Saudosismos x Imediatismo em discussões de NBA LeBron ou Jordan? Marcação forte ou Run and Gun?
Tenho 30 e poucos anos, não me considero velho de espírito (costumam dizer bem o contrário inclusive), e convivo muito bem com gente mais nova. Entretanto, essa semana fui chamado de saudosista quando se fala em NBA e achei que isso merecia uma reflexão.
Steve Kerr deu uma declaração ironizando críticos dos Warriors, dizendo que “é engraçado como a evolução humana nos esportes é reversa” e que “os caras dos anos 50 destruiriam todo mundo. É óbvio que a evolução dos jogadores, estratégias e técnicas de treino nos aperfeiçoa a cada geração. Mas Magic Johnson, Oscar Robertson, Rasheed Wallace, Dr. J e Phil Jackson foram só alguns dos que discordaram, alegando que seus times bateriam os Warriors.
Se eu acho que o Showtime Lakers ou os Bulls de Jordan bateriam os Warriors de hoje? Talvez sim, talvez não. Isso pouco importa. Não se trata de invalidar evolução ou história. Trata-se do fato de que a evolução se dá em ciclos, com fatores que permanecem e alguns descartáveis ao longo do tempo. Nem tudo, simplesmente evolui e melhora.
O escanteio curto no futebol é um sinal de evolução? Tenho minhas dúvidas.
Ficaria o dia todo citando uma série de fatores contemporâneos e passados que fazem ou fizeram parte de um determinado ciclo, mas que não significam evolução em relação ao período anterior. Enfim, Fui chamado de saudosista por achar ridículo Demarcus Cousins flopar. Um pivô, de 2,11m e 122kg, dos caras mais brutos da NBA, cavando falta em um corta-luz banal. Ora, acharia ridículo isso em qualquer era, mas com certeza, tendo visto caras como Shaq, David Robinson e Olajwon fica mais difícil de tolerar.
E estou errado? É saudosismo isso?
Que fã de NBA quer ver alguém arremessar 15 lances livres em uma noite? Cavando faltas ridículas, esticando a perna para obter contato... Uma enquete rápida, com certeza daria margem de 90% para um jogo mais ágil, sem tantas pausas bestas. E isso é só um aspecto negativo do jogo atual. O que dizer sobre as defesas?
Com exceção de algumas honrosas defesas, como a do Celtics, o rating defensivo está bem alto: média de 108.1. Boston tem 99.7. Esse papo de números é bem nerd, mas serve só para mostrar que mesmo desafiantes ao título como os Cavs, defendem muito mal – penúltimo em rating defensivo – número 29 de 30 times da liga. Defender envolve não só dar tocos ou roubar bolas, quer dizer colocar seu oponente em más situações, prejudicando sua pontuação. Por isso, calma nos chase-down blocks, defender é mais que isso.
Torceram o nariz quando eu disse que os Cavs deviam incorporar os Pistons de 2004 – que bateram os Lakers em 5 jogos - contra os Warriors nas últimas finais. Para quem não lembra, os titulares de Detroit incluíam Billups, Rip Hamilton, Rasheed Wallace, Tayshaun Prince e Ben Wallace – um quinteto bem modesto. Do outro lado? Shaq, Kobe, Karl Malone, Gary Payton... só pra citar os membros do Hall da fama. Para termos uma ideia, o jogo 3 acabou 88-68.
A minha teoria era de que, uma vez consciente de sua inferioridade técnica, defender com ferocidade seria a única oportunidade de bater Golden State. Cleveland optou por aceitar o pace insano ditado pelos guerreiros dourados e bem, já sabemos o resultado. A real é que eu só estava citando um exemplo, os Pacers de 2013-14 e os Bulls de 2010-11 fizeram trabalhos defensivos excelentes durante a temporada regular também. Muito old school pra você?
Saudosismo, segundo o dicionário é a admiração excessiva por aspectos do passado, desde comportamentos, hábitos, princípios e outros ideais obsoletos e ultrapassados. Obsoletos e Ultrapassados.
Seria defesa um conceito defasado ou ultrapassado? Tenho minhas dúvidas.
Já disse isso em outro texto para esse blog: Não há novidade nenhuma na luta entre gerações. Seja de jogadores, seja de torcedores. A novidade é outra, como bem definiu meu amigo @daniel_sanchez: "A nova geração quer seu espaço e me refiro a jogadores e fãs. A diferença que vejo entre as gerações anteriores é que a atual, quer na marra. Isso nos mais diversos assuntos. Há o imediatismo, não há distanciamento histórico pra se avaliar melhor. O jogador da NBA, do futebol , rapper etc tem que ser o melhor de todos os tempos pra ontem, com os caras em atividade ainda. Aí fica difícil."
Enfim, adaptando Charles Darwin à NBA, diria que as espécies/jogadores estão ligados por laços evolutivos. A seleção natural modifica características individuais, gerando novas espécies, novos estilos de jogadores. O mais forte às vezes estabelece seu domínio por um tempo, mas a inteligência para se adaptar garante a sobrevivência. Em sua primeira temporada, LeBron acertava só 29% de seus arremessos de 3 pontos(2.7 tentativas por jogo), enquanto nessa temporada houve momentos de 40% de aproveitamento (com quase 5 tentativas por jogo).
Mas nem todo mundo é LeBron, KD ou Curry, eles realmente são fora da curva e – até porque ainda estão na ativa – não temos noção exata de quão especiais eles sejam. Eles ditam tendências, reinam do Olimpo da NBA. Mas e os outros meros mortais? Pois é... ver o Brooklyn Nets tentar 34.1 arremessos de 3 pontos por jogo (2° em tentativas) e acertar somente 34% (3° pior aproveitamento da liga) é mais que um sofrimento para que assiste. É o exemplo perfeito de que os conceitos estratégicos e evolutivos não são fechados, caixas em que todo mundo cabe...
Há tempo e espaço para muitos conceitos, principalmente em uma quadra de basquete - inclusive todos ao mesmo tempo: Em um mesmo jogo, em uma mesma jogada. Então eu sugiro às novas gerações – famosa molecada que tá começando agora – estudem, investiguem, leiam e assistam. Não se apropriem indevidamente de coisas que estão por aí muito antes de vocês descobrirem o esporte, não menosprezem os fundamentos do esporte. É possível pirar com Lauri Markannen chegando a 100 bolas de 3 convertidas em apenas 41 jogos e ainda assim reconhecer que um dos trunfos dos Warriors está na defesa consistente... ou que os Nets deveriam amassar menos o aro chutando de 3.
Live and let play.
Fonte: Marcus Martins, blogueiro do ESPN.com.br
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