Ex-Inter e Grêmio, Gavilán trabalha com Arce no Cerro Porteño e aponta enorme vantagem dos clubes brasileiros na Libertadores
Diego Gavilán vestiu as camisas de Internacional, Grêmio, Flamengo e Portuguesa no Brasil. Revelado pelo Cerro Porteño, o volante defendeu Newcastle e Udinese na Europa, além de outros clubes na América Latina. Aos 41 anos, voltou para suas origens em janeiro e trabalha no Cerro.
Atualmente em processo para conseguir a licença A no curso de técnicos da CBF, ele comanda o time sub-23, que serve como transição da base para o profissional no clube paraguaio, que tem Francisco Arce como técnico principal. Foi do ex-lateral de Grêmio e Palmeiras que partiu o convite para Gavilán, ou apenas Diego, retornar ao Cerro, após ter comandado o Pelotas no Campeonato Gaúcho.
A pandemia fez com que toda base do futebol paraguaio parasse. Não há competições oficiais desde o ano passado, por isso o Cerro Porteño montou essa estrutura no departamento de futebol e marca amistosos com outros clubes para não abandonar os jovens. Presente no grupo H da Conmebol Libertadores, ao lado de Atlético Mineiro, Deportivo La Guaira-VEN e América de Cali-COL, o Cerro está na briga pela classificação.
O que te fez aceitar o convite para treinar o time sub-23 do Cerro Porteño, após ter trabalhado no Pelotas?
O principal fato foi o convite do professor Arce. Pra mim, assim como Muricy Ramalho e Mano Menezes são as referências na profissão, o Arce é o melhor treinador do Paraguai na atualidade. Trabalhar com ele, acompanhar o trabalho dele, tudo isso vai acrescentar muito à minha carreira. No futuro, quando eu voltar a ser treinador de um time principal, com elencos profissionais, terei uma experiência vivida com o Arce em aprendizado, gestão e muitas outras coisas. Em equipes grandes, e o Cerro Porteño é muito grande, a gente aprende todos os dias.
Veja lances de Taison pelo Internacional!
Vocês foram companheiros de seleção paraguaia também.
Eu tive a sorte de jogar com ele. Aliás, a sorte de jogar com uma geração espetacular de jogadores. Conheço muito ele, como pessoa. Tudo isso soma para tomar a decisão que tomei, por mais que eu seja torcedor do Cerro Porteño, nós somos torcedores. A gente acredita no trabalho a longo prazo, é um dos caminhos para crescermos e buscarmos essa tão especial taça da Libertadores, que o Cerro ainda não conseguiu. É um projeto bem constuído, com jogadores da base, gestão... Não tem muita lógica no futebol, mas acreditamos nesse projeto a longo prazo.
O tricampeonato do Olimpia, maior rival do Cerro, na Libertadores aumenta a pressão por parte de torcida e imprensa?
Pressão assim, não, mas é automática quando o clube não tem e o rival tem. O torcedor do Cerro sonha. Eu tive essa experiência como jogador do Internacional, quando o clube não tinha Libertadores e o Grêmio tinha. De repente o Inter ganhou tudo e passou essa tormenta, e o Cerro vive essa situação.
No Olimpia, atualmente, está outro ex-companheiro seu de seleção paraguaia: Roque Santa Cruz. Aos 39 anos, ainda é importante e decisivo. Qual sua opinião sobre o veterano atacante?
Conheço o Roque desde 14 anos, começamos a jogar juntos. É um dos melhores amigos que tenho na vida e dentro da profissão. São muitas coisas vividas com ele, família, seus irmãos, sua família agora com os filhos, jogando contra... Mantemos contato no dia a dia mesmo quando nos enfrentamos no final de semana. Coisas que acontecem com pessoas especiais, e ele é especial. Graças a Deus consegui conhecer nessa vida. Hoje ele é a referência mais importante do futebol paraguaio em todos sentidos. Esportivamente, já demonstrou muita coisa e continua demonstrando, mas o mais importante pra mim é essa imagem para os meninos. Comportamento, educação, preparação para a vida. Porque o jogador tem data de vencimento, e depois entra em uma etapa da vida que precisa se preparar. Ele está mostrando muita coisa como pessoa, como companheiro, como referência na sua equipe. Preparação atual para se manter competitivo, são muitos fatores. Ele não quer falar sobre isso, mas automaticamente passa uma imagem muito positiva. Quando ele parar, vai continuar dando muito o que falar no futebol porque é uma pessoa muito preparada. Além de jogar, se prepara para o futuro.
E no último clássico com o Olimpia deu Cerro, vitória por 2 a 0 no início deste mês.
Lógico que ali ele defende seu clube, o Olimpia, e eu defendo o meu, o Cerro. Nos últimos dois anos, eles tiveram momentos muito bons, conseguiram ganhar quatro torneios na sequência. Com a chegada do "Chiqui" Arce, conseguimos quebrar a hegemonia do arquirrival. Quando tem o clássico, e do jeito que o seu time ganha, ainda mais como o Cerro ganhou o último, você sabe como é o dia seguinte.
