Com a inquestionável derrota por 3 a 1 para a Inglaterra, na última quarta-feira, pela semifinal do Mundial sub-17, o Brasil chega agora a uma série de sete anos e 14 Mundiais sem títulos, contando futebol masculino e feminino. 

A última vez que a seleção brasileira venceu um torneio mundial de qualquer categoria foi em 2011, quando o time que tinha atletas como Oscar (hoje no Shanghai SIPG, da China), Philippe Coutinho (Liverpool), Willian (Chelsea), Casemiro (Real Madrid), Alex Sandro (Juventus), Willian José (Real Sociedad), Dudu (Palmeiras) e Henrique Almeida (Coritiba), entre outros, ganhou o Mundial sub-20 da Colômbia, batendo Portugal por 3 a 2 na final, em um jogaço.

Quando esse troféu foi levantado, a CBF vivia seu último ano sob a gestão de Ricardo Teixeira.  Em março do ano seguinte, porém, ele alegou motivos de saúde e renunciou à presidência da entidade que comandou por cinco mandatos, entre 1989 e 2012, após mais uma chuva de denúncias contra sua gestão.

Dessa forma, ele foi substituído por José Maria Marin, que era seu vice-presidente mais velho. Ao lado de Marin, apareceu Marco Polo Del Nero, ex-presidente da FPF (Federação Paulista de Futebol) e então vice da região Centro-Sul, como "braço direito" e na verdade o cartola mais poderoso do país. 

Del Nero acabaria assumindo o poder definitivamente só em 16 de abril de 2014, pouco antes da Copa do Mundo de 2014, tornando-se o nº 1 da CBF definitivamente, em cargo que ocupa até hoje - Marin, por sua vez, seria preso na Suíça pelo FBI em maio do ano seguinte, estando até agora em prisão domiciliar em seu luxuoso apartamento na Trump Tower, em Nova York, nos Estados Unidos.

Desde que o atual "chefão" assumiu a entidade que comanda o futebol brasileiro, a seleção fracassou em todas as competições de nível mundial que disputou, seja no masculino, no feminino, no sub-17, no sub-20 ou no principal, mesmo tendo equipes recheadas de craques. Ainda por cima, não se classificou para o Sub-20 masculino em 2013 e em 2017 e nem para o Sub-17 feminino em 2014.

Relembre os 14 fracassos com Del Nero no topo da CBF:

• Mundial Sub-20 Feminino de 2012

Com uma seleção que era praticamente um combinado do Foz Cataratas e do Vitória das Tabocas, a seleção brasileira sub-20 feminina teve uma participação decepcionante no Mundial da categoria em 2012, primeira competição oficial de Marin e Del Nero no comando da CBF.

Na primeira fase, empatou com Itália e Nigéria e foi derrotada pela Coreia do Sul na última partida. 

Com isso, somou apenas 2 pontos, ficou em 3º lugar no grupo B e nem foi aos mata-matas, com as sul-coreanas e nigerianas passando para os mata-matas.

• Mundial Sub-17 Feminino de 2012

O time brasileiro para essa competição foi formado praticamente em um combinado de Vasco e Kindermann-SC, e tinha algumas jogadoras extremamente jovens, como a lateral direita Julia Bianchi, que foi para o torneio no Azerbaijão com apenas 14 anos.

Na primeira fase, a equipe verde e amarela começou muito mal, levando um inapelável 5 a 0 do Japão (que terminaria como líder do grupo), mas depois se recuperou com vitórias sobre México e Nova Zelândia.

A fragilidade defensiva do time, porém, acabaria cobrando seu preço já nas quartas de final: derrota por 2 a 1 para a Alemanha e passagem de volta para casa comprada. 

• Mundial Sub-17 de 2013

O Brasil era o grande favorito para esta competição, já que tinha no elenco jovens estrelas como Gabigol, do Santos, Kenedy, do Fluminense, Thiago Maia, do Santos, Nathan e Mosquito, ambos do Atlético-PR, e Auro, Lucão e Boschilia, todos do São Paulo, entre outros atletas que despontavam no cenário nacional.

Na primeira fase, a equipe verde e amarela arrebentou, goleando Eslováquia e Emirados Árabes por 6 a 1 e completando com um 3 a 0 sobre Honduras. Nas oitavas, vitória por 3 a 1 com autoridade para cima da Rússia. Parecia que ninguém poderia segurar esse time e o título era questão de tempo.

Só faltou combinar com o México, que segurou um empate por 1 a 1 com o Brasil nas quartas de final e passou de fase com uma vitória por incríveis 11 a 10 nos pênaltis. No final, os mexicanos ainda terminariam decepcionados ao perderem por 3 a 0 para a Nigéria na grande decisão.

• Copa do Mundo de 2014

Um dos primeiros grandes atos de Marin como presidente da CBF foi demitir Mano Menezes e contratar Luiz Felipe Scolari como treinador da seleção brasileira. Felipão assumiu o cargo, ganhou a Copa das Confederações e foi para a Copa do Mundo prestigiado, desta vez já com Del Nero na presidência da CBF.

No Mundial em casa, porém, o Brasil combaliu ao nervosismo. Após uma primeira fase burocrática, a equipe arrancou classificações a fórceps contra Chile, nas oitavas de final, e Colômbia, nas quartas, antes de perder o craque Neymar por lesão e levar um humilhante 7 a 1 da Alemanha na semifinal, no Mineirão.

Depois, em Brasília, ainda levou mais 3 a 0 da Holanda e não terminou nem em 3º lugar.

