Fernando Diniz divide opiniões sobre seu trabalho no São Paulo
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O São Paulo protagonizou uma eliminação dura na noite desta quarta-feira, no Morumbi. Sucumbiu frente a um Mirassol valente e organizado (3 a 2), mas que perdeu 8 jogadores titulares durante a pausa da pandemia. Mais do que isso, mostrou problemas estruturais e de escolhas que pairam no clube nos últimos anos e que, mais uma vez, questiona as diretrizes de uma direção pressionada.
E a queda nas quartas de final do Campeonato Paulista se torna ainda mais dura pelo fato de o Tricolor ter sido a equipe mais promissora entre as grandes antes da parada. Muito por demérito dos seus rivais, que não decolaram, mas com pontos positivos e, principalmente, mostrando certa ascensão em cima das ideias de Fernando Diniz. Alguns velhos problemas, no entanto, sempre estiveram ali e vieram à tona.
Tentar entender a situação que o São Paulo se encontra hoje e nos últimos anos requer mais do que achar um culpado. Trata-se de muitas variáveis, um contexto extremamente complexo que vai do campo à direção. Das escolhas, seja para o comando técnico ou escalações, e também uma questão de identidade, raramente vista na última década.
Se olharmos para dentro de campo, para as últimas atuações em si, talvez a palavra que mais me venha à cabeça é controle. Ou melhor, falso controle. Por isso o título do post.
Controle talvez seja uma das coisas mais preciosas que se tenha no futebol. E justamente pelo fato de ninguém tê-lo 100% dentro do campo de jogo. Mas é quase que uma unanimidade: quanto mais controle você tem, mais perto da vitória está. Por isso, trabalha para maximalizá-lo. Tentar ter nas mãos o máximo da narrativa do confronto, antecipando e neutralizando movimentos.
A expressão controle no futebol também vai muito além de ter ou não a bola. Mais uma vez não entrarei no discussão de melhor vs pior ou mesmo bonito vs feio. Mas é fato que existem formas e formas para se dominar um adversário. Para ser mais simples e direto: com ou sem a bola. E por isso é importante contextualizar toda essa perspectiva para entender esse São Paulo de Fernando Diniz.
Problemas estruturais
Jogadores do São Paulo antes de jogo contra o Mirassol, pelo Paulista
Rubens Chiri/São Paulo FC
Não precisa ser amante das táticas para entender qual tipo de jogo Fernando Diniz pratica e quer praticar. Quem o contrata também sabe para o que é. Definitivamente essa não deveria ser uma crítica ao treinador. O ponto aí é: como executar todas essas ideias? E é aí que os problemas acabam expostos.
Vamos começar pela fase ofensiva, momento em que a equipe tem a bola. O fato de querer ter a bola, de ser protagonista no jogo é, sim, elogiável. A saída de bola, por exemplo, tem mecanismos bem estabelecidos a meu ver. O time flui nesta etapa de construção. A ideia de ter Tchê Tchê e Dani Alves por ali, se revezando, nessa iniciação, tem bastante lógica.
Mas é quando a bola chega perto do terço ofensivo que as coisas não encaminham bem. Vemos números de 20, 25, 30 finalizações em alguns jogos... Números frios que, por vezes, podem nos trazer uma falsa métrica. Mas quantas chances realmente foram cristalinas? Quantas partiram de uma finalização que nem deveria ser feita? Em quantas existia pressão na bola? Quantas no alvo? Quantas para fora?
Essa é uma impressão recorrente acerca deste São Paulo. Uma equipe que tem volume ofensivo, mas que não tem consistência, “punch”, nas ações com bola. E isso tem a ver com a filosofia também.
Um time que tem a bola, mas, do meio para frente, parece um pouco aleatório em seus movimentos. Uma espécie de “movimentem-se!”, mas não necessariamente como. Uma liberdade mal programada, extremamente intuitiva e que acredita no talento dos seus jogadores. Obviamente que não explorar suas qualidades seria um erro. Engessar a estrutura não é o caminho, mas o ideal seria sair do extremo. Criar situações e padrões que potencializassem essas qualidades, já que o São Paulo tem isso no elenco.
Mas não, esse livre caos, sem alguma lógica, traz a falsa sensação de controle. Porque ele não se resume a gols necessariamente. E acaba empilhando jogadores num mesmo setor, confundindo posições e funções.
Uma questão muito nítida contra o Mirassol foi a falta de “abrir o campo”. Não que isso seja uma regra. Mas foi perceptível que todos os jogadores se concentravam por dentro, fazendo exatamente o que o adversário queria. Com jogadores um pouco mais na amplitude, talvez espaços pelo centro seriam melhor utilizados. Ou mesmo trocas de lado, para gerar desequilíbrio. Mas o que vimos foram dois laterais jogando na base, com abrindo pouco o campo e dando quase nada de profundidade.
Sem a bola, os problemas ficam muito em cima das transições defensivas, momento da famosa recomposição. É bem verdade que, antes da parada, o São Paulo mostrava certo crescimento neste sentido e sofria cada vez menos nos contra-ataques. Mas esse é um ponto negativo que acompanha o trabalho de Fernando Diniz em outros clubes. O que deixa, muitas vezes, o jogo aberto, sempre a um passo de escorrer das mão. O tal do controle que tanto falo.
