O descaso pelos clássicos tem sido o melhor dos Estaduais em 2019
Se rivalidades locais são constantemente apontadas como o grande combustível para os campeonatos estaduais, temos agora mais um motivo para revê-los, se não em sua existência, pelo menos em seus formatos.
Sei que tratamos aqui de primeiras fases modorrentas nas quais (surpresa!) 11 dos 12 grandes clubes que concorrem nos quatro principais campeonatos estaduais do país conseguiram suas vagas para jogar os mata-matas – um resultado que mais uma vez mostra a inutilidade da disputa dessas fases por esses times.
Muito embora ser a melhor notícia dentro desse panorama possa não significar muita coisa, me parece que, neste caso, ela tem relevância. Afinal, o descaso pelos clássicos é o melhor acontecimento dos campeonatos estaduais de 2019 justamente por atingir um nível que exige repensar esses campeonatos. Um dos últimos argumentos a favor deles, a força dos clássicos, está caindo.
Tivemos ontem um Fla x Flu em que o Fluminense, mesmo contando com elenco bem inferior ao do rival, não titubeou em rechear seu time de reservas. Já tivemos também o recém-chegado Sampaoli pouco se lixando para um confronto do Santos contra o campeão brasileiro, por causa da Copa Sul-Americana. Tivemos, creiam, um Gre-Nal jogado com reservas: de um lado por protesto, do outro para responder ao protesto, mas sobretudo, de ambos os lados, pela irrelevância do jogo.
São apenas alguns exemplos, tivemos outros, e em todos eles as decisões tomadas pelos técnicos ou diretorias soaram corretas.
O valor esportivo desses jogos, à parte o contexto histórico que inclui a EVENTUAL possibilidade de os times iniciarem, manterem ou encerrarem tabus contra arquirrivais, é apenas o de oferecer um adversário de nível superior aos em geral frágeis times dos campeonatos estaduais. É pouco.
Precisamos admitir também que a atuação da imprensa, ávida por supervalorizar a importância de jogos num panorama de quase absoluta irrelevância do futebol nacional em seu primeiro trimestre, muitas vezes colabora para colocar holofotes exagerados naquilo que poderia ser iluminado com uma lâmpada de 40 watts.
Nem mesmo a argumentação de que “o torcedor quer saber é de clássicos” tem servido como regra. Ainda que num campeonato como o Paulista tenhamos quatro dos seis clássicos já disputados entre os jogos com mais público, o mesmo não ocorre com o Campeonato Carioca, justamente aquele com a maior abundância de confronto entre grandes.
Fossem os clássicos, por si só, um atrativo, teríamos os times do Rio muito bem posicionados no ranking de equipes com mais público do Brasil até aqui. Afinal, devido ao regulamento de seu Estadual, essas equipes disputaram mais clássicos que os grandes de outros estados.
Acontece que, exceção feita à óbvia liderança do Flamengo, a maior (e hoje empolgada) torcida do Brasil, temos Vasco, Fluminense e Botafogo respectivamente na 11ª, 16ª e 20ª colocações do ranking elaborado pelo Globoesporte.com. E mais: no ranking de jogos dos maiores públicos do Campeonato Carioca até aqui, entre as cinco partidas com mais pagantes constam apenas dois clássicos, ambos entre Flamengo e Fluminense.
Houve também, na mesma Taça Guanabara, aquele que é certamente um fato emblemático: um clássico entre Flamengo (de novo: estamos falando da maior torcida do país!) e Botafogo sendo jogado para apenas 5.314 pagantes, o menor público de um clássico na história do Engenhão em seus 12 anos de existência.
Que o torcedor prefere clássicos a jogos contra outros adversários é óbvio, mas para isso os dois tipos de partidas precisam estar inseridos no mesmo contexto.
É triste constatar que o contexto oferecido por essas fases insossas dos estaduais é capaz de tudo – inclusive de estragar um clássico, que é das coisas mais legais do futebol.
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Fonte: Gian Oddi
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