Jogador brasileiro tem o passaporte retido e está impedido de sair da Indonésia
Alex Gonçalves é um entre 1287 brasileiros espalhados pelo mundo do futebol, segundo dados do CIES Football. As histórias de vitórias, nas grandes ligas internacionais, são aquelas que fazem sucesso e levam milhares de crianças ao sonho de se tornarem jogadores de futebol. O esporte mais popular do planeta, no entanto, pode ser muito traiçoeiro também.
Preso' na Indonésia e sem salário: Conheça a história do brasileiro Alex Gonçalves
Formado na base do Grêmio e com passagem no time profissional do Internacional, Alex, atualmente com 31 anos, passou por vários clubes ao longo da carreira. Entra na categoria de andarilhos do futebol, tamanha sua experiência. Jamais, porém, imaginou viver a situação que enfrenta na Indonésia atualmente. Há mais de um mês está com o passaporte retido e impedido de deixar o país.
Todo problema começou em 2020, com a pandemia de coronavírus. Contratado pelo Persikabo, clube ligado à polícia local e da primeira divisão, com o início do período de quarentena viu seu salário ser reduzido em 75%, sem qualquer acordo. Deixou a equipe no início deste ano, se transferiu para a Malásia, mas recebeu em julho outra proposta do futebol indonésio, desta vez do Persita.
Antes disso, acionou o Persikabo na FIFA pela falta de pagamentos e ganhou a causa. O visto de trabalho que possuía estava ligado a seu ex-clube, e quando precisou renovar pelo Persita foi informado que seria impossível porque não havia liberação do vínculo anterior. Para piorar, foi denunciado pelo Persikabo na justiça indonésia por difamação, já que tornara o caso público através de suas redes sociais. Está intimado para depor.
"Estou passando por uma situação muito delicada. Longe da minha família, já faz um ano que não vejo meu filho, minha esposa... Estou passando por uma situação muito complicada. Não estou podendo jogar, não estou podendo trabalhar. Tudo porque o meu clube atual não consegue dar entrada em um novo visto de trabalho, porque o meu nome ainda está vinculado ao meu ex-clube, que não quer tirar o meu nome do sistema", explica o próprio Alex, em contato com o blog. "À medida que o tempo vai passando, vou me tornando ilegal. Estou desesperado, meu passaporte está retido na imigração. Não sei o que vai acontecer amanhã, estou com medo de sair na rua, até porque meu ex-clube é militar".
Confinado em seu apartamento na cidade de Tangerang Regency, na Ilha de Java, Alex fica indignado pelo real motivo de todo imbróglio que já se tornou diplomático. "Tudo isso está acontecendo porque reportei esse meu ex-clube na FIFA. A causa já foi e ganha e e eles querem barganhar, fazer uma troca. Querem que eu retire a ação para tirarem meu nome do sistema de imigração. Isso não existe, porque eu tenho o direito de estar trabalhando. Meu atual clube não consegue fazer muita coisa porque falam pra mim que é o sistema de imigração... Mas não sei o que o que se passa na verdade, porque os documentos nunca são mostrados pra mim, são apenas palavras".
Alex não tem um staff por trás para lhe protegê-lo de situações assim. Possui um amigo no Brasil que o ajuda com o próprio agenciamento da carreira, mas na prática - assim como outras centenas de jogadores brasileiros pelo mundo - depende da boa fé de empresários locais em negociações. O caso na FIFA ficou sob responsabilidade de um advogado português. Com isso, sua situação atual depende muito da atuação da embaixada brasileira na Indonésia.
"Eles me deram apoio, todo suporte, disseram que se eu precisar a embaixada estaria ali para ajudar. Até cogitei pedir um novo passaporte de emergência, expliquei pelo amor de Deus, fazemos todos os trâmites de imigração para ir embora... O que passaram para mim foi que, por ter sido denunciado na polícia, essa carta chegou até a imigração, que embargou todos os processos de deportação", explica sem entender a fundo tudo que realmente está acontecendo. A embaixada brasileira, segundo Alex, passou o contato de um advogado indonésio, que conseguiu, na polícia, o adiamento da convocação do brasileiro para a próxima segunda-feira. Ele ouviu também que precisará prestar esclarecimentos aos policiais sobre as publicações em redes sociais. "Não me sinto seguro em ir na polícia. Não estou no meu país, não falo a língua, não sei o que pode acontecer. Tenho receio que eles me levem para uma sala, me prendam, façam algum tipo de chantagem... Não sei. É arriscado".
A reportagem da ESPN tentou contato com a embaixada brasileira em Jacarta, através dos canais de comunicação disponíveis, mas até o fechamento desta matéria não obteve resposta.
Alex tenta manter a forma física na academia do prédio onde mora, já que está afastado dos treinamentos do Persita. Na Indonésia, tem recebido apoio de outros brasileiros que disputam a Liga 1, nome oficial da primeira divisão. Nesta semana o atacante ganhou apoio e divulgação de seu caso com o ex-jogador Tinga, que publicou em suas redes sociais um vídeo de Alex pedindo ajuda. Nos últimos dias, Dunga, ex-técnico da seleção brasileira, ligou para ele oferecendo ajuda também. A FIFA, através de seu departamento jurídico, tem buscado informações.
Na maior parte da conversa, Alex mantém a calma, fala com serenidade. Pode não entender todos os meandros e talvez até mesmo a complexidade diplomática de seu caso, mas demonstra tranquilidade diante de tantos problemas. Isso muda quando a saudade da família e o inacreditável risco de ser preso vêm à cabeça. "Esse é um problema que eu nunca passei, jamais imaginei passar na minha vida. Sou um pai de família...", lamenta Alex, interrompendo a fala pelas lágrimas provocadas com a emoção. "Se eu tivesse que sair de urgência, agora seria impossível. Não vejo o meu passaporte há dois meses. Enquanto isso, minha esposa e meu filho estão em casa desesperados. Meu filho vai fazer aniversário no próximo dia 16, chama pelo pai todos os dias... É difícil explicar essa situação".
Natural de Teixeira de Freitas, na Bahia, Alex se estabeleceu em Porto Alegre desde que foi aprovado para fazer parte da base do Grêmio. De lá partiu para conhecer o Brasil e o mundo através do futebol. Viveu as mais variadas experiências do interior de São Paulo à Romênia, e agora aos 31 anos conhece o aspecto mais tenebroso do esporte mais apaixonante de todos. "O que eu mais queria nesse momento era deixar o país. Suplico para alguém me ajudar. Se eu pudesse, agora mesmo pegava um avião e ia embora para casa, faria isso o mais rápido possível, mas estou de mãos atadas neste momento. Um brasileiro, na Indonésia, denunciado pela polícia por não ter feito nada. Passaporte preso na imigração, clube tentando fazer que eu desista do dinheiro que já ganhei pela lei e pela lei da FIFA. Não sei mais o que fazer".
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