Álvaro, do Salgueiro, comemora gol sobre o Náutico
Carlos Ezequiel Vannoni/Agência Eleven
Na última semana de janeiro, a Fifa anunciou o lançamento de um site que contém diversas informações sobre o futebol em todo o mundo. Clubes registrados, atletas profissionais, calendário de campeonatos. A ideia do Fifa Professional Football Landscape é traçar um panorama de como o futebol se apresenta ao redor do planeta.
Nesta semana, o Salgueiro, atual campeão Pernambucano, causou polêmica ao anunciar que abria mão de disputar as Copas do Nordeste e do Brasil por estar em dificuldades financeiras. A justificativa é de que, apesar das boas premiações em dinheiro que os torneios asseguravam, o clube não conseguiria arcar com os custos de montar o time e viajar para a disputa de partidas. A ausência do clube, no final, foi proibida pela CBF e pela Liga do Nordeste, que proibiram o acordo que faria o Salgueiro dar lugar para o Náutico nos dois torneios, ficando porém com a verba adiantada pelas duas entidades referentes à vaga conquistada.
O negócio, claramente, parecia jogo de cartas marcadas. O Salgueiro tirava o time de campo, e o Náutico, com mais estrutura, se beneficiava das premiações que os torneios regional e nacional podem dar sem ter tido o mérito esportivo para estar nelas. O caso chama a atenção por representar uma situação cada vez mais comum no futebol brasileiro e que pode ser explicada por esse site que a Fifa lançou.
NÃO EXISTE ESPAÇO PARA TANTO CLUBE DE FUTEBOL NO BRASIL!!!!
Pelos dados da plataforma da Fifa, temos hoje 656 clubes de futebol profissional no Brasil. O vice-líder da lista é o México, com 245 equipes. Em terceiro lugar está a Turquia, com 126, com a Argentina no cangote (124). O quinto lugar de país com mais clubes é a Itália. São 100 equipes profissionais registradas. Sim, somos um país muito maior - em tamanho e população - do que os outros dessa lista. Mas é nítido que temos um grande problema para ser encarado.
MAIS UMA VEZ! NÃO EXISTE ESPAÇO PARA TANTO CLUBE DE FUTEBOL NO BRASIL!!!!
Respondemos por praticamente 15% de todos os clubes que existem no mundo. Um país, num universo de mais de 200, concentra quase 15% dos clubes existentes. Está errado! Muito errado! E o caso do Salgueiro é uma prova clara de como essa disparidade é maléfica para o desenvolvimento do próprio futebol no país.
No passado, em que as exigências financeiras para se manter um clube eram quase inexistentes, era comum cada cidade montar seu time de futebol e sonhar em jogar um dia no campeonato estadual. A forma como montamos o futebol profissional, primeiro com torneios locais e somente depois com os nacionais, contribuiu para que isso virasse quase que uma regra. Com a força da legislação que prendia o jogador ao clube mesmo ao término do contrato, ficou ainda melhor surgirem clubes pequenos, que viviam de montar bons times, fazer uma ou outra boa aparição, vender os atletas e depois esse dinheiro ser pulverizado pelas cartolas furadas que existiam.
O calendário, que tinha meio ano reservado para os Estaduais, ajudava a formar ainda mais essa cultura. Times surgiam bancados por políticos, magnatas, empresas locais e até criminosos. Ter uma equipe jogando contra os grandes era garantia de prestígio local.
Só que, com a mudança do futebol como negócio, em meados dos anos 90, o cenário mudou radicalmente. Com mais dinheiro da TV, do patrocínio e da venda de jogadores nos grandes clubes, o abismo que os separa dos pequenos ficou ainda maior.
A realidade, hoje, é que existe espaço para termos no máximo, no máximo, 200 clubes no Brasil. Pelo menos para poder considerá-los clubes profissionais. Ou semiprofissionais, como é na Itália, na França, na Inglaterra e na Espanha. A elite continuará restrita para no máximo 15 times, com outros 15 oscilando entre as Séries A e B. Outro grupo de 20 clubes viverá entre as Séries B e C, com o restante não conseguindo ter acesso a nada, absolutamente nada, a não ser uma ou outra aparição esporádica numa competição um pouco maior.
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O Salgueiro não jogar a Copa do Brasil e a Copa do Nordeste faz total sentido. Não há como competir de forma minimamente igualitária com os clubes que fazem parte desses torneios. Não é só uma questão de um acordão para dar ao Náutico o que ele não soube ganhar dentro de campo. É financeiro. O Salgueiro é a prova de que não há mais como mantermos tantos clubes para existirem apenas pelos meses de um Campeonato Estadual.
Não é que os Estaduais precisam acabar. É que, na realidade, o futebol hoje mudou. Se, até 1971, não havia sentido existir um Campeonato Brasileiro de clubes regular, agora a situação é inversa. O que não tem sentido, para o grupo que realmente movimenta dinheiro no futebol, disputar torneios contra times que existem só para um instante. Até mesmo o torcedor já não tem mais o orgulho pela equipe local. Ele quer, mesmo, torcer pelos times que vão para a Libertadores, Sul-Americana, Brasileirão.
O Salgueiro é só mais um recado. Não existe mais espaço para tanto clube de futebol no Brasil...
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