A Superliga, suas causas e o que ela nos trouxe de bom até aqui

Gian Oddi

Muito já foi dito – e muito ainda precisará ser – sobre a fatídica Superliga da Europa. O objetivo da patota está escancarado, e as causas que levaram a turminha a buscar esta solução específica (em vez de outras mais preocupadas com o futebol) são variadas e tem a ver não só com o contexto, mas com a cabeça dos caras que hoje comandam os clubes mais poderosos do planeta. Onde tudo isso vai dar? Impossível prever. Mas pelo menos uma (ou até duas) coisas de bom a gente tira dessa história toda até aqui. Análise no vídeo abaixo.






 
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Renato Gaúcho, Abel Ferreira e o uso desonesto dos resultados

Gian Oddi

A noite de quarta-feira, marcada pelas derrotas de Grêmio e Palmeiras na Libertadores e Recopa, respectivamente, não foi ruim para o futebol brasileiro somente pelos resultados. Ela serviu também para escancarar, sobretudo na relação com os treinadores, o nocivo resultadismo que parece a cada dia mais impregnar enorme parte das ações dos que trabalham nas mais diversas áreas dentro da enguiçada engrenagem do futebol no país.

O caso de Renato Gaúcho é mais relevante porque põe em xeque a própria permanência do treinador no comando do Grêmio. Não que não haja motivos para isso: discutir se Renato merece ou não estar no cargo que ocupa já faz sentido há algum tempo por muitas de suas escolhas, posturas e decisões nos últimos dois dos quase cinco anos em que ele treina o clube gaúcho.

Só que essa discussão foi feita há pouquíssimo tempo pelo Grêmio, e a conclusão da diretoria, como se viu no anúncio de renovação há pouco mais de um mês, foi pela permanência de Renato. Imagina-se que tenha sido uma decisão bem debatida e pensada. Resolver trocá-lo agora, como indicou poder fazer o vice-presidente do clube após a queda na Libertadores, seria ceder a pressões com base em uma coisa apenas, a eliminação de ontem.

Renato Gaúcho comanda o Grêmio na Libertadores
Renato Gaúcho comanda o Grêmio na Libertadores LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA

Porque se há motivos para substituir Renato eles certamente não apareceram e tampouco se destacaram nos confrontos contra o ótimo time do Independiente del Valle – nos quais, diga-se, primeiro o Grêmio foi bastante prejudicado pela arbitragem e depois teve uma boa atuação, como há muito tempo não mostrava, pelo menos enquanto as equipes estavam em igualdade de atletas em campo.

Já o caso da Abel Ferreira não envolve dirigentes e, claro, qualquer ameaça ao seu bom trabalho. Mas impressiona como duas atuações tão distintas do Palmeiras, uma digna de elogios na Supercopa e outra passível de críticas na Recopa, são de repente colocadas por parte da imprensa num mesmo balaio, o das “derrotas em finais”, para justificar teses e certezas que surgem e se sustentam baseadas somente em preferências pessoais e estratégias de repercussão. Ou alguém duvida que, com uma só vitória nos pênaltis, o  que em nada teria alterado o nível de futebol nos 210 minutos jogados, o grau de inconformismo, cobrança e críticas mudaria completamente?

A velocidade com a qual se muda do elogio à crítica (e vice-versa) na crítica esportiva brasileira é provavelmente caso único no mundo. Sob o pretexto do “elogiei quando tinha que elogiar e critiquei quando tinha que criticar” surge uma conveniente auto permissão para que se mude repentina e completamente o teor e o tom das críticas e avaliações. Sempre de acordo com os resultados, às vezes em questão de horas.

Há nesse comportamento clara submissão a uma espécie de ditadura da contundência, hoje muito desejada não apenas por torcedores como por empregadores (em certos casos os próprios torcedores) ávidos por uma boa manchete. Passar pelo crivo das redes sociais (“não vai passar o pano, hein?”) e dar audiência são coisas que passaram a requerer contundência, mesmo que ela não faça sentido.

E assim seguimos. Olhando os resultados e agindo apenas em torno deles. Seja para renovar um contrato, demitir um técnico, elogiá-lo ou criticá-lo. Pensando pouco, mas com contundência.    


 
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O incrível e (quase) inexplicável pessimismo são-paulino

Gian Oddi

Só mesmo o trauma por inesperados reveses recentes e o jejum de títulos podem explicar as inúmeras manifestações de desânimo, pessimismo ou até mesmo desespero de parte da torcida e canais são-paulinos após a contundente derrota sofrida pelo São Paulo para o Red Bull Bragantino por 4 a 2, na última quarta-feira (6).

Poucas horas após o revés já surgiram teorias das mais variadas, envolvendo todos os aspectos imagináveis dentro do universo do futebol, para justificar uma derrota (muito feia, é verdade) ocorrida dentro de campo.

É curioso que seja assim. É curioso que comecem a surgir teorias do caos quando a principal (ainda que não a única) justificativa para a péssima atuação naquela partida estava, provavelmente, dentro de campo, no anúncio dos 11 titulares.

Quem sempre afirmou que um eventual surto de COVID-19 que tirasse quatro ou cinco titulares do time seria crucial para as pretensões de título do São Paulo não pode agora, de uma hora pra outra, negar que a perda de quatro titulares, ainda que por outros motivos, foi a principal razão para a queda de rendimento.

Todo o pessimismo não faz sentido.

Brenner durante jogo do São Paulo. O torcedor tricolor está muito pessimista?
Brenner durante jogo do São Paulo. O torcedor tricolor está muito pessimista? Getty Images

Primeiro, porque, como não se trata de COVID-19, nada indica que os desfalques tão determinantes na derrota de quarta-feira ficarão fora do time por muito tempo.

Segundo, porque, em um campeonato tão equilibrado como o atual, os 6 pontos de vantagem para o vice-líder (que podem ser 4 caso Flamengo e/ou Atlético vençam seus jogos atrasados, cada clube tem um) são bem relevantes a 10 rodadas do final.

Terceiro, porque, olhando apenas para o futebol jogado no Brasileiro, o São Paulo até aqui de fato mostrou mais que seus rivais na competição, incluindo aqueles com um elenco mais encorpado que o de Fernando Diniz.

Quarto, e não pouco relevante, porque, dos 4 confrontos diretos que ainda tem a fazer contra candidatos ao título, o São Paulo joga três em casa (Inter, Palmeiras e Flamengo) e apenas um fora (Grêmio).

Se o São Paulo deixar escapar um título que muito provavelmente, nas mesmas condições, seus rivais mais fortes não perderiam, outra explicação poderá ser acrescentada às extensas listas de razões que surgiram após a goleada para o Red Bull Bragantino: hoje, nenhum outro clube brasileiro é capaz de saltar tanto da euforia à depressão em apenas 90 minutos.


 
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O melhor elenco de todos os tempos da última semana

Gian Oddi

O Flamengo tem o melhor elenco do futebol brasileiro. A frase é óbvia, batida, e até meados do segundo semestre de 2020 não sofria qualquer tipo de contestação. Já não é mais assim. Como costuma ocorrer no Brasil toda vez que um grupo de alta qualidade não rende o que dele se esperava, essa qualidade passa a ser questionada.

Até outubro, antes da chegada do português Abel Ferreira, o mesmo ocorria com o Palmeiras. Vanderlei Luxemburgo falava em “cobertor curto”, questionava a qualidade do elenco para poder “jogar bonito” e cobrava, com a cumplicidade de boa parte de imprensa e torcida, a necessidade de contratar um meia, mesmo com um elenco cheio deles.

Pouco mais de dois meses depois, o tal elenco carente, mesmo passando por um surto de COVID e outros problemas que chegaram a lhe tirar 21 jogadores simultaneamente, está na final da Copa do Brasil, bem perto da decisão da Libertadores e, por pontos perdidos, a apenas dois pontos dos vice-líderes do Brasileirão.

Em 2017, Rodriguinho, Jadson, Marquinhos Gabriel, Clayson, Camacho, Maycon, e Pedro Henrique, entre outros, não faziam nem de longe parte do melhor elenco do Brasil. Mas fizeram parte do elenco campeão brasileiro pelo Corinthians. A obviedade da diferença entre essas duas coisas poucas vezes foi tão explícita, mas aquilo não serviu como alerta para que muitos passassem a dissociar resultados de qualidade do elenco.

Como se viu em 2018: antes do início da temporada, comparações entre os elencos de Flamengo e Palmeiras eram comuns nas análises de TV, blogs, sites, rádios e jornais. A disputa era parelha, não havia consenso algum, diferentemente do que ocorrera no fim do ano, quando o título palmeirense com oito pontos de folga sobre o vice-campeão Flamengo transformou o elenco alviverde quase que unanimemente no “melhor do Brasil”. 

Não faz sentido.

Jogadores do Flamengo comemoram gol sobre o Fluminense, pelo Brasileirão
Jogadores do Flamengo comemoram gol sobre o Fluminense, pelo Brasileirão Alexandre Vidal/Flamengo

O julgamento e avaliação da qualidade de um elenco baseado em resultados ou numa tabela de classificação tornaria absolutamente desnecessária qualquer análise. Resultados e classificações dizem respeito a desempenho; avaliações de elencos tratam, ou deveriam tratar, de potencial. E num país que não costuma se destacar pela qualidade de seus técnicos, o potencial máximo de um elenco raramente é alcançado.

Assim, o preço a ser pago por avaliações equivocadas de bons elencos acaba saindo caro, porque jogadores pressionados, mal avaliados e incluídos em listinhas de torcidas organizadas tendem a ser negociados e, se negociados num momento de subvalorização, tendem a sair por menos do que valem, muitas vezes antes mesmo de dar o retorno esportivo que mostrarão já com a camisa de seu próximo time.

Um elenco subvalorizado é acima de tudo sinal de elenco subaproveitado. E seu prejuízo esportivo costuma ser tão grande quanto o financeiro.

