Elas já são 40% dos sócios da Gaviões da Fiel, mas ainda precisam lutar contra veto de encostar em bandeira e tocar bateria

Bianca Daga, do espnW.com.br

Mulheres da Gaviões não podem tocar bateria e encostar em bandeira
Mulheres da Gaviões não podem tocar bateria e encostar em bandeira Gazeta Press

A Gaviões da Fiel tem, atualmente, 97.177 sócios. Desses, 40% são mulheres. Os torcedores do clube paulista, como um todo, são 53% mulheres e 47% homens. Apesar de sua grande representatividade, elas ainda precisam lutar por igualdade nas arquibancadas: uma regra na maior torcida organizada do Corinthians determina que meninas não podem encostar em bandeira e tocar bateria.


Queren Pereira, sócia da Gaviões desde 2006, quando tinha 16 anos, sente na pele essas e outras determinações impostas pela parcela masculina da torcida organizada. “Eles nos tratam bem, mas são machistas. Com exceção do carnaval e do bandeirão que sobe nos estádios, as mulheres não podem tocar bateria e encostar em bandeira do Corinthians”, contou ao espnW.

“É como se fôssemos contaminar. Não podemos nem entrar na sala onde as bandeiras ficam guardadas. Não tem diálogo. Falam: ‘não gostou, sai’. Já levei muita bronca por não saber da regra e pegar em bandeira”, completou.

A corintiana já tentou conversar, e a justificativa foi culpar a história. “Os fundadores da Gaviões eram muito politizados. Um deles, inclusive, era gay. Mas isso se perdeu com a nova geração. Os novos dizem que sempre foi assim, porque é mais fácil para eles. Mas não foi. Porque tem fotos antigas de mulheres com bandeiras. Eles acham que só o fato de aceitarem ter mulheres na torcida, já é não discriminar.”

E as regras não param por aí. As mulheres da torcida organizada do Corinthians não podem assistir jogos no São Januário, estádio do Vasco, por conta da violência. “É regra. Não adianta chorar. E não podemos ir por conta própria porque avisam que se virem a gente lá, vão cobrar. Nosso último título no Brasileiro foi lá, e vimos pela TV.”

Queren é sócia da Gaviões desde 2006 e já levou bronca por não saber da regra
Queren é sócia da Gaviões desde 2006 e já levou bronca por não saber da regra Arquivo pessoal

Outra imposição é que as mulheres não podem sentar dos assentos do fundo do ônibus no caminho para os estádios. “Os homens vão consumindo droga. E nós, se quisermos, não podemos. Precisamos medir força e mostrar que temos os mesmos direitos, somos torcedoras igual. Mas lutar o tempo todo e não ser escutada deixa a gente doente.”

DJ, artista plástica e agente cultural, Queren já foi em mais de 200 jogos do Corinthians. Entrou para a Gaviões depois que seu irmão pegou seu RG escondido e fez sua inscrição, lhe dando a carteirinha de presente no Réveillon de 2006. A torcedora é integrante do Coletivo Democracia Corinthiana, movimento cultural, educativo e político de discussão na sociedade.

Procurada pela reportagem do espnW, a Gaviões da Fiel preferiu não se posicionar.

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