Velocidade e mobilidade: Mano 'ataca' linha defensiva do Galo e Cruzeiro controla a ida em Minas

É praticamente unanimidade que confrontos de mata-mata são quase sempre decididos por detalhes. E se você somar isso a um clássico de grande importância no cenário nacional? Certamente estes aspectos, muitas vezes até pouco perceptíveis dentro de campo, acabam por ser ainda mais determinantes. A vitória do Cruzeiro sobre o Atlético-MG, por 3 a 0, pelo jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil, no Mineirão, na noite desta quinta-feira, acaba por reforçar um pouco mais estes jargões.
Antes da parada para a Copa América os rivais viviam mundos completamente diferentes. Enquanto a parte azul de Minas Gerais passava por uma grande inconsistência dentro de campo com nove partidas sem vencer (e turbulências administrativas da sua diretoria fora das quatro linhas), o Galo via um trabalho em franco crescimento e, principalmente, a afirmação de seu treinador Rodrigo Santana, antes apenas interino.
Mas foi de Mano Menezes que veio talvez a mudança mais crucial para o andamento do jogo. Um adendo estratégico que, de fato, não só surpreendeu os alvinegros, mas também lhe deu condições de construir um placar importante para o jogo de volta, marcado para o próximo dia 17, no Independência.
Pedro Rocha no lugar de Fred: mudança para acelerar pra cima da linha defensiva do Galo
Quem olhou para a escalação do Cruzeiro antes do jogo, considerando o mau momento dentro de campo que a equipe vivia, destacou ali somente uma mudança mais significante: sai Fred, artilheiro da equipe do ano, entra Pedro Rocha, jogador com características totalmente diferentes e, inclusive, que costuma ocupar faixas do campo bem distintas do centroavante titular. Mas a ideia foi mesmo mexer com a estrutura atleticana. E funcionou (veja abaixo o mapa de posicionamento médio dos jogadores da Raposa e as interações entre eles).
Como bem explicou o próprio Pedro Rocha, autor de um gol e uma assistência na primeira etapa, na saída para o intervalo, seu treinador chegou à conclusão que faltava mais mobilidade e, principalmente velocidade à equipe no terço final. Se levarmos em conta que a linha defensiva do Atlético-MG não é das mais velozes, principalmente com Réver e Igor Rabello compondo a dupla de zaga, tal ideia fazia ainda mais sentido.
A estratégia para iniciar o jogo era justamente tirar Pedro da referência, fazê-lo rodar por outros setores para a entrada de jogadores como Robinho, Marquinhos Gabriel e, principalmente Thiago Neves, atuando atrás do centroavante (neste caso um falso 9, veja suas ações no mapa abaixo). Estes movimentos eram bem nítidos nos primeiros minutos de jogo. Tanto que o primeiro gol sai com o camisa 32 sai de um chute de fora da área (aliás, um golaço após cortar a marcação de Elias e acertar o ângulo de Vitor).
Mas a ideia vinha a ser ainda mais potencializada à partir deste primeiro gol. Com o Atlético saindo mais para o jogo, Pedro Rocha ficou sempre posicionado no limite do campo, bem em cima da linha defensiva. Por vezes era Thiago Neves que baixava um pouquinho mais a marcação no 4-4-2 do Cruzeiro em fase defensiva. Ali ficou bem clara a percepção de Mano sobre a fluidez da sua equipe durante as transições ofensivas antes da parada. Com Fred, Thiago Neves, Henrique, Cabral (que iniciou o clássico) e até mesmo Robinho, que se trata de um meia mais construtor, a Raposa praticamente não tinha força para avançar o campo com velocidade. Com o ex-gremista em campo se equilibrava um pouco estas características.
É bem verdade que o segundo gol sai muito por conta de um erro de passe entre Réver e José Wellison, mas dificilmente tal lance seria protagonizado por Fred, por exemplo. Nem mesmo Thiago Neves teria velocidade suficiente para arrancar e deixar Igor Rabello para trás como fez Pedro Rocha. E, de fato, o jogo mudou após a vantagem por dois gols. Tudo foi condicionado.
