Uma história de filme: entenda por que volante chorou no Gre-Nal

Maria Victoria Poli e Vladimir Bianchini, do ESPN.com.br
Lucas Uebel/Grêmio
Michel marcou seu primeiro gol com a camisa do Grêmio
Michel marcou seu primeiro gol com a camisa do Grêmio na vitória por 4 a 0 sobre o Juventude

Jogadores enfileirados no corredor predominantemente azul que dá acesso ao gramado da Arena do Grêmio. Mais de 45 mil torcedores cantando alto na sexta rodada do Campeonato Gaúcho, marcada pela 412a edição do Gre-Nal. Nas paredes do túnel, desenhos de momentos históricos do clube. É hora de caminhar rumo ao campo.

Dá para imaginar a sensação de disputar um dos maiores clássicos do país?

"O Gre-Nal foi o momento mais especial da minha carreira. Até chorei na hora de entrar em campo, no túnel, quando vi a recepção da torcida. Foi um jogo diferente por causa do clima, da rivalidade. É uma partida que todo jogador quer jogar. Passou um filme da minha vida na cabeça", contou Michel, reforço do time tricolor para a temporada de 2017.

Este filme, que rodou em uma fração de minuto na mente do jogador, teve início há alguns anos - 27, para ser mais exata -, quando o personagem principal ainda nem imaginava a sinopse que a vida lhe reservava.

"Aos três anos perdi minha mãe. Logo em seguida, meu pai me abandonou. Fui criado pelos meus avós, José e Ivonete. Meu avô era pescador, mas hoje em dia ele não pesca mais, depois que ficou doente. Eles foram meus maiores incentivadores da carreira, até hoje. Sempre estamos juntos e nos falamos", explicou o atleta.

Como todo bom longa-metragem, a história do meio-campista foi televisionada. Um pouco de luz e câmera - a ação ficou por conta de Michel -, e o jogador já conquistava seu lugar nas telas, esbanjando talento em um reality show esportivo exibido pela Rede Bandeirantes e comandado por Vanderlei Luxemburgo, que tinha como objetivo principal descobrir um futuro craque.

 

  • Joga Bonito

"Eu participei do Joga Bonito. Meu tio me inscreveu sem eu saber quando eu tinha 15 anos. Fiz a avaliação com outros 7.500 jovens e precisava viajar a São Paulo em um dia só para serem aprovados 24 atletas. Com ajuda de amigos e familiares, consegui o dinheiro da passagem, chuteira e fui para São Paulo com meu tio. Fui aprovado. Depois, saí lá pelo 12º, mas só de ser aprovado e participar foi bastante coisa. Foi Deus quem colocou esse programa na minha vida. Foi meu primeiro passo no futebol", revelou.

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Michel não venceu o troféu do programa de TV, mas foi graças a ele que ganhou um presente muito mais especial. "Conheci minha esposa no ponto de ônibus. Eu estava participando do Joga Bonito. Ela viu a mochilinha e começamos a puxar assunto".

Seus avós ainda vivem na Penha, no Rio de Janeiro, cenário que desde cedo inspirou o garoto a sonhar com o futuro, desde que este acontecesse dentro das quatro linhas. "Sempre tive esse sonho de ser jogador e sempre busquei isso. Eu jogava pelo time da favela em um campo de terra da Penha, no Rio de Janeiro. Fiz um amistoso contra o São Cristóvão e me destaquei. O treinador me chamou e fui federado com 15 anos. Com 18 eu já tinha assinado como profissional", lembrou o meio-campista. 

 

  • Não tinha dinheiro para passagem

Apesar do talento e da perseverança, os obstáculos quase sempre estiveram presentes na vida do volante. "Tinha muitas dificuldades para ir treinar, muita vezes não tinha dinheiro para a passagem. Meus avós arrumavam dinheiro", disse.

E eles não eram somente financeiros. Na busca pelo sonho, Michel viu oportunidades escaparem e portas se fecharem, mas nem por isso desistiu de jogar bola. "Em 2006 o Flamengo se interessou por mim e fiquei um mês treinando por lá, mas não assinei contrato com eles. Treinei com Negueba, Marlon, entre outros. Logo depois fiz teste no Internacional e tive uma passagem rápida, mas também não fiquei", continuou.

