Sobre sinalizadores, torcidas, penas e desobediência civil
É louvável a defesa de bandeiras, instrumentos, sinalizadores (os inofensivos, não os marítimos) por parte de torcedores nas redes sociais. É positivo que haja certa dose de inconformismo com as inúmeras proibições que, indiscutivelmente, têm empobrecido os espetáculos nas arquibancadas dos estádios paulistas há vários anos.
Não me parece tão louvável e nem lógico, contudo, a defesa dos grupos organizados que, jogo após jogo, interrompem as partidas disputadas na Arena Corinthians acarretando não apenas o prejuízo técnico para os jogos em questão, como outras consequências negativas para o clube - já passa de 100 mil reais o valor pago pelo Corinthians em multas pela ação deste grupo de torcedores.
A tese de "desobediência civil", que talvez se faça tão necessária no Brasil atual, não convence como forma de protesto neste caso específico.
Não convence, em primeiro lugar, porque estes mesmos grupos não têm buscado outras formas eficientes (e por que não criativas) de propostas e protestos que sejam menos nocivas ao time antes de optar pela desobediência às regras dentro dos estádios. Nem mesmo os patéticos (e inócuos) comunicados tantas vezes divulgados à imprensa quando se trata de defender criminosos flagrados por câmeras foram vistos.
Em segundo lugar, porque parece fácil apelar para tal forma de protesto (aliás, será mesmo um protesto consciente?) quando as punições não são dirigidas àqueles que infringem as regras, mas sim ao clube - o velho problema que permeia os temas de justiça desportiva no Brasil. A lógica que impera na turma dos sinalizadores é: eu me revolto, eu me divirto (ou, vá lá, "protesto"), e o Corinthians paga a conta, desportiva ou pecuniariamente.
Por fim, e não menos importante, é importante destacar que aqueles que "protestam" acendendo insistentemente seus sinalizadores não parecem, pelas próprias reações de outros torcedores vistos na Arena Corinthians, ser porta-vozes da torcida corintiana. Não são poucos, compreensivelmente, os corintianos incomodados com a ação e, sobretudo, com suas consequências.
Resta ao menos o mérito, intencional ou não, mas este inegável, de fazer com que o tema seja debatido de forma mais corriqueira e intensa que o habitual (que é o que fazemos aqui, aliás).
Que as cores, o barulho e até a fumaça voltem aos estádios paulistas. Mas o melhor caminho para chegar lá não parece ser este. Pelo menos por enquanto.
Fonte: Gian Oddi
Sobre sinalizadores, torcidas, penas e desobediência civil
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