Itália e Espanha contra a síndrome dos malvadões viris
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Apesar da rivalidade esportiva, há quem atribua o que ocorreu na semifinal em Wembley durante o jogo entre Itália e Espanha às boas relações e muitas semelhanças entre os dois países. Há quem ache que a amizade entre seus integrantes, explicitada pelo “agora vou torcer pela Itália” do técnico espanhol Luis Enrique, foi determinante. Há quem pense que só o fato de um cara diferente como Chiellini estar em campo já deixa tudo mais leve. Certamente há também quem acredita que foi apenas um acaso, coisa rara.
Não importa o motivo. Importa o que houve, como aconteceram os 120 minutos de futebol disputados entre as seleções italiana e espanhola nesta última terça-feira. Importa perceber que as coisas podem (e devem) funcionar assim.
Itália comemora classificação
Tratamos de uma semifinal após a qual não soa demagógico dizer que as duas seleções poderiam e até mereciam ter passado. A Itália por tudo que faz na Euro e pelo que fez nos último três anos, um enorme trabalho de renovação e reinvenção capitaneado por Roberto Mancini. A Espanha por ter entendido onde e como precisava mexer para fazer com que sua ainda jovem equipe conseguisse se impor na maior parte do tempo contra um time que, até ali, havia jogado mais.
O jogo era enorme, tenso, disputado. E nem por isso qualquer uma das seleções – que neste aspecto estão longe de ser as mais exemplares da Europa – recorreu ao jogo de intimidações, ameaças ou qualquer tipo de violência para se impor em relação ao adversário. Pelo contrário, o que se viu em campo foi cordialidade, abraços e, pasmem, até bom humor e sorrisos.
Quem não aprecia lutas de qualquer tipo possivelmente vê como patéticas, um tanto cênicas e de efeito prático duvidoso aquelas famigeradas cenas de intimidação de lutadores após as pesagens nos dias anteriores aos embates. Parece justa a desconfiança. Mas ainda que também a mim (que nada entendo de lutas) essas cenas soem patéticas, é preciso admitir que esse tipo de intimidação pode fazer algum sentido em esportes nos quais o objetivo é espancar uma pessoa até que ela não consiga mais se sustentar em pé.
Um sentido que fica bem mais difícil de encontrar numa modalidade na qual o objetivo é fazer gols no adversário.
Vivemos numa era em que tudo é filmado, reproduzido, copiado. Um tempo em que ações ou reações sem sentido transformam-se em padrão sem que se reflita muito sobre o quanto aquilo faz sentido ou não. É por isso que você já deve ter cansado de ver, seja na escola dos seus filhos ou no campinho em que joga sua pelada semanal, crianças ou marmanjos transformando o futebol num embate de virilidade tão ridículo quanto grotesco.
Para quem se acostumou com isso, foi muito curioso ver o que as seleções de Itália e Espanha fizeram em Wembley. Para surpresa de muita gente, elas fizeram parecer que jogar futebol pode até ser divertido.
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