 
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Prêmio da Fifa: quando a diplomacia é um problema

Gian Oddi
Klopp: vencedor do prêmio de melhor técnico da temporada segundo a Fifa
Klopp: vencedor do prêmio de melhor técnico da temporada segundo a Fifa ESPN


Toda vez que a premiação da Fifa não reflete bem aquilo que ocorreu dentro de campo numa temporada, a gente tende a atribuir o discutível resultado da eleição aos votos vindos de países cuja tradição futebolística é equivalente à importância que o Brasil tem, por exemplo, em Lacrosse.

Geralmente existem votos que corroboram a teoria. Neste ano, o capitão das Ilhas Virgens, Kavon Caesar, talvez vestindo sua camisa do Liverpool, votou em Van Dijk, Mané e Salah como os três melhor do mundo, enquanto o mais aleatório Akram Alhadi, capitão do Sudão, elegeu Mané, Thiago Alcântara e Cristiano Ronaldo.

Dando uma olhada com mais calma na lista de votos, porém, não é difícil constatar que esse não é o problema. Ou, pelo menos, não é o único se esperamos um resultado técnico da eleição.

Basta notar, por exemplo, que os treinadores de Itália, Argentina, Espanha e França, quatro das seleções mais relevantes do futebol mundial, não colocaram o polonês Lewandovski, vencedor do prêmio numa temporada irrepreensível, nem mesmo entre os três melhores do ano. Tivessem partido de Papua-Nova Guiné ou do Butão, seus votos seriam ironizados pela origem geográfica.  

Se do ponto de vista técnico é complicado explicar os votos dos treinadores dessas importantes seleções – pelo menos levando em conta os critérios do prêmio –, também não é possível afirmar que suas escolhas foram as que foram porque eles não conhecem ou não acompanham suficientemente futebol.

O principal problema do prêmio da Fifa talvez seja o fato de que três quartos de seu colégio eleitoral, por motivos que me parecem até justos, não têm necessariamente como maior preocupação votar para atingir aquele que é, em teoria, o objetivo do prêmio: escolher os melhores do ano.

Sejamos sinceros. Se você fosse técnico da seleção portuguesa você deixaria de colocar Cristiano Ronaldo em primeiro na sua lista? Se comandasse o Brasil, Neymar não seria o número um? Como técnico do Senegal, aposto que Mané seria seu preferido. E se treinasse a Bélgica escolheria De Bruyne, certo? Como técnico da França, seu voto não seria Mbappè?

A resposta a essas perguntas parece tão óbvia que todos os técnicos das seleções acima votaram nos seus principais jogadores para melhor do mundo. Uma escolha lógica a partir do momento em que o trabalho de um técnico de seleção é, antes de tudo, pensar na sua seleção. E se um voto diferente dos citados acima poderia melindrar uma figura importante de seus times e prejudicar o trabalho em campo, por que votar diferente?

Técnicos de seleções não têm compromisso com uma escolha técnica na hora de votar numa premiação sabendo que suas escolhas serão divulgadas para seus comandados. Eles têm preocupações mais importantes do ponto de vista profissional.

O mesmo vale, ainda que por outros motivos, com os capitães das seleções. Ou será por acaso que Messi, assim como Thiago Silva, votou no amigo Neymar em primeiro? Chiellini votou em Cristiano Ronaldo, o craque do seu time; Hazard e Modric colocaram Sergio Ramos, capitão de ambos no Real Madrid, entre os três. A lista de exemplos é enorme.

Os votos de técnicos e jogadores de futebol, venham eles de onde for, são compreensivelmente baseados em relações profissionais ou pessoais. Ninguém pode culpá-los por isso, mas seus votos são, em boa parte, pura diplomacia. E mesmo quando o critério não é diplomático, se a escolha recair sobre simpatia, antipatia ou qualquer outra razão menos técnica, ninguém o condenará. É o padrão.    

Considerando que os votos de técnicos e jogadores formam metade do peso no colégio eleitoral no prêmio da Fifa e ainda se somam a um quarto do peso vindo de votos de torcedores, pela internet, temos três quartos das escolhas partindo de gente que não necessariamente usa o critério técnico (embora possa até fazê-lo) para elaborar suas listas. É muita coisa.

A escolha estritamente técnica, no fim das contas, acaba predominando apenas entre os jornalistas. Os únicos que têm a obrigação profissional com o voto: afinal, para esses, a divulgação de uma escolha esdrúxula significaria perda de credibilidade e respeito, essenciais na profissão.   

Não à toa, na eleição deste ano, a vantagem de Lewandovski – o prêmio mais indiscutível para quem seguiu de perto a temporada – foi bem maior entre membros de mídia do que entre jogadores, técnicos ou torcedores. Entre os técnicos, o ainda desconhecido Hans-Dieter Flick, após uma temporada que não poderia ser melhor para o Bayern (mas só após sua chegada), venceu a eleição entre jornalistas, mas perdeu entre jogadores e técnicos

Tudo isso não significa que o prêmio da Fifa precise mudar seus critérios, alterando o colégio eleitoral ou mesmo o peso dos votos de cada um. Até porque, é importante ressaltar, com a volta da separação entre o prêmio The Best, da Fifa, e o Bola de Ouro, da France Football, voltamos a ter a divisão entre um prêmio mais midiático e um outro mais técnico, teoria já comprovada por diferentes vencedores em edições passadas das duas premiações.

Só é importante, para a história, que a gente saiba fazer essa distinção e entenda exatamente o valor e o significado de cada prêmio.


 
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A briga que ameaça um time sensação e expõe o quanto é árduo o trabalho de técnicos

Gian Oddi

Ainda não se sabe com detalhes o que aconteceu. Apenas que houve, no intervalo de um jogo contra o Midtjylland pela Champions League, no mínimo uma ríspida discussão de ordem tática entre o técnico italiano Gian Piero Gasperini e o meia argentino Papu Gómez, justamente os dois maiores protagonistas da modesta mas respeitada Atalanta, time sensação do futebol italiano e europeu nos últimos anos.

"Papu foi nosso jogador mais importante e mais utilizado durante esses cinco anos. Eu busco o melhor para o time e certas situações precisam de adaptação. Neste ano, em alguns jogos era difícil escalá-lo como todocampista, pela condição dele e pela condição do time. Ele continua sendo um grande jogador. Mas é preciso haver confiança e disponibilidade, caso contrário fica difícil”, disse o treinador no domingo (13), após a vitória por 3 a 0 contra a Fiorentina – com Papu no banco.

Antes disso, mesmo com a discussão já pública, o argentino foi titular no decisivo jogo contra o Ajax pela Champions, em Amsterdã. A Atalanta venceu os holandeses por 1 a 0 e avançou de novo às oitavas de final. Para os torcedores, parecia um sopro de esperança de que as coisas poderiam se resolver. O que hoje parece improvável.  

Vítima de racismo na Champions, Webo diz que árbitro passou dos limites e agradece apoio: 'Dia com um antes e um depois'; assista

Palo Autuori pelo Athletico-PR
Palo Autuori pelo Athletico-PR Gazeta Press


Pelo que tem indicado não só a imprensa italiana, mas as próprias manifestações dos envolvidos em entrevistas (no caso do técnico) e redes sociais (no caso do jogador), o rompimento definitivo parece iminente. Após postar um egocêntrico “No Papu, no Party” que desagradou alguns torcedores, o argentino voltou a se manifestar nessa segunda-feira (14) com a seguinte mensagem em seu Instagram:

“Queridos torcedores da Atalanta, escrevo aqui porque não tenho nenhuma forma para me defender e falar com vocês. Quero apenas dizer que quando eu for embora toda verdade virá à tona. Vocês me conhecem e sabem a pessoa que eu sou. Com carinho, do vosso capitão.”

Suas manifestações têm recebido o apoio nem tão velado do amigo e companheiro de time, outra peça muito importante da Atalanta, o meia-atacante Josep Ilicic. Num cenário hoje provável, Papu pode se despedir já em janeiro, antes dos confrontos contra o Real Madrid pela Champions. O que ficaria ainda pior se, mais improvável, Ilicic seguisse o mesmo caminho. “Fico triste pelo Ilicic, ele foi colocado no meio, mas não tem nada a ver com isso”, disse Gasperini.

É tudo surpreendente. Porque a Atalanta vive, desde a chegada de Gasperini em 2016, um período iluminado. Se nos dois anos anteriores à chegada do técnico o time havia ficado na parte de baixo da tabela e flertado bem de perto com o rebaixamento, nas últimas quatro temporadas sua pior colocação foi um 7º lugar no Italiano – em 2018 e 2020 acabou em 3º. O time ainda fez uma final e uma semifinal de Copa da Itália; no ano passado, só caiu contra o PSG nas quartas da Champions e, neste ano, já está nas oitavas.

Papu Gomez pode deixar a Atalanta em janeiro
Papu Gomez pode deixar a Atalanta em janeiro arquivo ESPN

Tudo isso, importante ressaltar, com um elenco que é apenas o 12º mais caro do futebol italiano. Um elenco cujo valor de 36 milhões de euros em salários desembolsados por temporada é apenas cinco milhões mais caro do que custa Cristiano Ronaldo, sozinho, para a Juventus. Um elenco que nos últimos anos perdeu nomes importantes como Castagne (Leicester), Kessie (Milan), Cristante (Roma) e Gagliardini (Inter), mas que seguiu jogando um futebol encantador, ofensivo, competitivo e  bonito de se ver.

Num cenário assim, pelo menos enquanto as coisas ainda estão dando certo – e estão –, seria de se imaginar que caprichos, assim como objetivos e preferências individuais, fossem deixados de lado ou ao menos relativizados até o momento em que as coisas ruins e as mágoas guardadas vêm à tona, o que no futebol costuma ser o momento das derrotas, das eliminações.

Não se trata de escolher um lado na briga, até porque, por mais que o trabalho de Gasperini seja excepcional, pode ter lhe faltado tato ou estratégia para lidar com a situação. Não sabemos e provavelmente nunca saberemos quem é (e se há) o principal responsável. É possível que durante a execução de um trabalho onde o componente emocional é tão forte, um ato impensado, uma reação impulsiva, dependendo do interlocutor, acabe por deteriorar uma relação importante de forma irreversível.   

