O que se espera de Mourinho?
José Mourinho é um técnico vencedor. A lista de títulos que ele ostenta no currículo ou que enumera mostrando os dedos para provocar a torcida adversária sempre foi aquilo que levou seus clubes a contratá-lo.
É preciso admitir que esse mesmo adjetivo, “vencedor”, não é o que melhor define a Roma. Seus três suados scudetti não seriam suficientes para manter a fidelidade e paixão daquele tipo de torcedor que precisa arrotar taças, conquistas e placares quando quer encerrar uma discussão sobre futebol.
A conclusão lógica, quase matemática, é, portanto, a de que a euforia causada na capital italiana pela contratação de José Mourinho tem a ver só com isso, tem a ver com o “chegou o cara que vai encher nossa sala de troféus”. Mas não é isso, não é nada disso.
E não é nada disso não só porque a experiência de Mourinho no Tottenham, em vários aspectos um equivalente da Roma no futebol inglês, foi uma passagem pouco frutífera e animadora.
A meta de qualquer clube importante, nenhum dirigente seria louco de dizer o contrário, é conquistar títulos – nem que seja a médio ou longo prazo. Mourinho negar essa ambição ao chegar na Roma renegaria sua história; a nova gestão que o escolheu negar isso seria burrice.
Do ponto de vista técnico e racional, porém, o José Mourinho de 2021 não parece ser melhor escolha que o italiano Maurizio Sarri, até ontem o mais cotado para assumir a Roma. Mesmo assim, o otimismo, a alegria e a euforia deram o tom predominante às margens do Tibre nessa última terça-feira. Por que?
Talvez porque, ao contratar Mourinho, em questão de minutos a Roma tenha conquistado um protagonismo com o qual não está acostumada. Talvez porque a chegada de um técnico renomado como o português denota ambição esportiva como não se via desde os tempos de Fabio Capello. Mas, acima de tudo, porque José Mourinho é como é.
Você pode não gostar de Mourinho, da sua marra, do seu jogo, do seu ônibus. Mas qualquer tentativa de negar seu carisma e a grandeza do personagem será em vão. É fácil odiar José Mourinho na mesma medida em que é fácil amá-lo. E a torcida da Roma só quer amar, só quer amar, só quer amar.
Foi assim não apenas com Francesco Totti, como era óbvio ser. Foi assim com Daniele De Rossi, cujos 18 anos vestindo a camisa do clube não lhe renderam mais que duas Copa da Itália. E foi assim, evidentemente em outra medida, com nomes que foram de Taddei a Naingollan. Em Roma, na Roma, amor com amor se paga, e a chegada de um técnico tão fácil de se gostar tem boa parte na aceitação que se viu nessa terça.
“A inacreditável paixão dos torcedores da Roma me convenceu a aceitar esse desafio” foi a primeira frase de José Mourinho como técnico do time. Pode ser um sentimento verdadeiro, pode ser demagogia. Mas o simples fato de não chegar prometendo títulos em sua primeira fala demonstra alguma compreensão do que dele se espera, do que dele se quer.
Entre jogos posicionais, pressões nos portadores, externos desequilibrantes e campos cheios de terços, Mourinho pode parecer obsoleto, não é sombra do que foi. Se seguir olhando para trás enquanto anda pra frente, seu sucesso talvez dependa mais da alquimia, dos astros ou da lua em Saturno. Mas e daí?
A escolha de um personagem, e não do melhor treinador, talvez soe insensata em quase todo clube do mundo. Mas não na Roma. Essa é, certamente, uma visão otimista e com certa carga emocional. Mas o futebol também é feito disso, o futebol depende disso.
Em toda sua carreira, para Mourinho, os meios pouco importaram, porque sempre justificaram seus fins: ser campeão. Na Roma ele talvez nem precise disso para ser amado. Mas se a lua estiver em Saturno...
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