Equal Pay For BJJ – Entrevista com Dominyka Obelenyte
Não pretendo me estender muito quanto as premiações iguais entre homens e mulheres, pois já escrevi sobre isso e você pode ler o post aqui. Mas, para nos localizarmos, vou dar uma introduzida no assunto:
As mulheres definitivamente recebem premiações inferiores aos homens no esporte, o que é um “fato milenar”, diga-se de passagem. Podemos levar em consideração que antes tínhamos pouquíssimas mulheres no esporte e muitos campeonatos não contavam com presença feminina. Mais tarde, elas começaram a aparecer, porém apenas lutavam entre si em uma única categoria, só muito tempo depois isso foi mudando e hoje temos as categorias subdivididas por idade, peso e faixa. Dessa forma, podemos ver que sim, tivemos uma evolução. Porém, ainda temos muito a brigar.
Pensando nisso, a faixa preta Dominyka Obelenyte criou um movimento chamado “Equal Pay for BJJ“, pois, como ela mesma disse, não adianta só reclamar e não lutar para fazer acontecer.
Dominyka é uma faixa preta de 21 anos, nascida na Lituânia e a primeira black belt de Marcelo Garcia. Com apenas 14 anos, ela conquistou seu primeiro título mundial lutando pela categoria adulto e foi aí que sua carreira começou a decolar.
Aproveitando sua visibilidade no esporte como faixa preta e Campeã Mundial, ela decidiu então criar o movimento “Equal Pay For BJJ” e é sobre ele que vamos falar hoje.
Dominyka contou que começou a planejar o movimento em abril de 2015, após um encontro no New York Pro da IBJJF, no qual falaram sobre a diferença da premiação no torneio. “As pessoas me disseram para parar de reclamar e passar a lutar por essa discrepância”, diz a atleta. A partir daí, ela passou a divulgar em suas mídias sociais essa diferença com a intenção de mostrar para outras mulheres que deveríamos lutar por isso e que, juntas, poderíamos definir alguns passos e caminhos a serem seguidos.
Pedi ajuda para lutadoras locais e lendas do jiu-jitsu e alguém me sugeriu uma causa chamada “Equal Pay For BJJ” e o movimento surgiu depois disso. Eu criei o grupo do Facebook “Support Women’s BJJ” quando comecei a expressar minha opinião publicamente sobre essa diferença do jiu-jitsu competitivo. Usei isso para tomar consciência da causa e ter ideias com um grupo de mulheres que foram favoráveis a isso.
Assim, o movimento começou a tomar forma e Dominyka colocou uma petição no ar e hoje o grupo conta com mais de 1.600 membros, entre homens e mulheres e já ganhou apoio em diversos lugares do mundo.
Perguntei se ela conta com algum patrocínio:
O movimento tem muita moral e suporte, com certeza. Algumas organizações têm me procurado constantemente para ajudar a anunciar torneios feitos por eles, quando tem intenção de oferecer pagamentos iguais entre os gêneros. Eu não tenho nenhum patrocinador concreto que tenha assumido a causa para si, mas meu patrocinador Digitsu me ajudou na criação das camisetas do Equal Pay e continua ao meu lado na causa.
E, para quem acha que o movimento calou-se, está muito enganado. Dominyka afirmou que o movimento nunca morreu e que ela continua tendo discussões com mulheres do mundo inteiro para arranjar soluções sobre o que fazer. Infelizmente ela não tem tempo para se dedicar mais, porque estuda em tempo integral, mas a mensagem continua a ser passada.
Tenho amigos que estão tentando passar a mensagem para seus contatos através de podcasts, sites ou de qualquer outra forma. Eu estudo em tempo integral na faculdade, então não tenho muito tempo para organizar eventos a favor da causa, como um torneio somente feminino, que já sugeri.
E não, ela não esperava que o projeto tomasse uma dimensão tão grande. Segundo a atleta, ela conseguiu mais pessoas do que imaginava e, com isso, inúmeras discussões foram surgindo aos poucos.
Tem muitos posts disponíveis no Reddit (uma rede social) que debatem essa questão e, apesar de eu não concordar com muitos pontos, eu fico extremamente feliz por ter uma conversa que esteja surtindo efeito sobre o pagamento igualitário.