Independentemente das responsabilidades, porém, o episódio demonstra como é delicado e multidisciplinar o trabalho de um técnico de futebol. Neste caso específico falamos de um profissional cujas escolhas táticas, a variação de jogo, a potencialização do elenco, a escolha de peças e o encontro de soluções para as vendas e demais problemas que se apresentaram foram irretocáveis. A lista de elogios que se pode fazer a Gasperini é enorme.

Mas pode bastar um pequeno deslize, uma dificuldade na hoje essencial gestão de grupo, para tirar um time do trilho do sucesso. Pode. Ainda não sabemos se é o caso. Porque no futebol, apaixonante também por sua imprevisibilidade, assim como os acertos não garantem vitórias, os problemas graves não significam derrotas.

 
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Técnicos escancarados e a melhor entrevista do fim de semana

Gian Oddi


Entrevistas de técnicos de futebol costumam ser reveladoras. Relevam suas qualidades, fraquezas e intenções como nenhuma outra categoria faz quando precisa falar publicamente. A exposição de um treinador após um jogo disputado escancara para torcedores, mídia e dirigentes o que ele tem de melhor e de pior. 

Porque se um alto executivo ou um político costumam ter toda chance do mundo de se preparar para entrevistas, o técnico de futebol é impelido a falar sobre fatos novos de cabeça quente, ainda sob o efeito da adrenalina liberada em um jogo recém-terminado. Assim, é raro que o componente emocional, seja de irritação, euforia ou qualquer outro, não acabe por determinar o tom e o teor de suas respostas. E de recheá-las com doses incomuns de sinceridade.

Até mesmo Pep Guardiola e Jurgen Klopp, hoje os dois melhores e mais respeitados técnicos do mundo, e certamente (não à toa) dois daqueles cujas entrevistas costumam ser as mais enriquecedoras e interessantes no universo do futebol, cometem seus deslizes nesse contexto de tanta pressão e suscetibilidade.

Basta ver, por exemplo, a entrevista do em geral simpaticíssimo Klopp concedida na semana passada em que ele atribuiu à detentora de direitos de TV da Premier League os problemas de calendário do Liverpool. Questionado pelo repórter se a maior responsabilidade não seria da liga e dos clubes, o alemão até tenta manter a discussão em alto nível, mas acaba se perdendo.

O palmeirense Abel Ferreira, assim como fazia Jorge Jesus, vem encantando no pós-jogo, talvez também porque os resultados de ambos, em proporções e relevâncias bem diferentes, ajudaram. Já Abel Braga, assim como Vanderlei Luxemburgo, expõe aos microfones as mesmas dificuldades vistas em campo nos últimos anos. Fernando Diniz, com sua inegável capacidade conceitual e seu conhecimento, mostrou ciclotimia parecida com a das avaliações de seu trabalho. 



         
     


Renato Gaúcho talvez seja um capítulo à parte, ainda que suas entrevistas sejam, também, muito reveladoras. O brasileiro, nas vitórias ou derrotas, nas crises e nos triunfos, costuma variar pouco seu discurso. A retórica do sou-o-bom-e-meu-time-é-o-melhor raramente sai de cena quando Renato fala.

Ele parece ter, entretanto, a intenção e a consciência de colocar seu personagem antes de tudo. Qualidades como técnico à parte, o gremista traz dos tempos de jogador uma (justificada) imagem de bon-vivant da qual não tem a mínima intenção de se livrar – muitas vezes usando isso em prol do seu elenco e outras vezes por autopromoção. De todo modo, ser o bom, ou o melhor, faz parte do seu vocabulário desde os anos 80.

Ainda que sua carreira como treinador de alto patamar só tenha sido reconhecida e consolidada no Grêmio, um ambiente para ele tão peculiar quanto generoso, é difícil negar que Renato Gaúcho soube fazer uso de sua imagem como jogador para se consolidar como treinador.

Missão mais difícil tem pela frente o técnico autor da melhor entrevista pós-jogo do final de semana pelo planeta. Porque se o aproveitamento da imagem de jogador para impulsionar uma carreira como técnico parece fazer sentido, bem mais complicado é ter de apagar uma imagem (vitoriosa) de atleta visando criar uma outra, diferente, como treinador.

Disse o ex-volante Genaro Gattuso, hoje técnico do Napoli, após a vitória por 4 a 0 sobre o Crotone pelo Campeonato Italiano:

Jogadores como eu? Não quero jogadores que se pareçam comigo. Quero jogadores técnicos. [...] Jogadores que se parecem comigo eu não escalo, pois busco um futebol diferente como treinador. Um futebol de toque de bola em busca da superioridade numérica. Eu não era capaz de fazer aquilo que peço aos meus jogadores. Provavelmente, eu seria reserva aqui. Não renego meu passado, tenho orgulho do que fiz, mas o futebol mudou nos últimos anos”.

No Brasil e na Europa, entrevistas escancaram técnicos de futebol
No Brasil e na Europa, entrevistas escancaram técnicos de futebol montagem ESPN

Não é a primeira vez que Gattuso aborda o tema, mas foi, certamente, sua fala mais incisiva a esse respeito. A fala de quem sabe que o trabalho de um técnico vai muito além das entrevistas, mas de quem sabe, também, o quanto elas são importantes nos tempos atuais.

 
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Terrorismo digital no futebol: temos que reconhecer o estrago que ele faz

Gian Oddi
Gian Oddi


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"Infelizmente existe uma droga na nossa sociedade que se chama redes sociais. É uma droga!" A frase acima foi parte da resposta do técnico palmeirense Abel Ferreira no último sábado, quando perguntado sobre a rescisão de contrato do Palmeiras com o volante Ramires, em comum acordo. A resposta não deixa dúvida em relação à influência do terrorismo virtual na decisão tomada pelo jogador. E ainda que o caso de Ramires tenha chegado a um desfecho inusitado, com o extremo do rompimento de contrato, episódios do gênero vão se tornando cada vez mais comuns no futebol brasileiro.

Nos últimos anos, são incontáveis os casos de jogadores e técnicos de futebol, dirigentes de clubes, jornalistas esportivos e até patrocinadores influenciados por redes sociais na execução de seus trabalhos dentro do esporte. Uma busca rápida no Google aliando o termo “redes sociais” à palavra “futebol” trará como resultado manchetes do tipo:

“São Paulo anula negócio com jogador corintiano que usou ‘bambis’ nas redes. Veron sofre críticas e se afasta das redes sociais. Thiago Neves e Atlético-MG: quando o cancelamento das redes sociais chega ao futebol. Pressão em redes sociais derrubou Rosenberg no Corinthians. Daniel Alves rebate críticas em redes sociais com ironia. Torrent não curte críticas da torcida do Fla e desativa comentários no Instagram. Elenco do Palmeiras se irrita com pressão nas redes sociais. Patrocinador cede a pressão de corintianos, mas impõe condição para mudar logotipo.”

São só alguns exemplos entre centenas que poderiam ser colhidos numa busca mais aprofundada. Nem todos os casos são reflexo de violência virtual, mas a imensa maioria é.

É fácil notar que não há distinção de fama, dinheiro ou qualidade quando tratamos da abordagem aos jogadores: os casos envolvem figuras como o desconhecido Getterson, protagonista da primeira das manchetes citada, até multicampeões consagrados como Ramires e Daniel Alves. Há, dessa forma, quem tem tamanho e poder para reagir, assim como há aqueles que não têm nada a fazer além de assimilar o golpe.

Daniel Alves: alvo de críticas e agressões em redes sociais, ele respondeu
Daniel Alves: alvo de críticas e agressões em redes sociais, ele respondeu Thiago Rodrigues/Gazeta Press

Quando falamos de dirigentes, cujas decisões deveriam obedecer a critérios técnicos e convicções formadas por conhecimento e análises embasadas, não faltam os que sucumbem às pressões digitais para demitir e contratar profissionais de um clube. Alguns chegam até mesmo a vazar intenções para medir a popularidade e aceitação daquela que pode vir ser uma contratação.

Mas há uma categoria ainda mais deplorável de dirigente: aquele que, se criticado, num misto de insegurança, mau-caratismo e incompetência, costuma recorrer às redes sociais no intuito de mobilizar milícias digitais contra jornalistas ou críticos públicos de forma geral.

Já na relação com a imprensa esportiva, o tipo de manifestação que se vê por parte dos torcedores digitais se assemelha muito ao que notamos no jornalismo político: muito fígado, acionado por preferência clubística ou partidária, e pouco cérebro. E no futebol ainda é preciso considerar um agravante na abordagem às mulheres, vítimas de misoginia e machismo no mais alto nível imaginável.

Assim como ocorre com técnicos e jogadores, cada jornalista reage à sua maneira. Há quem, compreensivelmente, prefere abrir mão de ferramentas que lhe seriam úteis em prol da saúde. Há quem busque ignorar, o que nem sempre é possível. E há também quem se alimente da violência das redes para se pautar e produzir. Todos, porém, acabam de alguma forma impactados por essa dinâmica intensa que envolve os mais diversos atores do nosso futebol.

Uma dinâmica geralmente pautada por ignorância e agressividade, mas que em determinados casos serve também para alertar o meio ainda retrógrado e ultrapassado do futebol brasileiro sobre o mundo no qual ele está inserido em 2020: um mundo em que, por exemplo, não é permitido a um clube de futebol contratar um jogador condenado por estupro para ser seu novo ídolo.

O fato é que, para o bem e para o mal, geralmente para o mal, os torcedores digitais estão aí e sua influência não pode mais ser ignorada, sobretudo no que diz respeito aos terroristas virtuais e suas milícias.

Não interessa quantos eles são, se são minoria, se representam ou não o cara na arquibancada, aquele que paga ingresso, que sai de casa, que gasta e se desgasta pelo futebol. Não interessa se o miliciano digital dedica só alguns segundos da sua vida sem propósito para agredir pessoas, entre o efêmero prazer visitando um site pornô e o compartilhamento de uma notícia falsa no Whatsapp. São eles, no futebol, os verdadeiros influenciadores digitais.

E não é por causa da pandemia. A ausência de público nos estádios certamente colaborou para aumentar a relevância dos milicianos digitais, mas eles não surgiram com o vírus. Eles são um outro tipo de vírus. Ou de droga, como diz Abel Ferreira.  

