Um é fã de golfe e fala espanhol, o outro joga até 'quebrado': conheça os gêmeos que confundem até companheiros na Bundesliga

André Donke e Vladimir Bianchini, do ESPN.com.br

Semelhanças de Lars (à dir.) e Sven Bender vai muito além do fato de serem gêmeos idênticos
Semelhanças de Lars (à dir.) e Sven Bender vai muito além do fato de serem gêmeos idênticos Getty

“Umas duas vezes no treino eu pedi para o Lars tocar a bola, mas era o Sven. Ainda vai demorar um pouco para eu diferenciar os dois, mas está difícil (...) O Leno tinha acabado de voltar da seleção alemã e falou: 'Já cometi umas três falhas aqui com eles (risos)'.  Não sei diferenciar o Sven ou quem é o Lars. Eu penso que toda hora é o Lars, que está conosco há mais tempo e bem entrosado com a gente.”

O lateral esquerdo Wendell e o goleiro Bernd Leno estão longe de serem os únicos a confundirem os irmãos Bender, vice-campeões olímpicos em 2016, campeões europeus sub-19 em 2008 pela seleção alemã e com passagem pela seleção principal.


“Além do rosto ser igual, eles correm do mesmo jeito e até falam de forma parecida. Só faltava colocar Bender nas costas dos dois. Daí ferrou (risos).”

Tal erro é algo que será mais frequente no futebol alemão a partir de agora, já que Sven Bender foi contratado nesta janela pelo Bayer Leverkusen, junto ao Borussia Dortmund por 12,5 milhões de euros, e agora irá atuar ao lado irmão 12 minutos mais velho.

Em oito anos no clube aurinegro, Sven consolidou-se como um dos principais volantes do país, tendo sido peça importante na conquista de dois títulos da Bundesliga, dois da Copa da Alemanha e um vice da Uefa Champions League.

Mais do que o aspecto técnico, o atleta, que se sobressai pelas qualidades defensivas, ganhou destaque sobretudo pela raça. Um jogador que dá sangue pelo time. Literalmente. Não foram poucas as vezes que ele manchou de vermelho sua camisa em partidas. Culpa, em boa parte, do seu estilo.

Apelidado de ‘Manni’, em referência ao ex-meio-campista Manni Bender, ele viu a alcunha ser adaptada para ‘Iron Manni’, quase iron man (homem de ferro, em inglês), por razões óbvias.

Um dos causos mais inusitados de sua valentia veio em uma partida contra o Napoli, pela Champions League, em 2013. Com o nariz sangrando, ele se recusou a sair.

“Foi importante que ele ficou em campo por conta de sua performance. Foi um grande jogo dele, e tivemos de trocar sua camisa ensanguentada diversas vezes. A última nós pegamos da loja do clube”, contou à época Jürgen Klopp, então técnico do Dortmund. 

Pelo Dortmund, Sven Bender jogou com o nariz sangrando contra o Napoli
Pelo Dortmund, Sven Bender jogou com o nariz sangrando contra o Napoli Getty

Aliás, logo em seu começo no Leverkusen, o zagueiro/volante quebrou o nariz - pela quarta vez na carreira - na derrota para o Sandhausen por 3 a 2, em amistoso realizado em julho. O lance ocorreu logo com dez minutos, e ele seguiu em campo até o fim. 

Tal característica também é uma marca de Lars Bender, embora ainda que não seja tão marcante quanto o seu irmão.

“É o nosso capitão, um cara que é guerreiro mesmo. Se tiver com uma perna, ele vai para o jogo. Já jogou com rosto fraturado e deu conta do recado. É uma das nossas referências e nos dá tranquilidade. Espero que ele esteja muito bem nessa temporada, porque sofreu muito com as lesões”, afirmou Wendell.

Como o brasileiro deixou claro, as lesões são uma constante na carreira de Lars, que, por conta de uma série de diferentes problemas, atuou em apenas 20 de 68 jogos nas últimas duas edições da Bundesliga.

Lars Bender sofreu com muitas lesões
Lars Bender sofreu com muitas lesões Getty
Sem conseguir atuar, ele talvez tenha aproveitado para fazer uma de suas paixões.

“Ele é fã de golfe, quase não vê futebol (risos). Ele fica vendo em casa e eu brinco com ele: 'No golfe você dá uma tacada e só vai dar outra daqui 15 minutos, pô! (risos)'. Ele diz: 'Wendel, é bom para relaxar a cabeça'.  Se me chamar para jogar golfe é perda de  tempo, porque eu não vou. Eu nunca joguei golfe com ele, porque acho muito chato”, declarou o lateral esquerdo brasileiro.