Fora isso, Dominyka também conta que muitas mulheres vão até ela em torneios e seminários agradecendo-a pelo trabalho. “Eu coloquei uma voz consciente nesses problemas”, reflete. E ainda completa: “é uma sensação incrível ser abordada por uma pessoa completamente estranha que, de alguma forma, se beneficiou da minha causa”.
E com certeza tem muita gente se beneficiando por aí.
Outra coisa importante é que a mensagem chegue até os organizadores, já que, na maioria das vezes, a justificativa do pagamento inferior é por conta das inscrições de mulheres serem menores do que as dos homens, algo que a Dominyka acha um argumento completamente falho. Ela concorda que temos menos mulheres envolvidas no jiu-jitsu se compararmos com os homens, assim como todos os outros esportes de combate, mas de tempos pra cá, o número tem crescido significativamente.
Dito isso, elas estão se tornando mais adeptas ao esporte não só em suas academias, mas as inscrições nos campeonatos cresceram exponencialmente nos últimos dez anos e isso mostra que o jiu-jitsu feminino está indo pra frente e não está estagnado. Infelizmente, muitos torneios não fornecem o dinheiro baseado em quantas inscrições eles fazem. Isso e o fato que Nova York Pro oferece um pagamento dez vezes maior para os homens comparando com as mulheres, eu gostaria de dizer que esse argumento de inscrições é falho. Se a quantidade de competidores que entrarem estiver baseado na questão do pagamento, eu julgo então uma ação falsa, porque o valor do pagamento ser igualado encorajaria as mulheres a se inscreverem. O problema de oferecer uma bolsa pequena às mulheres é basicamente determinado pelas suas habilidades e importância na esfera competitiva e isso desencoraja qualquer um a se inscrever. Na realidade, quem vai querer bancar um voo, hotel e uma inscrição sendo que a chance de ganhar dinheiro é baixa?
Passando por grupos de jiu-jitsu feminino, muitas mulheres dizem que as outras podem se sentir intimidadas por ser pago um prêmio alto, no sentido de terem mulheres de alto nível envolvidas, mas se nunca tentarmos, nunca sairemos do lugar. Então temos mais é que nos arriscar e fazer valer toda luta de Dominyka e das outras mulheres que levam o esporte a sério.
Orgulhosamente, a faixa preta conta que depois que criou o Equal Pay For BJJ, as pessoas passaram a discutir muito mais sobre o assunto, e completa: “sem reconhecermos os motivos e diferenças, não seria bom e a maioria continua o jiu-jitsu como se nada estivesse errado. A conversa tinha que começar de algum lugar e estou feliz com minha decisão de fazer isso”.
Se já mudou alguma coisa? Podemos dizer que sim. Em janeiro do ano passado, a IBJJF aumentou o valor da premiação para os três primeiros colocados no ranking anual, tanto para homens quanto para as mulheres. O valor passou a ser US$15 mil para o primeiro colocado e US$4 mil e US$1 mil para o segundo e terceiro, respectivamente. E, pela primeira vez, o valor foi igualado entre os gêneros.
Se quiser participar do grupo do Facebook, clique aqui. Vira e mexe rolam discussões bem bacanas por lá, bem como algumas curiosidades.
Para conhecer o Instagram, clique aqui.
Não podemos nos calar e também não podemos deixar de fazer nossa parte. O Equal Pay For BJJé um movimento épico e que, com certeza, foi o responsável por fazer muita gente botar a mão na consciência em relação a pagamentos.
Ótimos treinos para todas nós e que tenhamos cada vez mais nosso esforço reconhecido.
Fonte: Mayara Munhos
Equal Pay For BJJ – Entrevista com Dominyka Obelenyte
COMENTÁRIOS
Use a Conta do Facebook para adicionar um comentário no Facebook Termos de usoe Politica de Privacidade. Seu nome no Facebook, foto e outras informações que você tornou públicas no Facebook aparecerão em seu cometário e poderão ser usadas em uma das plataformas da ESPN. Saiba Mais.