Por muito tempo, sob o pretexto do número irrelevante, da pouca representatividade, da falta de “valor científico”, minimizou-se a importância das manifestações por redes sociais no universo real do futebol: “Não dá para levar em consideração torcedor de Twitter, um covarde que fica escondido atrás de uma tela” era o lema de muitos.

Só que o raciocínio não faz mais sentido diante da influência que os terroristas virtuais passaram a ter. O primeiro passo para minimizar sua influência é justamente reconhecê-la.

 
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A dor e a delícia do Neymarcentrismo

Gian Oddi

Neymar chora no banco de reservas após a derrota do PSG na final da Champions
Neymar chora no banco de reservas após a derrota do PSG na final da Champions Getty

A atuação de Neymar não foi nem de longe o fator determinante para o resultado da final da última Champions League e, portanto, considerando que seu time foi derrotado, essa não é uma afirmação negativa para o atacante brasileiro. Se ele não foi capaz de fazer com que seu time vencesse, tampouco foi o responsável pela derrota.

Havia do outro lado um time melhor que o PSG, jogadores também muito bons, um técnico de trabalho notável na temporada e uma camisa com peso e tradição bem maiores que o do novo-rico time parisiense. Além disso, no esporte, para que alguém vença um outro terá que perder.

O problema é que, por aqui, Neymar torna-se a notícia principal mesmo quando ele não é notícia. É o cara que faz nota de rodapé virar manchete. Cobrir e analisar jogos importantes sob o prisma de um único jogador não é uma prática exclusivamente brasileira, claro. Ou será que a abordagem da final em território polonês não terá sido majoritariamente em torno de Lewandowski?

Nessa final, porém, o Neymarcentrismo extrapolou limites por aqui. Não só porque a ligação do Brasil com o futebol ao menos supostamente deveria gerar mais interesse por um grande jogo fossem quais fossem os personagens, mas principalmente porque, ainda que uma abordagem patriótica seja compreensível, além de Neymar havia outros quatro brasileiros em campo, dois ou três deles com histórias e motivos para roubar algumas das tantas manchetes dedicadas ao atacante após a final. 

A desolação de Neymar, vice-campeão da Champions League

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A ânsia de ver Neymar ser eleito o “melhor do mundo”, aliada a uma tendência brasileira para buscar heróis e vilões que justifiquem nossos triunfos e quedas, tem parcela importante nessa abordagem. Mas ela se deve, também, ao fato de que ao próprio Neymar desfruta, lucra e alimenta-se como poucos jogadores de sua figura midiática.

Quando, no mesmo dia de um jogo decisivo da Champions, Neymar fica atento e reage a um movimento de internet ostentando seu moicano, quando interpreta como um ator o papel que crê lhe caber ao sair do ônibus antes da final, cada vez que tikitoka nesse contexto para saciar a fome da legião de moicanos das redes ele desperta amor e ódio, faz tilintar sua inquieta caixa registradora e chama para si o protagonismo pelos resultados, bons ou ruins, para o bem e para o mal.

Manchetes à parte, porém, sua demonstração de talento e seu bom futebol têm tido variação pequena e se mantêm em altíssimo nível ano após ano. E está claro que, neste 2020, sua mudança mais relevante se deu no aspecto comportamental. Afinal, por mais que possamos até duvidar de uma transformação em seu âmago, é indiscutível que seus atos mudaram e que ele tem no mínimo se controlado para não prejudicar seu time e a si próprio.

O que não muda, e provavelmente não mudará nem mesmo quando Neymar se aposentar, será sua enorme porção midiática, sua capacidade de gerar reações que variam do ódio irracional à paixão cega, reflexos de seu carisma, de sua alienação e de tantas outras qualidades e defeitos que compõem uma fórmula potente, transformando-o, no Brasil, em protagonista de tudo que envolver seu nome.

Sendo assim, se cada um sabe mesmo a dor e a delícia de ser o que é, Neymar não deve se incomodar ao ver, ainda que injustamente, a derrota ser atribuída à sua atuação. Porque o mesmo aconteceria em caso de vitória.

 
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O abuso do VAR e a pergunta que só atrapalha: “E se fosse o Fagner?”

Gian Oddi
Gian Oddi
Sem participar de lance polêmico, Fagner entrou em assuntos mais comentados
Sem participar de lance polêmico, Fagner entrou em assuntos mais comentados DJALMA VASSÃO/Gazeta Press

Que a arbitragem brasileira não está entre as melhores do mundo do ponto de vista técnico e de preparação é um fato, e não é de hoje. Que temos (compreensível) tendência a acreditar em erros motivados por desonestidade e em teorias conspiratórias, também.

Junte as duas coisas e teremos, então, uma convicção na cabeça de muito torcedor brasileiro: o trio de arbitragem invariavelmente entra em campo para prejudicar seu time, ao mesmo tempo que num outro gramado, a quilômetros dali, outro trio está tratando de dar uma forcinha ao seu rival.

A chegada do VAR, ao invés de desmantelar as desconfianças, parece estar tendo o efeito inverso por aqui: o que antes era impressão de decisões parciais transformou-se, para muitos, em certeza. A lógica passou a ser:  quando o árbitro não faz o “serviço” em campo, haverá alguém pronto a assumir a bucha atrás de um monitor.

E é assim que decisões subjetivas, inevitáveis e tão comuns no futebol, passam a ser tratadas por muita gente como lances para os quais não haveria a menor margem de dúvida. O que só faz crescer a convicção sobre as teorias de benefício e prejuízo premeditados.

Foi assim com a expulsão de Juninho, do Mirassol, na semifinal do Campeonato Paulista contra o Corinthians: certezas sobre a correção e o equívoco da expulsão brotaram pela internet com a mesma velocidade e intensidade que surgiram as perguntas: “E se fosse o Fagner?”.

É evidente que uma pergunta assim não ajuda a discussão sobre os procedimentos de arbitragem no Brasil. Porque como só discutimos o tema sob a luz dos (supostos) erros cometidos nos jogos, a discussão nasce sempre contaminada por preferências ou convicções em relação a clubes ou jogadores. E se um debate surge assim, ele surge natimorto.

Caberia à CBF, às vésperas do início do Brasileirão e ainda sem nenhum erro cometido na competição, tomar uma decisão clara em relação ao uso do VAR e, tão importante quanto, comunicá-la com clareza e insistência: “não abusaremos do VAR, ele será utilizado com moderação e nos lances subjetivos será sempre mantida a decisão de campo – resumindo: não espere que o árbitro de vídeo corrija os lances de acordo com o que VOCÊ acha”.

Aliás, bastaria para isso seguir duas máximas que constam inclusive em manuais de orientação/regras para utilização da ferramenta: usar o VAR apenas para corrigir ERROS CLAROS E ÓBVIOS e conseguir, assim, o máximo de benefício valendo-se da MÍNIMA INTERFERÊNCIA.

É evidente que haveria, sobretudo no início, muita reclamação (quando não há?) por mais uso da ferramenta, e questionamentos sobre “por que o VAR não chamou para o árbitro ter certeza?” surgiriam aos montes. Com o tempo, porém, ficaria claro que o uso do VAR ocorreria apenas para corrigir erros indiscutíveis, aqueles em que ninguém (ou quase) teria coragem de defender decisão diferente.

Os pedidos por “mais VAR” cessariam, as interrupções de jogo seriam bem menos e as discussões sobre certos lances diminuiriam. Junto, quem sabe, com as teorias conspiratórias.


 
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Não precisava disso, Pep!

Gian Oddi

Guardiola não gostou das críticas feitas ao City pelos colegas
Guardiola não gostou das críticas feitas ao City pelos colegas Getty Images (arquivo)

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Pep Guardiola é, dentre os técnicos em atividade no planeta, o maior deles. E isso não significa que Jurgen Klopp não possa ter tido, nesta e na passada, temporadas superiores às de Guardiola, um veredito difícil e subjetivo, que variará de acordo com os critérios que se escolhe para determinar “o melhor” de um determinado ano.

Acontece que, somados o passado e o presente, embora tenhamos nomes de técnicos em atividade muito respeitados como o próprio Klopp ou o italiano Carlo Ancelotti, se todos parassem hoje, ninguém deixaria legado de um trabalho tão autoral e tão pretensamente copiado como Pep Guardiola – para não mencionar sua absurda quantidade de títulos.

Guardiola é o cara cujos detratores tentaram minimizar, por uma eliminação nos detalhes na Champions League passada, na mesma temporada em que ele venceu os três (todos, portanto!) títulos disputados no poderoso futebol inglês contra adversários como Liverpool, Manchester United, Chelsea, Arsenal e Tottenham.

Um personagem desse tamanho e com importante histórico de trabalho em prol do futebol, portanto, não tinha necessidade de sair em defesa de seu clube atual, o Manchester City, após a controversa decisão da Corte Arbitral do Esporte (CAS) de reverter a decisão da Uefa, que optara pela punição do clube com suspensão por duas temporadas nas competições europeias.

Porque foi quase unânime: entre dirigentes, técnicos e jornalistas, a reação geral, após a reversão da decisão, causou evidente e pesada desmoralização do Fair-Play Financeiro da Uefa.


Jurgen Klopp classificou o dia da decisão como “ruim para o futebol”; Mourinho falou que “a porta do circo está aberta” e classificou o FPF como “morto”. Na Espanha, o presidente da Liga colocou em dúvida a capacidade da CAS para julgar esse tipo de recurso. Jornalistas em quase todos os principais diários esportivos do mundo criticaram a decisão, como fez Stefano Barigelli, da Gazzetta dello Sport, ao reconhecer méritos do FPF, mas afirmar que clubes como PSG e City puderam comprar jogadores por cifras absurdas graças apenas a “patrocínios amigos”.

Até mesmo as raras manifestações de compreensão em relação à absolvição do Manchester City se deram por razões técnicas, processuais e jurídicas, como uso de provas obtidas irregularmente ou tempo de denúncia expirado, mas nunca por motivos éticos e morais. E o fato de o City ter sido obrigado a pagar uma multa por "não ter colaborado com as investigações" ainda deixou a dúvida: por que alguém se recusa a ajudar nas investigações de acusações das quais não é culpado?  

