Dudu, Carneiro, Kaio Jorge e o vazio sobre analisar pênaltis
Qualquer técnico de futebol, de qualquer escola ou estilo, escalará numa cobrança de pênaltis aqueles jogadores que, na sua opinião e baseado nas informações de que dispõe, têm mais chances de converter as penalidades.
Parece um pressuposto óbvio, ainda que discussões sobre quem deveria ou não ter batido as penalidades ocupem horas e horas de debates de jornalistas e torcedores – sempre depois das cobranças e de acordo com os placares, claro.
Cada treinador pode ter seu critério e dar pesos diferentes aos aspectos técnicos, psicológicos e físicos, sendo que os dois últimos podem inclusive ser alterados pelo que ocorre nos 90 ou 120 minutos de bola rolando antes das penalidades.
É certo que técnico algum irá, por capricho ou razões pessoais, preferir um jogador com menos chances de converter uma penalidade a um com maiores possibilidades de fazê-lo, e é lógico admitir ser improvável haver alguém mais apto que o treinador de um time a fazer essas escolhas.
Acontece que se no futebol de maneira geral os resultados já costumam impregnar as análises sobre atuações coletivas ou individuais, na cobrança de pênaltis essa impregnação atinge patamares constrangedores.
As últimas cobranças de pênaltis nas semifinais do Campeonato Paulista ilustram bem: destacou-se, com maior ou menor grau, a “falta de coragem” do palmeirense Dudu num momento decisivo, a “frieza e personalidade” do são-paulino Gonzalo Carneiro e a “inexperiência” do jovem santista Kaio Jorge.
É curioso como a definição dos vencedores e os eventuais milímetros que definem a entrada ou saída de uma bola do gol são capazes de determinar (e mudar) certezas absolutas sobre escolhas certas ou equivocadas e sobre a capacitação emocional, física ou técnica de jogadores.
Dudu não é um bom batedor de pênaltis e já havia perdido sua cobrança na final do último campeonato estadual. Foi, porém, o jogador mais decisivo nos jogos mais decisivos de seu time nos últimos anos. Só que bastou um pênalti não batido para se tornar um “jogador que foge nos momentos decisivos”.
Há quem tenha recorrido ao seu salário para invocar sua “obrigação” em bater a penalidade e “chamar a responsabilidade”, como se uma planilha de Excel contendo a folha salarial de um elenco fosse a ferramenta a determinar com melhor precisão os batedores de pênaltis ideais de um time.
O episódio de Kaio Jorge, o garoto santista de apenas 17 anos a perder um dos dois pênaltis de seu time na semifinal contra o Corinthians, é outro tipo clássico de condenação de “escolha errada” daqueles que costumam considerar o Excel essencial na hora da cobrança de penalidades.
Nesse caso, porém, deixa-se de lado a coluna dos salários e ordena-se de forma decrescente a coluna das idades para definir quem deve ou não bater pênaltis. Kaio Jorge, com toda sua inexperiência, nem bateu mal, mas a bola não entrou – por milímetros. Tivesse entrado, a palavra para definir o atacante seria “personalidade”, e apenas ela.
O caso de Carneiro é de certa forma o inverso: para um jogador pouco relevante, com capacidade técnica ainda discutida e já marcado por atos de pouco profissionalismo, a distância a separar sua festejada “personalidade” da “irresponsabilidade” e do provável fim de sua passagem pelo São Paulo não foi maior que os poucos centímetros que separaram a bola dos pés do goleiro após sua cobrança com cavadinha.
O resultado, porém, determinará sempre o certo e o errado, o festejado e o acusado.
Zico, Baggio, Sócrates, Maradona, Platini e Schevchenko, entre outros, foram grandes jogadores a perder pênaltis em Copas do Mundo. Não havia motivo algum para que eles não cobrassem suas penalidades, mas eles perderam.
Os pênaltis, mais que qualquer outro momento, escancaram o quanto aceitar que escolhas certas podem dar errado e escolhas erradas podem dar certo é essencial no futebol.
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Fonte: Gian Oddi
Dudu, Carneiro, Kaio Jorge e o vazio sobre analisar pênaltis
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