Aos patrocinadores: atletas são outdoors, mas também pagam boletos
Já falei sobre patrocínio uma vez, mas decidi falar de novo porque é sempre válido. Tenho visto algumas marcas fazendo concursos em redes sociais para patrocinar atletas. E realmente entendo o quanto isso significa para quem compete. E quero deixar claro que esse texto não é uma apologia a deixar de aceitar ofertas de apoio ou patrocínio, mas sim, de se valorizar como atleta.
Geralmente, o que chamamos de “patrocínio” na verdade são “apoios”. A diferença é básica: você recebe dinheiro da marca? Se a resposta for não, é um apoio. Se sim, é um patrocínio. Ou seja, se uma marca decide te patrocinar e te dar uma grana por mês, ela está te patrocinando. Se ela te ajuda em troca de produtos, ela está te apoiando. Nenhum dos dois é ruim. Só é importante tudo ficar bem claro para que nem o atleta e nem a marca saiam prejudicados.
Algumas coisas precisam mudar para que os apoios continuem a existir e os patrocínios passem a aparecer cada vez mais, isso faz parte da profissionalização do jiu-jitsu. O primeiro passo pode ser dado por nós, atletas. Muitos querem estampar uma marca por acharem bonita, querem colocar patches em seus kimonos de uma marca que tem um desenho legal ou de alguma empresa bacana. Nada contra, é o seu direito. Mas por outro lado, é como fazer uma propaganda de graça e a empresa, tendo quem faça isso por ela sem que ela precise tirar dinheiro do bolso, não precisa então apoiar ninguém. Então é importante que os atletas parem de usar “peso no kimono” só por acharem bonitinho ou por se sentir com mais cara de competidor tendo várias coisas costuradas. Isso atrapalha e muito na hora de conseguir um patrocínio. E não tem problema se você não precisa de um, mas tem muita gente que depende disso para continuar competindo e fazendo seu trabalho.
Já em relação as marcas, elas precisam lembrar que os atletas têm contas a pagar. Em 2015, o faixa preta Thiago Gaia, da Barbosa Jiu-Jitsu, subiu no pódio após ser campeão do Brasileiro Sem Kimono da CBJJ com um papel escrito “#Fighters Don’t Eat Medals” (Lutadores Não Comem Medalhas). A hashtag viralizou e outros atletas ao redor do mundo decidiram compartilhar dela. O protesto foi inicialmente contra as Federações e Confederações de jiu-jitsu, que cobram valores absurdos de inscrição e raras as vezes, pagam as premiações em dinheiro. O atleta gasta com transporte, alimentação, hospedagem, inscrição e sai do ginásio com uma medalha – ou não. Mas a frase serve também para as marcas que pretendem patrocinar atletas.
É claro que no começo da carreira é sempre difícil. Um faixa branca raramente vai conseguir um patrocínio, bem como um faixa azul ou roxa. As coisas começam a acontecer na marrom e se desenvolvem na preta – desde que você dê visibilidade. Hoje em dia, a visibilidade não é apenas em pódio. Alguns atletas fazem papel de modelo para se esforçar e divulgar a marca, tirando fotos, se expondo e sendo influencers. Mas tudo isso é marketing e é aceitável. Hoje, temos uma variedade muito maior em relação a formas de divulgação, porém ainda nem tão bem trabalhadas. As redes sociais estão aí para provar isso: você patrocina um atleta, ele publica sobre sua marca semanalmente, fala bem dos seus produtos, agradece você imensamente, cria hashtags usando seu nome e pronto, por um custo muito baixo sua marca está circulando por aí. E por isso, nem sempre estar no pódio é suficiente ou o único requisito para um atleta atrair um patrocinador.
Algo que percebo também é que as marcas que patrocinam os atletas vivem no mesmo meio e entendem o quanto cada atleta precisa ralar para bancar tudo. Ou seja, muitos atletas têm vontade de viver de jiu-jitsu, mas precisam ter um outro trabalho para conseguirem se desenvolver na vida fora dos tatames (e dentro também). Os atletas dependem de pagamentos como cada um – inclusive os donos das marcas – dependem do seu dinheiro na conta no final do mês.
É normal que você receba um apoio no início da carreira. Você ganha algumas roupas, kimonos, suplementos..., mas é imprescindível que isso não dure para sempre. Você precisa de uma ajuda para pagar seus campeonatos e pode começar dessa forma, de repente vai precisar de fato do dinheiro para pagar o seu aluguel, por exemplo. Se você quer dedicar sua vida 100% ao jiu-jitsu, você vai precisar de um patrocínio efetivo, porque é ele quem vai pagar seu salário. Você pode vencer um campeonato e de repente, ganhar algum dinheiro, já que hoje em dia temos campeonatos fora de federações que oferecem boas premiações, mas eles não acontecem todo final de semana e nem sempre são suficientes para nos sustentar o mês todo.
Onde quero chegar com tudo isso é que os atletas deveriam ser menos usados e mais valorizados. Diariamente, cada um se esforça como pode para chegar a algum lugar, para conseguir alguns seguidores nas redes sociais e “valorizar o passe”, para subir no pódio naquele campeonato importante para que olhem para ele. Mas não é justo prostituir os atletas por saberem o quanto eles precisam daquilo.
Muito se questiona sobre a profissionalização do jiu-jitsu, mas ela depende de cada um. Desde atletas a não aceitar qualquer coisa, até os patrocinadores não oferecerem “migalhas” em troca de um grande esforço pelo lado de quem está recebendo, porque acredite, qualquer apoio faz diferença, mas não é qualquer apoio que vai fazer nenhum atleta chegar longe.
O atleta cresce com a marca e a marca cresce com o atleta. O patrocínio/apoio deve ser uma via de mão dupla. Procurem atletas que te interessem, que combinem com o estilo da marca. Façam acordos formais através de contratos e valorizem. Divulgar marcas em redes sociais, outdoors, jornais ou seja lá qual meio de publicidade for, custa muito caro. O atleta, geralmente tem um custo bem abaixo do que os grandes veículos de comunicação. Então é importante não abaixar cada vez mais o seu valor, porque só assim ele vai conseguir chegar ainda mais longe e, claro, levar junto a sua marca.
Fonte: Mayara Munhos
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