Diante desse cenário, Pep Guardiola, que quase sempre presta um serviço ao futebol quando resolve falar sobre o esporte, seja no aspecto do campo ou dos bastidores, poderia ter evitado a entrevista em que exigiu “desculpas” de todos aqueles que criticaram a conduta do Manchester City fora de campo e a decisão final da Corte Arbitral.

Até porque, mesmo que o Manchester City tenha de fato mascarado a entrada de dinheiro para montar o time que montou, os méritos de Guardiola nas conquistas do City não diminuem. Ou alguém acha mesmo que, só para citar um exemplo, um lateral como Walker valia os 57 milhões de euros que o Manchester City pagou para contratá-lo? A eventual incompetência do City para montar uma equipe pagando por ela apenas o que ela vale não diminui a competência de Pep Guardiola ao fazer seu trabalho.

Afinal, o caminhão de dinheiro gasto pelo clube, embora tenha dado a Guardiola um ótimo elenco, não lhe deu um time infinitamente superior aos adversários para que ele conquistasse os títulos que conquistou do jeito que conquistou. Seu trabalho é excepcional de qualquer forma e seus méritos como técnico, inegáveis. Por isso mesmo, Pep deveria apenas comemorar o fato de poder jogar a próxima Champions. 

E deixar com a diretoria do City essa suposta revolta que, para a maior parte dos que amam futebol, nem parece fazer muito sentido.

 
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O pior do futebol. E de nós

Gian Oddi
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E lá se vão mais de dois meses desde que o Brasil começou, ainda que aos trancos e barrancos, entre reiterados surtos de negacionismo, a suspensão de aulas e atividades de serviços e comércios não essenciais para tentar conter a propagação da Covid-19.

Também já se passaram mais de dois meses desde que foram disputadas as últimas partidas de futebol em campeonatos oficiais pelo país.

Se havia, porém, alguma esperança de que essa interrupção forçada em meio a um período tão triste da nossa história pudesse trazer aos protagonistas do nosso futebol qualquer tipo de reflexão capaz de alterar seus padrões de comportamento, essa esperança já era.

Basta constatar, ao consultar qualquer canal com o noticiário relacionado ao futebol brasileiro nos últimos 70 dias, que, com raras exceções, o período da pandemia só serviu para escancarar nossas inúmeras mazelas:

> escancarou a intenção de certos clubes e o caráter de certos dirigentes cujos interesses econômicos se colocam acima de absolutamente tudo, incluindo vidas humanas;

> escancarou as dívidas daqueles que, por ficarem um único mês sem receitas de torcida ou TV, já não tinham recursos para pagar suas dívidas, salários de funcionários ou até contas mais básicas como luz e água;

> escancarou a velha tática de certos cartolas que, sem um centavo no banco, devendo para Deus e o mundo, apostam em contratações surreais para tentar ocultar (e na prática agravar) a crise;

> escancarou o modus operandi dos que se aproveitam de qualquer brecha, ainda que às custas de mais de 22 mil mortes, para estreitar laços com políticos visando, é claro, benefícios adiante;

> escancarou a alienação e a ignorância da maioria dos jogadores de primeiro nível do futebol brasileiro, que, mesmo com recursos mais que suficientes para deixar essas condições para trás, não mostra a mínima intenção de fazê-lo;

> escancarou a falta de união e posicionamento dos treinadores que, supostamente mais preparados para se posicionar contra o absurdo proposto por alguns dirigentes, preferem silenciar;

> escancarou todos os “torcedores de cartolas” do Brasil que, cegados pelo suposto “amor ao clube”, são incapazes de ver o quanto dirigentes de futebol podem causar danos em seus próprios clubes e torcedores;

> escancarou a dependência e subserviência da CBF em relação às federações estaduais e seus campeonatos, cujos cancelamentos ou pelo menos adaptações para 2021 não são nem sequer cogitados como opção para resolver a questão do calendário;

> escancarou também parte da imprensa esportiva, que, com menos material sobre o qual trabalhar, apela para não-notícias na tentativa de manter uma relevância ou audiência que, nessas condições, é impossível manter.

Mais de dois meses já se foram desde que passamos a ser bombardeados com propagandas de todo tipo de produto, de margarinas a bancos, nos garantindo, através da voz mansa de serenos locutores, que “tudo isso vai passar”.

É só uma meia verdade.

O vírus vai passar. O resto, pelo menos no futebol, seguirá como sempre. 

 
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Por que o título do Leicester é o maior feito da história do futebol mundial

Gian Oddi

| Leicester campeão: bicicleta, assistência com rolinho e muito mais no Top10 golaços do título |

É preciso admitir: por motivos que podemos discutir outro dia, volta e meia o jornalismo esportivo abusa de termos como "épico", "histórico" ou "incrível" para adjetivar feitos que, se não são corriqueiros, vão só um pouco além do habitual. Um jogo contra um time medíocre da Bolívia ou do Peru logo vira "épico", uma virada num modorrento campeonato estadual torna-se "histórica" ou "heroica", e por aí vai...

Getty
Ranieri abraça Vardy: parceria entre técnico e elenco foi harmoniosa do início ao fim
Ranieri abraça Vardy: os dois nomes que melhor simbolizam o absurdo da conquista

Então, antes de continuar, é bom deixar claro que não acredito estar incorrendo nesse tipo de banalização ao classificar o título inglês conquistado há exatos 4 anos pelo pequeno Leicester. Um time de uma cidade com 340 mil habitantes que, no início do campeonato, com o quarto elenco menos valioso do torneio — à frente apenas dos que vieram da segunda divisão —, era candidatíssimo a cair. Cujo artilheiro, então com 29 anos, aos 23 anos ainda jogava na 7ª divisão. E com um simpático técnico que, mesmo renomado, só aos então 64, vencue seu primeiro campeonato nacional.

Estes são apenas alguns entre os tantos ingredientes que fazem com que as palavras "histórico", "épico" e "heroico" sejam adjetivos até modestos para classificar o que fez o Leicester na temporada 2015-16. Porque a conquista foi — e agora vai parecer exagero — o maior feito da história do futebol mundial.

Justifico a seguir. Porque o título do Leicester, entre as raras histórias similares ocorridas em toda a história, é a única a ter em comum os três pontos abaixo.

1) Foi nos pontos corridos.
Esqueça a discussão sobre a "melhor" fórmula de disputa. Existe uma premissa que nem sequer gera debate: a de que, diante da imprevisibilidade do mata-mata, as chances do mais fraco, do azarão, do time menos técnico e menos rico tornam-se bem maiores do que numa disputa por pontos corridos, onde a regularidade (neste caso durante 38 rodadas) é fator determinante para que se chegue ao troféu. Portanto, se você pensou na Grécia campeã da Euro 2004 ou em qualquer outra bizarrice do gênero para "rivalizar" com a conquista do Leicester, já está explicado o descarte feito nesta comparação.

2) É o triunfo de um favorito ao rebaixamento.
Ok, se a gente fuçar a história dos campeonatos por pontos corridos pelo planeta certamente acharemos muitas conquistas de times que não eram apontados como favoritos ao título. Isso é uma coisa. Outra coisa, bem diferente, será encontrar, entre estes campeões, aqueles que eram apontados como favoritos ao rebaixamento no início da temporada. Times cuja chance de ser campeão fossem iguais as de, como mostravam as apostas no caso do Leicester, alguém provar que Elvis Presley está vivo ou que o monstro do lago Ness existe e está à espera de um turista mais atento para sair em sua próxima selfie.

3) Ocorreu contra gigantes milionários donos de seleções mundiais.
Não sabemos, mas podemos até admitir que num campeonato do Congo, da Armênia, da Finlândia ou do Paquistão (será que por pontos corridos?) um time inicialmente favorito ao rebaixamento tenha conquistado o título. Pode ser. Agora, ainda que isso tenha ocorrido, o nivelamento (por baixo) e a (pouca) qualidade dos adversários terá colaborado para a surpresa. Ou alguém acha que em algumas destas ligas o azarão da vez terá superado os bilhões de chelseas, cities e uniteds e derrotado nomes como rooneys, mourinhos e agueros? A força dos rivais é um dos principais pontos a engrandecer o feito do Leicester.

Mesmo considerando os três quesitos acima, não deixa de ser tentador comparar a conquista do time de Claudio Ranieri com outros campeões épicos (de verdade), certo? Então vamos lá.

Getty
Derby County - campeão inglês em 1972
Derby County - campeão inglês em 1972


Derby County
(Inglaterra, 1972)
Embora tenha subido à primeira divisão em 1969, o surpreendente time de Brian Clough ficou na parte de cima da tabela, especificamente no 9º lugar, na temporada anterior à conquista. Portanto, embora não fosse um "candidato ao título" em 1972, também não era nem de longe favorito a cair — como foi o Leicester nesta temporada.

Getty
Nottingham Forest - campeão inglês em 1978
Nottingham Forest - campeão inglês em 1978


Nottingham Forest
(Inglaterra, 1978)
Outro time de Clough, talvez seja o maior rival ao feito do Leicester. Não pelo posterior bicampeonato europeu (no mata-mata), mas por ter sido o título de um time vindo da segunda divisão e, portanto, também candidato a cair. A diferença: numa época em que a Inglaterra não contava com a grana de bilionários estrangeiros e na qual as ligas nacionais praticamente não tinham jogadores de outros países, o time não combatia contra quatro ou cinco seleções intercontinentais como fez a equipe de Ranieri. 

Hellas Verona/Divulgação
Hellas Verona - campeão italiano em 1985
Hellas Verona - campeão italiano em 1985


Verona (Itália, 1985)

Já neste caso o poderio dos rivais até pode ser comparado: naquele ano, cada time italiano passou a poder contar com dois jogadores estrangeiros e por isso, para chegar à incrível conquista, o modesto Verona superou nada menos que o Napoli de Maradona, a Juventus de Platini, a Roma de Falcão, a Udinese de Zico... O Verona, porém, não era um candidato ao rebaixamento como o Leicester: no ano anterior tinha sido o 6º colocado e, uma temporada antes, chegara a obter uma vaga na Copa da Uefa.

