Aos 15 anos, uma super-heroína usou o jiu-jitsu para se livrar de assassinos no massacre de Suzano
13 de março de 2019. Depois de uma semana já conturbada, após uma grande enchente que acabou com casas e vidas na Capital de São Paulo e do ABC Paulista, tudo estava parecendo clarear. Mas nessa manhã, porém, noticiários começaram a falar sobre um tiroteio dentro de uma escola em Suzano. É um fato: esse ano não está para brincadeira.
Dois atiradores, identificados como Guilherme Taucci Monteiro de 17 anos e Luiz Henrique de Castro, de 26, entraram na Escola Estadual Raul Brasil e atiraram a esmo. Um deles, o mais jovem, ficou conhecido por ter entrado com um machadinho. Foi contra ele que uma garota de 15 anos lutou.
Rhyllary Barbosa é estudante do 1º ano do ensino médio. Faixa branca de jiu-jitsu, ela se defendeu do “assassino da machadinha” e conseguiu se livrar da morte.
09h30 da manhã, Rhyllary saiu para o intervalo com uma amiga e comprou um lanche. “Eu estava terminando de comer e escutei um tiro. Quando olhei para trás, o Guilherme estava com a arma em punho apontando para quem ainda estava ali dentro”, me contou pelo telefone. Ela disse que, quando perceberam, todos ficaram desesperados e começaram a correr.
“Eu ajudei umas amigas a pular o murinho, que é da altura da minha cintura e dá para o refeitório. Em seguida, pulei também e me abaixei, encostada na parede, no canto da mesa. Foi na hora que vi eles [assassinos] descendo”. Ao tentar fugir, ela não imaginava que Luiz estaria na porta da diretoria. No momento, ela começou a tentar encorajar pessoas: “Eu levantei e comecei a falar ‘coragem, gente, vamos sair, levanta, vamos embora’; e estava todo mundo em choque, com medo e continuaram abaixados”.
Em seguida, ela se levantou, sozinha. Foi quando correu até a diretoria. Quem assistiu ao vídeo que circulou na mídia, vai entender melhor e, quem não assistiu, não assista! Rhyllary descreve: “Foi na hora que trombei com o Luiz. Eu não identifiquei o machado que estava do lado dele, mas nos trombamos e ele me puxou”. Luiz tentou dar uma queda nela que, fazendo uma base e firmando os pés no chão, conseguiu se manter em pé.
“Tentei chacoalhar ele para me soltar. Nesse momento, os outros alunos vieram atrás e assim quem ele viu, me soltou e foi procurar o machado dele para impedir que os alunos saíssem. Foi o momento que aproveitei para abrir a porta”. Foi quando ela conseguiu fugir junto com algumas outras pessoas.
Depois disso, ela correu com um amigo, que tentou acalmá-la, para uma rua um pouco mais afastada. “Eu estava desesperada, chorando muito e falando para ele [o amigo] que a gente precisava voltar para resgatar outros alunos, mas ele falou que era melhor ficarmos por lá”.
Rhyllary contou que chegou a ver José Vitor Ramos Lemos, de 18 anos, ferido com o machado no ombro, mas se tranquilizou depois que a namorada dele falou que ele já tinha sido atendido no hospital.
A jovem heroína treina jiu-jitsu há 3 anos, no Projeto Social Bonsai - Construindo o Futuro, com o professor Ângelo de Oliveira. O projeto teve início em Suzano, em 2014. Um dos alunos do projeto também perdeu a vida, aos 15 anos. Clayton Antônio Ribeiro era conhecido como “Samurai”. Apesar de todo o momento ter afirmado que sentiu medo e ter contado que, ao ouvir os tiros, sentiu sua espinha gelar, ela ainda teve coragem de lutar contra um dos assassinos com parcimônia.
“Eu acredito que o jiu-jitsu ajudou muito. Se tivesse outra pessoa despreparada no momento em que o Luiz puxou o cabelo, ela podia estar muito vulnerável, perder a estabilidade do corpo e cair com a rasteira que ele deu. Se eu caísse naquele momento, ele ia me matar. Era o plano dele. Talvez eu poderia não ter saído. Então dei graças a Deus que fui eu nessa hora, porque por ter conhecimento do jiu-jitsu, me ajudou muito”.
Apesar de ter dado uma pausa de 2 meses do treino por conta dos estudos, Rhyllary começou a treinar no projeto por incentivo da prima. Ela fez uma aula experimental e se apaixonou, mas o que a motivou foi uma outra história violenta, durante um culto. “Era comemoração de Dia das Mães e a igreja estava enfeitada. Um homem chegou com uma faca falando que ia matar todo mundo porque igreja não era lugar de estar decorado. Ele ameaçou o pastor”. No momento, ela ainda não treinava e não teve outra reação a não ser se esconder. Ninguém saiu ferido.
Isso serviu como um sinal de alerta para Rhyllary: “Foi quando percebi que precisava de alguma forma me proteger do mundo. Esse foi um dos motivos que comecei a treinar jiu-jitsu, pela defesa pessoal. Foi como um alerta de que, a todo momento, não importa o lugar ou a hora, temos que estar preparados para o pior. Não só o corpo, mas a mente também”.
Mais uma história que prova o quanto a defesa pessoal é importante e necessária. Dessa vez, não foi um estupro, não foi um abuso, mas um grande massacre. E Rhyllary, conscientemente, teve o estalo de se defender. Se foi a melhor escolha? Não temos como saber. Mas foi o que salvou a vida de uma jovem, de 15 anos, que ainda tem muitos sonhos a serem realizados.
Rhyllary contou ter perdido alguns amigos próximos e acredita que será muito difícil voltar ao local do crime. “Será muito difícil para todo mundo superar. Acho que esquecer ninguém vai, mas superar vai ser um grande progresso”, finalizou a jovem.
Aos jovens, pais e familiares que de alguma forma presenciaram ou tiveram vidas próximas perdidas: meus sentimentos. O mundo está mesmo muito louco e muitas coisas acontecem sem propósitos ou explicações. Que tenhamos forças de superar todas as coisas ruins que passaram e que, a cada dia, coisas melhores estejam por vir.
Certamente, alguns danos psicológicos serão difíceis de superar. As dores, aos poucos serão minimizadas. Mas Rhyllary conquistou algo muito maior do que uma medalha de ouro no campeonato. Mais uma vez, o jiu-jitsu se mostrou eficiente. E ela, a mais nova heroína teve a coragem e a mente sã de se salvar e salvar também a vida de outras pessoas.
Aos 15 anos, uma super-heroína usou o jiu-jitsu para se livrar de assassinos no massacre de Suzano
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