Muito craque junto pode ser um pesadelo
Muito craque atrapalha, não tem jeito. Porque não cabem todos no time. Uma boa equipe se forma quando há equilíbrio entre tarefas “de base” e missões mais criativas. Osso e filé. E mesmo os jogadores mais criativos, que são os que mais aparecem e, consequentemente, os mais badalados e ricos, devem saber que é preciso estar disposto a dar uma bicadinha no osso.
Pensando nas megaestrelas do futebol, entra no rolo uma mistura explosiva de vaidade, personalidades mimadas e altamente influenciáveis, reclamações de empresários, parentes dizendo que eles são o máximo e perguntando quem é o treinador para botá-lo no banco, clubes tentando aproveitar o descontentamento para arrancá-los dali... E, claro, tem o desejo do cara de jogar sempre.
As redes sociais pioraram tudo. Muitos atletas não estão preparados para lidar com elas e desabafam ou mandam recados em posts e tuitadas. Parentes próximos fazem o mesmo. Tudo vira pauta para debates na imprensa e na padaria. Um treinador não consegue administrar tais questões apenas internamente. Viram assunto público.
Depois da derrota por 3 x 1 do PSG para o Real Madrid, as esposas entraram em campo. Isabelle, mulher de Thiago Silva, que foi preterido em prol de Kimpembe, mandou uma indireta mais que direta ao técnico Unai Emery. “Tática, tática? O que é tática? Aff...”, escreveu a moça. Jorgelina, esposa de Di María, que também não entrou no jogo, foi mais dura. “Seu esforço + seu trabalho extra + seus gols + suas assistências + seu melhor momento = banco. Mas quem não entende de futebol são as mulheres”, escreveu. Em segundos, suas declarações repercutiram no mundo todo.
Unai Emery mexeu mal e foi um dos grandes responsáveis pela derrota do PSG, mais uma prova de que não está à altura dos investimentos e objetivos do clube francês, hoje controlado pelos milionários do Qatar. Liderar um elenco com tantas estrelas como Neymar, Cavani, Daniel Alves, Thiago Silva, Di Maria, Pastore, Mbappé, Verratti, Draxler é tarefa das mais difíceis. Você precisa ter muita história e capacidade de comando, muita qualidade técnica e carisma pessoal para fazer esse grupo funcionar coletivamente. Isso significa fazer os craques cumprirem funções e também aceitarem quando são preteridos.
Creio que há um número mágico de estrelas que se pode ter em um time de futebol. O equilíbrio com outros jogadores menos expostos às armadilhas da vaidade, cumpridores de funções, mais “operários”, é a chave para o sucesso. Há na história do futebol vários exemplos de constelações que naufragaram, tipo o Flamengo de Romário, Sávio e Edmundo e a Seleção Brasileira de Ronaldo, Ronaldinho, Adriano, Roberto Carlos e Kaká na Copa de 2006.
O PSG pode, claro, vencer o Real no jogo de volta e avançar na luta pelo título europeu, a grande obsessão dos seus donos. Mas parece certo que Emery está com os dias contados. Seja quem vier para o seu lugar (fala-se até em Tite), o melhor a fazer é escolher as estrelas com quem quer trabalhar, um número reduzido e administrável, e dispensar as demais. Pegar o dinheiro e ir atrás de figuras menos midiáticas e mais “tarefeiras”. Busquets é um exemplo de jogador gigante e que dificilmente vai criar problemas por conta de vaidade. Há vários outros.
Nisso cruzo o Atlântico e aterrisso no CT do Palmeiras. Guardadas as devidas proporções, Roger Machado tem um problema de ordem semelhante: muita gente boa, cara, badalada e com bastante mercado. Para o gol, Jaílson deixa Prass e Weverton no banco. No meio, Lucas Lima não dá espaço para Guerra e Scarpa. Há disputas de “cachorro-grande” também nas laterais e no ataque. Uma situação privilegiada que seria o sonho de qualquer técnico, mas que, se o cara não tiver cuidado, pode se virar contra ele. Roger parece muito capaz do ponto de vista técnico e também comportamental. Gosta de conhecer o jogador nos aspectos boleiros e psicológicos. Mas não pode descuidar um minuto, senão o caldo entorna.
Fonte: Maurício Barros
Muito craque junto pode ser um pesadelo
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