Bom início do Galo e boas investidas pela esquerda poderiam ter dado outro rumo ao jogo

Apesar do baque sofrido com os dois gols do Cruzeiro na primeira etapa, o Atlético-MG não iniciou o clássico tão mal como parece. Ao contrário, fez 10 minutos fortes e que poderiam ter sido melhor aproveitados, principalmente no acabamento das jogadas. Com Luan jogando mais centralizado na linha de meias do 4-2-3-1 escalado por Rodrigo Santana, o jogo passou muito pelo lado esquerdo atleticano. Com o sempre muito procurado Cazares por ali, somando-se às companhias de Fábio Santos e às vezes até o próprio Luan encostando, o Galo criou dificuldades para cima de Romero, que inclusive fez grande jogo.
Como Robinho por vezes não baixava tanto a marcação, o volante/lateral-direito se viu no 2 contra 1 em alguns momentos e o Atlético-MG chegou a criar alguns perigos por ali. De fato, faltou um acabamento melhor destas situações. Principalmente porque Alerrandro ficou praticamente fora do jogo. Não por sua vontade, já que o mesmo até tentava sair um pouco da área para tentar gerar jogo, mas por incapacidade da equipe de levar a bola até o centroavante. No geral, foram bem poucos os momentos que os alvinegros conseguiram de fato infiltrar ou mesmo ter ações relevantes dentro da área do seu grande rival (veja abaixo o mapa das poucas ações do jovem centroavante atleticano).
Apesar da entrada de Ótero no segundo tempo, jogando Cazares para atuar por dentro, o Atlético-MG seguiu com muitas dificuldades para atacar a área do Cruzeiro. Dominou a posse de bola, mas teve dificuldades para combinar jogadas efetivas no entorno da área. Problema, inclusive, já demonstrado em partes de algumas atuações antes mesmo da parada para a Copa América. Sem dúvida um ponto importante para Rodrigo Santana desenvolver até o jogo de volta. Já que o Galo vai precisar reverter uma vantagem grande.
Gols que condicionam jogo e controle retomado pelo Cruzeiro
Talvez a grande diferença do futebol para outros esportes coletivos seja exatamente pela frequência que seu lance chave (o gol) acontece. Se no basquete a grande maioria das bandejas ou chutes de três não mudam totalmente a história de um jogo e no vôlei muitas cortadas que constroem os placares passam despercebidas, no futebol colocar ou não a bola dentro da casinha muda tudo. E não só para seu time, mas principalmente para o seu adversário. E foi assim, com uma estratégia bem programada, que o Cruzeiro viu seu jogo crescer dentro do Mineirão.
Longe de serem jogadas bem construídas, os dois primeiros da Raposa vieram sim de decisões de Mano Menezes. Não só em colocar Pedro Rocha, mas de saber usá-lo em determinados cenários. A partir da vantagem, ficou clara a proposta do Cruzeiro em esperar esperar mais o Atlético-MG. Se colocando numa situação bem confortável dentro do modelo de jogo praticado por seu treinador, sempre muito competente em controlar partidas cuidando dos espaços e defendendo sua própria área.
Mas o grande mérito aí não está só em se defender. Algo que, inclusive, a equipe não vinha fazendo bem nas suas últimas apresentações. Mas sim em apresentar um repertório mais vasto quando retomava a posse da bola. Se juntando à Pedro Rocha, Marquinhos Gabriel passou ser peça importante da equipe durante as transições. Com ambos conduzindo em velocidade, os cruzeirenses criaram chances importantes, principalmente no segundo tempo, quando conseguiu ainda seu terceiro gol.
Se defender e contra-atacar é uma proposta legítima, mesmo que você não goste de assistir. Mas a necessidade de completar as duas fases com êxito nem sempre é respeitada. Se faltar um ou outro, nada feito. Se ainda não atingiu seu máximo, ou mesmo um nível já atingido durante esta temporada, o Cruzeiro já demonstrou evolução dentro do que se propõem fazer com o seu jogo. O bom nível de concentração, a compactação e as coberturas bem alinhadas prevaleceram.
Obviamente que o futebol precisa ser respeitado. Neste espaço, aliás, não se fala de vitórias ou classificações antes mesmo delas serem jogadas. Mas, sem dúvida alguma, o Cruzeiro se coloca numa situação bem favorável para passar a diante na Copa do Brasil. O Atlético-MG, por sua vez, não pode novamente abrir mão de um processo em curso por resultados pontuais. São erros que, definitivamente, não podem ser repetidos. Existe um trabalho, algo sendo bem feito ali. Independente de uma eliminação. Lições importantes podem ser tiradas do clássico. Inclusive para o próximo que resolve a classificação.
Fonte: Renato Rodrigues, do DataESPN
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