Wings For Life World Run: os primeiros 5km por uma boa causa
Carrego em meu corpo algumas lesões. Nenhuma delas impede o movimento, apesar das intensas dores que me causam. Participar de uma prova de corrida sempre foi a minha vontade, mas meu tornozelo e joelho esquerdo me lembravam insistentemente que essa vontade estava distante. Sou uma pessoa que gosta de desafios, portanto apesar dos sinais vindos do meu corpo, sabia que hora ou outra a corrida voltaria para a minha vida. E voltou!
Foi de um convite despretensioso da Red Bull Brasil que surgiu o start para corrida. Foi em novembro de 2017 que começaram os simulados para a Wings For Life World Run, corrida anual que nesse ano chegou em sua 5ª edição no Brasil. Contei a minha experiencia aqui.
Se você não conhece a Wings for life World Run, deveria conhecer! A corrida, que acontece simultaneamente em várias capitais do mundo, tem como principal objetivo arrecadar fundos para pesquisas relacionadas à lesão na medula espinal. Cem por cento do valor das inscrições é doado! E a bandeira da prova não poderia ser outra: Correndo por aqueles que AINDA não podem correr.
Saí daquele simulado de novembro decidida em participar da prova que aconteceria em maio de 2018. A preparação não seria apenas física, mas psicológica, afinal de contas, além de cuidar das minhas lesões físicas, eu precisava lembrar o tempo todo que elas não poderiam me impedir de realizar um desejo. E aí começa o planejamento! O meu personal, Ricardo Mitsuo, foi fundamental em ambos os processos. O primeiro incentivo para participar foi dele. Depois veio a Luciana, minha terapeuta e coach, que realmente me convenceram que eu tinha todas as ferramentas para dar conta da minha primeira prova de corrida.
A WFLWR é toda especial, não só pela causa que abraça, mas pelo conceito de corrida sem linha de chegada. O objetivo é fugir do Catcher Car, que depois dos primeiros 30 minutos da largada, vai se aproximando dos corredores e se torna a própria linha de chegada. Se ele te “pegar”, a sua prova termina ali.
Os meses se passaram e a preparação foi tomando forma. Os primeiros treinos de fortalecimento e corrida foram doloridos e inúmeras vezes me perguntei por que eu queria abraçar aquele desafio. Fui persistente no fortalecimento e, com paciência, as dores foram diminuindo, mas o problema era atingir a minha meta: 5km. Chegava nos 4km, mas não conseguia os 5km! Isso foi realmente frustrante! Quando eu achava que tinha atingido a meta estava ali, no quase.
Maio chegou e junto com o novo mês chegou também uma ansiedade absoluta! Será mesmo que eu iria dar conta?
05 de maio de 2018
Cheguei no Rio de Janeiro um dia antes da prova com aquele mix de apreensão e ansiedade. Afinal de contas, o que seria a WFLWR para mim? Recebi dicas preciosas do Gustavo, da Dani e da Amanda, corredores natos e experts no assunto. Mas apesar das dicas valiosas, depois da largada, a história era comigo.
No café de recepção do hotel conheci um grupo de mulheres vindas de Cuiabá. Elas participaram de todas as edições da WFLWR no Brasil, e corriam provas mundo a fora. O que levou elas até essa prova? A causa. Correr por quem AINDA não pode era o maior motivador, uma forma de agradecer o presente divino de poder praticar um esporte, se movimentar, etc. Foi um papo rápido, mas intenso. Me convenci mais ainda que precisava estar ali.
Passei o dia pensando na prova, ouvindo histórias e vendo gente que não sabia se quer o nome trocar olhares, sorrisos, dicas e um “boa prova”. A corrida deixa as pessoas mais felizes. A endorfina faz a conexão entre elas.
06 de maio de 2018
(Foi nesse dia ai que descobri o quão forte eu sou)
Acordei ansiosa, queria e não queria ir para a prova. Estava apreensiva por conta da distancia que pre-estabeleci, os 5km pareciam distantes demais. Estava animada, o clima da pre-prova contagia. No café da manhã sorrisos, abraços e desejos de "boa sorte" foram frequentes. Amigos reunidos, desconhecidos se unindo.
A largada - mundial - estava marcada para as 8h aqui no Brasil. 7:40h eu estava lá, de coração transbordando e olhos marejados. Eu pude presenciar o que todos dizem: a corrida é democrática. E ali, às 8h da manhã do dia 06 de maio de 2018 eu percebi que era mesmo. Cadeirantes, deficientes, pessoas de muletas, mães com carrinhos de bebê, senhores e senhoras de 60, 70 anos, crianças, grávidas, homens e mulheres, estavam juntos, pelo coletivo e pelo individual.
Inacreditavelmente meu joelho sequer doeu durante o percurso. Senti um desconforto no quadril e sofri com o calor, que gerou 2 pequenas pausas. Todas as vezes que eu pensei em abandonar a prova eu decidia olhar para o lado e eu só pensava “continua!”. E continuando, eu cheguei nos 5km, e uma sensação inexplicável tomou conta de mim. Corredores, agora eu sei exatamente o que vocês sentem! Pouco tem a ver com a distância, é a superação de cada um.
Fui pega pelo Catcher Car nos 5.23km e com um sorriso no rosto me despedi da prova.
Gratidão é uma ótima palavra para usar no final desse texto, mas acho que essa prova me ensinou muito mais do que gratidao. Aprendi sobre compaixão e superação. E sem olhar para o próprio umbigo, abracei o coletivo.
Obrigada Wings For Life World Run pela experiência. Obrigada pela lição de vida. Os meus 5km podem ate ser considerados um feito grandioso para mim, mas nada supera a causa nobre abraçada por vocês.
Nos vemos em 2019! Até lá.
Fonte: Juliana Manzato
Wings For Life World Run: os primeiros 5km por uma boa causa
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