A Independente planta a semente
Torcida Organizada nasceu como Torcida Uniformizada e com um objetivo nobre: tornar mais bonita a festa em um estádio de futebol. Um grupo de amigos que compartilha a paixão pelo clube indo torcer nas arquibancadas com camisas, bandeiras, batuque. Lindo.
Mas a gente sabe que a coisa desvirtuou. Questões sociais, regionais, econômicas, políticas – humanas, enfim – tornaram esses grupos entes complexos, com alas violentas vivendo sob a lógica das facções, empreendendo brigas e até crimes. Uma imagem negativa que levará tempo para ser mudada, se é que há interesse de seus líderes em muda-la.
Como muitos de nós, jornalistas, estamos sempre atentos e criticamos duramente o lado perverso desses grupos quando ele vem à tona, é justo que reconheçamos quando há coisas boas. E uma organizada que foi notícia muito mais pelas coisas positivas que pelas ruins este ano foi a Independente, maior torcida do São Paulo.
Em que pesem todas as decisões equivocadas de uma direção que claramente não é do ramo, a torcida entendeu que precisava ajudar o clube a evitar o rebaixamento. Sacou que o São Paulo é maior que as pessoas que por ele passam. Usou seu poder de influenciar os demais torcedores para criar no Morumbi e no Pacaembu uma atmosfera de apoio, mesmo quando o time viveu seus piores momentos, na segunda metade do primeiro turno, ficando 13 rodadas seguidas na zona de rebaixamento. Os jogadores corresponderam primeiro com vontade, depois com um futebol melhor. E o time se livrou matematicamente da queda com três rodadas ainda por jogar. Não houve sufoco.
Olhando de fora, a impressão é que se criou algo novo na relação da torcida com o clube. Vale sempre pensar nos momentos de crise, porque na bonança é tudo muito fácil. Pichações, invasões de treino, lançamento de pipoca, perseguição a atletas na noite e vandalismo sempre são o modus operandi preferido das organizadas em épocas de draga.
A Independente apoiou incondicionalmente. Os torcedores “comuns” endossaram a postura. O Tricolor bateu recorde atrás de recorde de público no Brasileiro. Quanto mais sofria em campo, mais os são-paulinos enchiam o estádio. “Não vamos deixar o time cair”. Deu resultado.
Passado o sufoco, a organizada pediu uma reunião com a diretoria e soltou uma nota bastante razoável. Acontece nesta quarta-feira, dia 29/11, com o presidente Leco e o diretor Pinotti, os responsáveis pelo futebol. Tem reivindicações a fazer, quer ser ouvida. Mas não sozinha. Chamou também representantes de outras organizadas do São Paulo e abriu uma seleção via redes sociais para outros torcedores comuns também estarem presentes.
Existe uma pauta definida: a manutenção dos melhores jogadores e o estímulo aos garotos da base; a transparência financeira; o combate ao nepotismo e ao compadrio nos cargos diretivos do clube; um plano de sócio-torcedor mais eficiente; ingressos a preços acessíveis para a temporada 2018.
Todas as empresas e instituições modernas buscam abrir canais de diálogo com seus clientes e a sociedade em geral. Torcedores são parte fundamental do futebol, a razão de ser de um clube. É natural e desejável que exista um diálogo entre o clube e grupos de destaque desses torcedores. Mas a face sinistra que as organizadas assumiram ao longo do tempo tornou inviável essa relação. Quem descumpre as regras e tem a violência como ferramenta não deve nem merece ter direito a voz.
Mas quando uma torcida usa a razão, a coisa muda. Depois de tudo o que fez, é impossível para os dirigentes negarem aos torcedores um pedido de reunião. A torcida legitimou seu direito a voz.
Pode estar nascendo no São Paulo um perfil mais civilizado de torcida organizada, com uma relação mais madura com o clube e os demais torcedores. Mesmo não tendo direito a eleger conselheiros ou presidente, é inegável que essa legitimidade traz a essa organizada uma força política dentro do clube. Para tanto, é fundamental que seus líderes fiquem atentos e controlem seus integrantes, reprimindo a violência, colaborando com as autoridades, detectando as “laranjas podres” e expulsando-as, deixando de lado a lógica de facção e resgatando um pouco da razão de ser de uma torcida organizada. A ver.
Fonte: Maurício Barros
A Independente planta a semente
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