Getty
Blackburn Rovers - campeão inglês em 1995
Blackburn Rovers - campeão inglês em 1995


Blackburn (Inglaterra, 1995)

Como Mauro Cezar Pereira já explicou detalhadamente em seu blog (clique aqui se quiser saber mais a respeito), "os Rovers tiveram forte investimento na época e vinham ensaiando a conquista do título há dois anos". O efeito surpresa, dessa forma, não se compara com o que aconteceu neste ano na Inglaterra. 

Getty
Kaiserslautern - campeão alemão em 1998
Kaiserslautern - campeão alemão em 1998



Kaiserslautern
(Alemanha, 1998)
Assim como o caso do Forest, o time chegara da 2ª divisão, era candidato a cair e foi campeão. Também aqui, porém, o nível dos rivais não pode ser comparado com os times milionários que o Leicester pegou. Além disso, o Kaiserslautern é um time tradicional e que já havia conquistado o título nacional três vezes antes de 1998.


Convencido? Chegue-se ou não à conclusão de que o feito do Leicester naquela temporada foi o mais incrível e inesperado da história do futebol mundial, uma coisa é certeza: os termos "histórico, épico e heroico", neste caso, podem ser usados sem moderação.

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Como um zagueiro com apenas três jogos virou o grande exemplo do futebol nesta terrível temporada

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Giorgio Chiellini, 35 anos: capitão da Juventus e da seleção italiana
Giorgio Chiellini, 35 anos: capitão da Juventus e da seleção italiana divulgação

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Há dois dias, questionado sobre as consequências da pandemia do COVID-19 no futebol, o renomado técnico italiano Carlo Ancelotti afirmou em contundente entrevista ao jornal Corriere dello Sport: “Será um futebol mais verdadeiro. Quando tudo isso acabar haverá um redimensionamento geral: técnicos e jogadores ganharão a metade, o preço dos ingressos vai cair, as TVs pagarão menos e talvez seja tudo melhor”.

Para muitos, utopia. Para outros, exagero. Entretanto, passaram apenas algumas horas após a publicação da entrevista de Ancelotti para que chegasse, também da Itália, uma notícia surpreendente: a Juventus de Turim, clube mais poderoso do país e um dos maiores do mundo, conseguira convencer seus jogadores a abrir mão de receber nesta temporada os salários dos meses de março, abril, maio e junho.

Aqui é bom explicar, não significa que a Juventus deixará de arcar com os cerca de 90 milhões que significam a soma desses quatro meses de vencimentos: 62,5% desse total ainda será pago, mas só na próxima temporada – o que ajuda o clube a evitar não apenas um déficit considerável, mas também, se não houver mudança nas regras (algo improvável), problemas com o Fair Play Financeiro da Uefa.

Como a Juventus conseguiu uma façanha do gênero? Como convenceu jogadores a abrirem mão de boa parte dos salários a que tinham direito é uma pergunta que não apenas torcedores, mas certamente muitos dirigentes de diversos clubes pelo mundo devem estar se fazendo neste momento. A resposta tem nome e sobrenome: Giorgio Chiellini.

Chiellini fez mestrado em Administração com uma tese envolvendo a Juventus
Chiellini fez mestrado em Administração com uma tese envolvendo a Juventus Divulgação

O zagueiro e capitão da Juventus e da seleção italiana, hoje com 35 anos de idade, não é uma figura comum no meio do futebol. Além da indiscutível qualidade técnica e liderança (com enorme simpatia), Chiellini formou-se em Economia e Comércio pela Universidade de Turim em 2010, recebendo a nota 109 para um máximo de 110. Não satisfeito, tornou-se mestre em Administração de Empresas, curso concluído em 2017 – desta vez, porém, com a nota máxima possível.   

Foi essa figura com atributos improváveis o responsável pela articulação de redução salarial na Juventus. Devido à confiança e ao prestígio que tem entre os colegas, suas argumentações técnicas e embasadas não soaram falsas ou patronais e foram vistas como explicações lógicas a respeito de uma mudança necessária não só para a Juventus, mas, como disse Ancelotti, para o universo do futebol.

Relata a imprensa italiana que Chiellini falou diretamente com seus companheiros de time, iniciando os contatos com os chamados “senadores”, os mais experientes do elenco, como Buffon, Bonucci, Khedira e, claro, Cristiano Ronaldo – cuja redução de vencimentos para esta temporada ficará em pouco mais de 10 milhões de euros. A partir daí, seguiu explicando para os demais, caso a caso, porque o esforço se fazia necessário.

E foi assim que o respeitado zagueiro com apenas três jogos e um gol no atual Campeonato Italiano, vítima de um rompimento de ligamento em agosto de 2019, tornou-se o grande nome da Juventus (e não só) nesta temporada. Chiellini mostrou que com honestidade, respeito, confiança e bons argumentos técnicos é possível, sim, começar a transformar o futebol mundial a partir da crise do coronavírus.  

Não se trata, evidentemente, de afirmar que a conta tenha que ser paga pelos jogadores. Eles são só uma parte de toda a engrenagem e, claro, uma ínfima parcela recebe salários como os que recebem os jogadores da Juve: para se ter uma ideia, só na Itália, os 90 milhões de euros que o clube poupará na temporada seriam suficientes para quitar o ano todo dos salários de 16 entre os 20 times da Série A.

O exemplo, portanto, não é apenas – e talvez seja menos – para os jogadores de futebol do planeta. “O exemplo da Juventus é um exemplo para todo o sistema do futebol”, afirmou o presidente da Federação Italiana, Gabriele Gravina, ao saber do feito de Giorgio Chiellini.

De fato, o exemplo está aí. Mas seria mais fácil aplicá-lo se tivéssemos mais Chiellinis no tal “sistema do futebol”.

 
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Que a ótima entrevista do presidente da Fifa saia do papel. E vire exemplo no Brasil

Gian Oddi
Gian Oddi
Gianni Infantino, presidente da Fifa
Gianni Infantino, presidente da Fifa ADRIAN DENNIS/AFP/Getty Images

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Na edição desta segunda-feira do diário esportivo italiano La Gazzetta dello Sport, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, concedeu uma entrevista exemplar a respeito do impacto do coronavírus no futebol. Se o teor das palavras sairá do papel ainda é cedo para dizer – e desconfiar dos dirigentes da entidade é essencial.

Contudo, ainda que suas respostas contenham nas entrelinhas uma série de exaltações do próprio trabalho e da importância de sua entidade (modus operandi de todo político), do ponto de vista prático as palavras do dirigente são exemplares especialmente por três pontos, que reproduzo abaixo:

1) Graças à nossa solida situação financeira podemos propor medidas de solidariedade. Doamos 10 milhões de dólares para a OMS (Organização Mundial da Saúde). Instituímos um fundo global de assistência ao futebol. Graças aos últimos quatro anos, a Fifa desfruta de uma ótima saúde e de bons recursos. As reservas são para situações de crises da Fifa, mas está é uma crise do futebol mundial. E me parece óbvio que deveremos fazer de tudo."

É evidente, neste ponto, que o exemplo precisa ser seguido, ainda que em proporções diferentes, pelas federações estaduais do futebol brasileiro e também pela CBF, cuja receita recorde em 2019 atingiu quase 1 bilhão de reais, segundo a própria entidade. O prejuízo para os já devedores clubes de futebol brasileiro com a crise atual será enorme, mas que o socorro venha do futebol, especialmente das federações que muito faturam e pouco oferecem. Porque o contribuinte brasileiro, mesmo aquele apaixonado por futebol, certamente está cansado de bancar a incompetência dos gestores de clubes.   

2) “Primeiro, a saúde. Depois o resto. Para os dirigentes, significa esperar o melhor, mas também se preparar para o pior. Sem pânico, sejamos claro: só voltaremos a jogar quando isso puder ser feito sem colocar em risco a saúde de ninguém. Que as federações e ligas estejam prontas para seguir as recomendações dos governos e da OMS .”

Num país em que a relutância para interromper jogos de futebol seguiu até os 45 do 2º tempo, o recado é essencial. Os limites da irresponsabilidade já foram atingidos por nossos dirigentes e políticos. Entre tantos exemplos, tivemos um GreNal com portões abertos quando o tamanho da crise era evidente, tivemos o Palmeiras jogando com público no interior de São Paulo quando na capital a torcida já era vetada. Tivemos o Flamengo entrando em campo pelo estadual mesmo após seus jogadores e comissão técnica terem tido contato com um dirigente infectado. Os absurdos que (não) poderíamos cometer já foram cometidos. E se a possibilidade de voltar a jogar futebol no Brasil ocorrer apenas em agosto ou setembro? Que estejamos prontos para tudo. Inclusive, por mais duro que seja, para não jogar mais em 2020.

3) “Em breve decidiremos se vamos jogar a primeira edição [do novo Mundial de Clubes] em 2021, 2022 ou no máximo em 2023... Mas vamos olhar para a oportunidade. Poderemos talvez reformar o futebol dando um passo atrás, com outros formatos, menos campeonatos – mas mais interessantes. Menos jogos para proteger a saúde dos jogadores. Talvez menos times, mas com mais equilíbrio. Vamos quantificar os danos e veremos como cobri-los, fazendo sacrifícios.”

Aqui é preciso tomar cuidado: do ponto de vista teórico, utilizar essa pausa forçada para reflexão e para entender, entre tantas coisas, o quanto o calendário atual do futebol eventualmente prejudica a modalidade é uma atitude nobre e necessária. Se assim for, ótimo. Menos nobre seria aproveitar-se de uma crise mundial para impor mudanças baseadas em interesses existentes antes mesmo da interrupção do futebol. No Brasil, contudo, não há dúvidas que utilizar o momento atual para repensar o absurdo calendário com jogos em datas Fifa e estaduais tão longos acabaria por trazer um benefício imensurável ao nosso futebol. Que assim seja. 


 
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Um pacato cidadão. Até na prisão

Gian Oddi
Gian Oddi


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Ronaldinho Gaúcho é um tipo pacífico. Sempre sorridente, com aquela simpatia meio abobalhada, sua inquestionável preguiça como jogador despertou no máximo lamentações dos apaixonados por futebol. Afinal, que direito ele tinha de nos privar do espetáculo que poderia ter oferecido por tantos anos dentro dos campos?

