Pequenos são os títulos diante do futebol. A Roma comprova
Quando o técnico Eusebio Di Francesco escalou três ou quatro reservas para enfrentar a Fiorentina no fim de semana para poupar alguns dos jogadores que enfrentariam o Barcelona na terça-feira, foi tachado de maluco por muita gente. E aí a derrota por 2 a 0 para o time de Florença, jogando em Roma, só fez crescer a desconfiança em relação à decisão do treinador.
Afinal, abrir mão de pontos importantes na acirrada disputa por vaga na próxima Champions League não parecia fazer sentido se o objetivo seguinte seria reverter, na Champions atual, uma desvantagem de 4 a 1 no jogo de ida contra um elenco avaliado em mais de 1 bilhão de euros e que incluía apenas o melhor jogador do planeta.
Só que estamos falando de futebol.
E foi o futebol que fez avançar aquele que foi, indiscutivelmente, o melhor time nos 180 minutos dos dois confrontos. Porque se os 4 a 1 do jogo de ida pareceram um placar exagerado, os 3 a 0 da Roma nessa terça-feira apenas refletiram com precisão aquilo que aconteceu em campo.
Não são, porém, os aspectos em campo que mais interessam no evento ocorrido nessa noite mágica no estádio Olímpico de Roma.
Porque as proporções da incrível virada em cima do Barcelona são de difícil compreensão para boa parte dos torcedores de clubes multimilionários da Europa, aqueles que costumam atrelar seu nível de alegria no futebol ao número de troféus na estante.
Alguns episódios ocorridos depois da épica vitória, contudo, talvez ajudem esses torcedores, digamos, mais “materialistas” a entender o que significou o dia 10 de abril de 2018 em Roma.
O presidente James Pallotta se jogando numa fonte da Piazza del Poppolo; crianças e adultos chorando copiosamente na arquibancada; a reação alucinada na área de imprensa após o apito final; as ruas de Roma sendo tomadas após um jogo de quartas de final; a incrível festa no vestiário do Olímpico; as inúmeras mensagens de felicitações de clubes rivais como Juventus, Milan, Napoli, Fiorentina e Inter; as capas de jornais. (A quem se interessar, vários desses vídeos estão na timeline do meu Twitter e na minha página no Facebook).
Não, de fato não foi um título. E o mais provável, ainda, é que nem seja parte do caminho que levará a um. Mas já foi indiscutivelmente um dos maiores momentos da história do clube e, provavelmente, do ponto de vista esportivo, o maior desde o dia 17 de junho de 2001, quando a Roma derrotou o Parma para (aí sim) conquistar o terceiro scudetto de sua história.
Pequenez? Nada disso. Apenas a consciência de que a relação das pessoas com o futebol, e com um clube especificamente, não pode e nem deve depender apenas de conquistas, de taças, de números.
As 60 mil pessoas presentes ontem no estádio Olímpico de Roma mostraram isso, torcendo de verdade, apoiando o time de um jeito raro nesta incrível (mas ainda assim pasteurizada no que diz respeito ao público) Champions League – porque, acreditem, boa parte dos que ali estavam nem confiava muito no feito que acabaria se realizando. Mas estavam lá.
Boa parte daqueles 60 mil também chorou naquela absurda e emocionante despedida de Totti, que preferiu seu time de infância e sua cidade às glorias e à grana. E quase todos eles também amam incondicionalmente o atual capitão De Rossi, porque ele vai seguindo os passos do antigo capitano: toda a vida num só clube.
Uma fidelidade que não se encerra com os que nasceram em Roma e cresceram na Roma. “Prefiro ficar aqui, onde sou feliz. Se dinheiro fosse minha motivação, teria mudado de clube várias vezes, meu salário poderia ter subido seguidamente”, afirmou Radja Nainggolan há menos de dois meses. Na última janela de mercado europeu, Dzeko disse não ao Chelsea e também à própria Roma, que pretendia vendê-lo: só ficou porque bateu o pé.
Será que são fatos menores? Um adeus como o de Totti, a história de fidelidade quase incompreensível dos jogadores, o amor incondicional de uma torcida e de uma cidade como Roma... Não se trata de desfazer das conquistas, sempre importantes.
Mas, no futebol atual, quantos clubes podem ostentar fatos como os citados acima?
Aos outros, restam apenas os títulos. Que sejam felizes com eles.
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Fonte: Gian Oddi
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