Lars Bender, aliás, ainda tem outra peculiaridade que vai além dos esportes e que Wendell apresentou.

“Logo que eu cheguei ao Bayer ele estava estudando espanhol, e o treinador queria falar comigo, mas não tínhamos tradutor aquela hora. Daí eu falei com ele: ‘Lars, você estuda espanhol, tem como ser meu tradutor aqui? Ele falou: ‘Eu não vou conseguir, Wendel’. Então, o treinador saiu de perto e ele falou um espanhol bem enrolado. Mas me traduziu um pouco (risos)”.

“Eu perguntei então: 'Por que estuda espanhol?' Ele disse: ‘Quando eu saio de férias quase sempre vou à Espanha e não quero falar em alemão’. Então eu fui ajudando ele com o espanhol e ele me ajudou com o alemão em algumas palavras. Sempre que ele quer falar espanhol ele vem falar comigo.”

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  •  A trajetória dos gêmeos

Nascidos em Rosenheim em 27 de abril de 1989, cidade localizada na Bavária, os dois começariam sua trajetória no futebol quatro anos mais tarde no mesmo clube: o TSV Brannenburg, equipe de um distrito de Rosenheim.

A saída seria em 1999 para o SpVgg Unterhaching, clube no qual ficariam - juntos, é claro - até 2002. Já com 13 anos e vendo que teriam um futuro brilhante pela frente, a dupla foi para o 1860 Munique.


Logo, a parceria se daria também na seleção alemã. Em 2006, os dois estiveram na equipe que ficou no quarto lugar no Europeu sub-17. Aquele ano ainda traria uma grande alegria para ambos, que tinham sido promovidos ao elenco principal do seu clube.

Em 27 de novembro, Lars Bender estreou profissionalmente pelo Munique 1860. A vez de Sven viria em 18 de dezembro. Uma distância quase tão curta quanto os minutos que separaram os meio-campistas durante o nascimento.

Conquistando espaço aos poucos e unidos, os Bender só aumentavam o sucesso e conseguiram até o que parecia impossível: o mesmo prêmio individual no mesmo ano. Peças importantes na Alemanha que ficou com o título do Europeu sub-19 de 2008, os volantes foram eleitos como melhores jogadores da competição, algo inédito e único na história da competição.

"Não somos julgados de forma individual - ninguém fala sobre Lars Bender ou Sven Bender, as pessoas apenas falam sobre 'os Benders', tal atenção também tem um elemento positivo. No sentido de que isto nos faz mais fortes, porque aprendemos que nós podemos ajudar o outro a melhorar e crescer no jogo", disse Sven, em entrevista ao site da Uefa publicada no primeiro dia de 2009.

"Nós sempre estivemos no mesmo time. Nunca houve uma situação de jogar por diferentes times, embora você não possa prever o que irá acontecer no futuro", afirmou Lars - na mesma entrevista -, um semestre antes de o futuro indicar que eles seriam separados.

Porém, até nesta situação caberia uma semelhança. Se chegaram juntos ao Munique 1860, eles também sairiam juntos, aos 20 anos. Para a temporada 2009-10, Lars Bender se transferiu ao Bayer Leverkusen por 2,5 milhões de euros, um milhão a mais do que a quantia pela qual seu irmão acertou com o Borussia Dortmund.

Desde então, ambos se estabeleceram como titulares de suas equipes e, em comum, compartilharam períodos de ausência por conta de lesões. Os dois até perderam, juntos, a Copa do Mundo por contusões.

Sven sofreu uma inflamação no osso do púbis, que o deixou longe dos gramados de 22 de fevereiro ao fim da temporada. Ele até voltou antes do Mundial, mas, por causa da falta de ritmo e por não estar nas melhores condições, foi deixado de fora da lista do técnico Joachim Löw. Lars, por sua vez, sofreu um problema muscular na coxa direita em maio.

Mas é justamente na seleção alemã que, em meio a tantas semelhanças, há uma diferença. Isso porque, o irmão 12 minutos mais velho é mais experiente, tendo participado do elenco semifinalista na Eurocopa de 2012, enquanto o mais novo não jogou o torneio.

Por outro lado, Sven alcançou maiores feitos com clubes, tendo em vista sua passagem pelo Borussia Dortmund.

Agora, coube ao destino coloca-los juntos novamente no mesmo time, oito anos depois da separação – pelo menos em campo.

“Eles estão muito felizes de estarem atuando juntos. Só andam juntos no clube. Os caras têm uma personalidade muito legal.  Espero que eles nos ajudem muito nessa temporada”, disse Wendell.

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