A semelhança com Neymar, ainda que por motivos diferentes, se encerra nessa privação. Ronaldinho nunca foi raivoso, nunca despertou ódio, nunca correu para o microfone na menor e mais irrelevante oportunidade que tivesse para dar respostas a quem quer que fosse. Até porque nunca pareceu se incomodar com as críticas, justas ou injustas.

Se porventura fosse questionado sobre seu modo de vida, o bon vivant de sorriso fácil respondia com certo desinteresse, uma displicência genuína de quem realmente não se importava, de quem (até então) não estava cometendo crime algum, apenas exercendo seu direito de curtir a vida, ainda que para isso abrisse mão de certa relevância como jogador.    

Ronaldinho usou sua absurda qualidade em campo com um só objetivo: criar as condições, financeiras mas não só, para saciar suas metas e desejos pessoais. O jogador Ronaldinho Gaúcho, o Ronaldinho PJ, nunca teve grandes ambições esportivas, nunca foi um obcecado por recordes como Messi e Cristiano, e esteve sempre a serviço de sua pessoa física, Ronaldo de Assis Moreira, e de seu irmão, Roberto de Assis Moreira.  

Esse último, nove anos a mais que o craque, assumiu funções paternas em relação ao irmão desde a trágica morte do pai, por afogamento, quando Ronaldinho não tinha completado nem 10 anos de idade. Foi um fato que, além do óbvio trauma do ponto de vista pessoal, condicionou também o destino profissional – para o bem e para o mal – de Ronaldinho.

Ronaldinho e Assis caminham juntos no Paraguai, ambos algemados
Ronaldinho e Assis caminham juntos no Paraguai, ambos algemados Getty Images

Há tempos quem segue a história de ambos tem a impressão de que Assis poderia ter feito o que bem quisesse da carreira de Ronaldinho, tamanha a letargia, submissão e falta de personalidade (talvez também de inteligência) do irmão mais novo. Entre as hipóteses acima talvez estivesse, por que não, a de tê-lo feito jogar em alto nível até duas ou três temporadas atrás, quando Ronaldinho tinha 36 anos (só um a mais que Cristiano Ronaldo hoje).

Em 2016, ao entrevistar Assis para o Bola da Vez na ESPN Brasil, deixei a gravação do programa com a sensação de que nunca na história do futebol alguém concedera, de forma tão aberta, declarada e consciente, uma entrevista para falar em nome de outro – um outro tão relevante. Na ocasião, não estávamos entrevistando Assis, mas o Alter ego de Ronaldinho Gaúcho – e todos já sabiam que assim seria, antes mesmo do início da entrevista.

Não se trata aqui de amenizar as responsabilidades de Ronaldinho Gaúcho, um adulto de quase 40 anos, por todos os imbróglios nos quais se envolveu após o fim de sua carreira como jogador. Até porque, ainda durante seu período como atleta, pela maneira como Assis conduziu muitas de suas transferências, Ronaldinho já recebera indicações suficientes de que segui-lo cegamente não fazia sentido.

Mas ele continuou seguindo. E foi após encerrar a carreira que as consequências passaram a ser mais sérias do que a insatisfação de clubes, dirigentes ou torcedores. Ronaldinho virou réu de uma ação civil coletiva por emprestar sua imagem a uma empresa suspeita, foi multado por dano ambiental, teve seu passaporte apreendido, imóveis bloqueados e agora está preso no Paraguai por utilização de passaporte falso. É triste.

Na história do futebol, Ronaldinho marcou seu nome como jogador campeão mundial pela seleção, campeão de Champions e Libertadores, bicampeão espanhol e campeão italiano, um cara eleito duas vezes melhor jogador do mundo no prêmio da Fifa. Não é pouco.

Ronaldinho, contudo, também poderá ser lembrado como um dos melhores exemplos sobre o quanto, no futebol, atingir o auge, e aqui a referência é ao auge pessoal, tem menos a ver com a qualidade, que está ali sempre pronta para ser lapidada e utilizada, e mais a ver com aspectos psicológicos, sociais e comportamentais.

Ronaldinho sempre passou a impressão de que a relevante relação de conquistas acima era pouco para ele. Era algo ainda longe do seu potencial máximo. E hoje, diante de tudo que está vivendo, é difícil não fazer o exercício para tentar imaginar qual teria sido seu tamanho se ele tivesse sido bem assessorado, auxiliado. Se tivesse escutado pessoas indicando outros caminhos que não apenas o do dinheiro – o qual, diga-se, ele receberia sempre, e justamente, de maneira generosa.

Até pela personalidade tranquila, por saber acatar (ou não saber contestar?), por evitar conflitos, talvez Ronaldinho tivesse seguido outros conselhos como seguiu os do irmão. E nesse caso, qual tamanho teria hoje? Onde estaria?  

Certamente não seria dando autógrafos, mesmo que sorridente, num presídio paraguaio.


 
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Um pacato cidadão. Até na prisão

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Parece estranho, mas precisamos ouvir Dudamel

Gian Oddi
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Não tem nada a ver com a avaliação do início de trabalho do novo treinador do Atlético, Rafael Dudamel. Não se trata de julgar as aptidões técnicas que tem ou não o volante Zé Welison, cujo nome pouco ou nada dirá à maior parte dos torcedores de futebol fora de Minas Gerais.

O trecho da entrevista do treinador venezuelano (vídeo acima) após a derrota do Atlético para a Caldense pelo pouco relevante Campeonato Mineiro, porém, precisa ser visto por mais gente, e não é para avaliação deste caso específico.

“Estou triste pelo Zé, me dói pelo que aconteceu. Hoje, lamentavelmente, ele viveu uma situação do futebol. Mas o apontam como se ele tivesse matado ou roubado alguém. É uma partida de futebol, não podemos condenar a pessoa, o ser humano. Ele quer entrar para jogar e ganhar. Quer defender os interesses de seu time, de seus companheiros, de sua família. E condenamos um jogador de futebol, um ser humano, como se fosse um ladrão. Não estou de acordo”, disse o treinador.

Condenações e ataques desmedidos a profissionais por causa de futebol não são novidade e tampouco são exclusividade brasileira. O tratamento desumano, muitas vezes, inclui a abordagem da própria imprensa, que só joga combustível na máquina de odiar em que se transformou nossa sociedade.

Chama atenção, porém, que seja um técnico estrangeiro a se espantar e a se revoltar com a reação de uma torcida a um erro técnico ou a uma série de más atuações de um jogador de futebol. Não é exclusividade do Atlético e não se trata do “caso de Zé Welison”: é o modus operandi do nosso futebol.

Dudamel, que chegou ao Brasil no início do ano, já é contestado
Dudamel, que chegou ao Brasil no início do ano, já é contestado EFE

Menos relevantes são as vaias, aceitáveis embora raramente produtivas. O problema é o pacote que que vai da mais torpe ira das redes sociais, passa por muita coisa e chega a agressivas abordagens pessoais a jogadores e seus familiares. A violência passou a fazer parte da rotina do nosso futebol e vai se integrando a ele como um aspecto lamentável, porém normal, rotineiro.

O hoje badalado Jorge Jesus, embora em tom mais ameno, deu indicações de pensar muito parecido com Dudamel quando, logo no início de seu trabalho pelo Flamengo, se manifestou sobre a maneira como os rubro-negros se comportavam em relação ao (hoje indiscutível) volante Willian Arão.

No episódio deste fim de semana, contudo, a frase foi dita por um técnico ainda pouco expressivo e de início contestável no futebol brasileiro, o que certamente será usado como contra-argumento para rebater suas declarações. Não deveria ser assim. Deveríamos, pelo contrário, agradecer Dudamel por nos alertar sobre aquilo que não pode, jamais, ser normalizado.

 
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A incontinência verbal de Luxemburgo, seus motivos e consequências

Gian Oddi
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Luxemburgo compara movimentação de Luiz Adriano com Evair

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Vanderlei Luxemburgo até que faz um bom início de trabalho com o Palmeiras em 2020. Não por contar com a maior pontuação entre os grandes clubes do Paulista, mas pelo fato de usar a fase inicial do Estadual como ela deve ser usada: para lançar jovens, fazer testes e chegar a conclusões que serão úteis quando a temporada começar para valer.

Os tais testes têm sido bem feitos e, mais importante, vingando ou não, Luxemburgo tem explicado bem as experiências e mudanças que tem feito. Tem falado dos jogos, do que ocorre em campo. Basta, por exemplo, buscar suas recentes entrevistas sobre os posicionamentos de Luiz Adriano, Zé Rafael, William e Felipe Melo para constatar.

Se tem falado bem sobre as qualidades e defeitos do seu time, se tem um bom elenco em mãos, se conta com uma estrutura que há tempos não contava para tentar se recolocar como um dos principais técnicos do país (algo que ele não é há mais de uma década), é difícil compreender os motivos de sua verborragia a respeito de temas que fogem do seu trabalho atual.

Toda vez que abre a boca para discutir o indiscutível, como tirar os méritos do excelente trabalho de Jorge Sampaoli pelo Santos, afirmar que o futebol de hoje é igualzinho ao de duas décadas atrás ou equiparar o nível do Campeonato Brasileiro com o da Champions League, Luxemburgo reforça a ideia de técnico ultrapassado que ele certamente pretende eliminar.

Vanderlei Luxemburgo durante treino do Palmeiras
Vanderlei Luxemburgo durante treino do Palmeiras Cesar Greco/Ag Palmeiras

É curioso porque todas essas declarações descabidas, entre outras, parecem ter uma única intenção: exaltar seu passado, seus feitos que já não carecem de exaltação e reconhecimento. O passado de Vanderlei Luxemburgo como técnico é brilhante e está ali, imutável. Ninguém poderá lhe tirar essas conquistas.

Se quer olhar para o futuro, Vanderlei Luxemburgo deveria se preocupar apenas com o presente.


