O goleiro prodígio, o empresário egocêntrico e um retrato do futebol
Gianluigi Donnaruma, o prodígio goleiro que estreou aos 16 anos como titular do Milan, estampa nesta sexta-feira as capas dos dois principais diários de Madri como possível novo goleiro do Real Madrid.
Hoje com 18 anos de idade e já convocado para a seleção principal da Itália, há dois anos Gigi Donnarumma é considerado o (adivinhem?) "novo Buffon".
Só que o novo Buffon, ao contrário do "velho" que chegou a jogar a Série B com a camisa da Juventus, não deu grande prova de fidelidade ao seu clube nesta quinta-feira. Em uma reunião que durou menos de 30 minutos, seu empresário, Mino Raiola, comunicou à direção do Milan: "o contrato não será renovado".
Donnarumma, que já fez 72 jogos com a camisa milanista apesar da pouca idade, tem contrato válido com o clube até o dia 30 de junho de 2018.
Era ele, até ontem, a grande paixão dos torcedores do Milan - crianças e adultos. Era ele que os dirigentes do novo e abastado Milan "chinês" classificavam como "pilar e bandeira" de uma nova etapa. Era ele que, graças à pouca idade e ao fato de ser goleiro, podia mirar até mesmo, quem sabe daqui a uns 20 anos, a marca de maior número de atuações com a camisa de um dos maiores clubes do mundo.
Mas tudo isso não bastou.
Assim como não bastou a oferta próxima dos 5 milhões de euros por ano, o que o colocaria entre os jogadores mais bem pagos do país.
Cobrar deste garoto de 18 anos a consciência e a capacidade de colocar tudo em perspectiva e analisar uma série de aspectos com os quais ele ainda mal conviveu e nem sequer conhece talvez seja uma exigência injusta.
É aí que entra a figura de Mino Raiola.
Para descrevê-lo em poucas linhas, Raiola é o agente que em julho do ano passado foi capa do jornal Corriere dello Sport por "ganhar mais que Messi". É o mesmo agente de Ibrahimovic, Pogba e Balotelli, todos ótimos jogadores que caminham para carreiras (vitoriosas ou não) sem grandes vínculos afetivos com clubes ou torcidas.
Explicar a decisão de Raiola não é missão das mais simples não só porque a oferta financeira do Milan era generosa. Mas também porque, por melhor que Donnarumma seja - e ele é excelente -, trata-se apenas, ainda, de um garoto de 18 anos que teria muito mais facilidade para amadurecer e evoluir jogando no clube que o formou e investiu nele.
E depois disso, se fosse o caso, seja por ver poucas perspectivas no Milan ou por receber propostas tentadoras, ele poderia mudar de ares.
Mas não será assim.
Raiola, que era muito ligado à antiga gestão berlusconiana do Milan, desde antes do início da nova gestão já dizia que os chineses estavam "fazendo uma figura de merda". Suas primeiras conversas com Max Mirabelli, um dos novos dirigentes, já transpareciam antipatia mútua.
Mino não gostou, e é Gigi Donnaruma quem se vai.
E junto com Donnarumma se vai, de forma tão precoce como foi sua estreia, a esperança de estar nascendo uma história tão linda como as de Javier Zanetti, Paolo Maldini, Alessandro Del Piero e Francesco Totti. Histórias de amor e fidelidade entre clubes e ídolos que emocionaram a Itália e a Europa nos últimos anos.
É preciso, porém, ser realista.
Del Pieros e Tottis são casos do passado. Ninguém representa tão bem o futebol atual como Mino Raiola.
O goleiro prodígio, o empresário egocêntrico e um retrato do futebol
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