Viagem às pressas e prejuízo de meio milhão: o dia em que o UFC foi enxotado de Nova York

Igor Resende, do ESPN.com.br
Getty
UFC desembarca em Nova York de novo; estado já expulsou o evento há 20 anos
UFC desembarca em Nova York de novo; estado já expulsou o evento há 20 anos

Demorou, mas o UFC finalmente conseguiu abrir a última porta que lhe faltava nos Estados Unidos - e uma porta de ouro, diga-se! Vinte anos depois de ser enxotado de lá, a organização volta à Nova York para organizar um de seus eventos mais importantes da história.

O UFC tem um único evento realizado no estado de Nova York, o de número 7, com um torneio vencido pelo brasileiro Marco Ruas. A edição de número 12 também estava marcada para lá, mas uma manobra política enxotou todos do MMA de lá poucas horas antes.

Desde o UFC 7, o estado de Nova Iorque começara uma batalha para que todo o estado impedisse a realização de lutas de vale-tudo. Em outubro de 1996, porém,, o governador de Nova Iorque, George Pataki, finalmente aprovou uma lei que regularizava e permitia a realização de lutas de MMA no estado.

O UFC não perdeu tempo. Com a vitória nos bastidores, logo anunciou a realização de dois eventos para o estado de Nova Iorque. O primeiro seria justamente o UFC 12, marcado para o Niagara Falls Civic Center no dia 7 de fevereiro. Depois, a entidade ainda pretendia ir até o Nassau Veterans Memorial Colisieum, na própria cidade de Nova Iorque, no mês de maio.

Mas a história se transformaria completamente nos dias anteriores ao UFC 12. O jornal The New York Times entrou forte no duelo contra o vale-tudo. A revista New Yorker também comprou a briga. "Voltando à Idade Média: Ultimate Fighting, um novo esporte simplesmente bárbaro que é a maior prova de que a civilização morreu", era o título de um artigo sem assinatura publicado pela revista.

A pressão da imprensa atingiu em cheio os políticos de Nova York. A assembleia estadual votou novamente sobre a legalização do vale-tudo e, desta vez, o resultado foi devastador: 134 votos a favor da proibição e apenas um contra. O senado também votou a sua própria lei, que não proibia em si o esporte, mas dava o direito aos prefeitos locais de proibi-lo. O resultado também foi indiscutível: 33 a 0.

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Como o vale-tudo ainda estava permitido até a semana do UFC 12, a Comissão Atlética de Nova Iorque decidiu liberar a realização. Porém, os lutadores teriam que seguir uma regulamentação especial. Assim, dias antes dos combates, foi criado um livro com nada menos que 114 páginas de regras que descaracterizavam completamente o esporte. As determinações obrigavam que os lutadores vestissem luvas e calções e acabavam completamente com a luta no chão, proibindo também as finalizações. Além disso, o octógono teria que ter o tamanho mudado para pouco mais de 12 metros de diâmetro, três a mais que o original.

Em 6 de fevereiro, no dia anterior ao que deveria acontecer o UFC 12, os executivos do UFC decidiram apelar contra o novo livro de regras e tinham 100% de certeza de que iriam vencer a batalha, ao menos para conseguir realizar o evento do dia seguinte. Porém, a juíza Miriam Goldman, da Suprema Corte dos EUA, chocou os mandatários e deu ganho de causa à Comissão Atlética de Nova Iorque.

Mesmo que decidisse aceitar todas as regras, não haveria tempo hábil para construir um novo octógono com o tamanho proposto. A solução foi mudar o evento de local. Um avião foi alugado para mover de Niagara Falls para Dotham, no Alabama, cerca de 200 pessoas, entre lutadores, treinadores, equipe, jornalistas e até alguns fãs. Além, é claro, de toda a estrutura do octógono.

Para percorrer os 1.500 km de distância em um período de tempo tão curto, gastou-se nada menos que 500 mil dólares. O dinheiro já era bem mais do que os executivos esperavam de lucro, já que as vendas de pay per view não paravam de cair com a maioria das televisões retirando o UFC de cartaz. Para piorar, não houve tempo hábil para vender ingressos, e os portões do Dothan Civic Center foram abertos gratuitamente ao público.

Nenhum dos lutadores conseguiu dar entrada no hotel antes das 5 horas da manhã. O UFC começaria às 20h, e ninguém teve muito tempo de descanso. Quem mais trabalhou, porém, foram os responsáveis por montar o octógono. A estrutura precisava normalmente de nada menos que 20 horas para ficar em pé e ainda recebia os últimos retoques quando o evento estava para começar.

Sem tempo de preparar outra abertura, o UFC 12 começou a transmissão ao vivo ainda com imagens das cataratas de Niagara. Todos os efeitos especiais eram baseados em letras saindo de dentro das águas. Depois, preparou uma minipropaganda da cidade de Dothan, dizendo inclusive que o lugar já havia sido eleito o melhor para se morar no estado do Alabama. Uma forma de agradecimento justa para o município que aceitou receber o evento com tão pouco tempo de preparação.

Naquele dia, Vitor Belfort se consagraria. Com dois nocautes na mesma noite, ele se sagraria o campeão mais novo da história do UFC.

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