Momento em que o São Paulo disputa e perde 1ª e 2ª bola antes do gol do Mirassol: não existe linha defensiva
DataESPN
Os dois primeiros gols sofridos na noite desta quarta-feira, principalmente, não podem acontecer num nível de competitividade que o São Paulo joga. O primeiro, de um escanteio sem rebotes, e um jogador se aproveitando de todo um espaço por trás da marcação. O segundo, perda de segunda bola e time totalmente desequilibrado para sofrer o ataque rápido. Essa transição descoordenada custou caro. Jogar bem é defender bem também.
Mas todas essas falhas estruturais também passam por escolhas individuais.
Priorização do talento “sem fome”
Jogar no modelo de jogo que Fernando Diniz tenta implementar exige muito mais que qualidade técnica. Essa organização deve sempre partir do princípio da intensidade, seja com ou sem bola. Jogar com uma linha defensiva alta, com muitos espaços nas costas dos zagueiros, pede muita proatividade dos atletas no momento em que a posse é perdida. Com ela, a necessidade é de um jogo dinâmico, com passes rápidos e mais profundidade.
Não sofrer o contra-ataque está muito atrelado ao que você faz no momento em que perde a bola. E isso falta ao Tricolor. Por vezes nem por ausência de vontade mesmo, mas por características individuais dos atletas escolhidos. Pegando de trás para frente, partindo do ponto que o São Paulo vai pressionar alto, Vitor Bueno e Pato, por exemplo. Ninguém dúvida da qualidade técnica de ambos. Mas e no momento em que se é necessário reagir rapidamente e pressionar a bola “como se não houvesse amanhã”?. A dupla, definitivamente, não entrega agressividade. Não se encaixa no plano. Igor Gomes até tenta, mas também não é algo destacável nas suas características.
Pato em disputa de bola contra o Mirassol
Rubens Chiri (São Paulo FC)
Então vamos lá: se sua ideia é pressionar alto, ser agressivo lá na frente e asfixiar seu adversário, como fazer isso com três jogadores que não tem essas virtudes? Realmente é uma lógica que não faz sentido e que, por mais que funcione em jogos e jogos, uma hora outra pode estourar num contra-ataque letal. E nem que isso tenha sido um problema contra o Mirassol, mas essa bola saindo de uma primeira pressão é um problema.
Se instalar no campo do adversário também exige resistência, capacidade de se repetir movimentos. Joga, perde, pressiona, recupera, joga, perde, pressiona, recupera... Essa é a dinâmica necessária para fazer esse tipo de jogo ser efetivo. Outro ponto é a capacidade dos jogadores de lado percorrerem longas distâncias durante todo o jogo. Reinaldo e Juanfran, apesar de terem suas qualidades, estão longe de ser esses caras. Até por isso não geram amplitude/profundidade pelos lados. Deixa-se de abrir o campo e empurrar o adversário para trás, ganhando espaço entre os jogadores de defesa do rival e na entrada da área.
Por mais que Igor Vinícios e Léo tenham seus defeitos, os vejo com com essas características. Força e resistência para subir e descer, além da capacidade de se impor fisicamente nos duelos. As recentes atuações da dupla, aliás, também credenciam uma maior regularidade no time titular e, por suas particularidades, poderiam acrescentar equilíbrio ao time, principalmente sem a posse da bola.
É simples escolha. Você ganha de um lado e perde do outro. Juanfran e Reinaldo te trazem mais experiência e qualidade técnica, mas deixam a desejar em outros aspectos. É a mesma lógica com os laterais mais jovens. Mas vejo necessidade de mais fisicalidade neste São Paulo. E talvez seja um dos times com mais material humano no Brasil para poder mudar um cenário com seu próprio elenco. São muitos jogadores promissores vindo de Cotia para trazer qualidade com a bola e fome sem ela.
O dilema da demissão
A problematização sobre manter ou não Fernando Diniz no cargo não se trata de “passar pano” como muita gente tende a acusar. É o simples fato de entender ser uma escolha complexa. Justamente por ser algo feito com certa recorrência no clube nas últimas temporadas e que só jogou o clube ainda mais para trás. Por isso é uma decisão difícil.
Um dos grandes erros do time do Morumbi nesta década foi a falta de norte. Uma gestão técnica mais coerente. Já repeti isso algumas vezes. Escolhas para o comando técnico que iam de Bauza a Osório, Doriva a Jardine, Cuca a Jardine... Sem entrar no mérito da qualidade desses profissionais, que são capazes, mas sim no tipo de trabalho que cada um tentava propor. Extremos totais, fazendo com que o clube rompesse com linhas diversas vezes, e deixando de criar qualquer identidade que seja.
Presidente Leco e Raí tem dura missão pela frente
GazetaPress
Ao apostar em Diniz, a diretoria são-paulina deu o recado que a linha que querem seguir é a mesma de Jardine, Rogério Ceni e Osório. Mas trocar agora seria em qual sentido? Romper de novo ou apostar mais uma vez nesse estilo? Quem escolher? Vão sustentar e apoiar a próxima escolha? São todas perguntas muito necessárias e difíceis de serem respondidas pelo histórico recente da atual administração.
Por mais que o baque dessa última eliminação tenha sido forte, vejo o São Paulo com problemas ajustáveis. E pelo próprio Diniz. Em questão de ambiente e condução de trabalho, as referências são as melhores. É um treinador trabalhador e preocupado com os detalhes, agregador e que tem o grupo ao seu lado. Resta saber o quão disposto ele está de se desprender de algumas convicções e tentar essa volta por cima.
Fonte: Renato Rodrigues
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