Neymar jogou como se tivesse um melão na cabeça
Neymar é uma celebridade desde adolescente, quando brilhava na base do Santos. Logo que subiu aos profissionais, passou a adotar um visual diferente, chamando a atenção também por seus penteados, ora moicano, ora descolorido, alisado, cacheado. Aos cortes estilosos, juntaram-se brincos e tatuagens. Coisa absolutamente normal. Desde sempre, ele sabe que não nasceu para ser alguém, digamos, comum. Seu futebol cresceu junto, ficou imenso. Adoro vê-lo jogar, é uma alegria. Hoje é o que é: o 10 da seleção brasileira, o jogador mais caro de todos os tempos, legítimo herdeiro da linhagem nobre de Leônidas, Pelé, Garrincha, Zico, Ronaldo.
O mundo das celebridades é também o que é: glamouroso, endinheirado, superexposto, vaidoso, visual, cheio de relações de solidez duvidosa; e também fútil, bobo, jeca e brega. Neymar, pelas referências que forjaram sua personalidade, está mergulhado nesse ambiente até o pescoço. Namora, claro, uma atriz linda e também superexposta, e não há um passo que dê que não valha um post, uma tuitada, uma foto que, por sua vez, não rendam pauta na imprensa e mobilizem seus milhões de seguidores mundo afora.
Eis que o maior craque brasileiro aparece para a estreia da Copa do Mundo com um enorme topete aloirado, que, presumo, foi combinado antes com seus consultores estéticos. “Para a Copa, tem que ser algo bem diferente”, devem ter pensado, talvez até citando David Beckham, outro ícone ludopédico-visual, que apresentou uma “releitura” do corte moicano na Copa de 2002. E lá foi Neymar deixar o cabelo crescer para que os fios assumissem um comprimento que permitisse a obra no dia da estreia. Pla-ne-ja-men-to. Fico imaginando quanto tempo o rapaz ficou na cadeira horas antes do jogo. Tinta, alisamento, gel, fixador, sei lá mais o que.
Pois cá eu quero dizer que Neymar tem o direito de fazer o que quiser com seu cabelo, orelha, braços, dinheiro. Corpo dele, vida dele, regras dele. O que importa é que esteja feliz para fazer o que sabe: jogar bola, vencer e encantar com seu enorme repertório de recursos técnicos.
Tem um monte de jogador com cabelo diferente, tatuagem, brinco, adereços mil. Pegar no pé dos caras por causa disso é algo tacanho, retrógrado, e não serei eu a fazê-lo. O que preocupa é o quanto a importância que ele dá a questões de aparência está contaminando seu jogo. Esse é o ponto. O Neymar do jogo contra a Suíça foi o Neymar do PSG: um jogador que se preocupa excessivamente com o show, com o drible, com as firulas, com os momentos em que para na frente do jogador chamando o drible e a falta. E esse Neymar é diferente do Neymar do Barcelona, mais conciso, mais editado, talvez pelas diferenças de cultura entre os clubes (o PSG é o novo rico, deveria estar sediado em Miami, e não Paris) e pela presença de Messi.
O camisa 10 brasileiro foi muito individualista contra a Suíça, e aí está uma das chaves que explicam por que o Brasil empatou, embora tenha merecido ganhar. Neymar prendeu demais a bola, e por isso sofreu um mundo de faltas. Deveria ter tocado mais, procurado seus ilustres companheiros. E isso não quer dizer abdicar de suas jogadas individuais, que são uma arma letal e que fizeram dele o craque que é. É só ajustar a dose, o que será melhor para todos. Ontem, Neymar exagerou. Jogou como se apenas quisesse aparecer, e não vencer. Jogou como se tivesse um melão na cabeça.
Fonte: Mauricio Barros
Neymar jogou como se tivesse um melão na cabeça
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