E agora, LaLiga?
Neymar em 2017, Cristiano Ronaldo no ano seguinte e agora Lionel Messi. As três grandes estrelas de LaLiga na última década não estão mais na Espanha. Aliada à saída do craque argentino, há uma rota de colisão pública entre a liga e os dois maiores clubes do país, Real Madrid e Barcelona. Com a aprovação em assembleia do acordo com a CVC Capital Partners, excluindo ambos por opção própria, LaLiga abre a temporada 2021-22 de maneira menos turbulenta do que parecia há alguns dias e com previsão de muito equilíbrio.
O Atlético de Madrid, atual campeão espanhol, olha sem alardes para todo imbróglio envolvendo seus rivais e o presidente de LaLiga, Javier Tebas. Manteve praticamente a mesma equipe da temporada passada e ainda se reforçou com Rodrigo De Paul, campeão da Copa América com a Argentina e que vem da Udinese. Diego Simeone sabe que terá mais uma ótima oportunidade para lutar pelo título, e espera também contar com o apoio dos torcedores nas arquibancadas do Wanda Metropolitano. Ele será um dos cinco treinadores estrangeiros de LaLiga, ao lado de Ronald Koeman (Barcelona), Carlo Ancelotti (Real Madrid), Manuel Pellegrini (Betis) e Eduardo Coudet (Celta).
Bem além dos três favoritos ao título, LaLiga apresenta equipes de altíssimo nível. A "quarta força" é o Sevilla, do técnico Julen Lopetegi, que diante das dúvidas que existem sobre o desempenho de merengues e culés nesta temporada, buscará ótimo desempenho para, quem sabe, tomar o lugar de um deles. O atual campeão da Europa League, Villarreal, precisará dividir as atenções com a fase de grupos da Champions, mas permanece forte com Unai Emery no comando. Isso sem falar na força dos bascos, principalmente da ótima Real Sociedad, de Imanol Alguacil, e com a expectativa de crescimento do Athletic Bilbao - que também não aceitou o acordo com a CVC - com Marcelino García Toral desde o início.
Oito das 17 Comunidades Autônomas da Espanha estarão representadas pelos 20 times da temporada 2021-22 de LaLiga - comunidade de Madrid e Andalusia possuem mais equipes, quatro cada. São quatro também os clubes que mudaram de técnico: o Valencia contratou José Bordalás, que deixou o Getafe e foi substituído por Míchel; o Real Madrid se despediu de Zinédine Zidane e saudou novamente Carlo Ancelotti, enquanto no Granada Diego Martínez optou por não renovar o contrato e deu lugar a Robert Moreno. Não há estreias de clubes em LaLiga neste ano, mas retornos de velhos conhecidos: Espanyol, Mallorca e Rayo Vallecano.
A técnica é a principal característica de LaLiga, uma das cinco principais ligas do mundo. O jogo bem trabalhado, cadenciado muitas vezes, é uma marca do vitorioso futebol espanhol nas duas últimas décadas. Tudo com muita organização tática e padrões bem estabelecidos. Há enormes desafios pela frente para os dois gigantes. Koeman e Ancelotti possuem os mesmo objetivos, mas com missões bem diferentes. Enquanto o holandês precisará criar um "novo Barcelona" pós-Messi, o italiano precisa evoluir o trabalho feito por Zidane. Mais uma vez, Simeone apenas observa e sorri.
O Barcelona perdeu sua referência, seu maior e melhor jogador em todos os tempos. Haverá uma inevitável transição e a consequente pressão de torcida e imprensa. Desde sua chegada, no início da temporada passada, Ronald Koeman pensa o Barça com Messi. Começou no 4-3-3, mudou para linha de cinco defensores com o 3-4-3 e terminou no 3-5-2, sempre com o meia argentino livre de responsabilidades defensivas, solto no ataque e ganhando vários jogos para o time. Esse protagonista não há mais, e o posto será disputado por Antoine Griezmann, Frenkie de Jong e pelo reforço Memphis Depay. O time está bem distante de ser ruim, como muitos apontarão, mas sofrerá até se encontrar sem o histórico camisa 10 - e também até conseguir inscrever todos os reforços, como Eric García e Memphis Depay.
Lionel Messi faz primeiro treino como jogador do Paris Saint-Germain
No Santiago Bernabéu, ou melhor, no Alfredo di Stéfano até meados de setembro pelo menos, por mais que Sergio Ramos não esteja mais lá, sua saída foi bem menos traumática, assim como o adeus a Raphaël Varane. A dupla de zagueiros titulares será substituída por David Alaba, excelente contratação a custo zero, e Éder Militão, que terminou a temporada passada em altíssimo nível. Nos outros setores, Ancelotti terá o retorno de Gareth Bale e a necessidade de evolução de Federico Valverde, Vinícius Júnior e Rodrygo, além do trabalho de convencimento de Martin Odegaard. Casemiro, Luka Modric e Toni Kroos continuam, sem falar em Karim Benzema - ah, Eden Hazard também. Ainda em Madri, o Atleti terá Luis Suárez pela segunda temporada e seus principais companheiros do título de 2020-21, como Jan Oblak, Koke, Marcos Llorente e Ángel Correa.
