Cheerleaders da NFL denunciam assédio sexual institucionalizado na profissão

Linha Ofensiva
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Cheerleaders são polêmica na NFL
Cheerleaders são polêmica na NFL Getty

A NFL terá que lidar com mais uma polêmica, dessa vez suas cheerleaders.

Historicamente conhecidas por animar as torcidas durante os jogos, as cheerleaders não são apenas garotas bonitas que desfilam nas laterais dos campos. Elas são dançarinas profissionais, formadas em ballet, jazz, e outros estilos de dança. Enfrentem rotinas duras de treino e participam de competições de dança durante toda a sua carreira. 

É uma profissão predominantemente feminina na NFL, onde geralmente os homens presentes apenas servem de apoio, como no Indianapolis Colts e Baltimore Ravens. No entanto, essas barreiras já começaram a ser quebradas, já que dois homens passarão a performar da mesma maneira que as mulheres na próxima temporada, pelo LA Rams. Mas a polêmica não é essa!

O NY Times publicou nessa semana uma denúncia de assédio sexual contra as profissionais baseada no depoimento de cheerleaders das principais ligas esportivas dos Estados Unidos, em sua maioria da NFL. Segundo a matéria do jornal norte-americano, existe uma exploração sistemática por parte das franquias, que lucram ao mandar suas cheerleaders para as festas de pré-jogo, conhecidas como tailgates, e outros eventos esportivos, onde elas são verbalmente e fisicamente assediadas pelos fãs, sem nenhuma proteção da equipe de profissionais que as acompanham.

“Não existe nenhuma proteção para nós. Você tem que andar pelos tailgates, entrar nas barracas, interagir com os fãs e lidar com comentários nojentos de velhos bêbados. Isso é comum e a indústria sabe disso”, conta Labriah Lee Holt, ex-cheerleader do Tennessee Titans.

Uma ex-profissional do Washington Redskins, que preferiu não se identificar, se lembra de uma situação muito constrangedora, quando ela e mais cinco colegas foram enviadas para a casa de um torcedor, onde ele e vários amigos estavam bebendo bastante, apenas para fazer companhia enquanto eles assistiam ao jogo.

Outra história, ainda mais perturbadora, vem de uma tradicional cheerleader do Dallas Cowboys. Durante um jogo contra os Eagles, ela e suas colegas estavam passando perto de um grupo de torcedores de Philadelphia quando um rapaz gritou: “Eu espero que você seja estuprada!”. 

“Esse é o tipo de coisa que a gente ouve em jogo, até mesmo dos nossos próprios torcedores. Uma vez que eles ficam bêbados, eles gritam esse tipo de coisa e você pensa, ‘sério?’”, conta a profissional dos Cowboys, que precisa manter sua identidade em sigilo por conta de uma cláusula de confidencialidade que os times as obrigam a assinar.

Alguns times da NFL instruem as meninas na maneira de responder aos fãs, caso alguém faça um comentário inapropriado ou as toque sem permissão. Mas em muitos casos, como no Dallas Cowboys, a ordem principal é nunca chatear os torcedores.

“Eles nos ensinaram a driblar a situação quando alguém te toca sem permissão. Nos mandam dizer coisas como ‘isso não é muito legal’, mas de uma maneira doce, sem ser rude. Nos falam para usar a linguagem corporal para induzir os caras a pararem de nos tocar, sempre de uma maneira elegante e nunca se exaltar”, diz a ex-cheerleader dos Cowboys. “Se não fosse pelos torcedores, nós não estaríamos ali. É assim que eles nos pedem para encarar a situação”.

Procurados pelo jornal, Tenessee Titans e Dallas Cowboys não responderam aos pedidos de entrevistas. A NFL, por outro lado, decidiu não responder a denúncias específicas das dançarinas, mas emitiu um comunicado através do porta-voz da liga:

“A NFL e os clubes membros da NFL apoiam Práticas Justas de Contratação (uma ordem executiva assinada por Roosevelt em 25 de junho de 1941, que banem práticas discriminatórias na contratação de funcionários). Funcionários e sócios da NFL têm o direito de trabalhar em um ambiente positivo e de respeito, livre de toda e qualquer forma de assédio”.

No entanto, não é o que se vê na prática. Bailey Davis, cheerleader do New Orleans Saints, foi demitida pela franquia por postar uma foto de biquíni na sua conta privada do Instagram. Davis agora enfrenta uma batalha na justiça para defender seus direitos, e foi a responsável por dar início a onda de indignação das dançarinas, que acabou por revelar regras bizarras que são impostas a elas.

O New Orlans Saints, por exemplo, proíbe que elas tenham contas públicas no Intagram e também que postem qualquer foto que exiba “nudez, semi-nudez, ou lingerie”. Além disso, a franquia também tem uma política de “não-confraternização” entre as cheerleaders e os jogadores, não só do Saints, mas de todos os 2.000 atletas da NFL. 

A franquia defende essas políticas dizendo que elas servem para proteger as jogadoras de serem assediadas pelos jogadores. Mas o peso de evitar o contato está inteiramente sobre as dançarinas. Por exemplo, se alguma das meninas está em um restaurante e um jogador da liga entra no mesmo estabelecimento, ela é obrigada a se retirar imediatamente. 

A discussão fica ainda mais forte quando a diferença de salário entra em cena. Para quem acha que ser cheerleader é puro glamour, as dançarinas profissionais recebem apenas alguns dólares a mais que o salário mínimo norte-americano, enquanto os jogadores têm contratos astronômicos, como já sabemos, o que as torna mil vezes mais substituíveis que os atletas. 

Os Saints, para justificar a demissão da profissional, usou a foto de biquíni e uma acusação sem provas de que ela teria ido a uma festa de jogadores, que Davis nega veementemente. Agora, para vencer – o que muitos especialistas acham que é o caso -, Davis deverá provar que as normas da franquia não são baseadas em diferenças da profissão de “jogador” e “cheerleader”, mas sim em sexismo.

Já o New Orleans Saints se apoiará na ideia de que as regras são baseadas na neutralidade de gênero. Por exemplo, a obrigação de evitar contato é para o bem da liga, já que escândalos não são desejados. E a obrigação é das cheerleaders pois o cargo em si é menos essencial para a liga do que o de jogador, e não por serem mulheres.  

As aplicações legais dessa batalha são bastante complexas e passam pela predominância de mulheres como cheerleaders e, no caso da NFL, se os times estão contratando apenas mulheres por ser um cargo de apelo sexual direcionado apenas para homens, o que pode, na teoria e na lei, ser considerada uma atitude de discriminação baseada em gênero.

O assunto ainda deve dar muito o que falar ao longo dessa pré-temporada e temporada e o Linha Ofensiva trará os desdobramentos dessa batalha judicial e também das denúncias das profissionais!

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