VP no Flamengo poderia virar curso em faculdade de comunicação
Preciso confessar: após mais de duas décadas trabalhando como jornalista no futebol brasileiro, cansei. Cansei das mesmas eternas mazelas, do inconformismo padronizado, da briga brancaleônica contra aquilo que – perdão pelo pessimismo - não mudará, pelo menos enquanto tivermos saúde para ler estas linhas.
Mesmo resignado com nossos dias da marmota, admito que existe um ponto interessante, porque pelo menos dinâmico, nos últimos anos do futebol brasileiro: a comunicação. É um aspecto no qual, admitamos, tudo mudou e segue mudando - embora não necessariamente para melhor.
E se alguém, por oportunismo ou sede de docência, resolver lecionar sobre o tema em alguma faculdade de jornalismo (ou, mais provável, num desses infindáveis cursos on-line de influenciadores), os pouco mais de dois meses de Vítor Pereira no Flamengo poderiam ser usados como base do conteúdo programático.
São, afinal de contas, meses que têm um pouco de quase todas essas novidades (e não só) que temos visto nos últimos anos.
Tem a potencialização dos erros pelas redes sociais: alimentadas por criativos memes e um sem-fim de contundentes e lucrativas opiniões recriminatórias, uma frase infeliz ou até mesmo uma mentira inescrupulosa ganham repercussão e relevância. Assim, em certos casos, esquecê-las pode levar bem mais tempo.
Tem a mudança na conduta dos clubes, que hoje, com salas de imprensa recheadas de influenciadores amigos (em certos casos até remunerados), não sentem qualquer constrangimento para censurar de antemão mesmo as perguntas mais óbvias e necessárias.
Tem o surgimento dos batalhões de torcidas virtuais, mercenários ou não, prontos a defender os dirigentes mesmo diante das decisões mais esdrúxulas e nocivas ao clube – sentem-se assim, ingenuamente, defendendo seu time.
Tem a omissão desses mesmos dirigentes em momentos de crise: o uso da mídia, afinal tornou-se apenas ferramenta de marketing, não mais de transparência. Dirigentes preferem falar em ambiente amigo – nos seus cercadinhos.
Tem a proliferação do “jornalismo informal”, às vezes (nem sempre) feito sem o devido preparo, mas que com jogadores de futebol tem eficiência inegável: o percentual de frases relevantes – como as críticas a técnicos – é bem maior nesses novos ambientes do que naqueles da mídia tradicional.
Tem a distinção na comunicação de treinadores a depender do ambiente: um técnico estrangeiro habituado a falar de forma mais direta chega ao Brasil mantendo a linha “pé na porta” para depois, num outro contexto de clube (mas talvez, também, por ter assimilado as diferenças culturais), passar a “pisar em ovos”.
Tem a confusão entre jornalistas x influenciadores de clubes, influenciadores-jornalistas, jornalistas-influenciadores. O limite entre eles é sempre mais tênue e, para novas gerações, perceber e até entender quais são ou deveriam (deveriam?) ser as distinções entre suas funções fica a cada dia mais complicado.
Tem, por fim, o surgimento de teses que nascem pouco fundamentadas, baseadas em opiniões esparsas, e aos poucos, por cair no gosto popular, chegam aos batalhões das torcidas virtuais; dali não tardam a alcançar as grandes empresas de mídia: pauta boa, hoje, é a que gera audiência.
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