diminuído, para mim ainda era uma verdadeira montanha. Fábio percebe meu medo, as meninas também. “Vai Ju, tenta de novo”. Penso, respiro fundo. Lá vou eu.
Fábio entra comigo, Grazi e Paulinha ficam na areia. Não vamos para o outside, ficamos na arrebentação, me dá um medo danado, mas Fabio me tranquiliza. Me posiciona e quando eu me dou conta estou de volta ao bodyboard. Olho para areia, Grazi e Paulinha estão lá vibrando. Pronto. É disso que eu to falando.
Durante a oficina, Fabio diz uma frase que me marca muito: “Ninguém ganha do mar. A gente vence o medo”. Quantos medos você tem? Quantos medos você enfrenta? Quantas vezes você se arrisca de verdade?
Enfrentar um trauma é sem dúvida alguma um grande passo, mas esse passo fica maior ainda quando temos ao arredor gente como a Andrea, a Grazi, a Paulinha, a Paty, o Fabio...
No esporte e na vida a gente precisa se cercar de gente que acredita, que apoia, que incentiva. Por que de resto, bom, o resto é competição desnecessária e ego.
Paty e Andrea, obrigada pelo convite e pela recepção! Grazi e Paulinha, obrigada pelo apoio! Fábio, obrigada por me mostrar que até mesmo os piores traumas podem ser enfrentados de maneira leve.
Que venha a próxima oficina de bodyboard! Eu já estou ansiosa para cair na água com vocês!
Fonte: Juliana Manzato
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