• Mundial Sub-20 Feminino de 2014

Com uma equipe formada por jovens destaques dos melhores times femininos do país (Centro Olímpico-SP, São José-SP, Kindermann-SC, Foz Cataratas-PR e Ferroviária-SP), esperava-se muito da seleção feminina neste Mundial de 2014.

Porém, assim como em 2012, a participação verde e amarela foi uma enorme decepção: empate com a China na estreia, derrota por 1 a 0 para os Estados Unidos no segundo jogo e um humilhante 5 a 1 para a Alemanha na despedida.

A seleção somou apenas 1 ponto e se despediu do torneio na lanterna do grupo B.

• Copa do Mundo Feminina de 2015

Com um elenco capitaneado pelas eternas Marta, Cristiane e Formina, o Brasil chegou como um dos favoritos ao inédito título mundial. E a primeira fase comprovou isso: três vitórias em três jogos (sobre Coreia do Sul, Costa Rica e Espanha) e classificação mais do que tranquila para os mata-matas.

Nas oitavas de final, contudo, o time comandado por Vadão parou na retranca da Austrália e, para piorar o castigo, levou um gol a 10 minutos do fim, sendo eliminado de maneira decepcionante.

No fim das contas, os Estados Unidos foram campeões goleando o Japão na final.

• Mundial Sub-20 de 2015

Com uma equipe formada por vários atletas que estão em evidência atualmente, como Gabriel Jesus (Manchester City), Boschilia (Monaco), Jorge (Monaco), Malcom (Bordeaux), Andreas Pereira (Valencia), Marcos Guilherme (São Paulo) e Caju (Santos), o time de Rogério Micale era "favoritaço" ao título.

Na primeira fase, o time passeou, batendo Nigéria, Hungria e Coreia do Norte. Já nos mata-matas, tirou Uruguai e Portugal nos pênaltis, após dois empates por 0 a 0, e embalou de vez ao golear Senegal por 5 a 0 na semifinal. Nada parecia que tiraria o título canarinho na Nova Zelândia.

Na grande decisão, porém, o Brasil foi surpreendido pela Sérvia, que havia chegado à final aos trancos e barrancos, e perdeu por 2 a 1, com um gol do meia Nemanja Maksimovic, hoje no Valencia, a dois minutos do fim da prorrogação. Um golpe duro na geração de Gabriel Jesus e cia.

• Mundial Sub-17 de 2015

O elenco do técnico Carlos Amadeu tinha como destaques os zagueiros Léo Santos, do Corinthians, e Militão, do São Paulo, o meia Lincoln, do Grêmio, e os atacantes Leandrinho, da Ponte Preta, Matheuzinho, do América-MG, Luís Henrique, do Botafogo, e Evander, do Vasco.

O time fez uma primeira fase razoável, ganhando de Inglaterra e Guiné, mas perdendo da Coreia do Sul. Por isso, classificou-se no 2º lugar do grupo para os mata-matas.

Nas oitavas de final, a seleção passou no sufoco pela Nova Zelândia, ganhando por 1 a 0. Nas quartas, porém, foi atropelada por 3 a 0 pela Nigéria e eliminada no torneio sem jamais justificar a expectativa com que chegou ao Chile - os nigerianos, aliás, terminariam como campeões, vencendo Mali na decisão.

• Mundial Sub-20 Feminino de 2016

Outra vez o Brasil tinha uma grande equipe, formada por destaques dos melhores clubes femininos do Brasil, como Centro Olímpico-SP, Rio Preto-SP, Foz Cataratas-PR e Ferroviária-SP, além de Corinthians e Flamengo, e chegou como um dos favoritos ao título.

Na primeira fase, porém, esse favoritismo não foi mostrado, com a seleção se classificando aos trancos e barrancos, em 2º lugar, após uma goleada sobre Papua-Nova Guiné, uma derrota para a Coreia do Norte e um suado empate com a Suécia, que acabou eliminada pelas brasileiras no saldo de gols.

Nas quartas, porém, o Japão venceu fácil por 3 a 1 e mandou a seleção mais cedo para casa.

• Mundial Sub-17 Feminino de 2016

 Com um elenco mesclado de vários times fortes do futebol feminino brasileiro, a seleção decepcionou mais uma vez no Mundial sub-17 da categoria.

O Brasil até começou bem, ganhando da Nigéria, mas depois perdeu para a Coreia do Norte e ficou na corda-bamba, dependendo ao menos de um empate contra a Inglaterra, na última rodada, para não ser eliminado ainda na fase de grupos.

A partida contra as britânicas até começou bem, com as brasileiras abrindo o placar, mas o English Team conseguiu a virada e se classificou, eliminando o time canarinho.

• Mundial Sub-17 de 2017

O bom time brasileiro tinha em sua espinha dorsal o zagueiro Vitão e o meia Alanzinho, do Palmeiras, e os atacantes Lincoln (Grêmio), Brenner (São Paulo) e Paulinho (Vasco) - Vinícius Jr, do Flamengo, acabou desconvocado por lesão alguns dias antes do início da competição, na Índia.

Na primeira fase, a equipe comandada por Carlos Amadeu foi muito bem, batendo Espanha, Coreia do Norte e Níger e se classificando com sobras para os mata-matas. Nas oitavas, passou fácil por Honduras, e, nas quartas, eliminou a Alemanha com uma grande vitória de virada.

Na semifinal, porém, o Brasil não foi páreo para a Inglaterra, que venceu com autoridade por 3 a 1, com três gols do jovem Rhian Brewster, do Liverpool, e acabou com o sonho brasileiro. Agora, a seleção irá jogar a disputa de 3º lugar contra Mali, enquanto os ingleses jogarão a final contra a Espanha.