“Então defenda os Estaduais. Mas e a NBA? Você é fã da FIFA?” Por que não faz sentido contestar assim quem combate a Superliga
Não foi um fenômeno imediato ao lançamento da prepotente e descabida Superliga – os porquês dos adjetivos já foram bastante debatidos –, mas é curioso como, pelo menos no Brasil, não tardou muito para que surgissem inúmeras contestações aos que se posicionaram de maneira contundente e até óbvia contra o elitismo dos 12 clubes inicialmente envolvidos no torneio.
Quatro perguntas bastam para resumir os argumentos dessas contestações: “Se são a favor dos pequenos, então por que vocês não defendem os campeonatos estaduais em vez de criticá-los? Por que não olhar para o exemplo de sucesso das ligas dos EUA, como NBA e NFL? Ah, então vocês são a favor do monopólio de FIFA e UEFA? É tão difícil perceber que o dinheiro já domina o futebol?”.
As duas últimas perguntas de certa forma se misturam e talvez sejam as de resposta mais simples. Afinal, entre os tantos críticos da Superliga, pouca gente contesta que poder e faturamento da UEFA e FIFA são excessivos e que os clubes deveriam apitar e ganhar mais. Assim como ninguém discute o enorme poder do dinheiro no modelo de futebol que hoje impera no planeta.
Presidente da polêmica Superliga, Florentino Pérez diz: 'Queremos salvar o futebol'
Reconhecer as questões acima, porém, não deveria servir para validar o que o clubinho de privilegiados queria (ou quer) fazer, levando a relevância do faturamento a patamares nunca antes vistos, muito piores que os atuais, e excluindo completamente os critérios técnicos e esportivos que são a essência do futebol. Neste caso, quem posa de resignado em relação à força da grana no futebol parece na verdade desejar que essa força seja ainda maior.
O aspecto dos critérios técnicos e esportivos citados acima é também o melhor argumento para desfazer qualquer relação lógica sobre ser contra a Superliga e ter que defender os campeonatos estaduais como eles são hoje. Não é que se peça sua extinção, mas do jeito que funcionam os Estaduais servem bem mais aos dirigentes das federações de Estados do que aos clubes pequenos.
Ver times de Série A obrigados dedicar quase um terço dos meses de seu calendário com jogos para enfrentar times das Séries C ou D também não faz sentido, embora seja o extremo oposto da Superliga. Ou aqueles que são contrários à Superliga por acaso defendem que o Real Madrid jogue anualmente contra o Atletico Pulpileño ou o Deportivo Minera, times da terceira divisão espanhola? Esses times até têm a chance de enfrentar o Real, mas se isso ocorrer terá sido por méritos esportivos.
Por fim, resta o argumento “olha como a NBA é legal com sua liga de clubes". Primeiro, ser contra a Superliga como foi proposta não significa ser contrário a uma liga de clubes menos elitista e com critérios esportivos. Segundo, há evidentes e necessárias ressalvas (leia mais no blog do Ubiratan Leal) que precisam ser feitas sempre que se compara o global futebol com outras modalidades e, mais ainda, a autossuficiência esportiva (para o bem e para o mal) dos norte-americanos na relação com o resto do mundo.
O mais curioso na manifestação daqueles que rebatem as duras e justas críticas feitas à Superliga é que apenas em raríssimos casos eles admitem ser defensores do torneio. Assim, contestam quem combate um campeonato bizarro com o simples argumento de que já existem coisas erradas no futebol como ele é hoje.
Mas não é por que as coisas estão ruins que precisamos aceitar algo pior.
Siga @gianoddi
No instagram @gianoddi
No Facebook /gianoddi
“Então defenda os Estaduais. Mas e a NBA? Você é fã da FIFA?” Por que não faz sentido contestar assim quem combate a Superliga
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.