Por tudo que apresentou na temporada passada e também pelos reforços que chegaram, o Sevilla tem pleno direito de se colocar na briga com Atlético, Barcelona e Real Madrid. A negociação com o Tottenham envolvendo Bryan Gil trouxe para o Ramón Sánchez Pizjuán o meia Erik Lamela, que reforça o setor ofensivo. Nos últimos dias, mais um argentino confirmado: o lateral-direito Gonzalo Montiel, ex-River Plate, titular da Argentina na final da última Copa América, assim como Marcos Acuña. Por fim, Monchi, diretor do Sevilla, ainda tenta a contratação do mexicano Tecatito Corona, do Porto, e fica no aguardo da proposta do Chelsea por Jules Koundé. Vale destacar também a Real Sociedad, que sofreu com muitos desfalques na temporada passada, mas se colocou entre os primeiros colocados nos meses iniciais de LaLiga. Graças ao excelente desempenho de David Silva, Mikel Oyarzabal e Alexander Isak com o técnico Imanol Alguacil.
Apesar da enorme dificuldade financeira imposta pelo período de pandemia, alguns clubes conseguiram se movimentar com bastante qualidade no mercado. O Villarral, por exemplo, buscou no Nice por 12 milhões de euros o bom atacante senegalês Boulaye Dia. O Granada acertou com o veterano colombiano Carlos Bacca, de 34 anos, que deixou justamente o Submarino Amarillo e substituiu Roberto Soldado, que seguiu para o Levante. O Celta, de excelente desempenho desde a chegada do técnico Eduardo Coudet, se reforçou com o português Franco Cervi, ex-Benfica. No Getafe, soluções nacionais, com Carles Aleña, Sandro Ramírez e Vitolo. Até mesmo o Valencia, em eterna economia sob propriedade de Peter Lim, conseguiu melhorar a defesa com a chegada por empréstimo do zagueiro paraguaio Omar Alderete, do Hertha Berlim.
Tradicional reduto de jogadores brasileiros na Europa, LaLiga permanece com alguns dos principais jogadores convocados por Tite nos últimos anos. O principal deles é Casemiro, titular inquestionável de Real Madrid e seleção brasileira. Terá como capitão oficial pela primeira vez Marcelo, que herdou a braçadeira de Sergio Ramos - no Real, o capitão é o jogador com mais tempo de clube, e no caso do lateral-esquerdo são 14 anos. Militão aguarda a oportunidade de jogar uma temporada inteira como titular, após o ótimo nível apresentado nos últimos meses. Vinícius Júnior e Rodrygo precisarão lutar por minutos com a chegada de Ancelotti. No rival colchonero, Renan Lodi perdeu a posição na temporada passada e Felipe deve ser um dos três zagueiros titulares.
Situação indefinida para Neto e Philippe Coutinho no Barça. O goleiro quer sair, já que é reserva absoluto de Marc-André Ter Stegen, mas com a lesão no joelho direito do alemão, ele abre a temporada como titular. Coutinho está na lista de saídas planejadas por Joan Laporta para reduzir a folha salarial do time. Apenas Emerson tem permanência garantida até o final, e o ex-jogador do Betis tem um importante desafio pela frente: provar a Tite que pode ser um dos dois laterais-direitos do Brasil na Copa do Mundo de 2022. No Sevilla, Diego Carlos e Fernando possuem status de absolutos na formação principal, assim como Gabriel Paulista, de cidadania espanhola desde 2020, no Valencia. Por fim, fechando a lista de brasileiros, Willian José retornou à Real Sociedad após empréstimo ao Wolverhampton e o zagueiro Sidnei permanece no Betis.
A "liga das estrelas", como LaLiga se auto denomina, já não está mais tão estrelada assim. De qualquer modo, Barcelona, Real Madrid e Atlético não se tornaram clubes menores, e a tendência é de recuperação para os próximos meses com o retorno do público aos estádios e restabelecimento de maiores arrecadações. Além disso, o acordo que criou LaLiga Impulso vai injetor pouco mais de 2 bilhões de euros entre os clubes espanhóis. Talvez esta seja uma temporada de transição após todos acontecimentos dos últimos meses, mas deve ser também uma das mais equilibradas das últimas décadas - assim como já fora a passada.
E agora, LaLiga?
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