Em relação ao trabalho do Arce no Cerro, o que você faz com a base é alinhado com a metodologia de treino e jogo do time principal?
Esse é um dos pontos mais importantes dentro do convite que recebi. Estamos bem alinhados. É um jogo bem jogado, a história do Cerro sempre foi assim. Ele conseguiu, por exemplo, quando retornou o futebol no ano passado durante a pandemia, a equipe conseguiu manter 24 jogos sem derrota. São coisas que não acontecem de um dia para o outro, e jogando bem, um futebol bonito, associado, triangulações, saída... Tudo aquilo que o torcedor gosta de ver quando paga um ingresso para ver um jogo de futebol. Dentro dessa linha, tentamos criar situações para que eu possa treinar sobre essa metodologia de trabalho. No meu caso, é bem diferente, porque o time principal tem que ganhar quarta e domingo, comigo está sendo diferente já que não tenho competição. O tempo de trabalho que tenho uso tranquilamente, não tem pressa para mandar para cima os guris dos times de transição número um e número dois. Mas somos cobrados internamente, mandamos relatórios para o Arce e a comissão técnica, e isso tem sido bem legal.
Após três rodadas no grupo H da Libertdaores da América, o Cerro soma quatro pontos. Três a menos que o Atlético Mineiro, à frente do Deportivo La Guaira com três e o América de Cali, com um. Que avaliação você faz do turno jogado pelo Cerro Porteño?
Acho que o Cerro Porteño fez o seu trabalho no turno de boa maneira. Embora o resultado contra o La Guaira, aqui em Assunção, não tenha sido aquilo que esperávamos. A bola não entrou, e o time adversário defensivamente se postou muito bem. Contra o Atlético Mineiro sabíamos que seria uma situação muito difícil, por muitos fatores. Embora o placar tenha sido 4 a 0, sabemos que o futebol brasileiro está em um nível muito acima do paraguaio. Em todas situações: estrutura, financeiro, muita coisa que na hora H marca muito a diferença. O Cerro durante a pandemia pouco se reforçou, trouxe o Jean, goleiro do Atlético Goianiense, ex-São Paulo, e o Mauro Boselli, que estava no Corinthians, mais ninguém. Hoje, o elenco do Cerro é formado na maioria pela base, não fez grandes investimentos por causa da pandemia, que não permite. Competir com Atlético Mineiro, Palmeiras, Grêmio, Inter, é absurdo, não é lógico. Dentro disso, acho que estamos indo bem. Disputar com o Atlético pelo primeiro lugar no grupo é difícil, mas com La Guaira e América de Cali podemos conseguir bons resultados. Temos ainda a partida de volta contra o Atlético em casa, quem sabe o resultado seja diferente.
O Atlético Mineiro é um dos favoritos ao título da Libertadores?
Eu começo a ver os favoritos na hora do mata-mata. Já tive essa experiência, acompanhar times com bom futebol na fase de grupos e no mata-mata ficou fora. Quem começar a encorpar no mata-mata aí já é outro torneio. A equipe embala, o elenco pega confiança, 180 minutos já são bem diferentes.
Temos visto nos últimos anos os clubes de maior poder financeiro conseguirem se destacar mais na Libertadores, e isso nem sempre foi uma regra no nosso continente. A tendência é vermos essa diferença entre os maiores clubes de Brasil e Argentina aumentar cada vez mais em relação aos demais times do continente?
Sim. Na Argentina, o River tem mantido um nível de competição importantíssimo e o Boca sempre é Boca, mas depois marca muito a diferença. Na hora da montagem do elenco, estrutura de trabalho para jogadores e treinadores, para trabalhar no dia a dia, logística, isso faz a diferença. Sempre falamos que o futebol é onze contra onze, mas com o calendário que temos atualmente e o costuma dos times brasileiros com jogos a cada 72 horas, outros países não estão acostumados. Com essa estrutura de recuperação, alimentação, logística, não é todo mundo que consegue fazer. O Brasil tem o potencial financeiro para fazer essa diferença. Não à toa os clubes brasileiros marcam diferença nas competições internacionais e a seleção brasileira é sempre candidata a conseguir a primeira colocação nas eliminatórias.
Qual é o clube brasileiro com o qual você tem a maior identificação na carreira?
Olha, sempre fico entre Inter e Grêmio. Porque o Inter foi o clube onde cheguei da Europa e tive três anos maravilhosos, fui feliz. Ao mesmo tempo, em 2007, tive a felicidade de passar pelo Grêmio, o arquirrival, e fui feliz, muito feliz. Cheguei, falando esportivamente, em um ponto que jamais tinha alcançado, que foi jogar uma final de Libertadores. Esse momento pra mim foi muito marcante. Falo sempre que Porto Alegre foi meu melhor clube, mas é necessário saber que lá tem o Inter e o Grêmio. Foram três anos espetaculares no Inter e um ano no Grêmio, hoje eu sou grato a esses dois clubes.
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