 

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Isolada por torcida, diretoria do Flamengo terá que mudar postura asquerosa

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Muro próximo ao Maracanã é pintado em homenagem aos mortos em tragédia no Ninho
Muro próximo ao Maracanã é pintado em homenagem aos mortos em tragédia no Ninho Gazeta Press

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Tem sido recorrente. A cada semana um novo episódio de insensibilidade, de frieza, de descaso. A maneira como a direção do Flamengo tem lidado com os parentes das vítimas do incêndio no Ninho do Urubu há um ano beira o inacreditável.

E não se trata de discutir valores das indenizações, ainda que algumas das alegadas recusas do clube neste aspecto também chamem atenção diante de seu faturamento e das cifras gastas com contratações de atletas.

Que os gestores de planilha se apeguem apenas a critérios técnicos, burocráticos e jurídicos para conduzir toda e qualquer decisão a respeito de como se comportar em relação a este episódio não surpreende. Assim são os gestores de planilhas. Surpreende, contudo, que não percebam o prejuízo que causam à imagem do clube – e por consequência às suas estimadas planilhas – com cada infeliz decisão tomada.

Fugir de entrevistas e CPIs, por um lado, escancara o quanto Rodolfo Landim e companhia não parecem convictos de estar fazendo o máximo que podem para minimizar a dor daqueles que perderam seus filhos e irmãos. Quem tem certeza que está fazendo o melhor, que está fazendo o correto, não tem medo de perguntas.

Os dirigentes flamenguistas claramente não têm essa certeza e, mais deplorável que isso, parecem crer que quanto menos o assunto for abordado maior será a chance de ser esquecido.

Muro próximo ao Maracanã é pintado em homenagem aos 'Garotos do Ninho'
Muro próximo ao Maracanã é pintado em homenagem aos 'Garotos do Ninho' Gazeta Press

Por outro lado, por mais insensíveis que possam ser os homens que hoje comandam o Flamengo, impressiona como é possível um departamento de comunicação profissional não alertar os insensíveis que não tem cabimento fazer uma missa em homenagem às vítimas e não convidar seus parentes, que não é possível fechar as portas do clube para eles, que dispensar os sobreviventes do incêndio é muito feio e que  não dá para começar um vídeo institucional gravado supostamente parar esclarecer questões sobre o tema com a repugnante questão “já é um assunto superado?”.

Quem se superou foram os dirigentes rubro-negros, que demonstram, para tratar de questões humanas, uma aptidão inversamente proporcional àquela que demonstraram no futebol profissional.

A inaptidão foi tamanha que eles estão, enfim, completamente isolados. A manifestação das mais importantes torcidas organizadas do Flamengo escancara isso ao afirmar “não podemos mais nos calar diante de tamanho descaso”. É uma manifestação necessária, essencial e possivelmente será um marco para que a direção rubro-negra perceba o absurdo das decisões que tem tomado.

Porque se você recebe críticas constantes da imprensa, mas tem o apoio de quase 40 milhões de torcedores amplificados pelas redes sociais, maior as chances de acreditar naquilo que deseja acreditar. Quando, porém, você está absolutamente sozinho, não enxergar o óbvio seria de uma teimosia e burrice assombrosas.

Que a torcida do Flamengo mantenha e até amplifique essa postura exemplar, quem sabe com uma salva de aplausos, aos 10 minutos de todos os jogos do time, para homenagear os 10 garotos mortos. Seria uma forma de lembrar aos dirigentes rubro-negros que, por mais que eles desejassem o contrário, essa tragédia jamais será esquecida.

 

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A expulsão de Janderson poderia não ser absurda. Em outro contexto

Gian Oddi
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É compreensível a irritação de qualquer um que goste de futebol ao ver um jogador ser expulso de campo por abraçar seus torcedores na comemoração de um gol, como ocorreu com o corintiano Janderson no último domingo, durante o clássico contra o Santos.

Tão simples quanto criticar a decisão de mostrar o cartão é compreender que, uma vez orientado a tomar tal atitude, não resta ao árbitro outra decisão – a não ser que achemos que o mesmo deva se comportar como um mártir, arriscando sua presença na escala das rodadas seguintes por não aplicar um cartão que considera injusto, mas que ele é orientado por seus chefes a mostrar.

A questão toda está justamente aí, no motivo dessa orientação. Ela faz sentido num caso como o clássico de domingo? Ela pode fazer sentido em algum caso? Creio que a resposta seja negativa para a primeira pergunta e positiva para a segunda.

Como sempre, como em quase tudo, bastaria o bom senso para que entendêssemos quando a tal orientação para o cartão deveria ser acatada pelo árbitro e quando não deveria.

Quem lembra da comemoração do primeiro gol de Ronaldo com a camisa do Corinthians, num clássico contra o Palmeiras em Presidente Prudente, em março de 2009, há de convir que, naquele caso, se a ameaça de um cartão pudesse evitar que o atacante se pendurasse no alambrado (que desabou em cima dos torcedores presentes, por sorte sem maiores consequências) não discutiríamos a fatídica orientação.

Queda de alambrado após gol de Ronaldo pelo Corinthians em 2009
Queda de alambrado após gol de Ronaldo pelo Corinthians em 2009 reprodução TV

Estamos, porém, citando um episódio de mais de uma década atrás. Quando alambrados, fossos e grades eram as regras nos estádios brasileiros, não exceções. Quando as novas arenas nem sequer existiam por aqui.

Só que o contexto mudou, os palcos hoje são outros, e não faz mais sentido que essa orientação não seja flexibilizada de acordo com o cenário do jogo, de acordo com o risco real que a comemoração pode causar.

Nos estádios ingleses, por exemplo, comemorações de jogadores em meio torcedores são comuns. E não são punidas porque não representam risco, fazem parte da festa.

A análise de cada caso antes do início do jogo é simples (e ela pode ser até prévia, feita pela própria CBF/federações), não requer cálculos de engenharia, e bastaria ao árbitro, quando constatar o risco de uma eventual comemoração junto à torcida, informar aos capitães antes do jogo, aí sim explicando que, caso a orientação não seja cumprida, ele mostrará o cartão.

Não era o caso do jogo na Arena Corinthians, como não seria no Maracanã e na maior parte dos estádios brasileiros da Série A.

E por mais que os estádios sejam diferentes – e a permissividade também viesse a ser –, deixar de lado a intransigência e flexibilizar a orientação para o cartão não significaria benefício esportivo a time algum. O único beneficiado, neste caso, seria o torcedor brasileiro, raramente priorizado nas decisões que norteiam o futebol por aqui.

 

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Na metade da carreira, Neymar consegue sua principal façanha

Gian Oddi
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As imagens rodaram o mundo neste domingo: enquanto o PSG fazia sua estreia pelo Campeonato Francês na temporada 2018-19, torcedores do clube parisiense não mediam palavras para criticar e ofender Neymar, entre faixas pedindo “vaza daqui” e gritos chamando-o de “filho da p...”.

Três dias antes, o diário esportivo AS, de Madri, colocava no ar uma enquete perguntando aos torcedores do Real Madrid se eles gostariam que Neymar fosse contratado pela equipe da capital espanhola. Resposta, após mais de 160 mil votos computados: 60% para o não, 40% para o sim.

Uma consulta ainda mais relevante, porque realizada através de contato direito e não pela internet, foi feita com os sócios do Barcelona para responder à pergunta “você quer a volta de Neymar?”. O placar foi mais de 70% para o “não” e menos de 30% para o “sim”.

É incrível que Neymar tenha conseguido chegar a este ponto.

É incrível que um jogador que é considerado por muita gente o terceiro com maior potencial do planeta não seja um desejo unânime de qualquer torcida entre os clubes mais poderosos do mundo.

É incrível que, mesmo sabendo do interesse do PSG em se desfazer de Neymar, nenhum clube da Premier League, a principal e mais rica liga de futebol do mundo, tenha demonstrado o mínimo interesse em contratar o brasileiro.

Faz pouco mais de uma década, no dia 7 de março de 2009, com apenas 17 anos, que Neymar fazia sua estreia profissional no futebol com a camisa do Santos.

De lá para cá ele conquistou uma Champions League, uma Libertadores, uma Copa do Brasil, uma medalha de ouro olímpica, dois campeonatos espanhóis e dois franceses, uma Copa da França e três Copas do Rei, entre outras conquistas menores. Não é pouca coisa.

Mas seu maior feito até aqui, aquele mais impressionante, acontece nesta pré-temporada do futebol europeu: conseguir, mesmo com a enorme qualidade que tem, ser rejeitado pela maior parte das torcidas dos clubes que cogitam mantê-lo ou contratá-lo.

Neymar no PSG: custo de 222 milhões de euros e passagem frustrada
Neymar no PSG: custo de 222 milhões de euros e passagem frustrada EFE/Christophe Petit Tesson

É desnecessário apontar novamente as razões do feito. Todos estão cansados de saber, muito já foi dito e escrito a respeito – eu mesmo o fiz em setembro do ano passado na “Carta a Neymar (com tudo que Tite e Gil Cebola não dizem)”.

É triste, porém, constatar que mais da metade da carreira de Neymar em alto nível físico já se foi. Se considerarmos que ele jogará até os 37, Neymar está exatamente no meio de sua trajetória como jogador profissional. Mas não é padrão esperar que um jogador tenha aos 35, 36 ou 37 anos o mesmo rendimento que teve aos 25, 26 ou 27.

O tempo está passando, e com ele as chances de Neymar ser tudo o que os apaixonados por futebol um dia imaginaram que ele seria.

Para sua sorte, rejeições de torcidas são facilmente reversíveis em qualquer parte do mundo. Dependendo do caso, bastam algumas declarações, meia dúzia de gols, um punhado de bons jogos ou até mesmo o simples ato de vestir uma nova camisa.

Neymar terá mais uma chance. Ainda em um clube poderoso. Ainda ganhando milhões. Ainda com craques ao seu lado. Ainda com toda a qualidade que tem à disposição.

Já está claro, porém, que não lhe basta um contexto favorável.

Sem a percepção própria de que a gestão da sua carreira é um sucesso do ponto de vista financeiro, mas um relativo fracasso do ponto de vista esportivo, dificilmente o panorama irá mudar.

Os episódios e a rejeição dos últimos meses terão servido para algo nesse sentido? A ver.


 
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