A incrível entrevista de Eriksen, o sorriso de Klopp e nossa distante realidade
“Foi um jogo absurdo. Nós estávamos longe da vaga, lutamos por ela, mas tivemos apenas sorte. Eu sinto pelo Ajax, porque eles jogaram melhor que nós nas duas partidas. Mas nós tivemos mais chances, tivemos sorte e marcamos. É um alívio. Não conseguiríamos olhar para o espelho se tivéssemos perdido por 4 ou 5 a 0. A bola foi na direção certa, não tem nada a ver com tática. Foi só coração e Lucas Moura. Espero que ele ganhe uma estátua na Inglaterra depois disso”.
A frase do meio-campista dinamarquês Christian Eriksen após a épica virada do seu Tottenham em cima do Ajax pelas semifinais da Champions League impressiona.
Nem tanto pela pouca generosidade e pela rigidez analítica com o incrível feito de seu time, mas por não ter problema algum em escancarar o fato de que, no futebol, mesmo nas vitórias, muitas vezes são os detalhes a decretar os destinos de vencedores e perdedores. A tal “bola na direção certa”, alguns milímetros, um dia inspirado de um companheiro ou rival, a falta ou o excesso de sorte.
A conhecida calma e equilíbrio de Eriksen certamente o ajudaram a ter leitura tão fria e imparcial após um jogo tão quente e emocionante. Mas também é certo que o dinamarquês falou o que falou por ter a convicção de que o Tottenham não está na final da Champions por acaso. Por saber que, ok, a sorte pode até ter ajudado desta vez assim como já prejudicou em outras vezes, mas que não foi apenas isso. A confiança de que seu trabalho e o do Tottenham são bons e de que o time de Maurício Pochettino chega à final cheio de méritos colaboram para o surto de sinceridade do meia.
Em um contexto diferente, praticamente oposto, o caso é similar ao sorriso de Jurgen Klopp que as câmeras de transmissão da TV focalizaram logo depois que o Liverpool tomou o segundo (ou terceiro?) gol dos 3 a 0 impostos pelo Barcelona na partida de ida das semifinais, no Camp Nou.
É evidente que aquele sorriso não significava felicidade ou menosprezo pelo que ocorria em campo, mas, oras, no que a reação corporal do técnico mudaria o destino de seu time na competição? A tradução daquele sorriso era até meio óbvia: “Caras, eu vim até a Espanha encarar o Barcelona, joguei de igual para igual, meu time criou um caminhão de chances, só que eles têm esse ET que resolve os jogos. O que eu posso fazer?”.
Pois bem. Klopp até mostrou o que podia fazer no jogo de volta, mesmo sem dois de seus melhores jogadores. Aquele sorriso do jogo de ida era só uma reação, a mais espontânea possível, à imprevisibilidade e casualidade que nem sempre são determinantes nos jogos de futebol, mas que muitas vezes estabelecem não apenas a vitória ou derrota de um time como também o destino das carreiras de técnicos e jogadores. É assim que funciona, por mais que façamos malabarismos retóricos para tentar justificar tudo em mesas redondas de TV, em jornais, rádios e internet.
O essencial, porém, é perceber que tanto a entrevista de Eriksen como o sorriso de Klopp foram de certa forma reflexos de convicções. A convicção de que trabalhos honestos e extremamente competentes tinham levado suas equipes até aquelas semifinais e que essas convicções – deles próprios, da imprensa e até mesmo de torcedores – não mudariam quaisquer que fossem os resultados das semifinais.
Klopp e Pochettino, respectivamente há quatro e cinco anos em seus clubes, ainda não ganharam título algum com Liverpool e Tottenham. Mas eram, e independentemente das semifinais continuariam sendo, técnicos acima de qualquer suspeita. É por isso que agem como agem.
Agora se pergunte: como reagiríamos, por aqui, ao sorriso de Klopp?
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Fonte: Gian Oddi
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