A chance - quem diria? - apareceu no Rio Grande do Sul, mas não no Grêmio (pelo menos não ainda). Lá, em 2011, vestiu a camisa do Porto Alegre, porta de entrada e clube que serviu de vitrine do atleta para o futebol da região sul do Brasil.

"Fui ao Porto Alegre, time do Assis. Joguei o Gaúcho por lá e depois fui ao Guarani de Palhoça-SC. Joguei pelo Imbituba na segunda divisão catarinense e consegui o acesso. Depois, passei pelo Camboriú, novamente Imbituba e Novorizontino", listou.

 

  • Ele quase desistiu do futebol

O atleta pôde finalmente comemorar o desenvolvimento na carreira, mas foi justamente no clube paulista que Michel passou por uma de suas piores fases. Sob o comando de Guilherme Alves, o Novorizontino foi se firmando no futebol do estado de São Paulo: em 2014 foi campeão da Série A3 do Campeonato Paulista e conquistou o acesso. Em 2015, foi vice-campeão da Série A2 e chegou à Série A1, onde já figura há duas temporadas.

Lucas Uebel/Grêmio
Michel durante sua apresentação no Grêmio
Michel durante sua apresentação no Grêmio

O bom desempenho do time do interior, porém, não significou destaque para o jogador. "No início do ano passado, no Novorizontino, eu não vinha sendo aproveitado pelo Guilherme. Foi só nos últimos jogos que ele me colocou. Nesse jogo, se não ganha eu acho que cairia. Nessa partida, graças a Deus, eu fui bem e fiz um gol. Saímos com a vitória e ele manteve o cargo. Isso me marcou muito não só pelo gol, mas pela persistência. Mesmo não sendo relacionado, eu estava preparado", comemorou Michel, que quase desistiu da carreira por conta da passagem pela equipe de Novo Horizonte.

"Eu pensei várias vezes em desistir. A última delas foi ano passado, no Novorizontino, mas não sabia a razão. Minha esposa, Joyce, sempre me apoiou e falou para eu não largar. Graças a Deus segui em frente e hoje estou no Grêmio. É algo impressionante. Esses são os alicerces da nossa vida, a família", reconheceu.

 

  • Título, acesso e contrato

Melhor para Michel. Com destaque no Novorizontino, foi emprestado ao Atlético-GO para a temporada de 2016. O resultado: a maior sequência de jogos de sua carreira (foram 35 atuações, coroadas com quatro gols) e, de quebra, o título da Série B do Campeonato Brasileiro com duas rodadas de antecedência, na vitória por 5 a 3 sobre o Tupi-MG.

"Fui emprestado ao Atlético-GO e fiz uma boa Série B", lembrou o volante, titular absoluto na partida do acesso para a elite do futebol nacional, que fez festa no Estádio Olímpico, na noite do dia 12 de novembro de 2016.

Com a campanha vitoriosa do time de Goiás, diversos jogadores chamaram a atenção de clubes maiores, como é o caso do lateral Matheus Ribeiro, que foi para o Santos, do zagueiro Marllon, atualmente na Ponte Preta, e de Michel, entre outros.

O volante ambidestro se destacou e foi contratado pelo Grêmio junto ao Novorizontino na condição de empréstimo até o final de 2017, com opção de compra ao término do vínculo. Com a camisa tricolor, já disputou oito jogos e marcou seu primeiro gol na vitória gremista sobre o Juventude, por 4 a 0. 

Assista aos gols da vitória do Grêmio sobre o Juventude por 4 a 0

"O que mais me motivou foi o clube, a estrutura e a história. A torcida. Eu acho que houve uma identificação muito grande com o clube. Eu achei que iria me encaixar melhor no estilo de jogo gaúcho do Grêmio. Acho que estou no caminho certo", afirmou Michel, que também está realizando o sonho de disputar sua primeira Libertadores.

Tudo isso coube diante dos olhos de Michel naqueles minutos ou segundos que antecederam sua entrada na Arena. O roteiro, porém, ainda está em aberto, e ele já deixou claro que não lhe faltam persistência, força de vontade e determinação para continuar vivendo o sonho do futebol.

"Eu sempre falo para os meus amigos que são mais novos e que sonham em serem jogadores. Peço para não desistirem. Se eu cheguei onde estou é porque coloquei Deus na frente", finalizou.

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